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Friday, September 29, 2006

Engana-me que eu gosto

La Agencia Tributaria se lanza al control del textil y el calzado chinos

La decisión, que ha sido ya supervisada por la Vicepresidencia económica del Gobierno que encabeza Pedro Solbes, se incluirá en el texto de los Presupuestos del Estado para 2007, como uno de los puntos que deberá afrontar el próximo año la Administración Tributaria.

De este modo, se considerarán “como objetivo principal de control” y como “área de riesgo” las “importaciones de mercancías originarias de China, en especial de textiles y calzado”. Y los comportamientos que se vigilarán se centrarán en la “subvaloración [de los productos], regímenes preferenciales [que se puedan haber aplicado injustificadamente], incumplimiento de política comercial y derechos antidumping”, generados, en este último caso, precisamente, por la fijación de un precio para los productos inferior a su coste real.

(...)

El Ejecutivo español, por su parte, se encuentra en el grupo de países europeos que ha defendido ante la Comisión Europea la necesidad de endurecer los aranceles de entrada a estos productos –mucho más baratos que los elaborados en los países de la UE– ante la fuerte destrucción de puestos de trabajo y de empresas que está originando en el sector textil español.

(...)

Las alarmas han saltado en la Agencia Tributaria por las posibles infracciones tributarias que pueden esconder unos precios demasiado bajos. Cuanto menores sean los valores de los productos declarados, menor es el impuesto a pagar, algo que, por lógica, tiene un impacto recaudatorio.
(via Jorge Valín)

Os governos europeus justificam o bloqueio de produtos chineses, ou desincentivo por meio de tarifas alfandegárias, devido ao impacto nas empresas nacionais e no desemprego que será criado nesses sectores, mas o que os faz realmente mover é (surpresa...) a possibilidade de poderem ter menores receitas fiscais. Há que admitir que mesmo não analisando factores importantes como a quantidade de recursos que são libertados pela importação de produtos mais baratos e a transferência natural de postos de trabalho para outros sectores da economia (falar só em "postos de trabalho perdidos" é demagogia), os governos falham completamente em apontar de forma correcta o que estão a fazer, muito provavelmente para não criar oposição popular às suas políticas.

Com isto refiro-me essencialmente ao problema que aqui se esquece: a função de uma empresa é servir os seus clientes. Procurando aumentar ou manter o seu lucro, buscará constantemente encontrar qual a melhor forma de garantir que os seus clientes estão satisfeitos, relativamente à concorrência no mercado respectivo, e procurando ganhar vantagem sobre os seus adversários. O emprego é uma consequência deste mecanismo. Não existe na natureza por si mesmo, só é criado quando alguém paga para obter um determinado serviço que busca e esse mesmo prestador necessita de recorrer à ajuda de outras pessoas para conseguir produzir e corresponder às expectativas da procura. O emprego é assim um meio através do qual a empresa se sustem, e não um fim ao qual aspira, que é um dos maiores erros de análise por parte de quem defende a maximização das taxas de emprego. Focar a análise no emprego em si ou na manutenção e estabilidade das empresas é negar aos compradores que estes possam ter o direito de escolher através do que consumem quais as empresas que vão sobreviver e aquelas que não vão resistir, por obsolescência ou incapacidade de distribuir serviços desejados, sejam elas portuguesas ou estrangeiras.

Much ado about nothing

WEF - Global Competitiveness Report
«The top rankings of Switzerland and the Nordic countries show that good institutions and competent macroeconomic management, coupled with world-class educational attainment and a focus on technology and innovation, are a successful strategy for boosting competitiveness in an increasingly complex global economy.»

Augusto Lopez-Claros, Chief Economist; Director, Global Competitiveness Network

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Petitio principii
«In logic, begging the question is the term for a type of fallacy occurring in deductive reasoning in which the proposition to be proved is assumed implicitly or explicitly in one of the premises. For an example of this, consider the following argument: "Only an untrustworthy person would run for office. The fact that politicians are untrustworthy is proof of this." Such an argument is fallacious, because it relies upon its own proposition—in this case, "politicians are untrustworthy"—in order to support its central premise. Essentially, the argument assumes that its central point is already proven, and uses this in support of itself.»
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Mais lentamente:

- Vamos assumir que a competitividade (p) é maior com uma gestão macroeconómica competente, em conjunto com uma aposta elevada numa educação de nível internacional superior (a), tecnologias (b) e inovação (c) (ou seja, suponhamos que a, b e c implicam p)

- Elabora-se um sistema de ranking em que a competitividade é medida de acordo com os parâmetros pressupostos. Uma boa classificação (q) implica verificar ao máximo estes factores (a, b ,c) e vice-versa (q é equivalente a, b, c)

- Os países nórdicos e a Suiça são os primeiros classificados no ranking (q)

- Como a Suíça e os países nórdicos estão no topo do ranking, isso prova que a competitividade é mais bem sucedida com os parâmetros medidos no ranking (como q implica necessariamente a, b e c, e se supõe que a, b e c implicam p, logo p verifica-se).

De notar que este tipo de argumento serve para justificar qualquer ideia pré-definida porque se assume à partida que a conclusão permite confirmar a premissa que se usa para chegar à própria conclusão. A premissa inicial - do que depende a competitividade - nunca é provada. Se os elementos fossem alterados para número de garfos per capita, número de panelas de esmalte por metro quadrado e percentagem de pessoas com olhos azuis, a conclusão seria exactamente a mesma porque se usa o resultado como se fosse auto-evidente e confirmasse a suposição inicial.

O problema deste índice de competitividade é valorizar demasiado parâmetros deste género, acabando por equiparar nações que criaram as suas infra-estruturas, investimento em tecnologia, inovação, ensino superior, redes de transportes e telecomunicações por meio de uma evolução natural e aquelas que decidiram canalizar fundos públicos para o obter, retirando daí todas as suas outras consequências negativas. Definir competitividade desta forma ignora que existem muito boas formas de tornar uma economia competitiva sem a exigência de desperdiçar fundos de uma forma desnecessária, transferindo dinheiro do bolso das pessoas e da sua gestão individual para as actividades que o Estado deseja promover. Não estou a dizer que seja necessariamente o caso de todos os sectores económicos dos países nórdicos, que em muitos aspectos dão uma liberdade económica muito superior à que se verifica nos restantes Estados europeus (por exemplo, as leis laborais dinamarquesas ou a abertura ao investimento estrangeiro da Suécia).

No entanto, muitas das indústrias que se estão a despedir de Portugal fazem-no porque há uma vantagem para si em mudar para outro local. Portugal é um país pouco "competitivo" quando comparado com muitas ex-repúblicas soviéticas ou países asiáticos, para onde se costumam deslocar constantemente a partir dos países desenvolvidos, e que se encontram muitos lugares abaixo na classificação. O índice avalia apenas a competitividade dentro de uma série de parâmetros que um governo não pode definir e que quando o tenta fazer, representa um peso fiscal e intervencionista sobre as possibilidades económicas da sociedade. Caso contrário, a forma mais fácil de fazer subir Portugal no índice é deixar que o governo fique com uma fatia mais larga do PIB e comece a redireccionar todas as despesas para dar estudos superiores à população, colocar um computador em cada casa e financiar a inovação tecnológica em todas as empresas. É um pouco como a ideia de que construir um TGV e um novo aeroporto nos vão deixar necessariamente mais ricos, sem sequer avaliar os custos totais que representam.

Wednesday, September 27, 2006

Apostates speak out

Para finalizar a escrita sobre este tema (que tem o dom particular de me deixar doente) por uns dias, coloco aqui umas ligações para páginas de ex-muçulmanos que se tornaram nos mais ferozes críticos da sua antiga religião. É de frisar que as leituras de Robert Spencer e Daniel Pipes, por exemplo, costumam ser muito elucidativas mas nenhum deles foi muçulmano, o que não faz deles mensageiros ideiais para quem julga a prori que qualquer crítica à exegese islâmica (ou falta dela) não tem fundamento.
O título desta entrada é uma referência ao título do livro de Ibq Warraq intitulado Leaving Islam - Apostates speak out.

A bem da racionalidade

Jihadists don't care about logic de George Jonas
«To counter any suggestion that Islam is a violent religion, Muslims attacked churches in the West Bank, Gaza and Basra this week. In Somalia a religious leader named Abubukar Hassan Malin echoed a British religious leader named Anjem Choudary who seemed to be in agreement with a religious leader from India called Syed Ahmed Bukhari that Pope Benedict XVI had to be forced to apologize.

