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Saturday, December 31, 2005

Desmontagem política (reloaded)




Quando uma pessoa recebe elogios, é porque alguém vê nela algum valor. Quando começa a receber insultos baratos, isso deve significar que está definitivamente no bom caminho e começa a ter alguma notoriedade. I must be doing something right.*


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"Espero que empregues tanta ou mais energia a tentar viver em consonância com a perspectiva particular que expões exaustivamente neste... enfim... Não há nada mais sagrado que a coerência."

Sempre, chama-se praxeologia. Ou, por acaso, usaste o cérebro de outra pessoa para escrever o que pensas? (assumindo que não usaste a alma penada do ABC). Escolheste o teu ISP porque era o mais caro e de menor qualidade? Escolheste o teu sistema operativo porque, na tua opinião, era o pior?

"Ao contrário do Tiago, não me vou dignar a participar neste circo em que és a estrela principal e este comentário frugal , embora excessivo, será único."

Argumentum ad hominem? Isso é muito conhecido. Ao menos o Tiago foi mais original e andou ali às voltas para não o aplicar directamente. Já agora, avisa-o de que estou à espera de uma(s) resposta(s) dele. Ele que defenda as coisas que disse (ou admita que errou) e não chame mais gente que também não tem argumentos.

"Ficarias surpreendido com o sucesso que fazes no mundo da comédia em vários espectros sociais, políticos e económicos. "

Finalmente! Alguém que percebeu a minha piada do Louçã! Estava a ver que não! [opcionalmente, sempre se pode ver a coreografia do camarada mestre, e depois eu é que faço comédia...]

"Espero que nos continues a entreter... a nós, vasta massa de pessoas diminuidas intelectualmente sedentas do néctar divino que é o produto da actividade da tua mente superior."

Isso é tudo complexo de inferioridade, orgulho exacerbado para não reconhecer a falta de argumentos lógicos ou simplesmente uma espécie de deus ex machina? De qualquer das formas, obrigado pelo elogio. O estaminé continua aberto para que possam beber o meu delicioso néctar. De vez em quando também sirvo ambrósia. Mas isso, só mesmo para convidados especiais.

Já agora, e para finalizar, só uma coisa. Eu consigo ver os comentários que são feitos no Haloscan por ordem de entrada. Logo, essa técnica de responder a um post quando já uns 10 foram publicados posteriormente, não me parece muito eficiente, se o objectivo for brincar ao hit and run.




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*A série Desmontagem Política foi, até agora, constituída pelos artigos I, II, III, IV, V, VI (comentário de M. De la Torriente), VII, VIII e IX.

Feliz Ano Novo

Friday, December 30, 2005

Igualdade, Igualdade

Há poucos dias, o Primeiro-Ministro José Sócrates fez um discurso, em virtude da época natalícia, do qual cito as partes mais relevantes:

O ano que está prestes a terminar foi mais um ano ainda difícil para muitas famílias e para muitas pessoas na sociedade portuguesa. Eu sei isso.

Mas este foi também um ano em que o País começou, finalmente, a enfrentar e a resolver os seus problemas.

Todos sabemos que o País não avança continuando a viver de ilusões e de sucessivos adiamentos. E sabemos também - sabemos todos - que há muitas coisas que é preciso mudar em Portugal para que possamos garantir aqui um futuro melhor, para nós e para os nossos filhos.

(...)

E estamos a fazê-lo com a coragem e com a determinação que são necessárias para levar o País para a frente. Para que a economia portuguesa possa melhorar e criar mais empregos. Para que os jovens tenham mais oportunidades. Para que haja menos desigualdades sociais. Para que possamos garantir o pagamento das pensões de reforma no futuro. Para que os nossos idosos vejam assegurado um rendimento que lhes permita viver com dignidade e não os condene mais à pobreza. Numa palavra, para que Portugal se volte a aproximar do nível de vida dos Países mais desenvolvidos da Europa.

É esse o nosso caminho. Sei bem que há quem considere que este não é o melhor momento para se estar no Governo. Mas, o meu sentimento é exactamente o contrário. Para mim é uma honra poder servir o meu País e os meus concidadãos neste preciso momento.

E tenho a profunda esperança - tenho mesmo a certeza - de que, com a compreensão e a cooperação de todos os portugueses de boa-vontade, Portugal vai ser capaz de vencer as dificuldades e vai ter um futuro melhor.É para isso que estamos a trabalhar e a dar o melhor do nosso esforço.

Nesta época de Natal, quero dirigir a todos os portugueses e a todas as famílias uma palavra de esperança.

Mas também uma palavra de solidariedade, sobretudo para os mais desfavorecidos, os mais pobres, os desempregados, os doentes e os que vivem na solidão.

Ontem, quando lia as notícias, deparei-me com uma notícia que para mim não é nada surpreendente mas que serve de bom exemplo para mostrar as discrepâncias relacionadas com o famoso provérbio português, faz o que eu digo, não faças o que eu faço. Volto a relembrar que José Sócrates é um defensor da manutenção do Estado Social e mantém uma retórica constante em torno da "desigualdade social":

Rigor, transparência e verdade têm de ser as palavras-chave no domínio das contas públicas. Rigor, desde logo, na despesa, porque essa é a forma última de garantir a sustentabilidade de longo prazo das contas públicas, de assegurar uma economia competitiva e de garantir o Estado Social.

(...)

Quero reafirmar aqui que a opção do Governo que o povo sufragou envolve, também, um compromisso indeclinável na luta contra as desigualdades e contra a pobreza; e sobretudo contra a pobreza sem voz, que é a dos mais idosos.

(...)

Quero assumir, em nome do Governo, três grandes prioridades.

(...)

A terceira, reduzir decisivamente as desigualdades sociais e os níveis de pobreza.
Sócrates fala em garantir a existência do Estado Social e, ao mesmo tempo, refere como medida prioritária a redução da pobreza e da desigualdade. Sabendo que o objectivo do Estado Social é precisamente este e este existe em Portugal, uma destas premissas tem de estar errada porque ou Sócrates deseja manter o Estado Social (e assim, agravar a pobreza e as desigualdades) ou deseja combatê-la e, para isso, conta com o desmantelamento do dito.

Ontem, enquanto lia calmamente as notícias, deparei-me com o comunicado de que José Sócrates se havia lesionado a fazer esqui, na Suiça:

O primeiro-ministro, José Sócrates, sofreu quinta-feira à tarde um estiramento num dos joelhos, após ter caído a praticar esqui numa estância de turismo na Suíça, disse hoje à Lusa fonte do gabinete do chefe do Governo.

(...)

José Sócrates partiu para a Suíça logo após o dia de Natal, acompanhado pelos seus filhos, devendo regressar a Portugal antes do fim do ano, entre sexta-feira e sábado.

Excepção feita em 2004, em que entre o Natal e o fim do ano estava envo lvido na campanha para as legislativas, José Sócrates passa habitualmente alguns dias de férias neste período para praticar esqui.

Há várias conclusões a retirar destes factos:

1. Sócrates, que se pede aos portugueses sacrifícios e apertos de cinto, aumentando os impostos sucessivamente, não se sabe conter. Vai passar férias uma semana para a Suiça, com os filhos, gastando dinheiro que deveria, de acordo com o seu discurso, estar a ser poupado em nome de Portugal, seja lá o que isso for.

2. O Primeiro-Ministro preocupa-se com a desigualdade e com a pobreza mas não parece muito incomodado com o facto de que a maioria da minha família não tem sequer dinheiro disponível para passar umas férias no Entroncamento, quanto mais no Algarve (e muito menos na Suiça). Tudo isto seria lógico, não fosse a preferência de José Sócrates pelos Alpes suíços, o que deixa a sua autoridade moral muito reduzida, quando pede esforços ao povo português.

3. Como bom social-democrata que é, José Sócrates e seus ministros, mais do que uma vez, já referiram a importância das golden shares, dos sectores estratégicos da economia nacional e dos centros de decisão nacional. Não deixa de ser preocupante, portanto, que o nosso PM decida fazer um investimento na Suiça, quando podia optar, por exemplo, pela via do estímulo económico ao turismo na Serra da Estrela. Afinal, segundo a teoria, o que é nacional é bom e não podemos deixar os capitais sair do país, pois não?

4. A escolha da Suiça para passar as férias não deixa de ser intrigante. Para além de ser um dos países com mais características liberais da Europa (onde o IVA nem sequer existia até há muito pouco tempo e é de 7,6% na maioria dos casos - em alguns outros é de 2,4% ou 3,6%), a Suiça é provavelmente o melhor país do mundo para se ter uma conta bancária. A intervenção governamental é mínima, o que gera um investimento fortíssimo, incluindo a nível estrangeiro. Como diria um amigo meu que lá nasceu, não é estranho que a Suiça tenha o 3º maior PIB per capita da Europa (apenas superado pelo Luxemburgo e pela Noruega). Resumindo, se eu quisesse depositar dinheiro que desejo esconder das garras do Estado português, certamente fá-lo ia na Suiça.

5. José Sócrates, como já referi, fala muito de pobreza e desigualdade (e faz bem, segundo as notícias que nos vão chegando, Portugal está a tornar-se, metaforicamente - ou talvez não, numa República Soviética). Como Sócrates se preocupa com as pessoas (aliás, como todos os socialistas) eu recomendo que Sócrates passe a ganhar o salário mínimo nacional, de forma a mostrar a verdadeira solidariedade que tanto apregoa. Não digo o salário mínimo legal mas o salário mínimo de mercado, que em Lisboa é certamente superior ao definido pela lei. Aconselho o mesmo aos seus colegas de governo e a todos os deputados que digam que se preocupam com a pobreza no país e depois aplicam o dinheiro roubado destes mesmos pobres - que se não pagarem, vão para a cadeia - em objectos pessoais ou serviços relacionados com a sua pessoa.

