Pages

Wednesday, November 30, 2005

Pérolas da Sabedoria Popular

"-Os EUA e o Reino Unido são ricos porque entram nas guerras todas"

"-Espanha é rica porque o Estado espanhol protege os produtores nacionais"

"-O Luxemburgo é rico porque tem muito carvão"

-"A Suiça é rica porque toda a gente lá mete o dinheiro"

-"Os alemães e os franceses enriquecem à custa dos portugueses que trabalham na obras"

A minha preferida:

-"Portugal é pobre porque ninguém quer fazer nada"

Sunday, November 27, 2005

Sampaiadas II

Ciência: Sampaio quer urgência na articulação entre agentes
«No entender do Chefe de Estado, o país "não pode ter uma percentagem tão pequena de empresas" a investir em novas tecnologias ou em investigação ou não acolher em número suficiente cientistas ou doutorados.»

Não haverá nenhum(a) jornalista a fazer uma compilação das declarações do nosso PR? Há uns dias eram necessários "mais licenciados para estimularem, eles próprios, mais emprego." Agora são as empresas que não acolhem suficientes cientistas (licenciados)? Mas, afinal, há falta de recursos humanos (pouca oferta), ou há excesso (pouca procura)?

Há uma chance mínima de que alguém tenha, finalmente, mostrado aquelas notícias (do DN e do PD) ao PR. Estará ele, nesse caso, a querer dizer aos empresários como devem gerir as suas próprias empresas? É que isso, para além de magnífico, tem uma certa lógica já que Jorge Sampaio tem, realmente, uma participação activa em todas as empresas do país - o seu ordenado.

Saturday, November 26, 2005

Sem palavras



(via defunto BdE)

Maravilhoso double standard

Há umas semanas, quando Harold Pinter foi premiado com o Nobel da Literatura e alguns insurgentes e blasfemos se dedicaram a expor a sua retórica anti-americana (que chegava a comparar o governo americano com o regime nazi), muitos representantes da esquerda e seus blogues indagaram e questionaram acerca da capacidade dos autores de blogues liberais ("alguma direita", como eles dizem) em destacar a cultura da política. Muito se escreveu e muita defesa se fez da capacidade literária de Pinter que, naturalmente, justificava per se a atribuição do dito prémio. As caixinhas de comentários abarrotavam de frases em defesa da separação entre a obra literária de um escritor e as suas visões políticas.

Como os socialistas possuem sempre a mesma mundividência clara e coerente, fui aqui confrontado há dias com um comentário que me pretendia atirar à cara, num estilo toma lá, que já almoçaste, que duas personalidades cuja obra científica e literária admiro, eram socialistas. Depois de tal demonstração de epistemologia aristotélica pura, pude dormir mais descansado.

Friday, November 25, 2005

Blue Lounge

Agora é a vez do blasfemo Rodrigo Adão da Fonseca se apresentar a solo no seu Blue Lounge. No artigo de apresentação ficamos a saber que o RAF (não confundir com a Royal Air Force) é do Belenenses e tem ligações ao Restelo.

Thursday, November 24, 2005

Dúvida bloquista

Se Valter Lemos decidir processar Francisco Louçã por difamação e calúnia, isso fará de Louçã um candidato-bandido?

Portugal Contemporâneo

O blasfemo Rui agora a solo no portugal contemporâneo. A seguir com atenção.

Wednesday, November 23, 2005

O camarada fala sobre liberdade




Jerónimo de Sousa diz ser o melhor defensor da Constituição

"Nestas eleições milhares de jovens votam pela primeira vez e a liberdade para eles é natural. Mas a democracia não é apenas liberdade política, é também social, económica e uma questão de soberania", disse o candidato."


Mais uma vez, serei forçado a relembrar esta notícia?


Comunistas 'reabilitam' o mandato de Estaline


O Avante!, órgão central do PCP, "reabilitou" nas duas últimas semanas o dirigente comunista mais polémico de sempre. Após um longo período de silêncio, Estaline voltou a estar em foco no semanário comunista a propósito do 60.º aniversário do fim da II Guerra Mundial na Europa. O jornal dedicou mesmo uma notícia, na sua última edição, ao antigo ditador soviético sob o título "Estaline homenageado".

(...)

Leandro Martins, que é membro do Comité Central do PCP, vai mais longe "Estaline teve o seu papel na vitória ao lado do povo." O chefe de Redacção do Avante! não estranha, por isso, que na Rússia actual "voltem a aparecer cidades em que se dá o nome de Estaline a ruas".