Forced? Bukhari left it open how, but Choudary felt that subjecting the Pontiff to "capital punishment" may be persuasive, while Malin was inclined to think that the situation called for hunting down the Holy Father and killing him "on the spot." And, perhaps to indicate that these were no idle threats, as the week wore on, an Italian nun was murdered in Somalia, along with two Assyrian Christians in Iraq. (...)

"The infidelity and tyranny of the Pope will only be stopped by a major attack," announced al-Qaeda from its cave on the Afghan-Pakistani border. Al-Qaeda's political arm in New York, a.k.a. the United Nations, took no position, only using the opportunity to condemn Israel for one thing or another.

Why do some Muslims have such an uncanny talent for proving the case of their critics? When accused of violence, they threaten violence. Better still, they engage in it. "Call us unruly and we riot," they say, in essence. "Call us murderers, and we kill you." Don't they see that this makes them a joke?

Well, no, they don't -- and they're right. Saying such things may make someone a joke in a debating society, but Islamofascists fight in a different arena. They don't care about winning the debate; what they want to win is their Kampf, better known these days as Jihad.

Lo and behold, they're winning it. By now the whole world tiptoes around the sensibilities of medieval fanatics. We take pains not to offend ululating fossils who cheer suicide bombers. Or raise them. We prop up rickety regimes whose sole contribution to modern times is to nurture ancient grievances and revive barbaric customs. We worry about the feelings -- feelings! -- of people who stone their loved ones for sexual missteps. We pussyfoot to protect the delicate psyche of oily ogres who amputate the hands of petty thieves, issue fatwas on novelists and cover up their hapless wives and sisters to the eyeballs.

We do this, obviously, not because we're impressed by the logic of the Islamofascist line -- "call us murderers and we'll kill you" -- but because we're intimidated by it. The Jihadists don't care about the quality of their argument. One doesn't have to, if one's aim isn't to persuade, but to coerce. The mullahs of militant Islam aren't worried about proving their critics' case. So some pundits think we're proving Benedict XVI or Manuel II right, imams Choudary and Malin might say. Big deal. Logic may be essential for pundits. It isn't essential for our followers who are willing to blow themselves up to get their way.»
(via LGF)

Ferir susceptibilidades III

Há muita gente que tem uma dificuldade enorme em admitir que a religião islâmica possa ser violenta e intolerante por natureza (já para não dizer misógina e totalmente iliberal). Não que neguem que seja, e apresentem argumentos em sua defesa; simplesmente admitem à partida que não pode ser e mantêm uma postura dogmática durante a partilha de ideias. Ora, isto é absolutamente contrário à posição que deve ser essencial para qualquer pessoa que deseje fazer uma análise isenta, neutra e racional. Não é esse o caso do Rui Fernandes, que tem estado a fazer um pingue-pongue de não-respostas ao que tenho publicado por aqui. Claro que quando os factos escasseiam recorrem-se às falácias do costume, aos deus ex machina, para evitar discutir o assunto central e dispersar para outras bandas. Desta forma, os grandes argumentos têm sido "a direita, católica ou simplesmente pró-cristã", a direita ocidental islamófoba" e o que não podia faltar, as pérolas inevitáveis sobre o Grande Satã (que a paz esteja com Ele) que acaba por servir sempre de argumento para relativizar o terrorismo islâmico. Por exemplo, neste post é descrito o meu Ferir Susceptibilidades II numa perspectiva narrativa, para depois se acabar exactamente com os mesmos erros que nesse foram apontados:

«Só o cristianismo na verdade tem uma história, com ondas de distintos tipos, e uma evolução. O islamismo, ao contrário, é situado sempre fora do tempo, com a sua história no máximo adjectivada em bloco, sem direito a fases ou momentos como no caso do cristianismo, e sempre como não havendo sido nunca outra coisa que não fosse violência e maldade...»

Como se pode ver, não há qualquer intenção de discutir a religião em si nem a sua ligação com os sistemas legais e políticos vigentes em países islâmicos, apenas a de desculpar toda e qualquer atitude negativa pelo mecanismo "nós também fizemos isso" e "nem todos são assim". Duas falácias recorrentes porque apesar de "nós" não termos feito "isso", seria irrelevante para a discussão sobre o Islão se o tivéssemos feito. Esta perspectiva constante de relativismo cultural não apaga o facto de "outros" que não "nós" o tenham feito. As alegações sobre o verdadeiro islão nem têm que ver com actos em si, mas sim com a ligação entre esses actos e a proveniência da sua inspiração religiosa (satânica?). Para além disso, ninguém diz que todos são iguais, irracionais e violentos. Discute-se a religião, não os seus praticantes. Segundo esta contradição, um islâmico não pode criticar um cristão e o islamismo não se consegue definir por si mesmo em termos absolutos porque necessita constantemente de elementos comparativos para ser avaliado e não pode exercer auto-crítica.
Com este sistema ilógico, consegue manobrar-se um diálogo (que mais se assemelha a uma espécie de monólogo) em que uma tese passa directamente a ser racista, xenófoba e irracional e nunca chega a ser analisada convenientemente por uma questão de manutenção de opiniões politicamente correctas. A verdade é que não se tratam de discriminações ou ideologias políticas, mas sim de questões de facto, que só podem ser ou verdadeiras ou falsas.

Por outras alturas, por exemplo, recorrem-se a estas outras passagens para desviar o assunto:

«O papa chama de imoral, irracional e malévolo todo o islão, opondo ocidente bom com oriente mau, mas perguntam: é isso comparável ao terrorismo islâmico? Uma invasão militar à margem da ONU e baseada em falsos pretextos. E então? É isso comparável ao terrorismo islâmico? Detenções ilegais e eventual utilização de métodos de tortura nos interrogatórios. Que é que queres dizer? É isso por ventura comparável ao terrorismo islâmico? Quanta irracionalidade, imoralidade e perigosidade cabem fora do terrorismo islâmico? Para alguns nenhuma.»

Qualquer pessoa que julgue que invasões à margem da ONU são más, a tortura é má e o terrorismo islâmico é mau, não pode usar um para atenuar qualitativamente o outro, isto é relativismo moral e cultural em todo o seu esplendor, a cada vez mais comum condenação do terrorismo seguida de um mas. Gostaria particularmente de ver o que aconteceria se eu criticasse a ocupação de um país por uma invasão à margem da ONU ou a utilização de tortura em interrogatórios. Será que o Rui Fernandes me diria "é isso comparável ao terrorismo islâmico?" para se opor? É que só há duas hipóteses - ou se usa este argumento para dizer que o terrorismo islâmico é irrelevante (o que é muito grave) ou se usa para o legitimar quando comparado com o resto (o que provavelmente é mais grave ainda). É preciso talvez informar que o terrorismo islâmico não acontece somente em países ocidentais: começa por dentro. É um sistema de terror, adoração da morte e carnificina que continua hoje bem presente nas centenas de milhares de mortos que tanta gente pretende ignorar (como no Sudão por exemplo).

Claro que estas minhas tentativas de resposta são totalmente inúteis, simplesmente porque se baseiam no pressuposto de ter um interlocutor disposto a uma discussão honesta e séria. Quando o Rui Fernandes se recusa a admitir que a possibilidade acima exposta existe ou não consegue demonstrar que é falsa por meio de argumentos válidos, ao mesmo tempo que prefere criticar constantemente o ocidente e o cristianismo, apenas deixa transparecer a pouca importância que alguns valores fundamentais representam para si.

O roubo é punido com o corte das mãos. O espancamento de mulheres é prática corrente e incentivada. A mulher é um objecto, nem sequer tem valor jurídico - o ónus da prova recai sempre sobre ela, não sobre quem a acusa. Se não for morta por ordem judicial, é morta pela família por a ter "desonrado". A guerra contra os infiéis é uma ordem de Alá. A apostasia, o adultério, a blasfémia são puníveis com a morte. E não estamos a falar de pena de morte por injecção letal, mas sim apedrejamento ou enforcamento na praça pública. Tudo isto faz parte do maravilhoso sistema legal que é a shari'a, que embora tendo variações consoante os países, derivam directamente do Alcorão, e dos relatos das práticas de Maomé, como descritas na Suna e na Hadith.

Vale a pena lembrar que se os Estados Unidos da América fizessem qualquer uma destas coisas seriam de imediato internacionalmente condenados, como aliás já são, independentemente do que fazem. É este o sistema que está a entrar na Europa e é já uma lei de facto em muitas zonas onde a polícia nem sequer se atreve a entrar. Ainda este mês, o ministro da justiça holandês mostrava a sua passividade perante uma eventual introdução da shari'a na Holanda. Em Abril deste ano, muçulmanos na Suécia exigiam a aplicação da shari'a. O mesmo se passa constantemente no Reino Unido e no Canadá, na Alemanha e em outras localidades como França, Itália, Dinamarca, etc. Basta procurar.

