Pages

Wednesday, December 30, 2009

Memory hole

A verdade é que sempre estivemos em guerra com a Lestásia:
DN revela em primeira mão despachos do presidente do Supremo Tribunal. Noronha do Nascimento diz que houve "desconsideração" pela regras e por isso as escutas entre Vara e o primeiro-ministro têm de ser destruídas.

A posição de Noronha do Nascimento quanto ao teor das escutas foi esta: “O conteúdo dos 'produtos' em que interveio o PM, se pudesse ser considerado, não revela qual facto, circunstância ou referencia de ser entendido ou interpretado como indício ou sequer como uma sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito criminal”, lê-se no despacho.

Friday, December 25, 2009

Santa's on his way

For more than 50 years, NORAD and its predecessor, the Continental Air Defense Command (CONAD) have tracked Santa’s Christmas Eve flight.

The tradition began in 1955 after a Colorado Springs-based Sears Roebuck & Co. advertisement for children to call Santa misprinted the telephone number. Instead of reaching Santa, the phone number put kids through to the CONAD Commander-in-Chief's operations "hotline." The Director of Operations at the time, Colonel Harry Shoup, had his staff check the radar for indications of Santa making his way south from the North Pole. Children who called were given updates on his location, and a tradition was born. (...)

Since that time, NORAD men, women, family and friends have selflessly volunteered their time to personally respond to Christmas Eve phone calls and emails from children. In addition, we now track Santa using the internet. Last year, millions of people who wanted to know Santa's whereabouts visited the NORAD Tracks Santa website.

Finally, media from all over the world rely on NORAD as a trusted source to provide Christmas Eve updates on Santa's journey.
Todos os anos, caças americanos e canadianos interceptam o trenó do Pai Natal e escoltam-no durante a sua entrada na América do Norte.

Thursday, December 24, 2009

Uma lição de simbologia natalícia

O bacalhau não tem qualquer paladar especialmente agradável. Apesar de os portugueses tipicamente reclamarem que existem mais de mil maneiras de cozinhar bacalhau, a fracção de pessoas que consome bacalhau durante o ano, nas suas variadas formas, é extremamente reduzida. Se o bacalhau é assim tão extraordinário, como geralmente os defensores da tradição sugerem que é, por forma a racionalizar a prática do seu consumo na consoada, por que razão não se come mais vezes durante o ano? Claro que se fosse este o caso, o bacalhau faria efectivamente parte do leque de pratos que constituem a dieta alimentar de muitos portugueses ao longo do ano, como, por exemplo, o famoso bitoque ou o frango assado. Isto levantaria um problema grave. Se a refeição da consoada é tão banal que é consumida com uma elevada frequência durante o resto do ano, o seu significado reduz-se significativamente. Como a maior parte das festividades humanas está geralmente ligada ao convívio social das refeições, não haveria uma sensação de Natal porque se não estaria a comer algo fora do comum. Seria apenas mais uma reunião de família, mas com decorações diferentes.

O que este raciocínio implica é que a manutenção de tradições como a consoada em países onde os agregados populacionais sejam particularmente vulneráveis aos efeitos da simbologia e a escassez alimentar não seja um problema (em cujos casos, as festividades, pelo contrário, envolvem refeições mais apetecíveis, mas também mais caras, e, portanto, impossíveis de sustentar com muita frequência ao longo do ano), qualquer comemoração muito relevante envolverá o consumo de um alimento não particularmente desejável do ponto de vista gastronómico, algo relativamente neutro que deixe a maior parte destas pessoas indiferentes. Um outro vector em que esta diferenciação ocorre é o sacrifício envolvido na preparação da refeição, o qual sinaliza, por via do esforço individual ou colectivo, a importância que se atribui ao festejo em causa. À luz desta proposição, mesmo que esse esforço não se traduza necessariamente numa melhoria significativa na qualidade da refeição (que provavelmente se encontra já comprometida à partida pela escolha do alimento a usar), não é particularmente estranho observar que preparação do bacalhau, no caso português, implica um esforço que se estende ao longo de várias horas, ou dias, devido ao processo de demolha. A aquisição de bacalhau ultracongelado, previamente demolhado e cortado é culturalmente punida. É possível observar um processo semelhante no caso da utilização de peru recheado para o dia de Acção de Graças no Estados Unidos, que, ironicamente, começou por ser um "festival da colheita", um aspecto que está relacionado com os antecedentes pagãos da actual comemoração do Natal nos países de maioria cristã.