O antigo ditador, responsável por milhões de mortos na extinta URSS (ver caixa), é qualificado de "revolucionário soviético" pelo chefe de Redacção do Avante!. Leandro Martins elogia o regime que vigorou em Moscovo entre 1917 e 1991. Na sua opinião, foi "a mais brilhante conquista da história da humanidade".

Este membro do Comité Central denuncia aqueles que, na Rússia actual, mencionam os "crimes" (escrevendo a palavra deste modo, entre aspas) de Estaline. E contrapõe o antigo ditador soviético ao Prémio Nobel da Paz Mikhail Gorbatchov, último líder da União Soviética, enaltecendo o primeiro e denegrindo o segundo.

(...)

Nessa edição, num texto assinado por Luís Carapinha, dizia-se que o regime estalinista "salvou a Europa e o mundo do fascismo e abriu novos horizontes à luta de libertação dos povos".


Como é que o líder de um partido que partilha as mesmas ideias de Estaline (tanto que até o reabilita) se atreve a falar de liberdade política, económica e social? Como é sequer possível que ainda exista gente que acredite em tudo isto?

A Convenção de Genève explicada às crianças

Em todos os países do mundo, aparecem sempre umas dezenas de protestantes que reclamam defender os direitos humanos e por isso repudiam as atitudes repressivas de Abu Ghraib e de Guantánamo. Tendo em conta que estas pessoas se esquecem frequentemente (ler constantemente) de mencionar os regimes de Fidel Castro e do deposto Saddam Hussein, os mais distraídos até poderiam pensar que estamos na presença de manifestações anti-americanas e anti-britânicas. Não se deixem enganar.

Thirst for money

Jorge Sampaio disse anteontem que desejava promover um envelhecimento activo. Mas será que nem na terceira idade os idosos são dispensados, pelos socialistas, de contribuir para os ordenados e reformas dos políticos?

Mi dinero (no) es su dinero

Sócrates disse hoje que «Não é só o Governo que tem de apresentar estudos. Também não está isento quem acha que esta não é uma boa decisão. Deve apresentar alternativas». Ora aqui está o grande mestre de argumentação socialista a dar razão ao blasfemo JCD quando este diz que:

O estado raramente quer saber da viabilidade económica de um projecto. O estado pretende quase sempre algo diferente. Em vez de se avaliar o mérito de um projecto baseado num conjunto de pressupostos, pretende-se encontrar o conjunto de pressupostos que melhor viabilizam o projecto. Nesses pressupostos incluem-se todas as garantias e alcavalas necessárias para tornar qualquer nado-morto sem pés nem cabeça numa apelativa mina de ouro para os investidores.

Fazendo lembrar a falácia da janela partida, o JCD afirma também que:

Parece que ninguém perde. Mas não é bem assim. Os recursos que vão para a OTA não vão para o resto da economia. Nos próximos tempos, as empresas privadas vão sentir maiores dificuldades em encontrar fundos para os seus projectos e as taxas de juro vão subir devido à diminuição da oferta de dinheiro. Toda a actividade económica vai pagar em juros mais altos a opção OTA. E claro, alguns investimentos ficarão pelo caminho por falta de financiamento disponível.

As empresas que vão dedicar parte significa das suas capacidades ao novo aeroporto, não vão ter a mesma disponibilidade para as alternativas que o mercado exige. Os preços vão aumentar no mercado da construção e nas actividades relacionadas e de suporte. O mercado imobiliário vai ser o mais castigado. Alta do preço da construção a par da alta do preço do dinheiro é um sinal de dias negros para o sector. A verdade é que perdemos quase todos, excepto os bancos e as construtoras.

Na verdade, José Sócrates demonstra a fragilidade das suas intenções ao pedir contra-estudos que denunciem a inviabilidade da OTA e até, que sugiram alternativas. Desde quando é que indivíduos que não são responsáveis pelos projectos mas que impreterivelmente serão forçados a financiá-los, devem conduzir estudos que provem (ou refutem) coisa alguma? E porque têm de existir soluções alternativas que não as dadas pela procura de um determinado serviço?

É sempre divertido brincar com o dinheiro dos outros. E depois ainda há quem tenha a desfaçatez de pedir que se gaste mais para provar que mais não deve ser gasto.

Adenda: Outro importante artigo do JCD no Blasfémias.

Tuesday, November 22, 2005

Ainda o modelo social queimado

Neste comentário, prometi que ia encontrar o texto a que me referia, relativamente às aparentes vantagens do Estado Social. Aqui está ele, num comentário do Juan de Padilla, a este artigo do Jorge Valín:

- Mohamed ven a España

- ¿Y los papeles?

- No te preocupes que los estamos tramitando.

-¿Y un trabajo?