O Rui acha que o Papa é islamófobo por supostamente dizer que o Islão é irracional mas pensa que Ahmadinejad já é um verdadeiro promotor do dialogo inter-religioso e da paz entre religiões. Será que estamos a falar da mesma pessoa que diz que o Holocausto não existiu (algo muito insultuoso para os judeus) e que de vez em quando deixa escapar que deseja que Israel, o único país do mundo onde o judaísmo é maioritário, deixasse de existir?

Parece que ninguém se preocupa com as sensibilidade dos judeus, qualquer pessoa pode dizer mal deles e de Israel porque certamente estes não vão correr a detonar-se em actos terroristas ou fazem ameaças de morte. Quem reage com violência extrema, incutindo o medo a qualquer crítico, é premiado com o discurso da capitulação da liberdade de expressão e do apelo ao bom senso para evitar ofender as sensibilidades. Ainda assim há quem julgue que afinal o islão e a história do islamismo podem ser "interpretados" de muitas formas e dependem do contexto em que são inseridos, mas atenção – o discurso do Papa só tem uma interpretação inequívoca, a do insulto xenófobo directo ao mundo muçulmano.

Para terminar, independentemente de concordar ou não com o Papa, penso que ele tem todo o direito de emitir a sua opinião sobre qualquer que seja o assunto, assim como o fez quando apelou ao cessar-fogo no último conflito entre Israel e o Hezbollah. Azar dos muçulmanos se se sentem ofendidos e insultados, seja por citações da idade média, cartoons com caricaturas do seu profeta ou a homossexualidade no ocidente. Há muito boa gente que se sente insultada e ofendida quando alguém deseja suprimir a liberdade de expressão e, no entanto, não apela a ninguém para que se cortem cabeças, destruam embaixadas ou se invada Meca.

Monday, September 25, 2006

Sonho europeu

European job-killing machine de Richard W. Rahn
The European Court of Justice has just ordered the British to adopt some of the more rigid work rules of Continental Europe. One reason the British have prospered more and have almost half of the unemployment rate of Germany and France is the British have much more flexible work rules. Now the European Union demands the staff in British firms have at least 11 hours off between work days, a minimum of one day off per week, and an extended break at least every six hours.

(...)

A major reason the U.S. has grown more rapidly than most other developed countries is that unions and the government have, for the most part, been sensible enough to recognize both differences in job requirements and in personal preferences to allow employees and employers to voluntarily find ways to accommodate each other's needs to everyone's benefit. France, Germany and some of the other European countries have extremely rigid work rules, such as the French requirement that workers not work more than 35 hours weekly, even if they want to, and the almost impossibility of firing workers, no matter how lazy and incompetent. The predictable result is there has been little growth in private-sector employment in these countries -- the U.S., with a smaller population, has created more private sector jobs in the last four years than Europe has in the last 20.

Sweden is often cited as an example of the success of the high-tax high-spend European model. But in fact, Sweden has created virtually no new net private sector jobs since 1950, and has fallen from the fourth-richest, on a per capita basis, member of the Organization for Economic Cooperation and Development (the group of major industrial countries) in 1970 to only 16th now.

Aviso à gravitação



Aos poucos e pobres degraçados que costumam ler o que por aqui se escreve através de um feed reader como o Bloglines ou utilizando qualquer outro método que envolva a subscrição da extensão .xml que o Blogger publicava para o My Guide to your Galaxy, convém anunciar que na versão beta do Blogger em que este blogue se encontra está em fase experimental e a feed antiga em formato Atom deixou de ser válida, como provavelmente já terão reparado.

O novo endereço (também em Atom) que o Blogger publica para este blogue encontra-se nesta ligação. Entretanto, a antiga feed que era utilizada no Bloglines ficou também desactivada e a nova parece estar a ser publicada neste endereço.

As minhas desculpas pela pequena oscilação orbital.

Wafa Sultan, a islamófoba

Wafa Sultan:

O grande e tão popular argumento de Ibrahim Al-Khouli:
"If you are a heretic, there is no point in rebuking you, since you have blasphemed against Islam, the Prophet, and the Koran..."

Outros "islamófobos" famosos com a cabeça a prémio: Ibn Warraq, Hirsi Ali, Walid Shoebat, Ali Sina, Salman Rushdie.

Saturday, September 23, 2006

Ciência vs. (?) religião



A day without yesterday

In January 1933, the Belgian mathematician and Catholic priest Georges Lemaitre traveled with Albert Einstein to California for a series of seminars. After the Belgian detailed his Big Bang theory, Einstein stood up applauded, and said, "This is the most beautiful and satisfactory explanation of creation to which I have ever listened." Lemaitre’s theory, the idea that there was a burst of fireworks which marked the beginning of time and space on "a day without yesterday", was a radical departure from prevailing scientific understandings, though it has since come to be the most probable explanation for the origin of the universe.

Friday, September 22, 2006

War is peace


«The only reward of those who make war upon Allah and His messenger and strive after corruption in the land will be that they will be killed or crucified, or have their hands and feet on alternate sides cut off, or will be expelled out of the land. Such will be their degradation in the world, and in the Hereafter theirs will be an awful doom» Qur'an, 5:33

A parte mais interessante surge quando se tentam conjugar afirmações como esta com os mandamentos que exigem a um muçulmano que participe na jihad (seja em que formato for) e que converta os descrentes. Claro que esta citação só por si não quer dizer nada, a noção linguística de «fazer guerra com Alá» é muito vaga. Mas como evitar a guerra com Alá quando Alá comanda que todos os infiéis sejam convertidos ao Islão ou que sofram as consequências? Como evitar a guerra quando a liberdade de expressão é vista como uma blasfémia, sendo esta punível com a morte?




A ler integralmente, os artigos de Pacheco Pereira (O que no discurso do Papa interpela o Islão?), de Alberto Gonçalves (Citações e obituários, publicado no Observatório da Jihad) e de Carlos Marques de Almeida (O Papa de Roma).

Ferir susceptibilidades II

«They long that ye should disbelieve even as they disbelieve, that ye may be upon a level (with them). So choose not friends from them till they forsake their homes in the way of Allah; if they turn back (to enmity) then take them and kill them wherever ye find them, and choose no friend nor helper from among them.» Qur'an, 4:88

(...)

«Ye will find others who desire that they should have security from you, and security from their own folk. So often as they are returned to hostility they are plunged therein. If they keep not aloof from you nor offer you peace nor hold their hands, then take them and kill them wherever ye find them. Against such We have given you clear warrant.» Qur'an, 4:91


***

1. Em nenhuma parte do discurso se discute a questão ocidente vs. oriente que não é o que é analisado, mas sim a racionalidade [logos] vs. irracionalidade e a sua relação com o uso da violência. Por isso, afirmar que o Papa diz que o Islão é irracional porque é oriental é absurdo. O Papa não diz nada acerca das religiões orientais (no oriente há muita coisa para além do Islão), nem sequer afirma que estas são necessariamente irracionais por não estarem ligadas à tradição filosófica helenística - apenas que o conhecimento sobre Deus, a profissão da fé e o estudo da doutrina religiosa devem ser executados de uma forma racional e que, por essas mesmas razões, se voltarmos atrás no texto, não podem ser guiados pela violência, que é irracional. Não sei se o Rui Fernandes está a perceber onde eu quero chegar - é o equivalente a ler a sua resposta e dizer que como o Rui está a dizer que o Papa esta a insultar o Islão, com isso estará a querer atingir a Igreja Católica e é um anti-clerical, por isso deve ser um nazi jacobino. A lógica por associação pode levar-nos a praticamente qualquer lado. O que me faz confusão em particular é o facto de tantos muçulmanos e não-muçulmanos se incomodarem com a ideia de que Maomé seria violento (e por conseguinte, o Islão), quando o Alcorão está recheado de citações de encorajamento mais que evidente à violência e à irracionalidade como aquelas ali acima que apelam à morte dos infiéis. E, obviamente, não são exemplo único.
2. Não vejo onde é que é possível «interpretar» com tantas certezas que Bento XVI é islamófobo. E se tivesse verdadeiramente aversão ao Islão, certamente teria as suas razões, que, se fossem bem fundamentadas, seriam importantes de analisar. Muitos líderes religiosos islâmicos dizem constantemente coisas muito mais claras e profanas sobre outras religiões que passam completamente despercebidas porque nessas religiões ninguém lhes faz caso (a tal coisa chamada tolerância religiosa que muitos islâmicos não conhecem). Na verdade, o Islão tem um problema muito sério com todas as religiões, monoteístas ou politeístas, racionais ou irracionais, ocidentais ou orientais simplesmente porque são outras religiões que não o Islão. É a única religião maioritária que conheço que comanda os seus fiéis a entrar numa guerra santa (sic) de conversão ou submissão dos descrentes.

