O Rui Fernandes pensa que o problema com o texto do Papa não foi de interpretação mas sim que este demonstra uma verdadeira xenofobia perante os muçulmanos e que eu, conjuntamente com o AAA e a Judite de Sousa, peco por falta de compreensão do que Bento XVI afirmou. Para quem ainda não leu e queira ler, é possível ler na página do Vaticano em inglês, e a versão original, em alemão.
A questão é muito simples e começa pela citação. É irrelevante se o Papa contextualiza ou não a citação que faz do imperador bizantino Manuel II, isto porque citar uma outra pessoa não a vincula às suas opiniões. Mas ainda assim, como podemos dizer que a citação não é contextualizada? Fala-se da relação entre a fé, a violência e a necessidade de negar a violência através da razão.
Infelizmente, tudo isto tem a ver com o Islão, seja pela lei islâmica, pela submissão religiosa ou pela necessidade de levar a cabo uma guerra santa contra a fracção do mundo que ainda não se submeteu à palavra de Alá. Dizer ou presumir que nada disto é real e é uma "interpretação" de uma minoria é negar os factos, incluindo as sondagens que mostram percentagens muito elevadas de apoio a actos terroristas contra alvos ocidentais. Se o Papa quisesse realmente expressar a sua negação intelectual por uma religião (ou ideologia política, dependerá do ponto de vista) não o poderia fazer livremente sem ser catalogado de islamófobo? Bento XVI - e embora tenha afirmado posteriormente o contrário - não tem direito a liberdade de expressão ou defesa da tese, em termos académicos, de que o Islão é intrinsecamente violento, pouco dado à tolerância religiosa, ao ecumenismo e à razão?
Este ponto não é muito importante em si. Mais importante é o facto de muita gente, como parece ser o caso do Rui Fernandes, se preocupar com o que é insultuoso para os muçulmanos ou não é, neste caso, a idolatria. Contudo, repare-se. Os muçulmanos são pessoas extremamente delicadas. Incomodam-se com a liberdade de expressão (que muitos vêem como uma falha das democracias ocidentais), com a discussão académica inconveniente, com as mini-saias, com a existência de liberdade religiosa, com a ideia de que as mulheres podem ter os mesmos direitos que os homens, etc. mas já não se incomodam, em grande parte, com o facto de as suas intenções chocarem directamente com o espírito crítico das sociedades ocidentais. No fundo, têm um problema muito sério com a liberdade e, acima de tudo, com a razão, em especial, porque raramente se incomodam com o que, quando não os incomoda a eles, incomoda os outros. Por exemplo, onde estão as manifestações pacíficas contra os fundamentalistas que têm apelado à morte de Bento XVI e à destruição do Vaticano? Onde estão esses senhores moderados que raramente aparecem, em defesa da razão, da não-violência (quando esta inclua também, obviamente, os actos cometidos por islâmicos) e da conversação diplomática inter-religiosa? Como se pode reclamar que algo é racional quando lida de forma irracional com qualquer crítica objectiva que se lhe faça, mesmo quando ela não existe?
A outra coisa que me intriga bastante são as constantes acusações de islamofobia, xenofobia e racismo a quem quer que observe criticamente atitudes percebidas como tendo aceitação extensa na comunidade muçulmana. A observação mais pertinente será questionar quem é mais islamófobo - quem se limita a descrever a realidade ou quem constantemente tenta negar que ela existe e a menospreza, por uma razão muito simples. A pretensa islamofobia não é preocupante porque ainda nenhum judeu ou cristão se dirigiu a um país muçulmano para executar actos terroristas e matar civis em nome da sua religião, muito ao contrário do que tem vindo a ser observado nos últimos anos.
E se há forma de evitar que tudo derive precisamente numa islamofobia global é começar por parar de bloquear qualquer crítica que seja feito ao islamismo, por receio de ferir as sensibilidades islâmicas, fundamentalistas e/ou moderadas, e de exercer constantemente uma relativização de valores e culturas que apenas funciona quando se parte do referencial ocidental/judaico-cristão. Ninguém tem interesse em criticar o islamismo apenas por criticar. Não se vêem pessoas por aí a discutir o perigo da violência hindu, sikh, budista, judaica ou xintoísta, simplesmente porque essas ameaças não existem.
Perigoso é negar implicitamente que um terrorismo de inspiração totalmente islâmica existe e que este é executado em grande parte, com a condescendência dos que manifestamente se declaram contra qualquer género de acto violento em abstracto. Perigoso é continuar a fechar propositadamente os olhos a algo que se está a desenvolver rapidamente no seio do mundo ocidental - que visivelmente não tem capacidade para tornar toda esta gente em pessoas tendencialmente seculares ou de interpretação religiosa pacífica - e deixar que todos estes acontecimentos passem completamente em branco. Porque no dia em que as sociedades que já começam a apresentar tensões sociais e demográficas relevantes (Bélgica, Holanda, França, Reino Unido, Suécia, etc.) e os eleitores entenderem que os governos não têm feito praticamente nada para os proteger de uma vasta camada de população que deseja implementar um sistema legal totalitário chamado shari'a, aí sim, teremos islamofobia. Mas não será uma islamofobia digna de estudo sociológico, será uma guerra em movimento, com movimentos de secessão dentro dos próprios países, gente inocente a morrer pelo meio, sistemas judiciais paralelos, comunidades hostis isoladas, subida de partidos autoritários ao poder, etc. Até lá, as liberdades civis dos inocentes continuarão a ser reduzidas em nome da ameaça terrorista, precisamente pela dificuldade em lidar com a causa central do problema e a resistência política a encarar os factos tais como eles são.