Em Portugal, costuma dizer-se que o ski é um desporto de meninos ricos (ter dinheiro é sempre pecado). Neste caso, qual é o prazer de andar a trabalhar para ser forçado a financiar, por via de extorsão, as férias dos outros na Suiça?

Volto a citar o grande Orwell, que viu mais longe do que muitos na sua época (em que praticamente todos os socialistas andavam a lutar pelo marxismo-leninismo...):

«All animals are equal, but some animals are more equal than others», Animal Farm, 1945

Thursday, December 29, 2005

Proposta

Os comunistas dizem que o direito de propriedade não é um conceito natural e muitos defendem a existência de um comunismo primitivo na História da Humanidade, seguindo as bases teóricas do antropólogo americano Lewis Morgan, em que os bens produzidos eram propriedade de toda a sociedade (a tribo), sendo estes redistribuídos consoante as necessidades individuais.

Como é objectivo dos comunistas atingir uma sociedade sem classes, em que a propriedade seja colectiva (pois esta, quando privada, é contranatura), sugiro que me dêem todos a palavra-passe dos vossos blogues para que eu lá possa escrever de vez em quando.

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Nota: Se preferirem (eu também prefiro) peçam-me o número da minha conta bancária por e-mail - está ali no topo à direita - de forma a que possam depositar uns fundos para apoiar este pobre (não é um efeito estilístico) capitalista iludido, vítima da sociedade ultraneoliberal portuguesa.

Aquecimento global

O Reino Unido anda a sofrer as temíveis consequências do devastador aquecimento global:

Neve não pára de cair




É o Inverno mais frio dos últimos anos no Reino Unido

Há dois dias que a neve não pára de cair, no Reino Unido. Trata-se do Inverno mais frio dos últimos anos nas ilhas britânicas e as previsões apontam para uma nova descida da temperatura.

(...)

Segundo os meteorologistas, o pior ainda está para vir.

Com temperaturas de 6 graus negativos, as auto-estradas estão cobertas de gelo e de neve.

Isto acontece porque os estúpidos dos ingleses não querem cumprir, claro está, o protocolo de Quioto e são o 8º maior emissor mundial de dióxido de carbono para a atmosfera. Depois, pagam a fava.

Wednesday, December 28, 2005

Infelizmente, não estava no sapatinho

100 Years Of Relativity
Space-time Structure: Einstein and Beyond




edited by Abhay Ashtekar (Institute for Gravitational Physics and Geometry, Pennsylvania State University, USA)

Thanks to Einstein's relativity theories, our notions of space and time underwent profound revisions about a 100 years ago.

(...)

The first part is devoted to a summary of how relativity theories were born (J Stachel). The second part discusses the most dramatic ramifications of general relativity, such as black holes (P Chrusciel and R Price), space-time singularities (H Nicolai and A Rendall), gravitational waves (P Laguna and P Saulson), the large scale structure of the cosmos (T Padmanabhan); experimental status of this theory (C Will) as well as its practical application to the GPS system (N Ashby). The last part looks beyond Einstein and provides glimpses into what is in store for us in the 21st century. Contributions here include summaries of radical changes in the notions of space and time that are emerging from quantum field theory in curved space-times (Ford), string theory (T Banks), loop quantum gravity (A Ashtekar), quantum cosmology (M Bojowald), discrete approaches (Dowker, Gambini and Pullin) and twistor theory (R Penrose).

Contents:

History and Foundations:
• Development of the Concepts of Space, Time and Space- time from Newton to Einstein (J Stachel)
Manifestations of General Relativity:
• Gravitational Billiards, Dualities and Hidden Symmetries (H Nicolai)
• Probing Space-time Through Numerical Simulations (P Laguna)
• The Nature of Space-time Singularities (A Rendall)
• Black Holes — An Introduction (P Chrusciel)
• The Physical Basis of Astrophysical Black Holes (R Price)
• Understanding Our Universe: Current Status and Open Problems (T Padmanabhan)
• Receiving Gravitational Waves (P Saulson)
• Was Einstein Right? Confronting General Relativity with Experiments (C Will)
• Relativity in the Global Positioning System (N Ashby)
Beyond Einstein:
• Space-time in Semi-Classical Gravity (L Ford)
• Causal Sets and the Deep Structure of Space-time (F Dowker)
• Consistent Discrete Space-time (R Gambini & J Pullin)
• The Twistor Approach to Space-time Structures (R Penrose)
• Quantum Geometry and Its Ramifications (A Ashtekar)
• Space-time in String Theory (T Banks)

(via PhysicsWeb)

Meu querido referencial de inércia

E=mc2 passes tough MIT test



In a fitting cap to the World Year of Physics 2005, MIT physicists and colleagues from the National Institute of Standards and Technology (NIST) report the most precise direct test yet of Einstein's most famous equation, E=mc2.

And, yes, Einstein still rules.

The team found that the formula predicting that energy and mass are equivalent is correct to an incredible accuracy of better than one part in a million. That's 55 times more precise than the best previous test.

Why undertake the exercise? "In spite of widespread acceptance of this equation as gospel, we should remember that it is a theory. It can be trusted only to the extent that it is tested with experiments," said team member David E. Pritchard, the Cecil and Ida Green Professor of Physics at MIT, associate director of MIT's Research Laboratory for Electronics (RLE) and a principal investigator in the MIT-Harvard Center for Ultracold Atoms.

As he and colleagues report their results in the Dec. 22 issue of Nature: "If this equation were found to be even slightly incorrect, the impact would be enormous -- given the degree to which [it] is woven into the theoretical fabric of modern physics and everyday applications such as global positioning systems."

(...)

Despite the results of the current test of E=mc2, Pritchard said, "This doesn't mean it has been proven to be completely correct. Future physicists will undoubtedly subject it to even more precise tests because more accurate checks imply that our theory of the world is in fact more and more complete."

(via Cosmic Log)

A teoria da relatividade restrita assume cada vez mais o seu papel de meta-teoria. A exactidão desta experiência é extraordinária, facto que para compreender, basta lembrar que as sondas Viking, em 1979, nos permitiram afirmar que a teoria da relatividade restrita era correcta com uma exactidão de 1 parte por milhar (em percentagem, seria de uns modestos 0,1%). A nova experiência apresenta uma exactidão inferior a 0,0001%.

Ler esta notícia fez-me lembrar de um episódio da minha vida de estudante de ensino secundário. Numa aula de Física de 12º ano, a nossa professora falava-nos acerca das transformações de Galileu, coisa que apenas faz sentido em engenharia, já que não se atingem velocidades elevadas e a mecânica de Newton é perfeitamente válida. Neste caso, o tempo é tomado como uma grandeza absoluta, que não varia consoante o referencial.

Eu pensava, completamente indignado, que nem sequer se falariam das transformações de Galileu, seriam referidas como mera curiosidade. Assim, perguntava-me: "mas que raio, então e a transformação de Lorentz?" (que é um elemento básico para trabalhar com a relatividade restrita). Estava completamente errado. Não só eram referidas como até tomavam importância tal que acabariam por estar presentes nos conteúdos avaliados por teste ao longo do ano. As de Lorentz, nem sequer mencioná-las.

Perante as minhas insistências, a minha professora lá acabou por dizer que a relatividade restrita não fazia parte do programa. Para mim era já profundamente frustrante que não se comentasse nada sobre a teoria da relatividade geral, que trata de campos gravíticos, e as suas implicações em cosmologia. Contrariamente, falava-se das definições clássicas de campos, fazendo o comparativo com os campos eléctricos, cujas equações são muito semelhantes. Compreendia que a relatividade geral não pudesse ser ensinada, obviamente, por falta de background matemático, mas achava de uma negligência enorme que não fosse sequer referida. Com a relatividade restrita, pensei que seria um erro grave porque até se discutia, noutra parte do programa, a propósito de forças electromagnéticas, colisões entre partículas. Como é possível falar de colisões de partículas sem sequer compreender a forma como os objectos se comportam a velocidades relativistas? Não é. Assim como grande parte dos programas científicos de ensino básico e secundário. Não se ensinam as coisas, dão-se umas noções básicas que acabarão por ser substituídas por uma outra versão mais avançada, mais tarde, como se no espaço de um ano a ciência tivesse avançado 1 século.

Um dia, a minha professora levou para uma das aulas (que eram terrivelmente aborrecidas, entre cálculos de trajectórias de projécteis) um livro chamado A Teoria da Relatividade Restrita, que tinha uma foto de Einstein na capa. Senti-me subitamente interessado, especialmente quando ela pegou no livro e reparei que ia comentar algo relativamente a ele. As suas palavras, que nunca mais esqueci, foram estas:

"Isto é muito bonito e interessante. Eu até gostava de conseguir perceber este livro para vos poder explicar"

Desmontagem política IX

(cont.)
15. "Para finalizar, tu indicas que a existência de estados são o principal entrave à produção de riqueza. Mas riqueza por parte de quem. De facto, sem estados, as empresas ficariam mais ricas e poderosas. Ir-se-ia gerar mais riqueza. Mas o comum cidadão veria os seus direitos reduzidos. Não teria nenhum orgão que se preocupasse com ele e que zelasse pelos suas liberdades."

A intervenção do Estado é o principal entrave à produção de riqueza. Não tenho dúvida alguma deste facto. Quando me refiro à produção de riqueza, incluo a de toda a gente. Os mais pobres também pagam impostos, caso não tenhas reparado. Os mais pobres também consomem produtos, cujo preço é, nada mais nada menos do que, determinado pelas condições de mercado, leis que o influenciam e pelos impostos que pessoas da tua ideologia política permitem que existam, em nome da redistribuição da pobreza. Perdão, vocês dizem redistribuição da riqueza.

Se estes impostos existem (ou são elevados, numa versão mais conformista), está a ser roubado dinheiro às pessoas que contribuiria para as suas necessidades mais básicas e as permitiria ter mais capital disponível para investimentos a longo e médio-prazo. Não me parece que compreendas o âmago da questão. Quando tu defendes o teu tipo de regime estás a prejudicar precisamente todas aquelas pessoas que dizes querer ajudar. Das duas uma, ou esperas receber uma fracção do Orçamento de Estado se conseguires um cargo na Administração Pública ou então nunca sequer pensaste na maior parte da verborreia que proferes.