3. Não há nenhum erro de análise histórica no que eu disse. Aliás, o erro histórico está nos que pensam que a agressão islâmica em nome de Alá é um fenómeno novo. Esquartejar, subjugar e dominar em nome de Alá foi uma coisa que se iniciou há 14 séculos atrás com Maomé, ou seja, faz parte da história do Islão, e continuou até aos dias de hoje. Maomé foi, entre outras coisas, um líder militar que participou em dezenas de guerras e não propriamente um pacifista.

4. As comparações a judeus e a cristãos que cometeram actos terroristas são uma defesa muito recorrente mas não levam a lado nenhum. Porquê? Porque eu não estou a propor que ninguém se converta ao cristianismo ou ao judaísmo, nem sequer a defender estas religiões. É um erro frequente encarar qualquer crítica a esta atitude islâmica como se o autor fosse sempre uma espécie de missionário ou evangelista, o que só serve para dispersar.

Contudo, há várias coisas a clarificar. Primeiro, se a justificação de qualquer que seja o terrorismo praticado por cristãos ou judeus reside na sua religião e se este é praticado em nome do deus judaico ou cristão. Quantos terroristas cristãos e judeus é que o Rui vê por aí a gritar "Deus é grande" e a matar pessoas normais apenas porque são infiéis e porque a sua religião o comanda?

O segundo ponto, e porque o Rui diz, quanto às minhas afirmações sobre o Islão, que «haveria sido ridículo formular por um cristão a um maometano em outras épocas e situações», em que parte do Novo Testamento, que é a parte mais importante da Bíblia para os cristãos, é que se encontram indicações sobre como os membros de outras religiões devem ser perseguidos, convertidos à força, executados, ter um estatuto legal inferior para garantir a sua sobrevivência ou são dados exemplos (i)morais acerca destas situações? E em quantos países maioritariamente cristãos é que tais ideias são correntes e são praticadas ao abrigo da lei ou como parte desta? Quantos países maioritariamente cristãos são teocratas e aplicam leis contra a blasfémia ou heresia ao cristianismo? E nas situações em que os países cristãos o fizeram no passado, quais eram os ensinamentos de Cristo que os obrigavam a fazer tal coisa?

O mesmo pode ser questionado relativamente ao judaísmo. Claro que no Pentateuco há muita indiciação à violência, como nos livros do Levítico e do Deuteronómio, mas somos forçados a regressar à questão essencial - quem são os judeus (porque o Pentateuco corresponde à Tora) ou os cristãos que seguem estes mandamentos ou os incluem na lei? Quem são, mesmo entre os que reclamam uma exegese literalista, os que desejam aplicá-los e o fazem? Volto a frisar - o que nós vemos é um terrorismo a nível global em nome do Islão, e não um terrorismo em nome dos valores cristãos e/ou judaicos, o que, aliás, seria bastante contraditório.

Nada disto seria relevante se a filosofia de interpretação literalista dos textos islâmicos não fosse tão vulgar e abrangente, sendo esse o terceiro ponto a recordar - qual a quantidade de pessoas cristãs e judaicas que partilha uma defesa do terrorismo em nome da sua religião? Qual é a aceitação que têm estes grupos entre os outros praticantes?

Quem analisar todas estas questões de forma racional chegará à conclusão óbvia, por mais difícil que seja de retirar, de que comparar as religiões sobre estes parâmetros faz pouco sentido. E para isso não é necesário sequer ler sobre documentos teológicos, basta ir lendo as notícias internacionais que não só mostram esta violência islâmica nos países de outras religiões, como nos islâmicos entre facções distintas, que se vêem mutuamente como hereges e se tentam extinguir. O que não deixa de ser curioso em tudo isto é que o Islão acaba por ser irracional quase por definição, porque para uma grande parte os ensinamentos presentes nos seus escritos, que são vistos como a palavra sagrada e directa de Alá, devem ser seguidos de forma literal. Para a generalidade não há estudo hermenêutico necessário, há simplesmente submissão (o significado da etimologia de Islão). Por isso, a ideia de defender que a tese do Papa sobre a irracionalidade do Islão - que por si é uma dedução do que é dito - é uma imbecilidade é quase uma espécie de imbecilidade em si própria.

Só uma nota aparte. Eu não faço "acusações" nenhumas contra os "árabes", e respectiva história ou cultura. Sejamos claros. Estamos a falar de muçulmanos - não é preciso ser árabe para ser muçulmano, nem todos os árabes são muçulmanos.

5. Falar de islamofobia quando ela não existe é uma forma de dissuadir as pessoas de discutir os assuntos de forma séria. Quem alguém tem medo de ser acusado de racista não se atreve a dizer o que pensa - é uma forma de tentativa de bloqueio à discussão. Mais uma vez, comparar cristianismo e seus princípios com islamismo é um erro muito grave. Dizer que todas as religiões podem ter as suas coisas más é uma coisa, mas insistir que estão todas numa espécie de nível semelhante porque as civilizações que as adoptaram cometeram, qualitativamente, erros históricos ou fizeram coisas menos boas é uma forma pouco isenta de diminuir os mandamentos que cada religão postula e a quantificação dos erros das civilizações quando correlacionados com os ensinamentos das respectivas religiões. Para além de ser terrivelmente falacioso, porque dois errados não fazem um certo, as civilizações só devem ser analisadas na sua medida religiosa de acordo com aquilo que é expresso nesses mesmos valores religiosos que professam, aqueles que decidem aplicar às suas sociedades e ao seu modo de vida e que tipos de eventos são derivados desses princípios.

6. O discurso de Bento XVI é um discurso tipicamente académico. Ele próprio o declara no início. Aquilo que para mim é mais preocupante é o facto de ao Rui Fernandes parecer mais importante demonstrar que quem concorda com o Papa é irracional, xenófobo, imoral, racista etc. e não que uma religião que não consegue obviamente lidar com criticas externas, um escrutínio público livre e a liberdade religiosa é, efectivamente, muito pouco racional e, como exposto aos olhos de todos, extremamente violenta. Mesmo que o Papa não o tenha dito explicitamente. Veja-se por exemplo, como encaram os cristãos a crítica à sua religião - matam, ameaçam, proíbem e condenam?

Leituras e fotos

1. Licença para pensar, Tiago Mendes [cada vez que defendo qualquer coisa muito parecida com isto há quem me chame traidor à pátria]

2. The new titans, The Economist [as economias emergentes que estão a ser exploradas crescem a um ritmo muito superior ao dos países desenvolvidos. Mistério...]

3. Pulsars prove Einstein right (nearly), Physics World [teoria da relativdade geral testada com um erro (exactidão) de 0.05%]

4. A missão Cassini-Huygens continua a enviar fotos de Saturno e já descobriu um novo anel. Algumas fotos abaixo:



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Thursday, September 21, 2006

Escorregadela crassa

Após 3 dias de intensa contestação na Hungria, por esta altura já Ferenc Gyurcsány se terá arrependido de ter assumido publicamente que a sua profissão era ser político.

Wednesday, September 20, 2006

Tragam cadeiras e sentem-se

Chavez tells UN Bush is 'devil'
"The devil came here yesterday," he said, referring to Mr Bush's speech on Tuesday. "It still smells of sulphur today," he added.
Tendo em conta o impacto progressivo que o catolicismo parece estar a ter nas visões políticas e declarações de Hugo Chávez, aguarda-se a qualquer momento que tanta referência constante ao universo religioso provoque a indignação da esquerda anti-fundamentalismo cristão que tanto tem demonstrado ultimamente o seu incómodo perante Bush, o homem que até diz falar com Deus.