Por tudo isto e algumas outras razões (como o facto de o consumo de bacalhau ter sido subsidiado durante o Estado Novo), hoje à noite, muitos de nós estarão a comer o fiel amigo sem grande entusiasmo. A propósito, os meus desejos de um feliz Natal para todos.

Tuesday, December 22, 2009

venture to the stars



Carl Sagan - 'A Glorious Dawn' ft Stephen Hawking (Cosmos Remixed)

Wednesday, December 16, 2009

Samuelson e o planeamento central

Paul Samuelson, um dos vultos mais destacados da ciência económica do século passado, faleceu há poucos dias. Para além de contribuições nos mais variados campos da economia, uma das suas heranças ao mundo é o famigerado Economics, que, a certa altura da sua existência, de acordo com este artigo de Arnold Beichman, rezava da seguinte forma:
World-class economist Paul Samuelson, a Nobel laureate, wrote in the tenth edition of his textbook Economics: “It is a vulgar mistake to think that most people in Eastern Europe are miserable.” This, mind you, in the aftermath of the 1953 East German uprising, the 1956 Hungarian uprising and the Poznan protests in Poland, the 1968 revolution in Czechoslovakia— all suppressed with bloodshed by Soviet tanks. In the eleventh edition, he took out the word “vulgar.” In the 1985 twelfth edition, that entire passage had disappeared. Instead, he and his coauthor, William Nordhaus, substituted a sentence asking whether Soviet political repression was “worth the economic gains.” This non-question was identified as “one of the most profound dilemmas of human society.” After 70 years of Leninism, Stalinism, and Maoism that took at least 100 million lives, this was still a dilemma? (...)

At a time when the magnitude of the Soviet economic disaster was apparent even to the most willfully blind Marxists in Central Europe and the USSR, the 1985 Samuelson text offered this paragraph about the Soviet economy: "But it would be misleading to dwell on the shortcomings. Every economy has its contradictions and difficulties with incentives—witness the paradoxes raised by the separation of ownership and control in America. . . . What counts is results, and there can be no doubt that the Soviet planning system has been a powerful engine for economic growth".
O artigo merece ser lido porque Samuelson não é o único ilustre mencionado no que diz respeito a estas ilusões com a antiga União Soviética. A edição de 1989 do referido livro, dois anos antes do colapso da URSS, dizia ainda o seguinte:
"The Soviet economy is proof that, contrary to what many skeptics had earlier believed, a socialist command economy can function and even thrive"
Assumindo que Samuelson não agia de má fé (uma grande concessão), este género de casos deve constituir um aviso sobre a facilidade com que, até indivíduos reconhecidos entre os seus pares como líderes, podem retirar conclusões que negam por completo conceitos elementares dos mecanismos de acção económica:
Kennan may have been the first to realize that a society based on Communism would not survive politically, but it was Ludwig von Mises, in his 1922 work Socialism, who demonstrated that any such society could not survive economically.

When a collection of free individuals — the market — is willing to pay a price for a product that creates “excess” profits, it signals producers to provide more of that product. If the market does not support a given price, producers are forced to redeploy their assets for more pressing social needs. Similarly, if a factor of production, such as labor or capital, changes in price, producers instantly react, sending signals — through the prices of intermediate goods — down to the consumer. Prices effortlessly allocate society’s assets to reflect consumer preference and adjust to accommodate the ever-changing availability of scarce resources.

Mises argued that governmental interference in prices, through taxation, subsidies, and regulation, complicates this process — affecting not only the consumption of final goods, but also the economic calculations that are necessary to provide intermediate goods and services. Higher-order division of labor fails. Poverty results. For example, while Chinese and Russian central planners were busy setting quotas for steel mills, there was no method for consumers to signal that they preferred food — and millions starved to death.