16. "Para mim os estados são a forma de assegurar Justiça e Igualdade entre todas as pessoas."

Wishful Thinking. Quem assegura a Justiça é o poder judicial. A "Igualdade" não deve ser assegurada por ninguém. Isso parece um lema retirado do Admirável Mundo Novo.

17. "Um homem deve ser reconhecido por aquilo que ele faz na vida e não pelo número de zeros na conta bancária dos pais."

Muito bonito. Agora só falta que os pais tenham dinheiro suficiente para que o filho veja ao seu alcance a possibilidade de explorar melhor as suas capacidades. Se não o tiverem, terá ele de gastar o seu tempo como varredor de ruas (ou algo equivalente), como no teu exemplo anterior, de forma a acumular dinheiro suficiente para o poder fazer, se assim o desejar. Como bom socialista que és, suponho que essa coisa do "número de zeros na conta" seja uma manifestação a favor da proibição do sigilo bancário, como já havias feito aqui? Numa sociedade liberal não há que obrigar ninguém a divulgar dimensões das contas bancárias.

18. "Espero que compreendas o meu ponto de vista tal como tentei perceber o teu. Tenho muita pena que comeces a desenvolver "reacções alérgicas" a opiniões divergentes da tua. Lembra-te que ninguém tem razão em tudo. Eu acredito no meu modelo e compreendo que tu acredites no teu. Cada um é LIVRE de acreditar no que quizer. Não pode é impor o que acredita aos outros."

Não me parece que tenhas tentado compreender ponto de vista algum. Os teus primeiros comentários foram de imediata contestação perante o que eu dizia. Os seguintes foram uma jorrada de banalidades políticas, as quais refutei em toda a sua totalidade. Se tentaste perceber a minha perspectiva sobre o assunto, devo dizer-te que aparentou ser precisamente o contrário. Para quem me disse que eu devia "rever esses números" e se limitou a inventar dados (obviamente, sem citação de qualquer fonte) e veicular opiniões como factos, estás com umas afirmações bastante pretensiosas relativamente à tua presumida tolerância de debate.

Quem diz que ninguém pode ter razão em tudo, deve também olhar-se a si mesmo. Não me parece que a tua postura arrogante durante os comentários alguma vez tenha sido coerente com o que agora dizes. A reacção alérgica deve-se a gente que não sabe metade sobre o que afirma e se esconde em cinco ou seis chavões políticos completamente vazios de significado. Esta é semelhante à que tenho relativamente a alguém que me venha "demonstrar" que a força da gravidade não existe (ou que o Espaço-Tempo é euclidiano, numa asserção mais correcta...).

Cada um, realmente, é livre de acreditar no que quizer (sic). Não encontrarás ninguém, mais do que eu, a favor da liberdade de culto religioso.

19. "A propósito disto tenho uma questão para te colocar. Se no teu mundo houvesse gente que preferisse viver num estado que lhes assegurasse direitos essenciais, negar-lhe-ias essa escolha?"

Interessante questão a tua. E puramente reveladora. Continuas a aplicar as tuas visões a outras ideologias políticas. Se estamos a falar da ausência de Estado, como poderia eu ser o líder do "meu mundo"?

Numa sociedade liberal, existe, obviamente, liberdade de associação. Não há qualquer impedimento lógico para que assim não seja. Quem não compreende este simples facto, não entendeu sequer as premissas mais básicas do liberalismo.

Uma sociedade de cariz liberal pode existir com um Estado, não tem de ser necessariamente anarco-capitalista.

O único direito essencial que conheço é a liberdade e esse não precisa de um Estado para ser garantido. Contudo, se as pessoas desejassem viver com um Estado, porque não haveriam de o fazer? O problema seria delas. Não teriam, no entanto, o direito de coagir os outros a pagar impostos para que tal fosse possível. Se querem um Estado, que sofram eles as consequências e o financiem eles.

"Permitirias a criação de um estado que pudesse existir sem se preocupar em um dia ver-se invadido pelo resto do mundo?"

A resposta à questão anterior é igualmente aplicável a esta pergunta. Ainda assim, porque temes a invasão por parte do resto do mundo? Vamos lá aglutinar todas as tuas teorias. A não-existência de um Estado beneficia os ricos e prejudica os pobres. Logo, segundo a teoria que tem sido constante, esta nação X seria constituída por gente muito rica e gente extremamente pobre porque o liberalismo aumenta o foço (sic) entre os pobres e os ricos. Ora, se os ricos são extremamente ricos, porque não podem comprar armamento militar para se defenderem de uma invasão? Por acaso precisará a nação X de um Estado para que tal seja possível? Não necessariamente, as contas bancárias dos ricos todas juntas (lembremo-nos, como andaram a explorar os pobres por muito tempo, são todos mesmo muito, muito ricos) seriam 1000 vezes superiores às receitas fiscais do Estado em 20 anos. Como os ricos são mesmo muito, muito ricos, poderiam ter a sua própria indústria de armamento que, para além de assustar os pobres, mesmo muito, muito pobres, serviria de forma de "Defesa Nacional" e resolveria o problema da difícil importação de material bélico vindo de outras nações que a desejassem invadir (já viste que até estou a ser simpático e entro na tua mentalidade, tomando os países como um todo colectivizado?). Qual é o receio de invasão, então?

Outras duas questões pertinentes levantadas são:

1. Se a nação X é uma nação liberal (vamos assumir que sem Estado, devido à tua pergunta), por que razão quereria alguém invadi-la? Como é um país liberal, como tu próprio disseste, há mais sem-abrigo, há mais pessoas no limiar da pobreza, a qualidade de vida é menor... então, qual é a lógica de invadir uma nação liberal, onde não existe nada para além da exploração capitalista dos mais pobres? Ou quererás dizer que afinal o país desenvolveu infra-estruturas essenciais devido ao capitalismo e é algo que se torne apetecível para forças exteriores e fluxos migratórios?

2. Se o resto do mundo tem Estados e a "minha nação" não tem, porque haveriam os outros Estados de querer invadi-la? Não estás a querer insinuar que os Estados não servem apenas para a protecção dos cidadãos e também invadem outros países, pois não? (coisa nunca vista na História...) Reformulando, se os Estados eram bons e necessários, como é possível que invadam outros países assim sem mais nem menos? Sempre podes sugerir a condição hipotética de que não existissem Estados pelo mundo inteiro mas, nesse caso, como defines invasão? Não existiriam fronteiras políticas definidas por Estados, o que nos levaria a perguntar qual é a distinção entre o estabelecimento de um Estado por parte de locais e uma "invasão" por parte de forasteiros. Não seriam ambas as versões uma forma de estabelecer um regime onde existe um monopólio da aplicação da força?

"É que se o fizesses irias assistir a um êxodo a uma escala planetária para o meu país e irias perder toda a mão de obra barata que precisas para o teu modelo liberal funcionar."

Contrariamente ao "meu mundo", no teu país faz imenso sentido que tu sejas o líder, é assim que sempre tem funcionado o estatismo. Não deixa de ser irónico que te coloques em posição de dizer, com sinceridade, que é o teu país. Esse tique totalitarista foi o quê? Um erro semântico?

Quanto as tuas afirmações propriamente ditas, gostava de te perguntar se não aprendeste nada com a queda do muro de Berlim. Bem sei que há quem gostaria de pensar o contrário, mas ele não estava lá para impedir o fluxo migratório para a RDA.

Não compreendo porque afirmas que o modelo liberal precisa de mão-de-obra barata para funcionar. Gostava que explicitasses o significado disso (até porque pensei, por momentos, que Lenine havia ressuscitado). Ainda assim, usando a tua lógica, vamos assumir que se dava mesmo um êxodo à escala planetária para o teu país. Se, de repente, muita gente saísse do "meu mundo", haveria uma oferta muito grande de emprego para uma população muito reduzida. Qual é o resultado em termos económicos? Um posto de trabalho deste género tornar-se-ia extremamente bem pago porque haveria muito pouca gente disponível. As empresas (exploradoras dos trabalhadores, evidentemente) estariam dispostas a pagar salários muito mais elevados do que os que seriam considerados normais porque não existiria quase ninguém com habilitações para ocupar um determinado cargo. No teu país, claro, seria a situação contrária já que haveria demasiada oferta de mão-de-obra para uma procura inferior desta. Lá, as entidades patronais estariam dispostas a pagar muito menos por um empregado se existissem outros 50.000 de qualidades técnicas semelhantes disponíveis. Isto claro, assumindo que o "meu mundo" é liberal e ninguém construiria um muro de Berlim para evitar que as pessoas escapassem.

Essas coisas resolvem-se sempre facilmente. Quando formares esse teu país (gostei do toque de dirigismo) implementas leis que estipulem um salário mínimo elevado e force as empresas a pagar mais do que aquilo a que estariam dispostas. Se a maior parte delas for à falência devido a instabilidade financeira, a criação de novas firmas for diminuta (para quê trabalhar para conta própria? Daria quase sempre prejuízo), o desemprego começar a aumentar como sinal evidente da impossibilidade de contratar novos trabalhadores a salários elevados e uma percentagem enorme de gente começar a trabalhar ilegalmente para conseguir sustentar-se (a um salário inferior ao mínimo, que muita gente não estaria disposta a pagar), sempre podes aumentar os impostos para conseguir dar o subsídio de desemprego a toda a gente, manter as reformas elevadas e, claro, aguentar os pagamentos aos colegas de governo! Se isto não resultar, sempre podes abolir a propriedade privada. Parece ser a fonte de todos os problemas e, este método, até já deu frutos noutros países como a China, Rússia, Camboja, Cuba, Coreia do Norte, Albânia (este é que era mesmo a sério), etc.

