Diz o Tiago Alves, em reposta ao meu comentário sobre a campanha dos supermercados Jumbo:
Na página do Movimento 560 consta a seguinte declaração [sublinhados meus]:
A mensagem transmitida pelo Jumbo não parece, pois, nada deturpada. Na verdade, a cadeia de supermercados está a transmitir soberbamente as ideias mais essenciais da campanha do Movimento que são expressas de imediato e que estão disponíveis a qualquer leitor. Esta imagem, por exemplo, contém frases idênticas às usadas pela campanha do Jumbo.
Se esses portugueses a quem importa a nacionalidade do produto efectivamente existem, o que os impedia de verificar ou procurar conhecer mais acerca da origem dos produtos antes da existência do Movimento 560? É que mesmo antes da existência de qualquer movimento que publicitasse a compra de produtos feitos em Portugal, já os códigos de barras e as indicações "Fabricado em Portugal / Made in Portugal", PT, etc. faziam parte da realidade destas compras. Segundo esta informação, os códigos do sistema de GS1 já existem há 30 anos, quando a European Article Numbering (EAN) ainda nem se tinha juntado às suas correspondentes norte-americanas.
[Esta preocupação do consumidor com a nacionalidade de um produto é muitas vezes importante porque a sua qualidade se encontra relacionada com a origem específica do produtor, condições geográficas ou de recursos que apenas se podem encontrar naquela localidade. Para artigos de calçado, por exemplo, uma etiqueta que diga "Fabricado na União Europeia" prejudica países como Itália e Espanha porque estes estão associados a uma tradicional indústria de qualidade de que se tornou num símbolo de confiança para a maioria dos consumidores, actuando como se se tratassem de uma imagem de marca. O mesmo pode ser dito acerca de queijos ou vinhos provenientes de França, chocolates e relógios suíços ou o vinho do Porto. No entanto, não tem de haver uma razão lógica para verificar a origem de um produto e isto nada tem que ver com o caso que se está a discutir. Uma pessoa pode simplesmente não querer comprar produtos húngaros.]
Tanto é (ou devia ser) livre de comprar nacional ou estrangeiro aquele que consume como é livre de veicular a sua propaganda aquele que o deseja fazer por meios válidos. A defesa desta campanha com base na expansão do conhecimento do consumidor e de uma maior informação não deixa de ser ambígua porque as declarações do Movimento 560 pretendem retirar conclusões acerca da economia portuguesa e dos aspectos que a influenciam partindo de factos e considerações moldadas para justificar uma lógica proteccionista. Esta mesma lógica proteccionista que sempre comete o erro de ver a concorrência como causadora de aumentos dos preços quando esta, na verdade, causa exactamente o oposto. O efeito benéfico que possa ter a informação dada pelo projecto é contrariado pela campanha de desinformação que acarreta, trabalhando para transmitir às pessoas uma imagem errada de como funciona a economia. A ideia em que se baseia o projecto ou é muito ingénua ou tem significado político.
O outro problema com esta percepção de uma ajuda para resolver as assimetrias de informação entre os clientes e os produtores é que o Movimento 560 apenas ajuda os consumidores a identificar os produtos portugueses. Está-se a informar, nesse sentido, mas a trazer uma informação incompleta, muitas vezes inútil (porque se a uns não interessa se é português, a outros seria mais conveniente saber como funciona para produtos checos ou polacos cujos códigos são menos conhecidos) e com propósitos imperceptíveis a menos que aceitemos a justificação nacionalista/proteccionista que vem à mistura. Se assim não fosse, o Movimento 560 poderia perfeitamente chamar-se Movimento GS1 e estaria interessado em ajudar verdadeiramente o consumidor a reconhecer os códigos e as iniciais correspondentes a cada país. E não é isso que se verifica nem é essa a sua verdadeira intenção.
Esta mensagem, por mais subliminar que possa ser considerada, é bastante ilustrativa:
"Depois de algumas conversas com o Pedro e também atendendo a outras opiniões de que tenho tido conhecimento parece-me que a principal mensagem tem vindo, de facto, a ser um pouco deturpada, na medida em que a comunicação social, que deu uma grande notoriedade ao projecto, tem-lo apresentado como uma ideia para ajudar a produção nacional ou a preocupação de três jovens para com a economia portuguesa, aproveitando e explorando a tal crença (errada) de que comprando o tal produto nacional se ajuda a economia e o País."
Na página do Movimento 560 consta a seguinte declaração [sublinhados meus]:
"Os portugueses vivem hoje num clima de crise, desde o desemprego, à nossa fraca economia é certo que quem mais sofre somos nós, mas o que certamente muitas vezes não nos passa pela cabeça é que podemos ter uma certa culpa nesta grave situação. Frequentemente, quando vamos às compras, tentamos ir à procura do produto mais barato, mas o que agora é barato, pode vir a curto prazo, a tornar-se muito caro para todos nós.
(...)
Mas, quando o fazemos, estamos a contribuir para um maior crescimento das exportações desses fabricantes estrangeiros e, sem dúvida, por vezes, a tirar postos de trabalho no nosso país.
