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Saturday, January 14, 2006

Presidenciais

Candidatos de esquerda (Sérgio Figueiredo)

"Quando falaram de privatizações e de sectores estratégicos. Como a água. Em que Alegre chegou a dizer que era caso para o Presidente derrubar um Governo. E Cavaco alertou, várias vezes, para «o perigo» de o Estado «perder o controlo» deste «bem essencial». Como se fossem parar às mãos de Osama bin Laden.
(...)
Os debates foram sonsos porque os candidatos não exibem diferenças de fundo, não questionam o sistema e escapam-se deliberadamente da questão essencial: basta mexer nas regras do sistema ou será preciso mudar o sistema por inteiro?

Todos estão, claramente, no primeiro registo. Incluindo Cavaco. Por isso também não espanta vê-lo, já esta semana, explicar neste jornal porque pensa que a legislação laboral não é obstáculo à competitividade nacional.

E, dois dias depois, ver Mário Soares concordar na defesa da Constituição tal como está. Fazendo ambos uma apropriação, porventura mais surpreendente, da bandeira do candidato comunista.

(...)

Está dito que se discutirão as vírgulas do Código de Trabalho, quando é preciso mudar o paradigma nas relações laborais. Está dito que se prefere discutir público-versus-privado, quando há que rebentar primeiro estas regras do jogo."


Cinco ou seis candidatos de esquerda (Luísa Bessa)

"Bem sei que a tradição diz que disputam estas eleições um candidato de direita e quatro (mais um) de esquerda. Mas não pode ser verdade. Quando acabei de ler a entrevista de Cavaco Silva ao Jornal de Negócios concluí: Este homem é de esquerda.

Logo, confirma-se a tendência saída das legislativas de Fevereiro de 2005. O país virou tanto à esquerda que agora só mesmo quem vem dessa área política tem coragem de se candidatar à Presidência da República.

Pois não é que Cavaco é de opinião que a legislação do trabalho não é um grande obstáculo à competitividade, com excepção, talvez das pequenas e médias empresas.

(...)

Veja-se por exemplo como entre Cavaco e Soares de novo as diferenças são mínimas na defesa da manutenção dos centros de decisão nacionais das empresas de sectores estratégicos, com a manutenção das «golden shares» até onde for possível segundo Cavaco, que não quer ser «ingénuo» como «alguns economistas»; contra «a estratégia externa para dominar certos sectores», em versão Soares."


O dever do próximo PR (Tiago Mendes)

«Hoje, o dever do próximo PR é simples: contribuir para a “autonomização” do cidadão perante o Estado. O português médio é uma criança que vive à sombra do pai-Estado. Depende e gosta de depender dele. Mais: não pondera que isso possa algum dia mudar. Fala – sempre confiante e em alta voz – nos “direitos adquiridos”. No que concerne à esfera económica, esta forma de pensar enferma de um erro básico: pensar na riqueza como um “dado garantido”. Sucede que a riqueza precisa de ser criada para poder ser redistribuída. Não cai do céu. É estranho que para muitos candidatos presidenciais isto seja tão incompreendido, passadas que estão quase duas décadas sobre 1989.

(...)

Por isto, o próximo PR deverá deixar uma mensagem simples a cada português: “não perguntes pelo que o país pode fazer por ti, pergunta pelo que tu podes fazer por ti próprio”.»

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