Tu dizes que assistiríamos a uma diáspora para o teu país. Muito bem. A propaganda sempre funcionou (aliás, é por isso que ainda há gente que defenda Cuba). Apenas te informo de que todos aqueles que ficassem comigo no país liberal (independentemente do tipo de regime específico) estariam armados até aos dentes. Se fores minimamente inteligente, perceberás porquê.

Monday, December 26, 2005

Lamechice do dia




Efeitos da blogosfera: Nunca tinha tido tanta gente a desejar-me Feliz Natal.

Recomendações de leitura

Para aprender:

Direita e Liberalismo: Pessimismo, Optimismo e Realismo Antropológico por Rui

Para pensar (e rir/chorar, consoante a disposição):

Um conto de Natal por Brain[Dicken']stormZ

Your Galaxy's Centre

"Astronomers have used a laser-guided telescope to produce the clearest picture yet taken of our galaxy's mysterious center, where close-packed stars swing around what is thought to be a supermassive black hole.


(...)

Based on the black hole's gravitational influence, astronomers estimate that the Milky Way's black hole is more than 3 million times as massive as our sun. Ghez and her colleagues hope to determine whether the new stuff falling into the black hole plays a role in its growth."

(in Cosmic Log)

Na página do UCLA Galactic Center Group há um documento extremamente interessante com informações acerca do centro da Via Láctea, uns bonitos e informativos diapositivos e alguns vídeos com simulações das órbitas das estrelas, em torno do centro da galáxia.

Desmontagem política VIII

(cont.)

13. "Quando afirmas que durante a revolução industrial as classes operárias estavam a ganhar dinheiro, mereces nem sequer receber resposta."

Então para que te deste ao trabalho?

"Quer dizer, acho que passaste a defender o indefensável. Tu estás a defender a revolução industrial que toda ela assentava em mão de obra explorada."

Talvez o teu problema seja ler em português. Antes de mais, falar de uma época histórica não implica, de forma alguma, a sua "defesa". Estamos a falar de um período histórico, não de um golpe de Estado. É como se me estivesses a acusar de "defender a Idade Média". Por esta ordem de ideias, também me podes atacar por falar do período inflacionário do Universo, caso não concordes com a teoria.

É quase hilariante que me tenhas dito anteriormente que és pelo "socialismo democrático". Fizeste questão de assinalar, de forma demarcada, que rejeitas absolutamente qualquer regime totalitário. No entanto, apareces aqui com um discurso que podia ser perfeitamente marxista-leninista. Toda a Revolução (ao que sei, palavra sugerida por Engels) Industrial assentava em mão-de-obra explorada. Muito bem, o que é a exploração? Trabalho forçado sem pagamento ou com pagamento reduzido? Como, e quem, define qual é o pagamento? Eu utilizo o Blogger para publicar os meus textos - ou será que é o Blogger que me usa a mim para obter tráfego? Talvez seja isso. Mas atenção!, o Blogger não me paga - devo estar a ser explorado. A definição de exploração apenas faz sentido quando o trabalho é exercido contra a vontade da própria pessoa (ocasião em que a sua liberdade é violada) e a isso dá-se o nome de escravatura. Trabalhar para lutar por melhores condições e uma vida melhor deve ser respeitado. Não insultes os milhares de pessoas (incluindo muitas crianças) que ao longo da História da Humanidade trabalharam desde muito novas para poder sobreviver. Se, actualmente, os adolescentes não necessitam de entrar com tanta rapidez no mercado de trabalho, devem-no ao melhoramento dos mecanismos laborais que foram e são uma consequência directa da (muitas vezes restringida) circulação de bens e serviços, que é dizer, o mercado.

"Se uma pessoa sobrevivesse mais de 100 dias a trabalhar numa fábrica era uma sorte pois com a quantidade de acidentes de trabalho que ocorriam, o mais certo era morrerem num espaço de um mês. As crianças que trabalhavam nas minas e ingeriam uma quantidade enorme de substáncias tóxicas e as matava todas de doenças pulmonares passados uns anos. Enfim, eu poderia continuar mas acho que não é preciso. É verdade que as pessoas iam para as cidades trabalhar mas enganadas pelas mentiras que eram espalhadas."

Tens fonte para esse número de 100 dias? Fico à espera, mas vou esperando sentado porque as tuas estatísticas, até agora, aparecem sempre do nada. A tua ignorância histórica é fenomenal. Antes de debitares impropérios sobre a Revolução Industrial e as suas condições analisa, nem que por um segundo seja, a esperança média de vida no mundo antes desta. É isso - ver números, sabes o que é? Parece-me estranho que tantas crianças morram ao fim de 3 meses mas, ainda assim, a mortalidade infantil tenha caído tanto, assim como o número médio de anos que uma pessoa passou a viver subiu:

"Before 1750, chronic hunger and malnutrition, disease, illness, and early death were the norm, and it was not jut the masses who ate poorly

(...)

The second Agricultural Revolution beginning in the mid-eighteenth century, soon followed by the Industrial Revolution (first in England, then France, the U.S. and other Western countries), initiated and sustained the population explosion, lifting birth rates and lowering death rates.

(...)

This and other empirical evidence (Preston, 1995) reveal that for the world as a whole, it took thousands of years for life expectancy at birth to rise from the low 20s to around 30 years in the mid-18th century. Leading the breakaway from a past of early death and malnutrition, poor diet, chronic disease (e.g., chronic diarrhea; see Fogel 1994), and low energy were the nations of Western Europe. From Table 1 we see that by 1800, life expectancy in France was just under 30 years, and in Great Britain about 36, levels that China and India had not reached 100 years later. By 1950, life expectancy in England and France was in the high 60s, while in India and China it was only about 40."

A tabela não deixa dúvidas. A esperança média de vida, antes da Revolução, era entre os 20-30 anos no Reino Unido. Em meados do séc. XIX, ainda os primeiros efeitos da introdução da máquina a vapor se sentiam, era já de 36 anos. Em 1950, a esperança média de vida tinha quase dobrado! É possível comparar com países não-europeus para que possas ver o efeito em países que não sofreram estes avanços técnicos. Mais dados, da mesma fonte:

"In the period before 1750, surviving childhood was problematic. Infant mortality was high everywhere; depending on time and location, between 20 to 25 percent or more of babies died before their first birthday. By the early 1800s, infant mortality in France, and probably England, had dipped below the 20 percent level, rates not reached in China and India and other low income, developing nations until the 1950s. For Europe, North America, Australia, and New Zealand, this rate is now under one percent, but remains at 4 percent in China, 6 percent in India, and 9 percent in Africa (World Resources Institute 1999 and UNDP 2000)."
A Revolução Industrial não foi um ponto do tempo, foi um período histórico que afectou profundamente os séculos XIX e XX. Não sejamos ingénuos ao ponto de pensar que apenas afectou as condições dessa dada altura. Toda a possibilidade da produção de medicamentos em massa, os métodos de produção e fertilização agrícola, os meios de transporte, etc. Se não fossem todas estas evoluções, não estaríamos aqui os dois a falar por intermédio de um computador, cujos componentes são fabricados em série, reduzindo dramaticamente o seu preço, o que os torna cada vez mais acessíveis a todas as camadas da população. Qualquer pessoa realista é forçada a ler os números que correspondem ao PIB per capita (britânico, por exemplo):

"Because a rise in real income was precisely what made England's transformation "revolutionary," it would seem that, by definition, the industrial revolution led to a rise in the standard of living. According to the estimates of economist N. F. R. Crafts, British income per person (in 1970 U.S. dollars) rose from $333 in 1700 to $399 in 1760, to $427 in 1800, to $498 in 1830, and then jumped to $804 in 1860. (For many centuries before the industrial revolution, in contrast, periods of falling income offset periods of rising income.) Both sides in the debate accept Crafts's estimates. But if the distribution of income became more unequal and if pollution, unemployment, and crowding increased, the real incomes of ordinary people could have fallen despite the rise in average income.

If significant economic growth is sustained over a century or so, the only way the poor become worse off is if inequality increases dramatically. Crafts's estimates indicate that real income per person doubled between 1760 and 1860. Therefore, the share of income going to the lowest 65 percent of the population would have had to fall by half for them to be worse off after all that growth. It didn't. In 1760 the lowest 65 percent received about 29 percent of total income in Britain; in 1860 they got about 25 percent. So the lowest 65 percent were substantially better off. Their average real income had increased by over 70 percent."

Não fiques a pensar que andei muito tempo à procura de dados para te refutar. Esta foi a primeira ligação que me apareceu na primeira página do google. Basta, mais uma vez, conhecer a História para não andar por aí a dizer disparates. Já te tinha citado Johan Norberg, e volto a citar e a recomendar a totalidade do artigo, o qual pareces ter completamente ignorado:

"Karl Marx explained that capitalism would make the rich richer and the poor poorer. If someone was to gain, someone else had to lose in the free market. The middle class would become proletarians, and the proletarians would starve. What an unlucky time to make such a prediction. The industrial revolution gave freedom to innovate, produce and trade, and created wealth on an enormous scale. It reached the working class, since technology made them more productive, and more valuable to employers. Their incomes shot through the roof.

What happened was that the proletarians became middle class, and the middle class began to live like the upper class. And the most liberal country, England , led the way. According to the trends of mankind until then, it would take 2 000 years to double the average income. In the mid-19th century, the British did it in 30 years. When Marx died in 1883, the average Englishman was three times richer than he was when Marx was born in 1818.

The poor in Western societies today live longer lives, with better access to goods and technologies, and with bigger opportunities than the kings in Marx’ days."

Lembras-te daquela ligação que te dei quando falava dos números da população mundial? Sim, essa que, mais uma vez, tu não deves ter lido. Ao ler nessa mesma página, cujo objectivo era apenas falar sobre os números da população, encontrei esta misteriosa frase:

"World population expanded to about 300 million by A.D. 1 and continued to grow at a moderate rate. But after the start of the Industrial Revolution in the 18th century, living standards rose and widespread famines and epidemics diminished in some regions. Population growth accelerated. The population climbed to about 760 million in 1750 and reached 1 billion around 1800 (see chart, "World population growth, 1750–2150,")."