Saturday, December 05, 2009

Friday, November 27, 2009

o óbvio às vezes precisa de ser lembrado

While some useful insights follow from the assumption of an omnipotent, omniscient and benevolent policy maker, in reality it can give us very misleading ideas about the possibilities of beneficial policy intervention. It must be recognized that the actions of the state, and the feasible policies that it can choose, are often restricted by the same features of the economy that make the market outcome inefficient. (...)

For instance, if we know that markets will fail to be efficient in the presence of imperfect information, to establish the merit of government intervention it is crucial to know if a government subject to the same informational limitations can achieve a better outcome. Furthermore, a government managed by non-benevolent officials and subject to political constraints may fail to correct market failures and may instead introduce new costs of its own creation. It is important to recognize that this potential for government failure is as important as market failure and that both are often rooted in the same informational problems. At a very basic level, the force of coercion must underlie every government intervention in the economy. All policy acts take place, and in particular taxes are collected and industry is regulated, with this force in the background. But the very power to coerce raises the possibility of its misuse. Although the intention in creating this power is that its force should serve the general interest, nothing can guarantee that once public officials are given this monopoly of force, they will not try to abuse this power in their own interest.

Jean Hindriks e Gareth D. Myles, Intermediate Public Economics (p. 76)

Tuesday, November 24, 2009

Tem melhor aspecto vista de fora


Credit & Copyright: ESA (MPS for OSIRIS Team), MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA
Explanation: Goodbye Earth. Earlier this month, ESA's interplanetary Rosetta spacecraft zoomed past the Earth on its way back across the Solar System. Pictured above, Earth showed a bright crescent phase featuring the South Pole to the passing rocket ship. Launched from Earth in 2004, Rosetta used the gravity of the Earth to help propel it out past Mars and toward a 2014 rendezvous with Comet Churyumov-Gerasimenko. Last year, the robot spacecraft passed asteroid 2867 Steins, and next year it is scheduled to pass enigmatic asteroid 21 Lutetia. If all goes well, Rosetta will release a probe that will land on the 15-km diameter comet in 2014.

Thursday, November 19, 2009

Os Deuses Devem Estar Loucos

O programa Plano Inclinado de 11 de Novembro, um raro momento de (alguma) normalidade e realismo na televisão portuguesa. A duração é de 50 minutos e conta com a participação de Henrique Medina Carreira, João Duque e Nuno Crato:


Thursday, November 12, 2009

You are still my bitch

barcode head

A máquina ainda tentou sabotar o operação, obrigando-me a repetir três vezes o processo de obtenção das impressões digitais. Poderia ter sido o poder da sugestão a impedir que a epiderme mantivesse os relevos próprios das pontas dos dedos, mas duvido. Comentei que podíamos ficar por ali, uma vez que não fazia assim tanta questão de dar exemplares de impressões digitais a ninguém (ou, já agora, daquilo que parecia ser um digitalização - mal disfarçada de fotografia - da retina e da íris), mas, aparentemente, não foi muito convincente. Com ajuda de creme hidratante e muita paciência a coisa acabou por funcionar. E ainda tive de pagar no final. É como ser violado por um grupo de bandidos e ainda ter de agradecer quando eles se dão por satisfeitos. E dar-lhes o número de telemóvel para nos ligarem quando lhes apetecer (nesta parte, ao menos, deu para fingir que não tinha).

Trata-se de um pequeno plástico para controlar todos os tratamentos médicos que se recebem, onde se recebem, quem os concede e como o faz. Para saber em que escola se andou, durante quanto tempo se andou e designar  para que estabelecimento de ensino se irá a seguir. Quanto se declara em termos fiscais, que tipo de trabalho se tem, e para quem é feito. Que propriedades, veículos e contas bancárias podemos ter em nosso nome. Que tipo de compras tentamos apresentar como deduções e em que quantidades. Quem são os progenitores e quanto devem eles receber por existirmos. Quanto devemos nós receber por termos filhos e a quanto teremos direito quando nos reformarmos. Quanto se deve obrigar o nosso empregador a pagar por nos empregar. Onde moramos, onde nascemos, quando nascemos - e, em conjugação com o cada vez mais idêntico irmão passaporte, por onde andamos e por quanto tempo o fazemos. E porquê. As relações amorosas que temos. Onde e quantas vezes votamos. Em que eleições votamos. Quanto mede a nossa estrutura óssea. Como é a nossa geometria facial, a cor do nosso cabelo, da nossa pele, dos nossos olhos. Como assinamos. Num futuro talvez não muito distante, a identificação inconfundível do veículo que conduzimos e da sua exacta localização. Para além das retinas, das íris e das impressões digitais, o nosso código genético. E com isso, as nossas doenças congénitas, as nossas propensões para doenças, comportamentos de dependência, tendências sexuais. Potenciais capacidades cognitivas e problemas psiquiátricos. Prováveis traços de personalidade...