-Para que quieres uno si tienes 300 € mensuales

-¿Y si me pongo enfermo?

-No pasa nada, la sanidad es gratuita y los medicamentos que necesites también

-Pero no tengo un sitio donde vivir

-No hay problema, solicita una vivienda de protección oficial

-¡Qué bien! Traeré entonces a mi familia de Marruecos. Aunque... no se si tendré dinero suficiente para pagar el colegio de mis hijos.

-La educación (material incluido) corre por cuenta del Estado.

-Pero la educación gratuita ¿instruirá a mis hijos en las enseñanzas del Islam?

-Claro que sí, no hace falta que adaptes tus costumbres a las de tu país de acogida, el Gobierno implementará las medidas necesarias (por muy ineficientes que sean) para que esto ocurra. Podrás llevar a tus hijas con velo y desescolarizarlas antes de lo previsto por la ley si hace falta su ayuda para las tareas del hogar o para un buen matrimonio acordado.

-Sin duda iré a España


O próprio Jorge Valín publicou há dias um artigo sobre este assunto na LD:

Pero en el estado del bienestar las cosas van justo al revés. El estado promete de todo con el mínimo esfuerzo. La consigna que hemos aprendido, y los inmigrantes también, es “quéjate de todo, el estado te lo dará gratis a costa del resto de la sociedad”.

Continua a dar vontade, repetidamente, de dizer às pessoas a famosa frase que foi popularizada pelo Prémio Nobel da Economia, Miton Friedman:


"There's no such thing as a free lunch"

Desmontagem política II

"Tal como tu achas que o modelo social da Europa irá acabar por descambar, eu acho que o modelo liberal seguirá o mesmo caminho. "


Que modelo liberal? Aquele que não existe (França ultraliberal, Portugal da cartilha neoliberal monetarista)? Ou estaremos a falar de países como os EUA, Irlanda, Reino Unido, Luxemburgo, etc. que têm taxas de desemprego ~ 3-5% e dos PIB’s mais altos do mundo? Se sim, que razões temos para crer que irão descambar, assumindo que não aumentarão as suas políticas de restrição de liberdade económica?

"O modelo liberal aumenta o foço entre ricos e pobres aumentando as diferenças sociais. "


Pura propaganda política. Isso desafia todas as regras de lógica. Não só o modelo liberal gera riqueza como beneficia os mais pobres, que podem também gerar riqueza. Essa igualdade social só foi atingida em países onde todos eram igualmente pobres. Tendo que escolher, preferia sem dúvida, o modelo que permite que se vá saindo da pobreza progressivamente (a China está nesse processo) mesmo que para isso haja desigualdade. A outra opção é deixar tudo como está.

O controlo económico tem o efeito oposto àquele que é apregoado gerando-se ora um fosso maior, devido à elevada fiscalidade e burocracia elevada, ora oprimindo uma percentagem de população tão grande que eles se tornam (ou permanecem), como eu dizia, igualmente pobres. Sobre isso, podes ler aqui ou sobre os "pobres" americanos aqui, por exemplo. Ou um estudo do qual eu já tinha dado conta aqui, que referia que os pobres de países ricos vivem melhor do que os pobres de países pobres.*

"Poverty is a highly relative concept. As we saw in the preceding section, for example, 40 per cent of all Swedish households would rank among low-income households in the USA, and an even greater number in the poorer European countries would be classed as low income earnings by the American definition. In an affluent economy, in other words, it is not unlikely that those perceived as poor in an international perspective are relatively well off."
---

"Lembras-te porque é que nasceu o comunismo? Revolução industrial, classes operárias a serem exploradas. Bomba-relógio a explodir... Mais tarde ou mais cedo irias ter as classes mais baixas a se revoltarem e como travas isto? Pela força? Tal como fazem os EUA com toda a gente que não concorda com eles? "


Queres dizer, classes operárias que estavam a ganhar dinheiro? Como explicas a elevada afluência às cidades durante a revolução industrial? As pessoas saiam do campo para abandonar a pobreza e tentar a sua sorte na indústria, onde ganhavam mais. Mais uma vez, outro artigo que já havia publicado aqui que fala precisamente acerca disso.

Karl Marx explained that capitalism would make the rich richer and the poor poorer. If someone was to gain, someone else had to lose in the free market. The middle class would become proletarians, and the proletarians would starve. What an unlucky time to make such a prediction. The industrial revolution gave freedom to innovate, produce and trade, and created wealth on an enormous scale. It reached the working class, since technology made them more productive, and more valuable to employers. Their incomes shot through the roof.

