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Thursday, March 30, 2006

Ciência real à inglesa




Na página da Royal Society, uma sondagem interessante para os estudantes:

Do you think this generation is doing enough about global warming?

- Yes
- Should do a little more
- Should do much more
- Not even close

Alguém me sabe dizer onde foram parar as seguintes opções?

1) No
2) Should do a little less
3) Should do much less
4) Should not do anything at all
5) Has global warming been scientifically proved anyway?

Em todas as áreas da ciências físicas (que, por definição, requerem a utilização de técnicas rigorosas em torno do chamado método científico) se fala em teorias. Acontece isto porque a ciência é por natureza incerta, no sentido em que lida com realidades que não constituem dogmas inquestionáveis. O seu próprio objectivo é o de eliminar a ignorância que gera esta incerteza através da capacidade de sistematização do conhecimento e da determinação dos mecanismos pelos quais o nosso universo funciona.

Não deixa de ser relevante relembrar que as duas teorias mais importantes do século XX, a teoria da relatividade e a teoria da mecânica quântica, continuem a ser chamadas de teorias. E continuarão a ser apelidadas desta forma, assim como a teoria do Big Bang, a teoria da evolução e outras, precisamente porque é impossível descartar outras hipóteses explicativas que sejam mais abrangentes, completas e igualmente ou mais eficazes do que as anteriores. Se estas surgirem, as teorias anteriores passarão a estar obsoletas, poderão ser adaptadas ou continuarão a sobreviver indefinidamente a todos os testes propostos até que sejam depostas (ou, talvez, derradeiramente provadas, um dia).

É, portanto, preocupante que a Royal Society, a academia das ciências britânica, assuma três aspectos significativos quanto à teoria do aquecimento global e sua representação nas previsões futuras para a física atmosférica e climatologia. O primeiro é o de que o aquecimento global não é uma teoria mas que se trata de um facto irrecusável. Poder-se-ia sugerir que existe consenso científico total em torno desta questão, especialmente sobre se a sua eventual causa seria a actividade humana, mas a verdade é que este não existe.

O segundo é o de que as alterações climáticas, a existirem tal como são sugeridas pela teoria do aquecimento global (se é que a teoria sugere alguma coisa de coerente para além de que toda e qualquer manifestação atmosférica seja uma prova irrefutável da sua veracidade), podem ser revertidas através da acção humana e de políticas específicas que visem uma diminuição deste dito aquecimento, nomeadamente utilizando acordos como o pacto de Quioto. Para além de dar como certo que pode existir uma espécie de "reversão artificial" para a situação presente, admite-se igualmente que tanto a própria dinâmica do planeta em que vivemos é naturalmente estável (quando todas as indicações históricas apontam o contrário) e que um avanço significativo nas técnicas de preservação ambiental ou equivalentes ao longo da evolução das sociedades humanas será irrelevante para o processo. Em ambos os casos, devido à falta de acesso a informação essencial, assume-se ingenuamente a situação mais simplista - a de que o ser humano pode actualmente dominar o clima planeta Terra.

O terceiro, e talvez o mais revelador do enviesamento da sondagem, é o de que, se houver um aquecimento global real e (ir)reversível pela aplicação de uma política ambiental restritiva das liberdades individuais, seria benéfico para todos que este aquecimento não acontecesse. Ou seja, o aquecimento global é mau por natureza. Mas esta conclusão é retirada não com base na história climática da Terra (que já foi de temperaturas horrivelmente altas a horrivelmente baixas) mas sim na imagem geológica imutável que estas pessoas têm do local que habitam. Infelizmente para as suas visões sonhadoras, as civilizações crescem, adaptam-se, evoluem. E o mesmo acontece ao que as rodeia. A sondagem, no entanto, não assume que alguém queira que um aquecimento do planeta se dê. Não se compreende bem porquê. Isto até poderia beneficiar muita gente.

Quais são as conclusões a retirar?

Quem aceder à página da Royal Society e nunca tenha ouvido falar do aquecimento global (e mesmo quem já tenha) ficará com 3 ideias essenciais: o aquecimento global, tal como expresso comummente na opinião pública, é um facto científico comprovado, pode ser evitado se forem aplicadas soluções coercivas e é intrinsecamente mau.

É pena. Porque o aquecimento global deixou de ser uma teoria científica e a climatologia um ramo de estudo académico para se transformarem ambos num movimento mundial de cariz político e tergiversação anti-capitalista. E para isso, afectam-se negativamente as pessoas, o estudo da ciência em si e a economia dos países que estas pessoas dizem querer salvar de uma catástrofe sem precedentes.

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