(...)
Toda esta situação leva posteriormente ao encerramento de muitas empresas e consequentemente ao crescimento do desemprego."
A mensagem transmitida pelo Jumbo não parece, pois, nada deturpada. Na verdade, a cadeia de supermercados está a transmitir soberbamente as ideias mais essenciais da campanha do Movimento que são expressas de imediato e que estão disponíveis a qualquer leitor. Esta imagem, por exemplo, contém frases idênticas às usadas pela campanha do Jumbo.
"Porém, além da liberdade de escolha, a concorrência perfeita tem outros pilares, entre eles um muito importante e às vezes ignorado: a informação. Antes do aparecimento do Movimento 560 pouca gente conseguia identificar os produtos com origem nacional. Sendo os portugueses, como já se disse e muito bem, todos diferentes, haverão com certeza muitos para quem a nacionalidade do produto ou da mão de obra serão factores de peso nas escolha por este ou aquele artigo.
Se esses portugueses a quem importa a nacionalidade do produto efectivamente existem, o que os impedia de verificar ou procurar conhecer mais acerca da origem dos produtos antes da existência do Movimento 560? É que mesmo antes da existência de qualquer movimento que publicitasse a compra de produtos feitos em Portugal, já os códigos de barras e as indicações "Fabricado em Portugal / Made in Portugal", PT, etc. faziam parte da realidade destas compras. Segundo esta informação, os códigos do sistema de GS1 já existem há 30 anos, quando a European Article Numbering (EAN) ainda nem se tinha juntado às suas correspondentes norte-americanas.
[Esta preocupação do consumidor com a nacionalidade de um produto é muitas vezes importante porque a sua qualidade se encontra relacionada com a origem específica do produtor, condições geográficas ou de recursos que apenas se podem encontrar naquela localidade. Para artigos de calçado, por exemplo, uma etiqueta que diga "Fabricado na União Europeia" prejudica países como Itália e Espanha porque estes estão associados a uma tradicional indústria de qualidade de que se tornou num símbolo de confiança para a maioria dos consumidores, actuando como se se tratassem de uma imagem de marca. O mesmo pode ser dito acerca de queijos ou vinhos provenientes de França, chocolates e relógios suíços ou o vinho do Porto. No entanto, não tem de haver uma razão lógica para verificar a origem de um produto e isto nada tem que ver com o caso que se está a discutir. Uma pessoa pode simplesmente não querer comprar produtos húngaros.]
"Se muita gente não está diposta a pagar mais por algo nacional, outros certamente estarão, pelo que a iniciativa, embora tenha alguns tiques intervencionistas (o mude de atitude ou o tome a decisão correcta), tem esse grande mérito que é o expandir o conhecimento dos consumidores. E esse mérito, apesar de todos os aproveitamentos meio enganosos feitos (como é o caso do do grupo Auchan), ninguém o tira. Este movimento e todas as campanhas com ele relacionadas contribuíram para uma melhor escolha. Escolha essa que, para todos os efeitos, visto não haver qualquer coerção, continua tão livre como dantes."
Tanto é (ou devia ser) livre de comprar nacional ou estrangeiro aquele que consume como é livre de veicular a sua propaganda aquele que o deseja fazer por meios válidos. A defesa desta campanha com base na expansão do conhecimento do consumidor e de uma maior informação não deixa de ser ambígua porque as declarações do Movimento 560 pretendem retirar conclusões acerca da economia portuguesa e dos aspectos que a influenciam partindo de factos e considerações moldadas para justificar uma lógica proteccionista. Esta mesma lógica proteccionista que sempre comete o erro de ver a concorrência como causadora de aumentos dos preços quando esta, na verdade, causa exactamente o oposto. O efeito benéfico que possa ter a informação dada pelo projecto é contrariado pela campanha de desinformação que acarreta, trabalhando para transmitir às pessoas uma imagem errada de como funciona a economia. A ideia em que se baseia o projecto ou é muito ingénua ou tem significado político.
O outro problema com esta percepção de uma ajuda para resolver as assimetrias de informação entre os clientes e os produtores é que o Movimento 560 apenas ajuda os consumidores a identificar os produtos portugueses. Está-se a informar, nesse sentido, mas a trazer uma informação incompleta, muitas vezes inútil (porque se a uns não interessa se é português, a outros seria mais conveniente saber como funciona para produtos checos ou polacos cujos códigos são menos conhecidos) e com propósitos imperceptíveis a menos que aceitemos a justificação nacionalista/proteccionista que vem à mistura. Se assim não fosse, o Movimento 560 poderia perfeitamente chamar-se Movimento GS1 e estaria interessado em ajudar verdadeiramente o consumidor a reconhecer os códigos e as iniciais correspondentes a cada país. E não é isso que se verifica nem é essa a sua verdadeira intenção.
Esta mensagem, por mais subliminar que possa ser considerada, é bastante ilustrativa:
Por todas estas razões, o Movimento 560 parece manipular e desinformar mais do que propriamente contribuir para o conhecimento dos consumidores.
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