Há dias em que é tão bom recordar que vivemos em liberdade e que a escravatura já foi abolida.

Tuesday, November 03, 2009

O princípio do fim



"Sometimes I like to compare the EU as a creation to the organisation of empire. We have the dimension of empire," (...) "What we have is the first non-imperial empire," said the centre-right Mr Barroso, who was formally Portugal's prime minister. (11 de Julho de 2007)

Wednesday, October 28, 2009

Diz que é uma espécie de democracia liberal

Um regulador controlado pelo executivo que exclusivamente decide quem tem o direito a transmissões televisivas em sinal aberto. Um tribunal que impede o executivo de atribuir mais licenças:
Graças a esta decisão judicial, da qual a empresa foi notificada esta terça-feira, «o Estado fica proibido de abrir um novo concurso para atribuição de uma licença de televisão para o quinto canal», enquanto não estiver decidida a acção principal.

Recorde-se que tanto a Telecinco como a Zon – os dois concorrentes ao quinto canal – foram excluídas do concurso pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que entendeu que estas não cumpriam os requisitos necessários para conseguir a licença.
E depois há quem diga que não entende quando se critica a falta de liberdade de imprensa. Mas esta é ainda melhor:
Calendário dita decisões no Banco de Portugal, CMVM, ASAE e em empresas como EDP e Galp.

A coreografia está a cargo do novo Governo de José Sócrates e entre os bailarinos haverá os que transitam da anterior peça e as novidades que ganham um lugar novo. Por caprichos de calendário, até ao final do seu mandato, o primeiro-ministro terá, pelo menos, 19 altos cargos no Estado, ou na sua dependência, para escolher, sem contar com os 390 dirigentes superiores que caem obrigatoriamente com a tomada de posse de um novo Governo e terão que ser reconduzidos ou substituídos.

Há lugares importantes para preencher com nomes de total confiança política, entre eles o de governador do Banco de Portugal, presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários ou presidente da RAVE - Rede Ferroviária de Alta Velocidade, o organismo responsável por todo o projecto do TGV liderado por Luís Pardal, que termina o mandato no final deste ano.
Portugal dava um case study espectacular sobre separação de poderes.

Tuesday, October 27, 2009

A nova caça às bruxas

Os povos mediterrânicos têm fama de ser bisbilhoteiros, mas é num país nórdico que surgem ideias brilhantes como esta:
IT'S THE moment nosy neighbours have been waiting for – the release of official records showing the annual income and overall wealth of every Norwegian taxpayer. In a move that would be unthinkable in most countries, tax authorities in Norway have issued the skatteliste, or "tax list," for 2008 to domestic media under a law designed to safeguard the country's tradition of transparency.

The annual list includes data about fishermen on the western fjords, Sami reindeer herders in the north and urbanites in Oslo. To non-Scandinavians, it appears to be a gross violation of privacy. At home, it has stirred up a media frenzy, with headlines revealing who is oil-rich Norway's wealthiest man, woman and celebrity couple.
Vale a pena ler o resto da notícia, em especial para ler o tipo de contexto surrealista em que tudo isto se enquadra, mas esta secção em particular merece destaque prioritário:
Defenders of the system say it enhances transparency, which is essential for an open democracy. "Isn't this how a social democracy ought to work, with openness, transparency and social equality as ideals?" wrote Jan Omdahl, a columnist for the tabloid Dagbladet.
Este é um argumento deveras extraordinário. Se eu fosse conselheiro do governo norueguês, proporia de imediato que fossem efectuadas fotografias digitais de corpo inteiro, em alta definição, a todos os noruegueses e norueguesas, e que estas fossem todas colocadas num portal publicamente acessível, em conjunto com todos os dados que permitissem identificar e localizar cada uma dessas pessoas. Desta forma, toda os machos e fêmeas noruegueses poderiam evitar a total ineficiência que é, no momento presente, cortejar espécimenes do sexo oposto que não sejam dignos de transmitir os seus preciosos genes às gerações seguintes. Claro que a pintura só ficará completa com perfis psiquiátricos, genéticos, de personalidade e de inteligência, mas não sejamos demasiado apressados. Não é tudo isto que se pretende numa sociedade transparente e democrática, onde ninguém tem nada a esconder? Parece o Paraíso na Terra.