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Outro exemplo recente:

"Do they want war because they have the devil inside them?" demanded Venezuelan President Hugo Chávez, speaking of the Jewish state. (...) But the Venezuelan wasn't finished. Israel's acts, he said, reminded him of a time when Simon Bolivar had invoked the story of Cain and Abel to talk about an enemy. "Bolivar said that day: 'God, if you have justice, throw a lightning bolt at the monsters,' " Chávez pronounced. "I would say today: 'God, throw the lightning bolts at the monsters.', 7 de Agosto, Washington Post

Ferir susceptibilidades



O Rui Fernandes pensa que o problema com o texto do Papa não foi de interpretação mas sim que este demonstra uma verdadeira xenofobia perante os muçulmanos e que eu, conjuntamente com o AAA e a Judite de Sousa, peco por falta de compreensão do que Bento XVI afirmou. Para quem ainda não leu e queira ler, é possível ler na página do Vaticano em inglês, e a versão original, em alemão.

A questão é muito simples e começa pela citação. É irrelevante se o Papa contextualiza ou não a citação que faz do imperador bizantino Manuel II, isto porque citar uma outra pessoa não a vincula às suas opiniões. Mas ainda assim, como podemos dizer que a citação não é contextualizada? Fala-se da relação entre a fé, a violência e a necessidade de negar a violência através da razão.

Infelizmente, tudo isto tem a ver com o Islão, seja pela lei islâmica, pela submissão religiosa ou pela necessidade de levar a cabo uma guerra santa contra a fracção do mundo que ainda não se submeteu à palavra de Alá. Dizer ou presumir que nada disto é real e é uma "interpretação" de uma minoria é negar os factos, incluindo as sondagens que mostram percentagens muito elevadas de apoio a actos terroristas contra alvos ocidentais. Se o Papa quisesse realmente expressar a sua negação intelectual por uma religião (ou ideologia política, dependerá do ponto de vista) não o poderia fazer livremente sem ser catalogado de islamófobo? Bento XVI - e embora tenha afirmado posteriormente o contrário - não tem direito a liberdade de expressão ou defesa da tese, em termos académicos, de que o Islão é intrinsecamente violento, pouco dado à tolerância religiosa, ao ecumenismo e à razão?
Este ponto não é muito importante em si. Mais importante é o facto de muita gente, como parece ser o caso do Rui Fernandes, se preocupar com o que é insultuoso para os muçulmanos ou não é, neste caso, a idolatria. Contudo, repare-se. Os muçulmanos são pessoas extremamente delicadas. Incomodam-se com a liberdade de expressão (que muitos vêem como uma falha das democracias ocidentais), com a discussão académica inconveniente, com as mini-saias, com a existência de liberdade religiosa, com a ideia de que as mulheres podem ter os mesmos direitos que os homens, etc. mas já não se incomodam, em grande parte, com o facto de as suas intenções chocarem directamente com o espírito crítico das sociedades ocidentais. No fundo, têm um problema muito sério com a liberdade e, acima de tudo, com a razão, em especial, porque raramente se incomodam com o que, quando não os incomoda a eles, incomoda os outros. Por exemplo, onde estão as manifestações pacíficas contra os fundamentalistas que têm apelado à morte de Bento XVI e à destruição do Vaticano? Onde estão esses senhores moderados que raramente aparecem, em defesa da razão, da não-violência (quando esta inclua também, obviamente, os actos cometidos por islâmicos) e da conversação diplomática inter-religiosa? Como se pode reclamar que algo é racional quando lida de forma irracional com qualquer crítica objectiva que se lhe faça, mesmo quando ela não existe?

A outra coisa que me intriga bastante são as constantes acusações de islamofobia, xenofobia e racismo a quem quer que observe criticamente atitudes percebidas como tendo aceitação extensa na comunidade muçulmana. A observação mais pertinente será questionar quem é mais islamófobo - quem se limita a descrever a realidade ou quem constantemente tenta negar que ela existe e a menospreza, por uma razão muito simples. A pretensa islamofobia não é preocupante porque ainda nenhum judeu ou cristão se dirigiu a um país muçulmano para executar actos terroristas e matar civis em nome da sua religião, muito ao contrário do que tem vindo a ser observado nos últimos anos.

E se há forma de evitar que tudo derive precisamente numa islamofobia global é começar por parar de bloquear qualquer crítica que seja feito ao islamismo, por receio de ferir as sensibilidades islâmicas, fundamentalistas e/ou moderadas, e de exercer constantemente uma relativização de valores e culturas que apenas funciona quando se parte do referencial ocidental/judaico-cristão. Ninguém tem interesse em criticar o islamismo apenas por criticar. Não se vêem pessoas por aí a discutir o perigo da violência hindu, sikh, budista, judaica ou xintoísta, simplesmente porque essas ameaças não existem.

Perigoso é negar implicitamente que um terrorismo de inspiração totalmente islâmica existe e que este é executado em grande parte, com a condescendência dos que manifestamente se declaram contra qualquer género de acto violento em abstracto. Perigoso é continuar a fechar propositadamente os olhos a algo que se está a desenvolver rapidamente no seio do mundo ocidental - que visivelmente não tem capacidade para tornar toda esta gente em pessoas tendencialmente seculares ou de interpretação religiosa pacífica - e deixar que todos estes acontecimentos passem completamente em branco. Porque no dia em que as sociedades que já começam a apresentar tensões sociais e demográficas relevantes (Bélgica, Holanda, França, Reino Unido, Suécia, etc.) e os eleitores entenderem que os governos não têm feito praticamente nada para os proteger de uma vasta camada de população que deseja implementar um sistema legal totalitário chamado shari'a, aí sim, teremos islamofobia. Mas não será uma islamofobia digna de estudo sociológico, será uma guerra em movimento, com movimentos de secessão dentro dos próprios países, gente inocente a morrer pelo meio, sistemas judiciais paralelos, comunidades hostis isoladas, subida de partidos autoritários ao poder, etc. Até lá, as liberdades civis dos inocentes continuarão a ser reduzidas em nome da ameaça terrorista, precisamente pela dificuldade em lidar com a causa central do problema e a resistência política a encarar os factos tais como eles são.

Ironicamente, e entretanto, todo o conjunto de ameaças que já foram feitas, em conjunto com as declarações difamatórias dos líderes comunitários e o silêncio de quem deveria ao menos expressar um repúdio de reacções menos racionais, vai, infelizmente, dando razão aos que interpretam as palavras de Bento XVI como uma acusação da violência islâmica. A inexistente islamofobia parece ser algo preocupante para muita gente mas os seus potenciais alvos parecem estar mais preocupados em emitir o seu antagonismo com o Papa do que destacar-se das manifestações mais violentas, preferindo em vez disso legitimar tais atitudes por via da indignação própria de quem vê a sua religião insultada. Assim como as pessoas que constamente insistem em criar dicotomias de barricada inexistentes, como se todos as pessoas que possivelmente concordem com o que o Papa afirmou no teor do seu discurso - interprete-se isso como crítica ao Islão ou não, coisa que o próprio negou várias vezes - tenham de ser cristãs e católicas, todos os que vêem a civilização ocidental como um feito importante sejam necessariamente anti-orientais e que os que vejam Deus (cristão) como um deus bom neguem claramente uma filosofia de convergência teológica com outras religiões, num espírito ecuménico. Não é disso que se trata - não é o alvo dos protestos, das ameaças e do terrorismo psicológico - e simplificar aqui só serve para criar argumentos difusos.

Relativos e absolutos

05.10.09.TheirPerspective-X

Cox & Forkum, Outubro de 2005

Friday, September 15, 2006

Citação do dia



"Não são certamente os muçulmanos que perseguiram os fiéis de outras religiões (...). O Islão é a religião mais tolerante". - MNE paquistanês

Sai um Estado policial para a mesa 5

GNR vai buscar alunos a casa
«O fecho da escola da Gemieira é irreversível, pelo que, a partir de terça-feira, se os pais continuarem a impedir os filhos de frequentar as aulas no Centro Escolar da Ribeira, onde estão matriculados, faremos cumprir a lei e pediremos à GNR para os ir buscar a casa, porque é a escolaridade obrigatória que está em causa», referiu, à Lusa, aquela responsável.

Tuesday, September 12, 2006

Deadlock

Galvanizadas pela crescente onda de especulação em torno dos ataques de 11 de Setembro, as teorias da conspiração sobre o que realmente ocorreu nesse dia fatídico ganham, a cada dia que passa, novos adeptos e mais fervorosos pseudo-investigadores que conseguem descortinar mais um pormenor sombrio que aparenta provar, irrefutavelmente, que a destruição das torres gémeas não foi somente obra da Al-Qaeda (se o foi de tudo obra da Al-Qaeda, caso exista) e que também terá contado com a conivência do governo americano (se apenas conivência) ou, provavelmente, orquestração judaica de forma a ganhar um pretexto para obrigar o estado americano a organizar ofensivas à escala global contra o mundo islâmico.

