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Tuesday, January 17, 2006

A é A, assim como Bush é Bush

Recentemente, recebi um e-mail de um colega meu que estuda Ciência Política e Relações Internacionais no qual este me alertava para que ao pesquisar no google por "failure", se podia ver, ao clicar em "Sinto-me com sorte", esta página da Casa Branca com a biografia de George W. Bush.

Muito gracioso, de facto. Confesso que de início toda esta panóplia de chalaças sobre o presidente americano poderia fazer o seu sentido, coisa típica da sátira política. Quem já viu programas como o Contra-Informação sabe do que estou a falar. Podem surgir sátiras com Bush como visado mas também é frequente que se goze com a ideologia marxista ou se critique o clientelismo dos restantes partidos políticos. Em geral, na sociedade, isto não acontece. Uma piadinha sobre Francisco Louçã é normalmente vista com desinteresse e frequentemente com incompreensão, quer da piada em si, quer pela razão da piada. É praticamente impossível fazer graçolas com comunistas uma vez que se é quase de imediato apontado como fascista e inimigo dos pobres. Já a mínima observação mordaz acerca de George W. Bush - por exemplo, dizer que se parece a um símio - causa risota pegada durante vários minutos. Não tem de ser uma ironia com lógica, basta que seja qualquer coisa entre o escatológico e o visceral, tem efeito quase instantâneo.

Como se pode ouvir/ler regularmente, o próprio Geroge W. Bush é apontado diversas vezes como fascista, tendo também merecido a comparação a Adolf Hitler, a forma mais fácil de fazer política. O mais irónico, embora, desta vez, sem qualquer objectivo directo de ironia, é que esta gente consegue acertar mais ou menos no alvo ainda que não seja a sua principal intenção. Ao criticarem George Bush, hiperbolizando as expressões utilizadas, acabam por se ridicularizar a si mesmos.

De um certo prisma, Bush pode realmente ser considerado um versão de fascista. Basta que nos lembremos de análises acerca do gasto público, que o comparemos a anteriores presidentes dos EUA ou que leiamos por aqui algumas coisas. Se não quisermos ir tão longe, podemos dar uma vista de olhos ao que diz o Andrew Sullivan no Sunday Times de há uns meses atrás. Com tantas credenciais, começa a parecer natural que alguém o chame de fascista. Mas porque haveriam os verdadeiros fascistas de chamar fascista a George Bush, como se isto, porventura, até fosse uma coisa insultuosa? É evidente. Eles não fazem a mínima ideia do que é o fascismo. É por essa razão que não percebem que se estão a denegrir a si próprios.

Esta pequena rábula faz lembrar as já tradicionais afirmações de Jerónimo de Sousa em referência às políticas de direita (hoje, mais uma vez) dos sucessivos governos do Partido $ocialista. Em Portugal, realmente, a direita dificilmente se distingue da esquerda em termos de política económica. Assim sendo, é natural que Portugal seja um país socialista, ou seja, de "políticas de direita", que apoiam e até estimulam a existência de um Estado interventivo e proteccionista.

À semelhança do caso de Bush, o autor das críticas aponta falaciosamente como defeito algo que ele próprio defende (mais) avidamente, ainda que mascarado por uma capa semântica de conceitos aparentemente distintos mas essencialmente iguais.

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