A parte mais irónica é que, apesar de tanta conversa fiada sobre vontade democrática, igualdade e abertura social, o apoio popular a esta medida parece denotar uma oposição definida de quase metade da sociedade:
A 2007 survey by research group Synovate revealed that only 32 per cent of the Norwegian public wanted the tax list published, while 46 per cent were against it.

Monday, October 26, 2009

Salazarismo

Para futura referência, especialmente quando alguém disser que Salazar era de "direita":
"A economia liberal que nos deu o super-capitalismo, a concorrência desenfreada, a amoralidade económica, o trabalho-mercadoria, o desemprego de milhões de homens, morreu já."
A frase (via Blasfémias) foi pronunciada no I Congresso da União Nacional, em 1934.

Thursday, October 22, 2009

O estranho caso da amnésia histórica



No ano em que se comemoram 20 anos da queda do muro de Berlim e do início do colapso da União Soviética, é sempre interessante observar o tipo de afirmações que os militantes de um partido assumidamente estalinista (talvez a recusa da tecnologia capitalista os tenha impedido de receber o memorando de Khrushchev), que recebe organizações terroristas e que está associado a tantas outras actividades e ideais nobres vão fazendo na ocidental praia lusitana. Rita Rato, a nova deputada do PCP na Assembleia da República - e que aparentemente tem formação superior em ciência política e relações internacionais - fez as seguintes e curiosas declarações:
Foi esse o caso da deputada Rita Rato, do PCP, em entrevista à revista ‘Domingo’, do CM, publicada na última edição. O que pensa a deputada dos campos de trabalho forçados na URSS, vulgo ‘Gulag’, em que morreram milhares de pessoas? "Não sou capaz de responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso." Bom, mas a coisa foi bem documentada pela História, pergunta--se. "Por isso mesmo, admito que possa ter acontecido essa experiência... Aqui chegados, é melhor parar o baile. Falar de "experiência" quando se fala do ‘Gulag’ é a mais recente versão de negação histórica.
É realmente interessante chamar aos campos de concentração soviéticos, uma das criações mais mortíferas de Estaline, uma "experiência". Mas ao menos a deputada "admite que possa ter acontecido", o que já é certamente um progresso quando se está a falar de centenas de milhares de mortos. Com estes avanços empíricos, talvez uma dia vejamos um membro do PCP a admitir sugerir que, afinal, os elefantes não conseguem voar. O outro caso de relevo foi o do já familiar Bernardino Soares, o deputado que em 2003 verbalizou a sua crença de que o regime mais totalitário à face da Terra provavelmente seria, na verdade, uma "democracia", esclarecendo logo de seguida que, já no caso de Cuba, não existe margem para dúvida de que é realmente uma democracia. Em declarações no programa dos Gato Fedorento, Bernardino Soares disse o seguinte, referindo-se aos regimes comunistas que antecederam o período actual:
"Nós fizemos uma análise crítica desses países e dessas experiências, mas nada disso invalida o facto de serem primeiras tentativas de experiências socialistas e de esse sonho e esse ideal continuar a ter toda a validade, apesar de aquelas não terem corrido muito bem no fim."
Ufa, ainda bem que foram só "experiências" que não "correram bem no fim", ou ainda poderíamos pensar que os mais de 100 milhões de mortos que os regimes comunistas foram acumulando ao longo do último século poderiam ser uma séria fonte de preocupação. Ou que a guerra civil russa (1917-23) que se deu logo após a revolução bolchevique não tivesse feito quase 2 milhões de mortos, e tantos outros refugiados, famintos e afins. Ou que a repressão do regime soviético não tivesse ido subindo de tom até culminar, tão "tardiamente"  - logo na década de 30 - na Grande Purga, em que, num intervalo inferior a dois anos, aproximadamente um milhão de pessoas foi executado, outros tantas centenas de milhares torturadas e deportadas para gulags. Ou que...