Fico com a sensação de que o que te causa a revolta é a mortalidade em si e os perigos associados à vida. Nesse caso, aconselho-te a mostrar a tua revolta perante todos os períodos anteriores à Revolução Industrial, quando as pessoas tinham uma esperança média de vida ainda menor. Podes ser "contra" a Idade Média, o Império Romano, as civilizações neolíticas... em última análise, podes ser contra a vida em si mesma, é ela que causa o problema. Ou podes sempre ser contra a Peste Negra, que dizimou 1/3 da Europa.

Só morre quem já viveu. Só morre a trabalhar quem já trabalhou. Tem sido sempre assim ao longo da nossa História. A evolução civilizacional (como o período histórico que foi catalisado pela Revolução Industrial) permitiu que as chances de morrer fossem mais diminutas e a mortalidade infantil caísse de forma vertiginosa. E esta evolução, ao contrário do que seria agradável pensar, não se deve ao cumprimento de leis, mas sim à acumulação de riqueza suficiente que permite às pessoas preservar a sua sustentabilidade e encontrar formas mais fáceis de lutar por condições mais apropriadas.

Gostava de te recomendar dois artigos do João Miranda no Blasfémias:

"Falácia da perfeição: comparar um sistema real com a sua alternativa ideal.

Exemplo: O mercado tem falhas que devem ser corrigidas pelo estado.

Neste exemplo, reconhece-se que um determinado sistema (o mercado) é imperfeito. Propõe-se a subsistituição desse sistema por outro (o estado) sem se cuidar de saber se este novo sistema não tem ele próprio falhas. O problema da solução proposta está precisamente em se tentar substituir um sistema com falhas por outro que tem ainda mais falhas. A falácia resulta da incapacidade dos seres humanos para aceitarem que este mundo é e sempre será imperfeito.

(...)

Outro exemplo: os homens são imperfeitos, por isso precisamos de governos para os controlar.

O erro está em considerar que os homens em geral são maus, mas, por milagre, os homens que formam os governos são bons e por isso podem controlar os outros."

Não sei se entendes onde é que as tuas afirmações se cruzam com esta falácia mas eu explico: é que insurgir-se contra a Revolução Industrial porque as pessoas viviam em más condições é abstruso. A argumentação começa por afirmar que há más condições, logo, é mau. Até aí concordamos. O problema são as conclusões que cada pessoa retira sendo que, no teu caso, és "contra". Eu não a vejo como uma coisa má porque foi melhor do que deixar toda aquela gente em condições ainda mais deploráveis e, com a sua acção, foi possível aperfeiçar e muito, estas mesmas condições a longo-prazo. A tua conversa assemelha-se às pessoas que são contra o trabalho infantil em países subdesensolvidos, ignorando completamente que se estas crianças não trabalharem, a sua subsistência estará ainda em maior risco. Mais uma vez, redirecciono-te para um estudo aqui já publicado. Não existem mundos perfeitos. A única coisa que se pode fazer é deixar que este se desenvolva livremente para pôr cada vez mais um fim a problemas que se vão tornando progressivamente mais insignificantes.

14. "Quanto aos EUA, consideras-me anti-americano. A única coisa que eu me considero contra é a Injustiça (não me venhas outra vez com tretas de crenças e místicas)."

Alguém que afirma, peremptoriamente, o seguinte:
"Revolução industrial, classes operárias a serem exploradas. Bomba-relógio a explodir... Mais tarde ou mais cedo irias ter as classes mais baixas a se revoltarem e como travas isto? Pela força? Tal como fazem os EUA com toda a gente que não concorda com eles?"

Está à espera de ser visto como quê? Totalmente pró-anericano? Quem fez a generalização foste tu. Terias de justificar o que queres dizer com "toda a gente" e o âmbito de "os EUA". Não esperes que eu interprete um sentido contrário daquele que está claramente expresso nas tuas frases.

Eu também sou contra a injustiça. Aliás, é por ser contra a injustiça que te estou a responder, caso contrário, nem me daria ao trabalho. Não sei a que te referes com as crenças e místicas mas esse departamento pertence à Church of the Flying Spaghetti Monster.

"Tal e qual como Portugal. Orgulho-me de pertencer ao primeiro país do mundo a abolir a pena de morte e a escravatura. Não me orgulho de pertencer a um país responsável pelo massacre de tribos de índios."

Queres fazer um exercício inútil de retórica para compreender a facilidade da tua relativização simplificadora? Vamos imaginar que eu digo o seguinte: "Sooner or later, you would have the indian tribes fighting against you. And how do you stop it? As Portugal did with everyone they didn't agree with?"

Então, qual é a sensação de imaginar um americano a dizer isto? Não me parece que alguma vez tenhas discutido História Universal com estrangeiros, principalmente europeus. Este assunto surge quase sempre (ler La Leyenda Negra) e os portugueses (o país em si, as gerações actuais) acabam por levar por tabela. A generalização é sempre simpática, especialmente quando envolta em ódio visceral. Por isso, vê se tens mais cuidado com as generalizações que fazes (se queres ser correctamente interpretado), especialmente quando, afinal de contas, não as querias fazer.

(cont.)

Friday, December 23, 2005

É Natal





Christmas Eve in Sarajevo (.wma) 3:31 min.

Trans-Siberian Orchestra

Pensamento do dia

Lembro-me perfeitamente de que, quando via Paulo Portas associado a qualquer símbolo nacional, várias pessoas que me rodeavam não conseguiam evitar uns comentários quaisquer relativos ao fascismo e às suas evidentes relações com o patriotismo e o nacionalismo. Há uns anos atrás, uma pessoa não podia sequer dizer qualquer coisa de boa relativamente a Portugal, sem ser imediatamente olhada como se fosse um defensor de Mussolini. Quero dizer, de Salazar. Eu gosto d'A Portuguesa. "És mesmo fascista!", saltava logo alguém. A nossa bandeira é bastante bonita, já reparaste? "Fogo! És fascista?". A única coisa que escapou a esta ceifada foi mesmo a Selecção Nacional, a qual é natural apoiar. Até mesmo falar da História de Portugal com um certo orgulho, da cultura portuguesa com um certo interesse nato, da etnografia com uma certa identificação, era suspeitamente mal visto. Falar de uma genética portuguesa não era porque as pessoas não sabiam o que era a genética.

Quando tinha talvez uns 5 ou 6 anos (foi há umas semanas atrás, como é óbvio), uma vez, comecei a cantarolar o hino nacional no carro dos meus pais. A minha mãe virou-se para o meu pai e disse, achando a situação muito graciosa, "já viste como ele é fascista?". Eu não percebi muito bem se o comentário era um elogio mas pela cara da minha mãe, assumi que sim. E, afinal, até era mesmo.

Estas coisas não aconteciam apenas cá fora, na vida quotidiana. Os comentadores da comunicação social também não deixavam de associar imediatamente qualquer símbolo nacional exposto com ideologias fascistas. Mesmo assim, há uns dias, vi Jerónimo de Sousa e militantes do PCP todos felizes e alegres a cantar o hino nacional, de forma muito patriótica, como se estivessem até comovidos. Ninguém os chamou de fascistas. Os portugueses já não são o que eram? Já não gostam de insultar e chamar nomes? Ao menos que os chamassem de comunistas, eu já ficava contente.

A todos os meus leitores



Desejo um Feliz Natal

Wednesday, December 21, 2005

Spin não-presidencial!

O Jet Propulsion Lab (NASA/Caltech) diz:

Partial Ingredients for DNA and Protein Found Around Star

NASA's Spitzer Space Telescope has discovered some of life's most basic ingredients in the dust swirling around a young star. The ingredients - gaseous precursors to DNA and protein - were detected in the star's terrestrial planet zone, a region where rocky planets such as Earth are thought to be born.



O Diário Digital diz, no título da notícia (que foi copiado para o Sapo):

Spitzer detecta vestígios de ADN a 375 anos-luz da Terra

Escusado será dizer, quase tive um enfarte do miocárdio.

EUA e Suécia

O modelo social americano

(...) "O jornal espanhol El Mundo publicou em 1 de Setembro um extenso trabalho sob o título "A pobreza dispara nos Estados Unidos". Os dados apresentados são do departamento de impostos. Nos Estados Unidos, esclareça-se, todos os maiores de idade são obrigados a tornar-se contribuintes, ainda que na declaração anual de rendimentos fiquem isentos de impostos. O ano fiscal abrange o segundo semestre de determinado ano e o primeiro do seguinte. De modo que, geralmente no mês de Agosto, tornam-se públicos os dados relativos à distribuição da população segundo faixas de rendimentos.

As famílias com rendimentos inferiores a 20 mil dólares anuais formam um grupo à parte por uma razão que o trabalho mencionado omite. São beneficiárias de um programa de rendimento mínimo, financiado pela Segurança Social, fundo constituído com contribuições obrigatórias universais. As famílias que não alcançam esse patamar recebem, do mencionado fundo, a correspondente complementação. Têm ainda acesso à assistência médico-hospitalar mantida pelo programa denominado Medical Care, mencionado no trabalho de El Mundo, mas de molde a minimizar o seu significado.

No exercício fiscal 2004-2005, as famílias com rendimentos inferiores àquela quantia corresponderam a 12,7 por cento da população. O autor do texto não se dá conta da real magnitude dos números com que está a lidar e, ainda que efectue a conversão em euros (pouco menos de 16 mil; mais ou menos 1350 mensais), tenta apresentar o quadro como se correspondesse à situação de indigência. Tanto nos Estados Unidos como na Europa, rendimentos de 1350 euros mensais de modo algum configuram situação de indigência. Mais grave é a suposição de que a Social Security equivaleria ao Welfare europeu." (...)