What happened was that the proletarians became middle class, and the middle class began to live like the upper class. And the most liberal country, England , led the way. According to the trends of mankind until then, it would take 2 000 years to double the average income. In the mid-19th century, the British did it in 30 years. When Marx died in 1883, the average Englishman was three times richer than he was when Marx was born in 1818.


A tua afirmação acerca dos EUA foi muito baixa e demonstra a parcialidade com que estás a analisar as coisas. Podias ter referido um caso especifico mas disseste muito claramente que é como os EUA fazem as coisas, não identificando tempo histórico nem caso particular. Há quem chame a isso anti-americanismo. Quando leio gente a dizer isso assim, de uma forma tão leviana e descomprometida, pergunto-me se o desembarque na Normandia terá valido a pena.


"Cais no regime totalitário que tanto receias. Lê o "Admirável Mundo Novo". O regime totalitário nele retratado assusta-me mais que o do 1984. Sabes porquê? Porque eles não sabem que não têm liberdade..."


Os do 1984 também não. E tu, sabes?


"Não penso que os recentes eventos na França sejam a prova que a nossa sociedade esteja condenada. Não! Eles são o aviso para nós revermos o que temos andado a fazer. Um alerta para reparar que nos nossos países existe gente a viver em condições precárias. Não combates isto com violência, mas sim com uma inserção social decente."


Estamos de acordo. Para isso é necessário que seja permitido a estas pessoas gerar riqueza e deixá-las acumular capital, retirando delas a carga fiscal opressiva que sofrem.


*A tua ideia aproxima-se à da "quantidade fixa de riqueza" ou da "teoria de soma-zero" que não faz sentido nenhum. A riqueza pode ser criada assim como pode ser destruída. O artigo do Johan Norberg menciona isso também.

"The problem with this argument is that all continents became wealthier, albeit at different speeds. Sure, the average Western European or American is 19 times richer than in 1820, but a Latin American is 9 times richer, an Asian 6 times richer, and an African about 3 times richer. So from whom was the wealth stolen? The only way to save this zero-sum theory would be to find the wreckage of some incredibly advanced spacecraft that we emptied 200 years ago. But not even that would save the theory. Because we would still have to explain from whom the aliens had stolen their resources."

Desmontagem política I

Em virtude dos últimos comentários feitos pelo Tiago Marques, achei que a minha resposta devia ser publicada aqui, para que possa ser lida em geral.

É sempre interessante ouvir um discurso extremamente politizado, vindo da bancada oposta. Especialmente quando é recheado de mitos e de falsas verdades, quando fui eu próprio a ser acusado de ter um conhecimento muito limitado da realidade. Não deixa de ter uma ponta de ironia. Vejamos, por partes, comentando parcialmente o que foi proferido.

1. “Existe uma ideia bastante errada muita gente pensar que toda a gente de esquerda é a favor de regimes comunistas totalitários. Absolutamente ridículo.”


Completamente de acordo. Cada vez que há um desses regimes comunistas totalitários, a existência de ‘gente de esquerda’ que esteja em discordância com as ditas formas de Estado é, simplesmente, desnecessária. Mais do que desnecessária, é incómoda. Por estas razões, é bastante errado (deveras, absolutamente ridículo) pensar que toda a esquerda apoia regimes totalitários. Se assim fosse, qual seria a explicação para todos os intelectuais de esquerda que foram eliminados nas purgas estalinistas e maoístas? Tens razão, é ridículo. A minha dúvida reside somente no facto de que tenhas mencionado isso. Eu não falei acerca de totalitarismos de toda a gente de esquerda. Estás a confessar alguma coisa involuntariamente?

2. ”A salganhada a que eu me referia era esse mundo liberal que tu idealizas sem quaisquer tipos de estados para fiscalizarem e controlarem o que quer que seja. Eu sou um humanista e tenho bastante confiança no Homem, ou seja, quero acreditar que o Homem é bom.”


Estilos expressivos aparte, esse quero acreditar diz quase tudo – confesso que parece quase uma ode a Rousseau, que teria gostado imenso de te ouvir dizer isso. Infelizmente, isso passa por uma visão muito pouco cientifica do ser humano. Achar que ele é “bom” por natureza (quando este próprio conceito é de fabrico humanista) é, no mínimo, especulativo e muito pouco realista. O Homem não é bom nem é mau – o Homem é um mamífero que, como qualquer outra espécie, luta pela sua auto-preservação como entidade individual e colectiva sob a forma de hereditariedade genética. Basicamente, estamos programados para sobreviver. Empiricamente, isto sente-se a partir de acções tão básicas como os impulsos nervosos gerados por reflexos condicionados até às mais obscuras razões por detrás da reprodução sexual. Sejamos honestos – ambos encaramos o Universo através da física. Qual é a tua razão, retirada de um contexto natural em que, prosaicamente, todos os materiais são mera poeira de estrelas, para dizer que o Homem é “bom”? Estarás a admitir alguma outra tendência natural que te faça passar para o campo da crença? É que nesse caso, voltamos ao dilema inicial – eu estou a falar de factos, não de ideologias. Tanto a dedução lógica como os factos experimentais estão do lado do capitalismo.