Monday, August 17, 2009

entre os melhores do mundo (e talvez da Europa)

Vou-me cansando de ler o regime e os seus respectivos propagandistas sobre o mísero crescimento económico de 0.3% que o país parece ter atravessado no segundo trimestre deste ano. Mesmo que se atribua alguma credibilidade a um indicador estatístico como o produto interno bruto, num momento em que tantos governos estão a aplicar políticas expansionistas (i.e., que o aumentam artificialmente através de gastos estatais), é de notar que França e Alemanha - os dois países da UE que exibiram também um crescimento minúsculo de 0.3% neste trimestre - são precisamente os maiores parceiros comerciais de Portugal, logo a seguir a Espanha, cujos resultados ainda não estão disponíveis. O facto de que uma ligeira recuperação económica sentida nestes países, cujas economias são de proporções muito mais determinantes para as tendências gerais europeias do que a portuguesa, tenha tido algum efeito na economia portuguesa, mesmo tendo em conta flutuações a curto prazo, muito dificilmente constitui uma grande surpresa, o que não quadra propriamente bem com a conclusão apressada de que as fenomenais políticas deste fenomenal governo são a causa inquestionável desta aparentemente fenomenal recuperação de uns fenomenais 0.3% desde o trimestre anterior.

Mais interessante ainda talvez seja como estas notícias recebem sempre um tratamento sistematicamente selectivo. Se analisarmos os dados disponíveis até ao momento para toda a zona euro, à excepção da Eslováquia, que provavelmente merece um tratamento excepcional por ter entrado nesta categoria apenas este ano, o país que teve um pior resultado neste trimestre foi a Holanda, com um recuo de 0.9%. A diferença entre os países que tiverem melhores resultados (Portugal, França e Alemanha) e a Holanda é de apenas 1.2%, algo que não é muito relevante e sugere, como naturalmente seria de esperar, que as economias da zona euro se estão a mover entre parâmetros bastante semelhantes. Isto é importante porque quem gosta de tentar defender a tese de que as políticas governamentais desta última administração foram muito bem sucedidas (ou seja, que não só é este crescimento trimestral um sinal claro de alguma recuperação económica relevante, como que foi o governo o grande responsável por essa recuperação), não faz comparações com outros sítios onde, geralmente, estas políticas não são assim tão populares: Singapura e Hong Kong também recuperaram no segundo trimestre de 2009, exibindo, respectivamente, crescimentos de 20.4% (base anual) e 3.3%. E já que estamos todos com vontade de divulgar dados estatísticos, também se pode apontar que o desemprego de longa duração em Portugal parece ter atingido máximos históricos, embora me pareça que, para bastante gente, desta parte também não convém falar muito.

Claro que o que realmente interessa é o crescimento a médio/longo prazo, para o qual os prognósticos, no que diz respeito a Portugal, não parecem ter-se modificado. De acordo com o Eurostat, nos últimos quatro anos, Portugal cresceu (um eufemismo para "estagnou") a um ritmo muito inferior ao da média da União Europeia (atenção, não unicamente da zona euro ou da "Europa a 15") e, provavelmente, continuará a fazê-lo no(s) próximo(s) ano(s) [ver tabela]. Da mesma forma, o PIB per capita em percentagem da média da União Europeia (mais uma vez, não unicamente da zona euro ou da "Europa a 15" - em relação a esses a discrepância é, obviamente, ainda maior) evoluiu de 76.9% em 2005 para 75.3% em 2008 [ver tabela].

É perfeitamente plausível que Portugal possa ter estado relativamente isolado dos efeitos directos desta última crise mundial, mas, nesse caso, será também verdade que parece estar praticamente isolado do crescimento que regularmente ocorre em quase todos os outros países. E sendo que uma crise financeira como a recente é praticamente insignificante, tal como foi a Grande Depressão, quando inserida no contexto de um crescimento económico que se prolongue indefinidamente de forma sustentada (a propósito deste assunto, vale a pena ver esta palestra de Alex Tabarrok), o panorama geral não augura nada de bom para o futuro. Contudo, que importa tudo isto? Com todo este crescimento brutal de 0.3% no último trimestre, é uma evidente blasfémia não querer admitir que a convergência económica está ali mesmo ao virar da esquina.