António Paim, Professor de Ciência Política (in Público) [sem ligação]

(via Biblioteca de Babel)

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Sweden: Poorer Than You Think


One of the enduring myths of the "Third Way" welfare state is that a nation as a whole can have a high standard of living--even if no one really has to work--as long as government transfers massive amounts of wealth from those who are well off to those who are less well off. For the past four decades, we have been inundated with news stories, books, and public commentary, all of which have exhorted us to be like Sweden.

The Swedes, we have been told, enjoy free medical care, generous welfare benefits, time off from work, and subsidies for just about everything. When one counters that Swedes pay enormously high taxes, the standard reply is, "That is true, but look at what they receive for their payments."

According to a recent study, however, the cat is out of the bag. Relative to household in the United States, Swedish family income is considerably less. In fact, the study concludes, average income in Sweden is less than average income for black Americans, which comprise the lowest-income socioeconomic group in this country.

The research came from the Swedish Institute of Trade, which, according to Reuters, "compared official U.S. and Swedish statistics on household income as well as gross domestic product, private consumption and retail spending per capita between 1980 and 1999."

The study used "fixed prices and purchasing power parity adjusted data," and found that "the median household income in Sweden at the end of the 1990s was the equivalent of $26,800, compared with a median of $39,400 for U.S. households." Furthermore, the study points out that Swedish productivity has fallen rapidly relative to per capital productivity in the USA.

(...)

While people can debate the present condition of Swedes in Stockholm versus blacks in Harlem, there is a deep issue here that people seem to forget when it comes to welfare states: they are destructive at their roots. Advocates of welfarism concentrate only upon distribution while vilifying production. Such a state of affairs cannot go on forever as governments are forced to cannibalize their own capital structure over time in order to make the system to continue to work.

(...)

While they prattle on about their moral superiority and their egalitarianism, however, something else is happening. They are slowly becoming poorer and poorer, and the welfare state cannot save them. It can only accelerate their downward slide.

Tuesday, December 20, 2005

Governo, IST e MIT



Já não me deixa surpreendido, creio eu, ouvir que o governo ou o Estado, em geral, tem como objectivo promover a cultura e a educação da população. Não sei quem é que hipnotizou toda esta camada extensa da sociedade para que possam acreditar em todas essas balelas. Talvez tenha sido o próprio Estado - ou existe alguma outra razão para apoiar as escolas públicas e a definição dos conteúdos programáticos por parte do Ministério da Educação? - a incutir toda esta confiança cega. Os governantes até tomaram o cuidado extremo de tornar a escolaridade obrigatória de forma a certificar-se que ninguém lhe possa escapar legalmente. Ocupou-se igualmente de educar todos a pensar que "alguém sem educação [secundária/superior] nunca será ninguém na vida". É certo, quando um estudante abandona o ensino escolar, grande parte da comunidade passa a vê-lo como uma espécie de marginal que não deseja trabalhar e que será relegado para os recônditos do gueto mais próximo. Não me irei alongar acerca deste assunto porque não é o âmbito deste artigo; ficará para outra ocasião.

Através d'O Insurgente (notícia que também pude ler no Bodegas), tive conhecimento ontem de que o Massachusetts Institute of Technology (esse mesmo, outro produto do capitalismo selvagem americano) deseja estabelecer um pólo de investigação em Portugal. A notícia não refere exactamente que tipo de investigação seria esta mas presumo que seja sobre um ramo de engenharia. A fracção relevante incide sobre estes pequenos pedaços que dizem quase tudo:

A entrada do Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Portugal pode estar em risco devido a divisões no interior do Governo relativamente ao Plano Tecnológico.

(...)

o reitor da UNL, Leopoldo Guimarães, revelou ao jornal que as negociações estão cada vez mais difíceis.

As negociações já deveriam estar fechadas há cerca de um mês, mas até ao momento nenhuma decisão foi anunciada.

Uma das exigências colocadas pelo instituto norte-americano é que o MIT possa recrutar investigadores junto de todas as universidades nacionais, hipótese que não agrada a alguns elementos do Executivo.

Estes defendem que seja apenas uma universidade portuguesa, nomeadamente o Instituto Superior Técnico (IST), a deter a exclusividade da parceria com o MIT.

Por uma razão que ninguém entende, o governo insiste em complicar negociações que envolvem as universidades portuguesas e o Massachusetts Institute of Technology (MIT para os amigos). Este deseja, com toda a naturalidade, poder recrutar investigadores de mais do que uma instituição.

Que razões podem existir para tal comportamento insano?

1. O Estado português não quer saber da inovação tecnológica portuguesa. Não se preocupa com qualquer género de desenvolvimento científico que possa ser produzido em Portugal, para benefício dos portugueses e dos seus investigadores locais. A intenção do governo é puramente destruir cada vez mais as oportunidades e possibilidades de avanço da economia portuguesa.

2. O Estado português fez um contrato informal e interno com o IST para que uma parte dos fundos dirigidos à instituição seja recambiada para as contas pessoais dos governantes. Isso explicaria o porquê da exigência na exclusividade.

3. O Estado português acredita no mI(S)To - trocado por miúdos - o mito do IST. Todos os bons alunos de ciência e engenharia vão para o IST. Todos os melhores estudantes são do IST. Todos os melhores programas de estudos para estas áreas são do IST, assim como os professores. Se os investigadores não forem do IST, não há futuro risonho à sua frente e é melhor que se preparem para uma carreira medíocre como electricistas numa companhia qualquer que também emprega ucranianos. Nesta versão, entende-se porque é que o governo parece nem sequer considerar a existência de outras universidades locais que também atraem estudantes (Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra, Porto, Aveiro...).

4. O Plano Quinquenal, perdão, Tecnológico do governo socialista é uma cagada total. Consiste apenas em mais uma técnica mascarada para continuar a sugar dinheiro dos contribuintes, com o apoio de grande parte deles. A maioria dos estudantes, investigadores e professores acha muito bem porque concordam com o slogan de mais dinheiro para "educação, inovação e desenvolvimento". No entanto, a maior fatia deste dinheiro nunca chega nem aos professores, nem aos estudantes, nem aos investigadores. A única coisa que se vê são políticos e governantes em carros de luxo e seus respectivos fatos e gravatas. Um político que se preze deve andar sempre aprumado e com uma imagem respeitável. Minimamente suspeito...

5. Possível pensamento: O MIT é uma instituição americana. Quem é que eles pensam que são, hein?! Lá porque são americanos vêm para aqui mandar em nós? Ai o raio dos americanos, que vão para a não-sei-quantas da mãe deles... ou fazem o que nós queremos, ou não há festa para ninguém. Respect! Nós somos portugueses mas não é por isso que somos inferiores. Se querem entrar em Portugal, têm de baixar a bolinha e obedecer-nos.

6. Outro possível pensamento: Há que proteger os interesses nacionais (ler, interesses do Estado) e o interesse nacional é não ter o MIT a competir pelos melhores alunos/investigadores com as universidades portuguesas, já que os absorveriam para os mercados internacionais, especialmente o americano. É melhor que façamos exigências muito fortes para que eles não aceitem o acordo e acabem por desistir da utilização do pólo de investigação. Qualquer introdução do MIT no mercado português é altamente prejudicial porque apenas o MIT ganha com isto e nem sequer os podemos ter sobre o nosso jugo.

7. E ainda outro: Há que estudar o impacto ambiental da entrada do MIT em Portugal. Eles são americanos e não se preocupam com o ambiente. Se tiverem acesso a alunos de todas as universidades, não tarda nada, estarão a tentar construir um outro pólo com ligações industriais que irão, obviamente, prejudicar o meio ambiente. Se querem matar a Natureza, que a vão matar lá na terra deles! É melhor restringir-lhes as possibilidades de crescimento em Portugal.

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O que é que Portugal ganha ou perde, realmente, com tudo isto? Quais são as consequências mais evidentes? Se o MIT tivesse possibilidade de recrutar estudantes para o seu centro de pesquisa, Portugal ganharia pessoas com uma melhor formação técnica e uma probabilidade ainda mais ampla de aproveitamento das suas capacidades. Estas pessoas, per se, teriam acesso a mais oportunidades de investigação, mais créditos atribuídos à sua carreira e ofertas de emprego mais vantajosas, possivelmente, em boas universidades no estrangeiro onde pudessem continuar a fazer pesquisa de alto nível e onde recebessem salários mais elevados, que realmente reflectissem a qualidade do seu trabalho. Portugal ganharia maior renome internacional por ter a capacidade de formar técnicos de calibre. O próprio investimento do MIT em Portugal é vantajoso porque Portugal iria beneficiar em primeira mão das tecnologias que fossem desenvolvidas em solo português, podendo ter um acesso mais facilitado do que se necessitasse de as importar de um país estrangeiro. Igualmente, ao investir em Portugal, maiores fluxos de capital passariam a circular, gerando mais riqueza e mais (e melhor) emprego. A escalada dos níveis de desemprego entre os recém-licenciados não seria, também, tão elevada.

Tendo um colosso do tamanho do MIT a actuar em Portugal, as universidades portuguesas seriam necessariamente forçadas a subir o seu nível de qualidade para que os estudantes não se atropelassem mutuamente para conseguir trabalhar no(s) pólo(s) do MIT, desprezando completamente todas as outras oportunidades. Para conseguir atrair estudantes, a qualidade de ensino e de investigação teria de se tornar mais atraente, de tal maneira que pudesse estar minimamente a par da míriade de chances disponibilizada pelo MIT.

Optando por interferir em algo que deveria ser apenas determinado pelo contrato entre a instituição americana e os conselhos directivos/executivos das univerisdades portuguesas, o Estado revela, mais uma vez, a sua verdadeira natureza. Coloca um travão na liberdade de escolha dos cidadãos, impede o investimento, o desenvolvimento económico e científico, limita as oportunidades de sucesso dos seus contribuintes, retira-lhes os benefícios de mercado e usa o dinheiro gerado por estes para acabar por tomar uma decisão que só os prejudica. É vergonhoso mas, infelizmente, há muita gente que apoia tudo isto ou ainda pensa, de forma extremamente naïf, que o Estado existe para ajudar e financiar os projectos relacionados com o conhecimento e a cultura.