Não compreendo, no entanto, a tua contradição. Se acreditas que o Homem é bom, porque te referes a uma sociedade liberal (que eu idealizo) como “salganhada”? Se o Homem, por princípios naturais, é bom, que razões se apresentam para que uma sociedade liberal, i.e., onde a liberdade individual é um valor a preservar, colapse sobre si mesma?

3.”Em tempos também desejei viver numa sociedade anárquica sem qualquer tipo de controlo em que tudo pudesse estar acessível a toda a gente. Sim, porque no mundo existem alimentos e recursos mais que suficientes para toda a população, mas que simplesmente estão todos mal distribuídos.”


Anteriormente, referiste o meu conhecimento limitado acerca do que falava, estando em questão a minha ironia relativamente às declarações de J. de Sousa. Na verdade, apenas demonstravas a tua incapacidade em compreender o meu sarcasmo, revelando que não estás minimamente familiarizado com o seu discurso. É pena, mas quando eu não compreendo uma coisa, não a critico a priori. Esse não parece ser o teu caso, dado que te apressas a dizer – embora reclames andar a ler o meu blogue há várias semanas - que estas declarações demonstravam o que tu pensavas, aliás, como por ocasião de outras declarações minhas que não fizeste o obséquio de esclarecer quais foram. Lamento o discurso moralista mas é impossível ficar impávido perante uma pessoa que afirma tal e coisa e depois declara que há alimentos e recursos suficientes para todos e que a raiz dos problemas se situa na sua má distribuição. Eu não sei se tu reparaste como funciona a realidade. A economia existe porque não existem recursos infinitos nem a sua distribuição é, nem pode ser, uniforme ou homogénea. A deslocação ou a produção de um recurso representa custos que uma pessoa não está disposta a suportar a menos que obtenha algo mais valioso para si em troca. É assim que o mecanismo da civilização humana vai avançando. Acreditar ou sequer sugerir o contrário é viver numa utopia pura. Esse mundo não existe. As tuas declarações demonstram, portanto, o mais profundo desconhecimento acerca de como a mais básica troca directa entre dois seres humanos é efectuada.

4. ”Na minha opinião, o teu mundo ir-se-ia auto-destruir, pois determinados grupos iriam acabarar por ir ganhando poder, e cada vez mais poder, e por
último subjugariam o resto da população, criando-se uma nova hierarquia.”


Importas-te de explicar, por passos detalhados, como aconteceria isso? Não compreendo como pode existir uma sociedade que implode quando os seus ideais se baseiam na liberdade (de expressão, de associação, económica, etc.). A descrição do que citas parece-se mais com o comunismo, a total ausência de liberdade e a formação de uma oligarquia que detém os métodos de produção sob a máscara da propriedade colectiva que não é mais do que a posse totalitária por parte do Estado. Caso penses algo diferente, não te deixes levar pela propaganda. Lê a História dos últimos 250 anos se te for difícil compreender em termos abstractos.

5. ”É preciso haver algum tipo de fiscalização. São necessários Estados para regularem toda a actividade social.”


Inicialmente, disseste também que (a julgar pela gravidade, presumo ser aplicável a todo o teu discurso):

”Gostaria de esclarecer à partida que, na minha opinião, a liberdade é um direito ESSENCIAL para todo e qualquer homem. Aliás, tal está muito bem explícito da decalração dos direitos humanos, documento esse que tenho pendurado na porta do meu quarto.”


Poderia questionar-te sobre várias coisas quanto a isto mas tentarei tornar as minhas perguntas breves e sucintas.

Porque são necessários os Estados para regular toda a actividade social? Caso te referisses a esses mesmos Estados na frase precedente, por que razão têm de ser eles a efectuar qualquer tipo de fiscalização?

Se dizes defender a liberdade que, segundo o que afirmas, é um direito essencial, como esperas obter a cooperação de toda a gente para ser fiscalizada? Se te referias no sentido económico, como esperas que pague sem o uso de coerção? Já consideraste, alguma vez, a razão da existência do conceito de evasão fiscal que, só por mera curiosidade, é considerado crime? É a isto que chamas liberdade?

