Há poucos dias, o Primeiro-Ministro José Sócrates fez um discurso, em virtude da época natalícia, do qual cito as partes mais relevantes:
Ontem, quando lia as notícias, deparei-me com uma notícia que para mim não é nada surpreendente mas que serve de bom exemplo para mostrar as discrepâncias relacionadas com o famoso provérbio português, faz o que eu digo, não faças o que eu faço. Volto a relembrar que José Sócrates é um defensor da manutenção do Estado Social e mantém uma retórica constante em torno da "desigualdade social":
Ontem, enquanto lia calmamente as notícias, deparei-me com o comunicado de que José Sócrates se havia lesionado a fazer esqui, na Suiça:
1. Sócrates, que se pede aos portugueses sacrifícios e apertos de cinto, aumentando os impostos sucessivamente, não se sabe conter. Vai passar férias uma semana para a Suiça, com os filhos, gastando dinheiro que deveria, de acordo com o seu discurso, estar a ser poupado em nome de Portugal, seja lá o que isso for.
2. O Primeiro-Ministro preocupa-se com a desigualdade e com a pobreza mas não parece muito incomodado com o facto de que a maioria da minha família não tem sequer dinheiro disponível para passar umas férias no Entroncamento, quanto mais no Algarve (e muito menos na Suiça). Tudo isto seria lógico, não fosse a preferência de José Sócrates pelos Alpes suíços, o que deixa a sua autoridade moral muito reduzida, quando pede esforços ao povo português.
3. Como bom social-democrata que é, José Sócrates e seus ministros, mais do que uma vez, já referiram a importância das golden shares, dos sectores estratégicos da economia nacional e dos centros de decisão nacional. Não deixa de ser preocupante, portanto, que o nosso PM decida fazer um investimento na Suiça, quando podia optar, por exemplo, pela via do estímulo económico ao turismo na Serra da Estrela. Afinal, segundo a teoria, o que é nacional é bom e não podemos deixar os capitais sair do país, pois não?
4. A escolha da Suiça para passar as férias não deixa de ser intrigante. Para além de ser um dos países com mais características liberais da Europa (onde o IVA nem sequer existia até há muito pouco tempo e é de 7,6% na maioria dos casos - em alguns outros é de 2,4% ou 3,6%), a Suiça é provavelmente o melhor país do mundo para se ter uma conta bancária. A intervenção governamental é mínima, o que gera um investimento fortíssimo, incluindo a nível estrangeiro. Como diria um amigo meu que lá nasceu, não é estranho que a Suiça tenha o 3º maior PIB per capita da Europa (apenas superado pelo Luxemburgo e pela Noruega). Resumindo, se eu quisesse depositar dinheiro que desejo esconder das garras do Estado português, certamente fá-lo ia na Suiça.
5. José Sócrates, como já referi, fala muito de pobreza e desigualdade (e faz bem, segundo as notícias que nos vão chegando, Portugal está a tornar-se, metaforicamente - ou talvez não, numa República Soviética). Como Sócrates se preocupa com as pessoas (aliás, como todos os socialistas) eu recomendo que Sócrates passe a ganhar o salário mínimo nacional, de forma a mostrar a verdadeira solidariedade que tanto apregoa. Não digo o salário mínimo legal mas o salário mínimo de mercado, que em Lisboa é certamente superior ao definido pela lei. Aconselho o mesmo aos seus colegas de governo e a todos os deputados que digam que se preocupam com a pobreza no país e depois aplicam o dinheiro roubado destes mesmos pobres - que se não pagarem, vão para a cadeia - em objectos pessoais ou serviços relacionados com a sua pessoa.
Em Portugal, costuma dizer-se que o ski é um desporto de meninos ricos (ter dinheiro é sempre pecado). Neste caso, qual é o prazer de andar a trabalhar para ser forçado a financiar, por via de extorsão, as férias dos outros na Suiça?