Ao cuidado dos Louçãs deste mundo

Quando há um acontecimento qualquer que possa ser condenável, sempre aparece um dirigente do Bloco de Esquerda, completamente indignado com o sucedido, como se os demais não o estivessem. Os vergonhosos acontecimentos de Abu Ghraib são um caso bastante ilustrativo. O mais extraordinário é que toda esta gente que repentimente se revolta, apontando uma clara violação dos direitos humanos, grita mais alto se o autor de tal atentado for um americano ou um inglês.

Há uma coisa que estas sábias e doutas personalidades ainda não entenderam. Criminosos há em todo o lado. O crime é algo que não se consegue eliminar apenas pela existência das leis. Se assim fosse, estas não teriam qualquer necessidade de existência. Surpreendentemente, estas notícias tornam-se num escândalo. Fazem capas de jornal por todo o mundo e mostram-se como notícias de abertura por telejornais em diversos países. Durante todos estes anos, não consigo recordar uma única vez que um jornal português tenha tido como 1ª página os crimes pútridos cometidos durante o regime de Saddam Hussein. Não consigo lembrar-me sequer de telejornal algum que tenha mencionado isso como peça de divulgação. A transmissão desta informação aos cidadãos fica ao cargo de uns poucos comentadores que estão melhor informados e julgam ser necessária a posse do conhecimento destes dados para daí retirar conclusões sensatas.

Para toda esta gente que mantém duplos critérios, fica uma notícia que não faz as capas de jornais porque não é relevante. Não abre telejornais porque não é um escândalo.

Maus tratos a prisioneiros iraquianos

Soldados norte-americanos condenados a penas de prisão


Cinco soldados norte-americanos confessaram-se culpados de maus tratos a detidos iraquianos e foram condenados a penas que vão de um a seis meses de prisão.

(...)

Dois dos militares confessaram a autoria de "crueldades e maus-tratos" e vão ser expulsos do exército, depois do cumprimento das respectivas penas.

"A Força Multinacional do Iraque encara muito seriamente as acusações de maus tratos. Cada uma das acusações é alvo de inquérito minucioso e medidas adequadas serão tomadas face aos resultados das investigações", garantiu o exército norte-americano em comunicado.


Aqueles que insistem, constantemente, em gritar a "invasão" ao Iraque fazem da constituição iraquiana uma efemeridade menor. Menosprezam o direito de voto adquirido. Auguram futuros desastres e catástrofes que se sucederão, colocando ainda mais a nu a hecatombe que foi a "invasão" do Iraque. Para essas pessoas, ainda sem compreender a diferença entre democracia e tirania pura, aqui fica uma frase de Tony Blair, proferida em Janeiro deste ano:

The difference between democracy and tyranny is not that in a democracy bad things don't happen. But that in a democracy, when they do happen, people are held and brought to account. And that it what is happening under our judicial system.

Monday, December 19, 2005

Desmontagem política VII

(cont.)

9. "Quando afirmo que o modelo liberal aumenta o foço entre ricos e pobres acho muito curioso que acuses isso de ser pura propaganda política. Mas já vi que não te vou conseguir convencer do contrário."

Sabes como é. Ter uma mentalidade científica implica trabalhar com dados experimentais e relacioná-los com as teorias (ou formular as nossas próprias). Que chamarias tu a uma teoria política que discorda dos resultados observados? Ou é uma religião ou é propaganda política. Também há a possibilidade de que seja ambas as coisas em simultâneo.

10. "No entanto, gostaria de focar apenas umas quantas questões que me levam a optar por um modelo social-democrático como o que existe, por norma, na Europa. As melhores Universidades estão sob a alçada do Estado. É certo que isto traz despesas, mas pelo menos asseguras a possibilidade de uma boa educação à maioria da população. Um serviço de saúde público, garante que toda a gente tem acesso a um Hospital quando precisar. Ao contrário do que acontece nos EUA que se te estiveres a esvaziar em sangue à frente de um hospital, mas infelizmente, não tens um seguro de saúde decente, da porta não passas. Estes são dois exemplos, mas poderia apontar-te muitos mais."

Se eu te der a escolher entre um sumo de laranja com 90% de água e outro com 80%, qual deles é o de melhor qualidade? O de 80%, evidentemente. Isso não significa que ele seja bom mas apenas que é o melhor. Assim sendo, que universidades europeias que estejam sobre a alçada do Estado são mesmo boas? E não vale a pena mencionar universidades britânicas porque o sistema é distinto do continental, para além da origem das universidades ser privada. A propósito deste mesmo assunto já Tony Blair (atenção: líder do Labour Party) tinha dito no Parlamento Europeu, em Junho deste ano, que:

"First, it would modernise our social model. Again some have suggested I want to abandon Europe's social model. But tell me: what type of social model is it that has 20m unemployed in Europe, productivity rates falling behind those of the USA; that is allowing more science graduates to be produced by India than by Europe; and that, on any relative index of a modern economy - skills, R&D, patents, IT, is going down not up. India will expand its biotechnology sector fivefold in the next five years. China has trebled its spending on R&D in the last five.

Of the top 20 universities in the world today, only two are now in Europe."

As duas universidades a que Tony Blair se refere são, evidentemente, Oxford e Cambridge. Escusado será dizer que, exceptuando as universidades britânicas, nenhumas outras se encontram ao mesmo nível. Ele não estava a inventar aqueles números. Uma rápida pesquisa no google revela dois rankings internacionais. Num deles, realmente, das 20 melhores universidades do mundo, 17 são norte-americanas, 2 são europeias (Oxbridge) e 1 é japonesa. Podemos até alargar os nossos números até às 40 melhores universidades do mundo até encontrarmos uma que seja da UE, sem ser britânica. Neste outro ranking, teriamos de contar as 60 melhores universidades do mundo até encontrar uma da UE não-britânica. O Times, no seu suplemento sobre ensino superior, refere também a sua classificação:

"American institutions occupied seven of the top ten places, with Oxbridge the highest-ranked outside the United States.

London's position as a centre of global educational significance was confirmed with four institutions in the top 50. The London School of Economics was 11th, Imperial College 14th, University College London 34th, and the School of Oriental and African Studies 44th.

The only European university outside Britain in the top 20 was the Federal Institute of Technology in Zurich, Switzerland, in tenth place.

(...)

France, by contrast, managed just two universities in the top 50, with the École Polytechnique in 27th place and École Normale Supérieure 30th. Heidelburg University, in 47th place, was Germany's only entry, one fewer than Hong Kong.

Britain was home to 18 of Europe's top 50 universities, and six of the top ten, but not a single institution from Spain, Portugal, Italy or Greece made the list. The United States had 62 of the top 200 universities, followed by Britain with 30, Germany 17 and Australia 14."

Eu entendo que seja frustrante ver isto mas, sinceramente, não me parece que a sensação das pessoas seja muito diferente da realidade expressa nestas tabelas. Qualquer pessoa minimamente informada sobre o meio académico conhece Harvard, Cambridge, Oxford, Stanford, MIT, Imperial College, Caltech, Princeton, etc. Não me parece que conheçam muitas universidades da Europa continental, excepto as históricas. Na entrada anterior, esqueci-me de mencionar isso mas até fora da notada Ivy League, universidades como o MIT, Stanford e Caltech são...privadas. Universidades que tenham mais calibre do que estas, é difícil de encontrar. E são americanas.

Quanto aos serviços de saúde americanos, não sei a que te referes mas aconselho-te a deixares de fumar essas coisas porque te fazem mal. Tanta conversa à Bloco de Esquerda está a fritar-te a mioleira. O governo federal americano gasta a mesma percentagem do PIB na saúde que o governo português, que é por volta de 6,6%, como o RAF referiu aqui. Não inventámos a estatísticas, fazem parte do Human Development Report 2005. Antes que me dês mais "exemplos", aconselho-te a leres este livro. Foi escrito precisamente para gente que pensa à Michael Moore (ou que verdadeiramente acredita no que ele diz). O sistema americano de saúde público tem, por exemplo, o Medicare e o Medicaid, por isso a tua crítica não faz sentido. Nem sequer faria se não existissem estes serviços. Apenas demonstras que não consegues conceber o funcionamento de uma sociedade sem a existência de um Estado que controla e coordena.

11. "Não acho, que a igualdade social só pode ser atingida em países onde todos são igualmente pobres. A igualdade social quase que é, no meu entender, hoje atingida na Europa. Com mais uns anos, vencer-se-ão as últimas barreiras e qualquer pessoa que nasça terá as mesmas oportunidades que outra pertencente a uma classe mais abastada. Note-se que defendo igualdade social, o que é diferente de igualdade de posses."
Não é uma questão do que tu achas. É uma questão de factos. Atingir a igualdade de rendimentos só é possível em países pobres. No entanto, já me disseste que não favoreces uma igualdade de rendimentos mas sim uma igualdade social. Não vejo qual é a diferença entre as duas. Se te referes a uma igualdade de oportunidades, essa também é impossível de atingir, mas por razões naturais. E, ainda que fosse, estaríamos muito longe de a atingir na Europa. Países com taxas de desemprego elevadas, preços altos e cargas fiscais enormes muito dificilmente podem oferecer qualidade de vida significativa ao contrário de outros, mais ricos (devido à troca livre de bens e serviços), onde as taxas de desemprego são inferiores e as oportunidades se multiplicam. Se por igualdade social, entendes dificuldades gerais em sobreviver, então sim, estamos a atingir uma igualdade social muito acentuada. Cada vez há mais pessoas na mesma situação por toda a Europa. Falta só um bocadinho mais de repressão para ultrapassarmos essa barreira.