6. ”Mas ao fazerem isto, não me sinto menos livre como individuo. Sou um Homem, sou único, mas desempenho o meu papel num todo. Não perco a minha individualidade por causa disto. Achei ridículo um site que tens nesta página - NO2ID. Como se o simples facto de haver um cartão com o meu nome, o qual me dá uma Nacionalidade me fosse diminuir as minhas liberdades.”


Talvez o teu problema seja em compreender a génese conceptual da liberdade. O que tu desejas ou permites pessoalmente não implica, de forma alguma, que todos os outros que te rodeiam pensem da mesma forma. Tu achas ridículo o NO2ID. Milhares de britânicos parecem pensar de forma contrária à tua. Queres negar-lhes esse direito à sua liberdade? Para ti pode ser completamente irrelevante o registo dos teus dados numa base de dados estatal mas quem te dá a autoridade para decidir sobre o que cada um dos cidadãos do Reino Unido deseja fazer? Na tua perspectiva, a tua liberdade não é diminuída mas porque devem os outros pensar da mesma forma? Isto não entra em contradição com a tua proclamação sobre a liberdade que até era essencial?

Novamente, falhas redondamente na tua análise simplista dos factos. A existência de um bilhete de identidade não te gratifica com nacionalidade alguma. A tua (primeira) nacionalidade é obtida geralmente por um processo baseado no jus sanguinis (direito de sangue) ou no jus soli (direito de solo). O bilhete de identidade é um objecto completamente alienígena no que concerne à tua nacionalidade; nem sequer está relacionado. Há países como os EUA, o Reino Unido (por enquanto), a Dinamarca e a Irlanda que não têm um documento de identificação nacional. Isso não exclui os seus cidadãos da obtenção da nacionalidade. Se estiveres mesmo interessado em perceber porque me oponho ao esquema em questão, consulta esta página.

7. “Assim como acho que lá por poderem ter acesso a toda a minha actividade financeira sou menos livre. Se ao se fazer isto se conseguir diminuir a evasão fiscal que se faça. Só não quer quem tem algo a esconder.


O mesmo tipo de resposta que dei no parágrafo anterior se aplica a este caso. Só te falta defender a inversão do ónus da prova relativamente à evasão fiscal. De admirar é também a tua ingenuidade quanto à resolução do “problema” da economia informal.

O argumento de que só quem tem algo a esconder é que não quer ser investigado é uma falácia extrema. Por essa ordem de ideias, se eu recusar ser investigado, isso significa que pratico evasão fiscal, ou seja, a tua prova de que se comete um crime fiscal é dada pela não colaboração com a entidade fiscalizadora. Mais uma vez, segundo a mesma lógica, eu posso denunciar que existem armas biológicas de risco elevadíssimo em tua casa e a polícia pode invadir a tua propriedade privada apenas porque pensa que estas lá existem, sem qualquer esboço de evidência. Afinal de contas, quem não deve não teme, pois não? Com as actividades financeiras passa-se precisamente a mesma coisa. Defender o acesso aos movimentos bancários por parte do Estado e a liberdade, em simultâneo, é profundamente incompatível.

8. “Em relação ao Einstein, tens razão. A sua ideologia política nada tem a ver com as suas qualidades enquanto Físico. No entanto, para mim Einstein foi mais que um simples físico. Ele era alguém profundamente preocupado com a humanidade e com o rumo que ela seguia. Ele sempre quiz que todas as suas descobertas fossem utilizadas para um objectivo bom, ficando terrivelmente perturbado com a bomba atómica, que sem querer ajudou a construir. Gostaria que me esclarecesses porque o considera um "poço de contradições".


Sim, ele preocupava-se com a Humanidade. Aliás, sem sarcasmos, foi por essa mesma razão que assinou uma carta enviada ao presidente Roosevelt, incitando-o a iniciar um programa de pesquisa de armamento nuclear de forma a evitar que Hitler o fizesse primeiro. Não entendo o objectivo das tuas divagações. Também eu sou pacifista e preocupado com o rumo da humanidade. E daí?

Quanto às contradições, deixo-te quatro frases vulgarmente atribuídas a Einstein que fazem uma pessoa pensar acerca da sua coerência aquando das declarações a favor do socialismo:

"The hardest thing in the world to understand is income tax."

"Everything that is really great and inspiring is created by the individual who can labor in freedom. "

"In order to form an immaculate member of a flock of sheep one must, above all, be a sheep."

"Nothing is more destructive of respect for the government and the law of the land than passing laws which cannot be enforced."


9. “No que toca ao Orwell, ele escreveu as suas obras como forma de crítica e alerta sobre os regimes totalitários. Não só os comunistas, como também os fascistas. No entanto, os seus ideiais políticos não mudaram.”