Adenda de 23/08: Foram entretanto divulgados os dados referentes à economia espanhola, tendo esta sofrido uma contracção de 1% no segundo trimestre. Apesar de o resultado ser negativo, nota-se, de acordo com os dados disponíveis, a mesma tendência de recuperação exibida pelos restantes países da UE, à excepção da Lituânia (Espanha recuou 3% no primeiro trimestre do ano). Quando se tem em mente este contexto, continua a parecer um acto de fé acreditar que o aparente crescimento de 0.3% em Portugal ocorreu devido a políticas internas. E tudo isto, claro, tendo ainda em conta que qualquer uma destas estimativas pode ser revista no futuro.

Tuesday, August 04, 2009

Um tiranete em formação

L.A. council approves rules that could ban members of the public who violate decorum
The Los Angeles City Council unanimously approved a measure today that will give the council president more discretion to eject members of the public who violate the chamber’s rules of decorum.
Under the strengthened policy, which was approved without debate, the president will no longer have to warn speakers deemed unruly and disruptive before kicking them out. Violations will also ban the speakers from appearing in the chamber for up to 30 council-meeting days.
Taking cues from more stringent policies adopted by the Los Angeles County Board of Supervisors, the council expanded the scope of unacceptable actions to include “disorderly, contemptuous or insolent” behavior toward council members and boisterous conduct that disrupts the meeting.

Friday, July 17, 2009

piada barata

Os autocarros da Carris são tão bons, mas mesmo tão bons, tão bons que até as baratas decidem viajar na zona dos assentos. True story.

Thursday, June 25, 2009

Vitória pírrica

Alguns liberais americanos parecem estar contentes com a resolução final deste caso. Para mim, só o facto de que se tenha tido de esperar até à deliberação do Supremo Tribunal para encontrar este desfecho é um sinal de que se passa algo de muito errado. Há uns 100 anos atrás, este tipo de histórias, mesmo que inventadas, eram motivo de grande consternação pública - caso contrário, nunca seriam usadas como propaganda de guerra:
Much credit has been given to yellow journalism for its role in influencing public opinion and government policy, which culminated in a declaration of war against Spain in 1898. How large a role these papers played is debatable. For some time Hearst and Pulitzers had turned up the anti-Spanish rhetoric, often ignoring some of the anti-American actions of Cuban nationals. In January 1896, for example, a riot had broken out in Havana by Cuban Spanish loyalists who were also anti-American. They destroyed the printing presses of four local newspapers that had been critical of Spanish Army atrocities. Most famous of the Anti-Spanish yellow journalism was the "Olivette Incident." On February 12,1897, the Journal reported that as the American steamship Olivette was about to leave Havana Harbor for the United States, it was boarded by Spanish police officers who searched three young Cuban women, one of whom was suspected of carrying messages from the rebels. The Journal ran the story with the headline, “Does Our Flag Protect Women?” It was accompanied by a dramatic sketch by Frederic Remington across one half a page showing Spanish plainclothes men searching a nude woman. The Journal went on to editorialize, “War is a dreadful thing, but there are things more dreadful than even war, and one of them is dishonor.”

This report shocked the country and prompted Congressman Amos Cummings to announce intentions to launch a congressional inquiry into the incident. Soon, however, the story unraveled. The World quickly produced one of the young women who contested the Journal’s version of the incident. Eventually the Journal was forced to correct the story. The search had been appropriately conducted by a police matron with no men present. Among the most popular stories often cited as evidence of the meddling influence of Hearst and Pulitzer is the story of Remington's attempt at returning from Cuba because there seemed to be not much going on. As the story goes, when Remington telegraphed to his boss to report that conditions in Cuba were not bad enough to warrant hostilities, Hearst allegedly cabled back , "Please remain. You furnish the pictures and I'll furnish the war."

Wednesday, June 10, 2009

Como destruir a Premier League

En contra de la tendencia generalizada a rebajar los tipos marginales, el Gobierno Británico ha optado por subirlo, del 40% al 50% para todas aquellas personas que obtengan rentas superiores a 150.000 libras.