Ironicamente, e entretanto, todo o conjunto de ameaças que já foram feitas, em conjunto com as declarações difamatórias dos líderes comunitários e o silêncio de quem deveria ao menos expressar um repúdio de reacções menos racionais, vai, infelizmente, dando razão aos que interpretam as palavras de Bento XVI como uma acusação da violência islâmica. A inexistente islamofobia parece ser algo preocupante para muita gente mas os seus potenciais alvos parecem estar mais preocupados em emitir o seu antagonismo com o Papa do que destacar-se das manifestações mais violentas, preferindo em vez disso legitimar tais atitudes por via da indignação própria de quem vê a sua religião insultada. Assim como as pessoas que constamente insistem em criar dicotomias de barricada inexistentes, como se todos as pessoas que possivelmente concordem com o que o Papa afirmou no teor do seu discurso - interprete-se isso como crítica ao Islão ou não, coisa que o próprio negou várias vezes - tenham de ser cristãs e católicas, todos os que vêem a civilização ocidental como um feito importante sejam necessariamente anti-orientais e que os que vejam Deus (cristão) como um deus bom neguem claramente uma filosofia de convergência teológica com outras religiões, num espírito ecuménico. Não é disso que se trata - não é o alvo dos protestos, das ameaças e do terrorismo psicológico - e simplificar aqui só serve para criar argumentos difusos.
A outra coisa que me intriga bastante são as constantes acusações de islamofobia, xenofobia e racismo a quem quer que observe criticamente atitudes percebidas como tendo aceitação extensa na comunidade muçulmana. A observação mais pertinente será questionar quem é mais islamófobo - quem se limita a descrever a realidade ou quem constantemente tenta negar que ela existe e a menospreza, por uma razão muito simples. A pretensa islamofobia não é preocupante porque ainda nenhum judeu ou cristão se dirigiu a um país muçulmano para executar actos terroristas e matar civis em nome da sua religião, muito ao contrário do que tem vindo a ser observado nos últimos anos.
E se há forma de evitar que tudo derive precisamente numa islamofobia global é começar por parar de bloquear qualquer crítica que seja feito ao islamismo, por receio de ferir as sensibilidades islâmicas, fundamentalistas e/ou moderadas, e de exercer constantemente uma relativização de valores e culturas que apenas funciona quando se parte do referencial ocidental/judaico-cristão. Ninguém tem interesse em criticar o islamismo apenas por criticar. Não se vêem pessoas por aí a discutir o perigo da violência hindu, sikh, budista, judaica ou xintoísta, simplesmente porque essas ameaças não existem.
Perigoso é negar implicitamente que um terrorismo de inspiração totalmente islâmica existe e que este é executado em grande parte, com a condescendência dos que manifestamente se declaram contra qualquer género de acto violento em abstracto. Perigoso é continuar a fechar propositadamente os olhos a algo que se está a desenvolver rapidamente no seio do mundo ocidental - que visivelmente não tem capacidade para tornar toda esta gente em pessoas tendencialmente seculares ou de interpretação religiosa pacífica - e deixar que todos estes acontecimentos passem completamente em branco. Porque no dia em que as sociedades que já começam a apresentar tensões sociais e demográficas relevantes (Bélgica, Holanda, França, Reino Unido, Suécia, etc.) e os eleitores entenderem que os governos não têm feito praticamente nada para os proteger de uma vasta camada de população que deseja implementar um sistema legal totalitário chamado shari'a, aí sim, teremos islamofobia. Mas não será uma islamofobia digna de estudo sociológico, será uma guerra em movimento, com movimentos de secessão dentro dos próprios países, gente inocente a morrer pelo meio, sistemas judiciais paralelos, comunidades hostis isoladas, subida de partidos autoritários ao poder, etc. Até lá, as liberdades civis dos inocentes continuarão a ser reduzidas em nome da ameaça terrorista, precisamente pela dificuldade em lidar com a causa central do problema e a resistência política a encarar os factos tais como eles são.
Ironicamente, e entretanto, todo o conjunto de ameaças que já foram feitas, em conjunto com as declarações difamatórias dos líderes comunitários e o silêncio de quem deveria ao menos expressar um repúdio de reacções menos racionais, vai, infelizmente, dando razão aos que interpretam as palavras de Bento XVI como uma acusação da violência islâmica. A inexistente islamofobia parece ser algo preocupante para muita gente mas os seus potenciais alvos parecem estar mais preocupados em emitir o seu antagonismo com o Papa do que destacar-se das manifestações mais violentas, preferindo em vez disso legitimar tais atitudes por via da indignação própria de quem vê a sua religião insultada. Assim como as pessoas que constamente insistem em criar dicotomias de barricada inexistentes, como se todos as pessoas que possivelmente concordem com o que o Papa afirmou no teor do seu discurso - interprete-se isso como crítica ao Islão ou não, coisa que o próprio negou várias vezes - tenham de ser cristãs e católicas, todos os que vêem a civilização ocidental como um feito importante sejam necessariamente anti-orientais e que os que vejam Deus (cristão) como um deus bom neguem claramente uma filosofia de convergência teológica com outras religiões, num espírito ecuménico. Não é disso que se trata - não é o alvo dos protestos, das ameaças e do terrorismo psicológico - e simplificar aqui só serve para criar argumentos difusos.
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