Para mim fazem parte do mesmo. Não sei se já tinhas lido (já que dizes ler aqui há semanas) mas recomendo-te este artigo publicado no Ludwig von Mises Insititute. Os seus ideais mudaram e de que maneira. Deixou de bater-se por causas evidentemente perdidas (ele pôde presenciar os resultados da abolição de classes na Catalunha) e passou a defender o que ele chamava de “socialismo democrático”. Ele demorou tempo a entender as razões do não funcionamento do comunismo. Se hoje fosse vivo, provavelmente já teria desistido das ideias do socialismo democrático por razões de coerência com a situação que pretendia delatar.

Sunday, November 20, 2005

Relativismos presidenciais

Jerónimo de Sousa alertou os portugueses para o perigo real de a direita se apoderar de um órgão de soberania. Não se compreendem tais afirmações, especialmente quando ainda existe uma percentagem tão elevada de sondagens que coloca Francisco Louçã em último lugar.

Saturday, November 19, 2005

Lições vindas de África

Em conversas quotidianas, sinto que há uma enorme confusão relativamente às diferenças entre os significados de Estado e País. Assim como existe uma enorme dificuldade em compreender a distinção no que toca ao que é público e ao que é estatal. Grande parte dos argumentos estatistas típicos (defesa de "sectores estratégicos", "centros de decisão nacional", "serviços mínimos") partem precisamente desta distorção ideológica que é afirmar a equivalência inquestionável entre estes conceitos totalmente distintos. A questão torna-se quase axiomática, dado o esforço que é necessário fazer para ser bem sucedido em clarificar a diferenciação dos dois termos. Há poucos dias, surgiu uma notícia interessante que, para os menos esclarecidos (ou mais ideologicamente envenenados, dependendo do ponto de vista), ajuda a compreender esta dicotomia.

Moçambique reafirma que a terra é propriedade do Estado

O governo de Moçambique reafirmou o princípio constitucional de que a terra é propriedade do Estado, «não devendo ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou penhorada».

(...) o conselho consultivo extraordinário do Ministério da Agricultura decidiu lançar uma campanha de sensibilização «sobre a ilegalidade da venda de terra».

A campanha dirige-se a cidadãos moçambicanos e estrangeiros que publicam anúncios de venda de terrenos, os quais, refere o comunicado, violam o princípio da Constituição de Moçambique de que a terra é propriedade do Estado.

«Os casos de venda de terrenos são objecto de tomada das medidas previstas na legislação aplicável, incluindo a revogação da autorização provisória ou extinção do direito de uso e aproveitamento da terra», adverte o Ministério da Agricultura de Moçambique.

O governo moçambicano refere peremptoriamente que "a terra é propriedade do Estado". Traduzindo, significa que a propriedade privada continua a existir mas que apenas existe um proprietário possível - o Estado. O resultado é que efectuar transacções com um determinado terreno se torna ilegal, sendo necessária uma aprovação do proprietário "legítimo", que é o Estado. Qual é a diferença entre o que é público e o que é estatal? A diferença é que se um terreno for público e os cidadãos decidirem vender uma terra (imaginemos que pertence à comunidade), teriam a possibilidade de o fazer. Neste caso, apenas o Estado, que sempre zela pelos seus próprios interesses, o pode fazer, eventualmente, contrariando a vontade comum (se existir). O que é do Estado não pode ser público nem vice-versa. Estas duas condições são mutuamente exclusivas, coisa que muitos defensores da colectivização dos bens e das teorias proteccionistas teimam em não entender.

A frase do mês




No Rulers, Great Scotch (Carlos Novais)

Thursday, November 17, 2005

Decisões políticas

Número de licenciados no desemprego duplicou
JÁ HÁ 430 MIL DESEMPREGADOS, 60 MIL COM FORMAÇÃO SUPERIOR

No terceiro trimestre de 2005 a taxa de desemprego subiu de 7,2 para 7,7 por cento. De acordo com os números do Instituto Nacional de Estatística já há 430 mil desempregados em Portugal. Os principais aumentos foram nas regiões de Lisboa e Alentejo e entre os licenciados: o número de desempregados com o ensino superior quase duplicou, para perto de 60 mil.
---

Ainda se lembram das palavras de Sampaio há poucos dias?

"Para o Presidente da República, Portugal «precisa de mais licenciados para estimularem, eles próprios, mais emprego»."


O poder político anda sempre deslocado da realidade e ainda acredita em fórmulas mágicas.

Tuesday, November 15, 2005

Muitos parabéns!