12. "Quanto aos números que apontas em comparação da Suécia aos EUA, apenas posso dizer que esse estudo parece-me altamente tendencioso. De facto, é verdade que nos EUA há muito mais riqueza que na Europa. Mas há também uma percentagem maior de sem-abrigos, pessoas a viver no limiar da pobreza, enfim... Aconselho-te vivamente a reveres esses números. Não é por nada que a qualidade de vida na Suécia, assim como na Dinamarca, Holanda, França, Alemanha e mais países Europeus é largamente superior à dos EUA."

É o que todos vocês dizem quando confrontados com os dados estatísticos e a correlação entre eles. Querem acreditar tanto num ideal de sociedade socialista (casi-)perfeita que até negam a realidade. Eu não tenho de rever números nenhuns. Se alguém tem de rever alguma coisa és tu porque nem pareces ter sequer lido o estudo que te indiquei - os dados estão lá para ser assimilados, embora a ideia nem sequer fosse comparar os EUA com a Suécia mas sim com os estados europeus em geral - e devias, de acordo com aquilo que tens estado a defender, refutá-lo com argumentos lógicos ou dados estatísticos que comprovem aquilo por que te bates. Dizer-me a mim para "rever esses números" é uma posição de arrogância intelectual. Assumes a priori que tudo está errado (ou melhor, é "tendencioso") e dizes-me a mim, que te apresentei os dados, que os reveja. Estamos a discutir um assunto com dados e factos ou histórias da carochinha?

Relativamente aos países nórdicos, nem deveria necessitar de fazer esclarecimentos, já que o tenho feito mais do que uma vez aqui. No entanto, mais uma vez, é premente, por força, voltar a esclarecer o assunto. Um documento recente do Institute of Economic Affairs, assinado por um sueco, reza o seguinte:

"Sadly for these journalists — and for Sweden — their descriptions couldn’t be further from the truth. Yet their descriptions are quite typical: few comprehend the full scope of the problems with the Swedish welfare state.

First, unemployment is not at all low. The official rate stands around 6 percent, which is just above normal for a market economy. But according to the trade unions, which are intimately connected to the Social Democratic government, the real — and hidden — level of unemployment rises above 20 percent. Out of a population of nine million people, over one and a half million healthy Swedes have chosen not to enter the labour market and live on welfare instead.

The Swedish labour market is rigid and regulated, and the real significance of the ‘magic’ pact between the state, employers, and the workforce to which The Guardian refers is an order where the state takes away every right from the employer and gives those rights to his or her employees instead. Companies do not dare to hire new staff; because of labour legislation, it is impossible to get rid of them. There is no doubt that this is a major reason for Sweden’s mass unemployment.

And second, while Sweden’s growth (around 3 percent) is above the European average, it is still relatively low. If Sweden were a state in America today, it would be the fifth poorest. Even more, the total tax pressure is 63 percent."

Se, no entanto, estiveres interessado num estudo comparativo, porque os países nórdicos têm vindo a desmantelar o seu Estado Social de décadas anteriores, volto a referir aqui um estudo que havia sido publicado pela Timbro, um think tank sueco (tendencioso, não?) acerca da evolução do modelo escandinavo e da idolatria da qual geralmente é alvo:

"Few social experiments have caught the imagination of politicians and students of political economy like the ‘Swedish model’. To successive generations of the centre left searching for their own “Third Way” Sweden was something of a paradise. This exotic Nordic country was a kind of real-life Utopia, an idyllic country, full of beautiful people with a Social Democratic government which worked, a nation combining high rates of economic growth with unprecedented levels of equality. This was a view largely shared by the Swedes themselves. For 50 years or so after the 1930’s, it really appeared that you could have it all, a high rate of growth, low levels of unemployment and an unparalleled system of social welfare. But the Swedish model was not to survive the challenges that new times and its own development were to raise. At the beginning of the 1990’s, after almost two decades of increasing problems, the Swedish Model collapsed. A difficult time of high unemployment and fiscal crisis became the everyday reality of the Swedes. This was a mortifying experience for a people that for many decades had known nothing of that kind. Confusion was widespread, but even the Swedish clouds have a silver lining. In the middle of the deepest crisis the country had experienced since the beginning of the 1930’s, rethinking and reappraisal ensued. This was the start of a quite amazing process of change that is transforming Sweden, leaving behind the old monopolistic tutorial state1 and opening the gates to a welfare society in which the state is no more the patronising state of the past but what I would like to call an enabling state, open to civic initiatives, individual choice, and cooperation with the private sector."

O estudo é longo - tem dezenas de páginas - mas é altamente recomendado a todos os que continuam a cantar despreocupadamente a superioridade do modelo nórdico, que se vai despedaçando por si próprio. (Disponível também em castelhano, se mais apropriado). Uma rápida análise das economias finlandesa, dinamarquesa e islandesa permite também entender que nos últimos anos todas estas têm sofrido remodelações muito fortes ao nível das condições de mercado (de resto, como a própria Irlanda), segundo o caminho da desregulação do mesmo, privatização de sectores públicos, redução de impostos (casos extremos, como o escalão máximo de IRS, que era de 59% na Dinamarca e passou para 30%, ou de 49% para 31% na Islândia) e abertura a investimento estrangeiro. É só ler. Quem não se informa, não pode compreender o mundo. Gostaria de te recomendar outro artigo de Johan Norberg (outro sueco, tendencioso...) sobre a relação entre a globalização e a pobreza.

Sem-abrigo existem em todo o lado mas, é nos EUA, comparativamente a muitos países europeus, que é mais fácil sair da pobreza. Aliás, como diz José Carlos Rodríguez aqui, a pobreza quase não existe nos EUA, se a definirmos em termos absolutos. Aquilo que tu chamas de limiar da pobreza varia de país para país e é um conceito puramente relativo. A vossa obsessão constante por clamar "igualdade" tolda-vos o pensamento. A igualdade é impossível. O que é possível é permitir que cada vez menos pessoas sejam pobres e a forma mais eficiente e viável de o fazer é através do capitalismo. É uma questão de lógica, ainda que os dados estatísticos falem por si mesmos:
"The Census Bureau reports that 35.9 million persons "lived in poverty" in 2003. To understand poverty in America, it is important to look behind these numbers and examine the actual living conditions of the individuals the government deems to be poor. For most Americans, the word "poverty" suggests destitution--an inability to provide a family with nutritious food, clothing, and reasonable shelter. Yet only a small number of the millions of persons classified as "poor" by the Census Bureau fit that description. Although real material hardship certainly does occur, it is limited in scope and severity. Most of America's "poor" live in material conditions that would be judged as comfortable or well off just a few generations ago."

E, os números (lamento, a fusão de idiomas):

- El 46% posee la casa en la que vive, de media de tres habitaciones con un baño y medio, un garaje y un patio o un porche. La casa media de una familia pobre estadounidense es más grande que la media del conjunto de los europeos. Sólo el 6% de las casas del 12,5% de las familias a las que el Estado llama pobres están hacinadas (con más de una peersona por habitación). Más de dos tercios tiene dos o más habitaciones por persona.

- El 76% tiene aire acondicionado, en contraste con el 36% de la media de todos los estadounidenses, hace 30 años.

- Casi tres de cada cuatro familias pobres posee un coche, y el 30% dos o más.

- El 97% tiene televisión en color. La mitad tiene dos o más.

- El 78% tiene un vídeo o un DVD y el 62% televisión por cable o satélite.

- El 76% tiene microondas, más de la mitad una cadena stereo y un tercio un lavaplatos.

Referindo novamente o artigo do RAF em que ele afirmava, ironicamente:

"(...)a população que se situa no último patamar de rendimento (10% mais pobres) nos EUA dispõe de 1,9% do rendimento total, em Portugal, dispõe de 2,0% do rendimento total, ora, como nos EUA o PIB per capita é 2,7 vezes maior, isto significa que, em termos relativos, os nossos pobres são tão pobres como nos EUA, mas em termos absolutos, são muitissimo mais pobres!? Não pode ser!

(...)

Bem, isto em termos agregados significa o quê? Que Portugal tem um nível de desigualdade semelhante aos EUA (40,8 contra os 38,5 no indice Gini). Sim, em termos relativos, mas com uma ligeira diferença: o PIB per capita nos EUA é quase o triplo...

(...)

os números falam mais alto: é bem pior ser pobre em Portugal que nos EUA: a distribuição da riqueza é semelhante, com a diferença que o PIB per capita é quase três vezes superior"

Ainda em relação à "elevada qualidade de vida" dos outros países europeus, apenas te posso dizer que França e Alemanha têm uma taxa de desemprego superior a 10%. Os preços dos seus produtos são, maioritariamente, elevados, o que não acompanha o crescimento da sua economia (comparando-a com o Reino Unido, Irlanda, Luxemburgo, etc...), afectando isso directamente o poder de compra dos cidadãos. Um exemplo muito interessante dessa grande qualidade de vida foram os 15.000 mortos em França, devido à onda de calor que passou pela Europa em 2003. Há fortes razões para acreditar que nos EUA, onde a número de "pobres" com ar condicionado ronda os 65-75%, nada tão catastrófico alguma vez teria acontecido. O furacão Katrina foi um bom exemplo disso - "apenas" 1 milhar de pessoas morreu, mesmo quando a imprensa sensacionalista dizia que o a taxa de mortalidade seria, no mínimo, 10 vezes maior. Quanto à Holanda, gostava que me dissesses se achas que, por acaso, o facto de a Holanda ser um dos países com maior liberdade económica (medidas dos anos 80) da Europa Central tem algo que ver com a sua taxa de desemprego ser quase metade do eixo franco-alemão e o seu PIB per capita superior ao de ambos (?!)

Última recomendação relativamente a este assunto. Qualquer comentário que faças deverá passar por contradizer os referidos estudos que demonstram que a redução absoluta da pobreza se correlaciona posivitamente com o crescimento económico de um país e o seguinte gráfico, elaborado pela Heritage Foundation, que correlaciona positivamente o dito crescimento com a liberdade económica respectiva da sua nação.



(cont.)