Estas medidas, que entrarán en vigor a partir del 6 de abril de 2010, junto con la devaluación que ha sufrido la libra esterlina en los últimos tiempos supondrán un pequeño inconveniente para todos aquellos futbolistas que en los últimos años han emigrado desde nuestro país a la liga de moda. (...)

Con los números encima de la mesa está claro que a los clubes de la Premier se les complica el panorama si se compara la situación actual con la que disfrutaban hace unos años, al menos, en términos económicos; teniendo que hacer frente a un mayor desembolso de cantidades salariales brutas para ofrecer una misma retribución neta a las incorporaciones que pretenda llevar a cabo.

"Mi advertencia al resto de rusos que vayan a llegar a Inglaterra este verano es que es importante entender al detalle cuánto dinero vas a ganar y qué impuestos vas a tener que pagar para que no se encuentren con sorpresas tan desagradables como las que me he llevado ahora", dijo el mediapunta del Arsenal al Daily Mail. La sorpresa a la que hace referencia el ruso es la decisión del Gobierno de Gordon Brown de aumentar al cincuenta por ciento la tasa fiscal que deben pagar todos aquellos cuyos ingresos superen los 170.000 euros al año (en Rusia tributaba sólo un 13%). Tras esta medida, Arshavin ha pasado a ganar 45.000 euros a la semana. "Estoy ganando menos dinero de lo esperado. No es una situación crítica, pero hay que arreglarla. Mi agente lo solucionará con el club", dijo el jugador.

Friday, April 24, 2009

40 dias no deserto



Ivan Kramskoi - Христос в пустыне, 1872

Saturday, March 07, 2009

Respeitinho

No passado fim de semana, a RTP fez uma reportagem curiosa no congresso nacional do Partido Socialista. Depois de José Sócrates fazer mais uma manobra de propaganda política em frente dos jornalisitas, ao demonstrar o estupendo avanço tecnológico da sua campanha através do lançamento do portal "Sócrates 2009", o repórter da RTP desejou-lhe, em frente à câmara que o filmava, "boa sorte para o discurso", com um sorriso de orelha a orelha. Poucos minutos depois, a jornalista que narrava a reportagem, comentava que Vital Moreira, agora cabeça de lista do PS às eleições europeias, iria abandonar as suas funções de docente na Universidade de Coimbra para "servir o país" [no parlamento europeu]. Não faz muito sentido ter expectativas de que a televisão estatal seja imparcial perante o partido que, num dado momento, ocupe o poder executivo, mas o facto de que ninguém se pareça ter preocupado em eliminar estes trechos pouco subtis antes da transmissão final é interessante. Já nem sequer a aparência de imparcialidade parece ser relevante.

Friday, February 06, 2009

músicas

Depois de ser fisicamente ameaçado pela Elise e de ser forçado a responder a este pedido, aqui ficam as minhas escolhas, na esperança de evitar que a minha cabeça seja esborrachada por umas Doc Martens quando menos espero:

A fotografia? An t-Eilean Sgitheanach, Alba (na língua dos colonizadores actuaisIsle of Skye, Scotland)


Uma banda? System of a Down

1 - Homem ou mulher? Man on the Moon (R.E.M.)
2 - Descreve-te: Such a Shame (Talk Talk)
3 - O que pensam de mim? How Bizarre (OMC)
4 - Como descreves o teu último relacionamento? Nothing Else Matters (Metallica)
5 - Descreve o estado actual da tua relação: Without You (Harry Nilsson)
6 - Onde querias estar agora? Somewhere I Belong (Linkin Park)
7 - O que pensas do amor? Only Because of You (Roger Hodgson)
8 - Como é a tua vida? Mad World (Tears for Fears / Gary Jules)
9 - O que pedirias se pudesses ter só um desejo: Forever Young (Alphaville)
10 - Escreve uma frase sábia: ("All we are is...") Dust in the Wind (Kansas) ("just a drop of water in an endless sea" (...) "nothing lasts forever but the earth and sky")

Wednesday, January 07, 2009

"Todos os Governos foram surpreendidos"

Uma crise económica mundial é essencialmente a melhor coisa que pode acontecer a um governante português.