Todos nós, simples homens comuns, teríamos simpatia e apreço por estas almas caridosas que se dispõem voluntariamente a iluminar-nos, se elas conseguissem, de facto, provar algo de palpável.

O único problema é que qualquer teoria da conspiração tem valor porque atribui inerentemente validade a si mesma, pela própria forma como se caracteriza. Uma vez que esta não pode ser falsificada com dados que não se possuem ou confirmada por qualquer tipo de evidência, esse mecanismo funciona como argumento para os defensores destas teorias, demonstrando que a teoria consensualmente aceite omite algo, e fazendo com que a sua especulação adquira uma certa legitimidade. O exemplo típico é a ida à lua em 1969. Há quem diga que os americanos nunca lá estiveram mas não podem provar tal coisa por razões evidentes - ninguém estava na lua quando as missões Apollo lá chegaram e mesmo que lá estivessem, a validade das suas provas seria seriamente colocada em causa. Da mesma forma, os americanos nunca conseguem provar que lá estiveram porque por mais fotos, vídeos ou amostras de rochas lunares que os dirigentes dos programas aeroespaciais disponham ao escrutínio público, os autores destas teorias continuarão a reclamar que os vídeos foram produzidos num estúdio de cinema, as fotos são provenientes de cruzamento de imagens de satélite com solos do deserto, os saltinhos dos astronautas são montagens feitas em voos parabólicos e que só o mero facto de a NASA se preocupar com demonstrar que lá esteve realmente, mostra que há alguma insegurança e indica que para tentarem provar a veracidade das suas reclamações necessitam destas conferências de imprensa.

É assim que uma teoria literalmente lunática ganha, de imediato, credibilidade. Qualquer um de nós pode afirmar que havia um plano secreto da CIA e do Mossad para destruir o WTC e o Pentágono porque nenhum de nós tem acesso a um documento que afirme claramente que a suposta existência deste plano não passa de uma fraude. E se esse documento existisse, seria obviamente suspeito. Qual seria o significado de um documento que declarasse que uma conspiração não existia, certificado pela entidade que é acusada de a pôr em prática? Minimamente intrigante e enigmático. Nunca pode existir um documento que prove que a conspiração não existia, o que perpetua a ideia de que a teoria se mantém válida até prova em contrário, prova essa que nunca pode existir e que apenas serviria para reforçar a teoria inicial.

As teorias da conspiração não são, por definição, falsificáveis nem seguem o princípio segundo o qual a explicação mais simples, lógica, óbvia e coerente é provavelmente a correcta, de acordo com as informações disponíveis. Para as provar como erradas, exigem necessariamente um mundo de 100% de certezas e de acesso a toda a informação de sistemas complexos que é impossível de reunir no mundo real, no qual não se tem possibilidade alguma de regressar ao passado. Qualquer teoria histórica sobre um acontecimento acarreta um determinado nível de incerteza e qualquer pessoa pode jogar com isso para benefício próprio da sua imaginação fértil. Será que Viriato existiu ou é meramente uma obra de ficção criada pelos romanos? Será que Bush existe? Já há alguém o viu ao vivo por acaso? De que vale criticar uma pessoa que não sabemos se existe e que alguns até acusam de ser um extraterrestre?

Monday, September 11, 2006

Sunday, September 10, 2006

Ciência e economia I

A interrogação primordial que deve ser colocada recai sobre a natureza da ciência e o seu definição, que não é geralmente unânime.

O termo ciência tem sido usado repetidamente por dois movimentos distintos de forma a flexibilizá-lo e adaptá-lo à sua realidade própria, com objectivos intencionais de ganho de credibilidade. Um deles é o grupo de cientistas provenientes das ciências naturais/físicas que, com alguma constância, se referem a outras ciências num tom depreciativo, recusando que estas sejam "verdadeiras ciências". O outro é a sua banalização – incluindo no léxico académico - para dar uma imagem de maior rigor intrínseco a algo que de metódico ou de metodológico tem geralmente muito pouco. Quem estiver interessado em testar estas afirmações deverá questionar-se sobre 2 coisas:

- o que entende um leigo por investigador cientifico ou cientista, sabendo que, na maior parte dos casos, a resposta rondará o campo de ciências como a física, a matemática, etc. e praticamente nunca o das sociais. O portal da Wikipedia sobre ciência é um bom exemplo disso. Dele constam apenas ciências físicas e aquilo que em português se costumam chamar ciências da terra e da vida.

- atentar no uso do termo ciência para designar "ciências alternativas", "ciências paranormais/ocultas" ou mesmo campos da área das humanidades como ciências políticas, ciências jurídicas, ciências literárias, humanas ou filosóficas*

A banalização do termo em si não é a questão que aborde en particular mas não é raro usar, na linguagem quotidiana, o termo ciência como referência ao conhecimento de algo ou ao apuramento da causa para um determinado efeito, o que provavelmente torna compreensível o abuso da denominação em si para vários campos académicos que não seguem uma linha de investigação cujos princípios são partilhados entre si.
A questão posterior é avaliar o teor epistemológico dos campos a que se chamam ciência (que é o tema central desta primeira entrada), a sua metodologia, e a razão que as faz diferenciar umas das outras. Qualquer ciência parte sempre de alguns pressupostos filosóficos como uma certa dose de empirismo e outras condições axiomáticas auto-evidentes que permitam assumir à partida que existe um mundo físico do qual podem ser retiradas conclusões teóricas através observações experimentais (factos) ou, pelo método contrário, confirmar a dado ponto a validade de uma hipótese teórica por meio de experiências, sempre e quando a hipótese teórica não exclua ou condicione à partida, por razões de impossibilidade técnica ou lógica, a confirmação experimental.

Tendo estas condições iniciais, a ciência baseia-se, portanto, na análise racional de dados obtidos com dois objectivos básicos: 1) adquirir conhecimento sobre a natureza do campo de estudo, compreendendo-o com a maior amplitude possível, através de um processo lógico-indutivo e 2) possibilitar a aplicação desse conhecimento adquirido em situações práticas presentes ou futuras por dedução das cadeias de eventos e previsão dos efeitos de determinadas causas.

Este género de definição abrange praticamente todos os ramos daquilo a que regularmente chamamos ciências. Particularmente as ciências naturais, que estão indissociavelmente dependentes da linguagem matemática para se exprimirem em termos quantitativos. Ciências como a física ou a química personificam na perfeição estas características. Divididas entre ramos teóricos e experimentais, puros e aplicados, têm o seu culminar de pragmatismo nas engenharias, onde é feita recorrência constante aos conhecimentos de ambas as ciências. No entanto - e aqui incorre um erro generalizado - não se deve cair na tentação de dizer que uma ciência apenas é uma ciência somente se fizer uso da matemática. A matemática não é o único sistema lógico possível e a única condição que se exige ao estudo científico, para além da descrição da realidade nas formas acima mencionadas, é que haja uma consistência interna entre toda a sua forma estrutural, as premissas e as conclusões.

Podem outras ciências enquadrar-se nesta classificação? Ciências como a astronomia, basicamente constituída por estudo observacional, não têm propriamente uma aplicação do conhecimento que é adquirido por meio da astrofísica ou da cosmologia. Note-se aqui também a interligação e multidisciplinaridade entre as diversas ciências (daí o derivado astrofísica, cujo tipo de aglutinação é frequente). O mesmo acontece em ciências como a sismologia, que nascem de outras ciências próximas como a geofísica, mas que não possuem (até ao momento?) o dom da previsibilidade eventualmente desejável, tal como expressa no objectivo 2). Devem, por isso, ser consideradas ciências menores, uma vez que não se conseguem reproduzir directamente os seus conhecimentos?; não se deverá antes esta impossibilidade a uma restrição física que transcende o que (actualmente?) o ser humano pode fazer? Os problemas destas aproximações e dos limites de obtenção de informação e sua aplicação, assim como a metodologia utilizada em ciência, serão o objectivo de discussão da próxima entrada, que provavelmente também lidará com os conflitos entre a economia e alguns destes termos.

Tendo a definição, chega-se ao assunto que motiva este texto. O que dizer da economia e outras ciências sociais? A economia (positiva) tem como objectivo, independentemente da metodologia usada, compreender os princípios elementares subjacentes à forma como interagem os seres humanos no que diz respeito às relações comerciais entre si e ao resultado em larga escala destas complexas redes estabelecidas. Esta análise é posteriormente utilizada para retirar ilações sobre as consequências de determinadas políticas económicas ou monetárias, perspectivas futuras de crescimento, investimento, tendências de mercado, etc. Não é isto que se supõe que uma ciência faça?