Volto a citar o grande Orwell, que viu mais longe do que muitos na sua época (em que praticamente todos os socialistas andavam a lutar pelo marxismo-leninismo...):
«All animals are equal, but some animals are more equal than others», Animal Farm, 1945
O ano que está prestes a terminar foi mais um ano ainda difícil para muitas famílias e para muitas pessoas na sociedade portuguesa. Eu sei isso.
Mas este foi também um ano em que o País começou, finalmente, a enfrentar e a resolver os seus problemas.
Todos sabemos que o País não avança continuando a viver de ilusões e de sucessivos adiamentos. E sabemos também - sabemos todos - que há muitas coisas que é preciso mudar em Portugal para que possamos garantir aqui um futuro melhor, para nós e para os nossos filhos.
(...)
E estamos a fazê-lo com a coragem e com a determinação que são necessárias para levar o País para a frente. Para que a economia portuguesa possa melhorar e criar mais empregos. Para que os jovens tenham mais oportunidades. Para que haja menos desigualdades sociais. Para que possamos garantir o pagamento das pensões de reforma no futuro. Para que os nossos idosos vejam assegurado um rendimento que lhes permita viver com dignidade e não os condene mais à pobreza. Numa palavra, para que Portugal se volte a aproximar do nível de vida dos Países mais desenvolvidos da Europa.
É esse o nosso caminho. Sei bem que há quem considere que este não é o melhor momento para se estar no Governo. Mas, o meu sentimento é exactamente o contrário. Para mim é uma honra poder servir o meu País e os meus concidadãos neste preciso momento.
E tenho a profunda esperança - tenho mesmo a certeza - de que, com a compreensão e a cooperação de todos os portugueses de boa-vontade, Portugal vai ser capaz de vencer as dificuldades e vai ter um futuro melhor.É para isso que estamos a trabalhar e a dar o melhor do nosso esforço.
Nesta época de Natal, quero dirigir a todos os portugueses e a todas as famílias uma palavra de esperança.
Mas também uma palavra de solidariedade, sobretudo para os mais desfavorecidos, os mais pobres, os desempregados, os doentes e os que vivem na solidão.
Ontem, quando lia as notícias, deparei-me com uma notícia que para mim não é nada surpreendente mas que serve de bom exemplo para mostrar as discrepâncias relacionadas com o famoso provérbio português, faz o que eu digo, não faças o que eu faço. Volto a relembrar que José Sócrates é um defensor da manutenção do Estado Social e mantém uma retórica constante em torno da "desigualdade social":
Rigor, transparência e verdade têm de ser as palavras-chave no domínio das contas públicas. Rigor, desde logo, na despesa, porque essa é a forma última de garantir a sustentabilidade de longo prazo das contas públicas, de assegurar uma economia competitiva e de garantir o Estado Social.Sócrates fala em garantir a existência do Estado Social e, ao mesmo tempo, refere como medida prioritária a redução da pobreza e da desigualdade. Sabendo que o objectivo do Estado Social é precisamente este e este existe em Portugal, uma destas premissas tem de estar errada porque ou Sócrates deseja manter o Estado Social (e assim, agravar a pobreza e as desigualdades) ou deseja combatê-la e, para isso, conta com o desmantelamento do dito.
(...)
Quero reafirmar aqui que a opção do Governo que o povo sufragou envolve, também, um compromisso indeclinável na luta contra as desigualdades e contra a pobreza; e sobretudo contra a pobreza sem voz, que é a dos mais idosos.
(...)
Quero assumir, em nome do Governo, três grandes prioridades.
(...)
A terceira, reduzir decisivamente as desigualdades sociais e os níveis de pobreza.
Ontem, enquanto lia calmamente as notícias, deparei-me com o comunicado de que José Sócrates se havia lesionado a fazer esqui, na Suiça:
O primeiro-ministro, José Sócrates, sofreu quinta-feira à tarde um estiramento num dos joelhos, após ter caído a praticar esqui numa estância de turismo na Suíça, disse hoje à Lusa fonte do gabinete do chefe do Governo.