Uma ciência necessita de características marcantes como a objectividade e a universalidade. Se por um lado se exige que a objectividade seja um parâmetro incondicionalmente relacionado com o racionalismo próprio de uma ciência (que não dê lugar a subjectivismos superiores às especulações científicas próprias que não podem ou ainda não foram confirmadas ou refutadas), a ciência deve ser também universal, ou seja, não deve ser diferente se for estudada no Pólo Norte, Pequim ou nas Nuvens de Magalhães. As conclusões devem ser independentes do referencial (para eventual desgosto de interpretações pós-modernas) e iguais para todos os observadores. Este princípio é uma base das leis da física mas deve ser aplicável a todas as outras. Para além de tudo isto, uma ciência deve ser aprioristicamente céptica - derivado de descartar à partida qualquer explicação sobrenatural ou de natureza metafísica e intangível - assim como assumidamente reducionista, de forma a evitar tendências holistas que directamente intefiram com a tentativa essencial de explicação dos factos, atendendo a hipóteses que os atribuam às suas causas (mais) primárias. Escusado será dizer que não devem existir verdades absolutas, para além dos já referidos princípios axiomáticos, e que a constante revisão é crucial.

Ramos do conhecimento como a filosofia, a literatura ou as artes não se enquadram nesta matriz. No entanto, julgo é possível que, à luz desta definição, por exemplo, a história seja uma ciência, apesar de ter um carácter mais descritivo do que propriamente de aplicação prática, algo que não é assim tão invulgar e costuma afectar algumas ciências (para além das ciências sociais, recordar o caso explícito num dos parágrafos anteriores, sobre os exemplos da astronomia e da sismologia).

Em nenhum destes casos, no entanto, teorias opostas, existindo prova experimental suficiente para fundamentação aceitável (no caso histórico, evidências genéticas, documentos relevantes, datação por carbono, etc), poderão co-existir pacificamente. Dir-se-á que a situação é mais frágil do que em física, onde as teorias são sólidas, mas a verdade é que muita gente recusa aceitar como válida a teoria da relatividade geral, apesar de ser provavelmente a teoria mais bem sucedida da sua história. Assim como existe quem não aceite a mecânica quântica, o modelo padrão de partículas, o Big Bang ou o actual paradigma da cosmologia (lambda-CDM). A ciência é feita de constante remodelação e crítica externa, assim como é, e deve ser, qualquer área de estudo que ambicione responder por esse nome, sob constante ameaça de se tornar numa matéria religiosa em vez de científica. E por revisão, obviamente, não me refiro a rever os factos mas sim rever as teorias.

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* Estas "ciências" cumprem apenas vagamente o segundo critério que enuncio (da aplicação de conhecimento adquirido), nestes casos, por via da criação de um determinado sistema político ou legal. Todavia, focam-se muito mais na questão normativa de como deve ser o sistema - daí os fundamentos éticos que sempre surgem - em vez de como funciona o sistema, tarefa que é geralmente relegada para a economia, a sociologia ou mesmo a psicologia e história.


(continua, possivelmente para a semana)

As FARC e o PCP

A última semana tem sido rica em manifestos de indignação, surpresa, recriminação e, sobretudo, apelos ao esclarecimento, por parte do PCP, quanto à presença das FARC na festa do Avante!, uma sublevação que foi liderada e bem por blogues como o Kontratempos e o Tugir (ver a análise do Bruno Ribeiro publicada há dias no PubAddict). A questão que praticamente implora ser colocada é: terá todo este sobressalto algum resultado palpável, tal como está elaborado?

Por várias razões, seria mais importante e frutífero direccionar também estes pedidos de esclarecimento por via de uma generalização das perguntas implícitas, de uma forma mais conceptual e abrangente. Digo isto porque as duvidosas posições do PCP (em política externa e não só) são bastante claras e, nesse sentido, as suas declarações de defesa são tudo menos imprevisíveis. O problema não está numa incoerência ou na existência de dualidade de critérios mas sim no facto de que o PCP usa definições que não estão em concordância com as normas da língua portuguesa, que é a estrutura que utilizamos para tentar compreender as afirmações dos seus líderes e criticar as atitudes dos seus elementos. Alguns exemplos clássicos:
1) Os comunistas só falam da protecção dos direitos humanos quando estes jogam a favor do comunismo, ou seja, quando a infracção é praticada por nações que reconhecem ferozmente a legalidade e legitimidade da propriedade privada e outros direitos essenciais, por governos inimigos da facção comunista que os órgãos oficiais nacionais ou internacionais decidem apoiar ou simplesmente pelo Grande Satã do momento (neste ponto da história, os EUA). No caso de se tratarem de nações ou grupos aliados, tal acção é geralmente abafada;

2) O terrorismo só existe quando não é declaradamente a favor da destruição dos pilares das democracias liberais como o estado de direito, a maximização da independência e separação de poderes e/ou o reconhecimento das liberdades e direitos individuais. Caso contrário, é sempre uma reacção ao imperialismo ou à opressão capitalista. Alternadamente, também pode ser usado para designar uma forma de retaliação a um grupo que os comunistas decidiram apoiar (por exemplo, as "denúncias" do Estado de Israel como entidade terrorista), não necessariamente por mero uso propagandístico, mas muitas vezes também por parcerias políticas profundas;

3) A liberdade de expressão praticamente só é defendida quando está em causa a difusão da ideologia comunista e nunca quando ideologias antagónicas ou que fujam à ortodoxia dos mestres são perseguidas, menosprezadas ou pouco agraciadas com a devido abertura no espaço de discussão pública. Nos países comunistas que tipicamente o PCP defende, os dissidentes da ideologia do regime geralmente não acabam bem e o PCP deprecia a existência desses problemas. A mesma argumentação pode ser usada se estiverem em causa, novamente, aliados políticos;

4) A vitimização de minorias étnicas/políticas só é útil quando a minoria em causa é uma que é apoiada pelos movimentos comunistas ou quando essa mesma minoria sente alguma simpatia pelos movimentos em questão (como na dicotomia entre judeus e muçulmanos);

5) A globalização e o imperialismo só são maus quando são expressões de um capitalismo transfronteiriço. Quando estes dois fenómenos são propícios à propagação de um comunismo à escala global, tanto ideologicamente como pela via da "revolução permanente" e do financiamento de guerras em todo o globo não existem muitas queixas. Ainda hoje o PCP sente nostalgia pela antiga União Soviética e até Estaline foi reabilitado. Paralelamente, a guerra é sempre má, excepto quando é uma guerrilha de resistência que se insurge contra a exploração do homem pelo homem, contra a injustiça social trazida pelo capitalismo, etc., etc.;

6) Os direitos sociais dos trabalhadores ou da função pública só são defendidos quando os direitos que estes trabalhadores desejam coincidem com a ideologia da extorsão socialista. Nunca o PCP irá defender a economia de mercado, maiores flexibilidades laborais, nem que sejam esses os direitos a que os trabalhadadores queiram ter acesso;

7) A democracia para os membros do PCP é algo que só existe quando está sob controlo das políticas que o partido deseja. Os exemplos mais típicos são as críticas gerais aos EUA (ignorando o sistema de checks and balances e os poucos poderes do presidente quando comparados com os de outros países) sobre a suposta forma anti-democrática como são feitas as escolhas ou as decisões políticas, dizendo em simultâneo que Cuba é uma democracia, Chavez e Morales são grandes libertadores (democratas também) e que não sabem se a Coreia do Norte não será uma democracia (autoria de Bernardino Soares).

*

O que deve ser feito? A única forma de pressionar o PCP é pedir que esclareça de vez o eleitorado sobre as suas definições de terrorismo, imperialismo, direitos humanos, medidas anti-sociais, democracia, etc., em vez de usar os seus clássicos slogans vazios de qualquer significado lógico. É de duvidar que consiga elaborar uma resposta consistente porque, se usar os termos tais como se apresentam na língua portuguesa, será possível mostrar por todos os meios que não existe coisa mais antidemocrática, anti-social, imperialista, militarista e terrorista do que o comunismo, como se pôde testemunhar ao longo da história do séc. XX e como, pelos vistos, o PCP continua a demonstrar através das suas companhias. Se, por outro lado, usar as suas próprias definições, será fácil mostrar a qualquer pessoa bem intencioanda que o que o PCP diz defender, afinal, é uma deturpação dos significados distintos que se assumem a priori.