(...)
José Sócrates partiu para a Suíça logo após o dia de Natal, acompanhado pelos seus filhos, devendo regressar a Portugal antes do fim do ano, entre sexta-feira e sábado.Excepção feita em 2004, em que entre o Natal e o fim do ano estava envo lvido na campanha para as legislativas, José Sócrates passa habitualmente alguns dias de férias neste período para praticar esqui.
Há várias conclusões a retirar destes factos:
1. Sócrates, que se pede aos portugueses sacrifícios e apertos de cinto, aumentando os impostos sucessivamente, não se sabe conter. Vai passar férias uma semana para a Suiça, com os filhos, gastando dinheiro que deveria, de acordo com o seu discurso, estar a ser poupado em nome de Portugal, seja lá o que isso for.
2. O Primeiro-Ministro preocupa-se com a desigualdade e com a pobreza mas não parece muito incomodado com o facto de que a maioria da minha família não tem sequer dinheiro disponível para passar umas férias no Entroncamento, quanto mais no Algarve (e muito menos na Suiça). Tudo isto seria lógico, não fosse a preferência de José Sócrates pelos Alpes suíços, o que deixa a sua autoridade moral muito reduzida, quando pede esforços ao povo português.
3. Como bom social-democrata que é, José Sócrates e seus ministros, mais do que uma vez, já referiram a importância das golden shares, dos sectores estratégicos da economia nacional e dos centros de decisão nacional. Não deixa de ser preocupante, portanto, que o nosso PM decida fazer um investimento na Suiça, quando podia optar, por exemplo, pela via do estímulo económico ao turismo na Serra da Estrela. Afinal, segundo a teoria, o que é nacional é bom e não podemos deixar os capitais sair do país, pois não?
4. A escolha da Suiça para passar as férias não deixa de ser intrigante. Para além de ser um dos países com mais características liberais da Europa (onde o IVA nem sequer existia até há muito pouco tempo e é de 7,6% na maioria dos casos - em alguns outros é de 2,4% ou 3,6%), a Suiça é provavelmente o melhor país do mundo para se ter uma conta bancária. A intervenção governamental é mínima, o que gera um investimento fortíssimo, incluindo a nível estrangeiro. Como diria um amigo meu que lá nasceu, não é estranho que a Suiça tenha o 3º maior PIB per capita da Europa (apenas superado pelo Luxemburgo e pela Noruega). Resumindo, se eu quisesse depositar dinheiro que desejo esconder das garras do Estado português, certamente fá-lo ia na Suiça.
5. José Sócrates, como já referi, fala muito de pobreza e desigualdade (e faz bem, segundo as notícias que nos vão chegando, Portugal está a tornar-se, metaforicamente - ou talvez não, numa República Soviética). Como Sócrates se preocupa com as pessoas (aliás, como todos os socialistas) eu recomendo que Sócrates passe a ganhar o salário mínimo nacional, de forma a mostrar a verdadeira solidariedade que tanto apregoa. Não digo o salário mínimo legal mas o salário mínimo de mercado, que em Lisboa é certamente superior ao definido pela lei. Aconselho o mesmo aos seus colegas de governo e a todos os deputados que digam que se preocupam com a pobreza no país e depois aplicam o dinheiro roubado destes mesmos pobres - que se não pagarem, vão para a cadeia - em objectos pessoais ou serviços relacionados com a sua pessoa.
Em Portugal, costuma dizer-se que o ski é um desporto de meninos ricos (ter dinheiro é sempre pecado). Neste caso, qual é o prazer de andar a trabalhar para ser forçado a financiar, por via de extorsão, as férias dos outros na Suiça?
Volto a citar o grande Orwell, que viu mais longe do que muitos na sua época (em que praticamente todos os socialistas andavam a lutar pelo marxismo-leninismo...):
«All animals are equal, but some animals are more equal than others», Animal Farm, 1945
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