O PCP ficará assim dividido entre duas opções que lhe são prejudiciais e tenderá a evitar a resposta, dando continuidade à sua política oficial de usar newspeak para baralhar as pessoas. No entanto, desta vez será visivelmente ilusivo, uma vez que o PCP não poderá continuar a usar os chavões tradicionais sem justificar o que significam verdadeiramente. As verdadeiras intenções serão totalmente transparantes. Não interrogar sobre este ponto essencial é permitir que grupos deste género, para os quais todos os meios são válidos para atingir o fim desejado, continue a propagar eternamente o seu culto de ódio, pobreza e guerra. A necessidade fulcral, para além de saber o que faziam as FARC e outros grupos terroristas na festa, é combater e desmantelar ideologicamente um núcleo político que se escuda por trás de milhares de eleitores, situação única na UE em termos percentuais, e que permite que este género de promiscuidade infeliz com grupos terroristas (neste caso, definidos até como tal pela própria UE) aconteça num país democrático e relativamente livre como Portugal.

Liberdade económica

A parceria Cato Institute/Fraser Institute publicou a sua edição anual do índice de liberdade económica, desta vez referente ao ano de 2004. Os primeiros classificados não se alteraram relativamente ao ano anterior (tanto em termos absolutos como relativos): Hong Kong, Singapura, seguidos da Suiça, NZ e EUA em ex aequo na terceira posição. Em 6º encontram-se o Reino Unido e a Irlanda, que parece continuar a subir na tabela.

Portugal surge este ano na 20º posição, acompanhado por Chipre, Chile, Hungria, o que equivale a uma subida de 14 postos na tabela geral de países, comparativamente a 2003, mas apenas a uma melhoria de 0.3 pontos na classificação em termos absolutos. Para trás ficaram Espanha, França, Noruega, Bélgica e Suécia, embora a diferença com a maioria destes seja somente uma variação de 1 ou 2 décimas. Itália fica a 5 pontos decimais de distância e a Grécia a 6. No fim da tabela, praticamente todo o continente africano e alguns paraísos socialistas para os quais se obtiveram dados (Cuba e Coreia no Norte, por exemplo, não constam da lista).

O índice de liberdade económica da Heritage Foundation parece ter sido também actualizado (via A Arte da Fuga). Aqui, Portugal subiu 0.15 valores para 30º lugar (ultrapassa Espanha) e mantém-se à frente de França, Itália e Grécia. Hong Kong, Singapura e Irlanda lideram. O fim da tabela é ocupado por Myanmar (a antiga Birmânia), Irão e Coreia do Norte.

Saturday, September 09, 2006

Branco mais branco não há

«Not all older people feel like Mr Chen. For some, worried about the inequalities that China's capitalist revolution is now producing, Mao represents a time when China was a more equal country. And for many in the younger generation Mao has almost mythical status. "I think Mr Chairman Mao was a great guy. To us he is not a person, he is a god," according to Mr Cai, now in his thirties, and was just a child when Mao died. Like many Chinese, he admires Mao as the founder of modern China. "He united China and helped the poor people. Maybe some people in the world will not like him, but we Chinese will always think he was a great man," he said. That is just the sort of talk China's Communist Party likes to hear. Walking around Mao's childhood home, none of his mistakes are on show.» China moves on from Mao

Thursday, September 07, 2006

Doing Business

Está já disponível o resumo do relatório anual [pdf] do Doing Business. Portugal situa-se, este ano, na modesta posição de 40º lugar, em contraste com o 45º que ocupava no ano anterior. Esta subida de 5 posições deve-se essencialmente ao salto de 80 posições que foi dado no parâmetro starting a business, de 113º para 33º.

Os dados deste parâmetro e a sua evolução desde o último relatório estão na tabela seguinte:


2006 2007
Procedures (number) 11 8
Time (days) 54 8
Cost (% of income per capita) 13.4 4.3
Minimum capital (% of income per capita) 39.4 38.7


Apesar desta subida bastante elevada e digna de menção, os resultados apresentados apenas ficam em linha com a média da OCDE. De notar que neste grupo de países (ver tabela), a classificação média de Portugal apresenta-se no antepenúltimo lugar, à frente apenas da Itália e da Grécia, o que provavelmente não é razão de grande satisfação. Esta mudança não traz grande alteração em termos comparativos no ranking OCDE, já que Portugal se encontrava à frente dos mesmos dois países no ano anterior e também da França, que deu um salto de 12 posições do ranking (47º para 35º). Ser ultrapassado pela França que, como se pode ver, melhorou nos parâmetros getting credit e trading across borders, é provavelmente mau sinal.

Porém, é de realçar que a subida de Portugal é positiva, ainda que obviamente insuficiente. Seria relevante para Portugal se a subida se desse de uma forma significativa entre países da própria OCDE e não somente a nível mundial.

Quanto aos restantes países, a tabela geral mostra que o maior salto foi dado pela Geórgia, que passou de 112º para... 37º, à frente de Portugal e Espanha. Os líderes da tabela são os países anglo-saxónicos do costume, acompanhados por Hong Kong e Singapura, que este ano lidera. No fim da tabela encontram-se também os países do costume, nomeadamente os das reformas recentes mais prejudiciais, como a Bolívia, a Venezuela e o Zimbabwe. Quem tenha vindo a acompanhar as notícias da imprensa internacional, nos últimos meses, certamente compreenderá o porquê de tal mistério.

Tuesday, September 05, 2006

Witch trial

O mais que evidente perigo flagrante da velhinha lógica aristotélica*:



«Who are you, who are so wise in the ways of science?»

[Transcrição]

*uma dedicatória a António Vilarigues

Monday, September 04, 2006

Ciência, economia, exactidão

N'A destreza das dúvidas. Prometida uma emissão de opinião assim que haja maior disponibilidade.

Telhados de vidro

Jerónimo de Sousa retoma ataques à "política de direita" do PS
«No seu discurso, de mais de uma hora, Jerónimo de Sousa insistiu na ideia de que o Governo de José Sócrates defende os interesses do "grande capital", dos bancários e dos empresários, que acusou de fazerem propostas que "cheiram a mofo" e "vão ao encontro das propostas salazaristas".»

Sunday, September 03, 2006

Não é preciosismo semântico

São pouco compreensíveis as crescentes invectivas contra a referência ao Estado de Israel, por substituição a Israel. Supõe-se que os críticos de tal designação queiram implicar que, ao existirem denominações consistentes sob esta forma, há uma divisão subjacente que denuncia a artificialidade do Estado de Israel na região. Urge, portanto, explicar aos mais desatentos que Israel (ou qualquer outro país) e o seu Estado são entidades absolutamente distintas, ainda que por vezes se faça recurso a esta metonímia, tanto no jornalismo como noutras áreas, para designar o Estado correspondente ao respectivo país, através do próprio nome do país em questão.

A necessidade de usar o prefixo 'Estado de', ou 'Estado' seguido do adjectivo gentílico, torna-se relevante quando se estão a discutir as acções do governo de um país e não da sua população, independentemente do apoio popular que se verifique aos respectivos dirigentes, ou porque se discutem fronteiras políticas, cuja condição incontornável é a co-existência geográfica de múltiplos Estados.

Isto é relevante e, obviamente, não se aplica somente a Israel, como também ao Líbano, aos EUA e a todos os outros. Confundir a instituição política que é o Estado com o corpo do qual esta brota é errado e tendencioso porque acaba por servir - na pior das hipóteses - para falar dos habitantes desse Estado avaliando-os pelas decisões tomadas pelos seus líderes. Tendo em consideração que o feedback democrático (quando existe) não corresponde a um período de tempo aceitável para tomadas de decisão pontuais, não previstas antes do início do mandato, nem consegue nunca reunir total unanimidade, está-se simplesmente a lutar pela tentativa de encontrar um artifício verbal para criar uma posição criticável.

Claro que a base do problema está na manifesta dificuldade por parte de muito boa gente em diferenciar entre sociedade e Estado. Mas precisamente por ser um erro frequente, deveriam os novos seguidores deste tipo de argumento lutar por distinguir os dois conceitos constantemente, em vez de incentivar o uso de falácias generalizadoras que apenas servem para atacar o alvo desejável do momento. Infelizmente, tal tarefa avizinha-se como bastante difícil porque geralmente os que utilizam este tipo de retórica são os que vêm o indivíduo como uma espécie de simbiose indissociável entre o colectivo da sociedade e a estrutura criada pelo Estado para moldar os elementos que fazem parte desse mesmo colectivo.