Ao O Observador, pelos seus dois anos de observação preciosa na blogosfera.

Depois da França ultraliberal, faltava a Conspiração da CIA

L'ultranationaliste russe Jirinovski: la France victime de la CIA

Le leader ultra-nationaliste russe Vladimir Jirinovski, coutumier de déclarations choquantes, a livré jeudi son interprétation des violences dans les banlieues parisiennes: il s'agit d'un complot des services spéciaux américains.

(...)

"J'estime qu'il s'agit d'une opération planifiée avec la participation des services spéciaux des Etats-Unis qui veulent mettre à genoux l'Europe devenue plus solide et en même temps détruire l'Union européenne", a encore asséné M. Jirinovski. Des théories de complot mondial, souvent anti-russe, sont relativement populaires en Russie.

Making my words come true

Alguém se lembra do que eu disse há dias acerca das teorias de cordas?

Suspeito que, caso o LHC não produza resultados conclusivos, os mais crentes na teoria pedirão a construção de outro detector que possa gerar colisões a energias ainda mais elevadas, eternizando a necessidade de resultados experimentais pelos quais se tem esperado nos últimos 30/40 anos.

Luboš Motl acaba, ironicamente, por me dar razão, num comentário feito no blogue de Peter Woit:

"Something similar holds for string theory because we don’t have the complete picture either: the absence of SUSY at the LHC won’t kill string theory (although it may convince many to work on other problems) - and some people in fact claim today that SUSY is not a prediction of string theory.

Let me not go into details but string theory as such is a much more robust framework than SUSY at 1 TeV which is a mere quantitative technicality."

As nacionalidades mudam, as mentalidades não.

Sampaiadas

Há vários meses que se tornou impossível ouvir este homem. Se se ouve com atenção o que ele vai dizendo, pelo meio de tanta retórica sem sentido, surgem sempre umas pérolas de sabedoria política. Mas não são umas pérolas de sabedoria realista, são antes uns comentários a la posta de pescada portuguesa que são ditos só porque fica bem ou porque a maioria vai concordar. No último discurso de que tenho conhecimento, através do PD, há preciosidades magníficas de conhecimento que deixam qualquer indivíduo minimamente familiarizado com a realidade completamente estupefacto.

"Para o Presidente da República, Portugal «precisa de mais licenciados para estimularem, eles próprios, mais emprego»."

Jorge Sampaio parece não ler nada de nada. Talvez leia aquelas notícias que lhe interessam acerca da globalização ou sobre a injustiça social no Le Monde Diplomatique. O certo é que parece não andar a ler nada acerca do que acontece no Portugal Real. Nem sequer uma notícia, datada de 28 de Outubro, que diz que 20% dos licenciados portugueses fogem do país. O artigo do DN chama-lhe fuga de cérebros e afirma que é um fenómeno típico de países pobres. Diz também a notícia que «Portugal é o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos.» o que não é assim tão estranho, já que Portugal é um dos países mais pobres da Europa (não contando com a Europa de Leste que nem sequer fez parte da estatística). O número de 20% confirma intuitivamente que isto não poderia andar muito longe da verdade. 1/5 dos habilitados com formação superior decide sair.

Há uma razão muito forte para que isto aconteça. Independentemente da área a que nos referimos, há uma verdade dada pelo mercado à qual é impossível fugir - a procura. Se em Portugal existe pouca procura, é natural que as perspectivas de emprego de uma determinada saída profissional sejam baixas. Tanto no ensino, como na investigação e na aplicação directa dos conhecimentos adquiridos através dos cursos.

Existem muitos cursos em Portugal que não têm utilidade alguma. Noutras situações, são inúmeros os casos de estudantes que tiram um curso de matemática para depois trabalhar em informática ou estudam física para depois estarem empregues em consultadoria. Muitos outros estudam história para depois serem empregados de instituições bancárias. Muitos engenheiros ensinam matemática e muitos químicos ensinam física. No ensino básico e secundário nunca tive um professor de física que tivesse formação em física nem um de matemática que não fosse engenheiro. A conclusão? Existem demasiados químicos e engenheiros, ainda que estas coisas não sejam ditas. Ninguém fala delas. Pelo contrário, dizem precisamente o oposto - que um curso de engenharia é importante porque é uma "garantia de emprego". Garantia de nada, digo eu. Existem cursos de engenharia para os quais há procura, outros para os quais há demasiada oferta.

Este facto é encarado por muitos professores e universidades como algo natural. Mais do que isso - é considerado algo extraordinário já que, dizem eles, transmite uma maior abrangência às qualificações, havendo uma maior flexibilidade para o estudante, que assim se pode adaptar melhor às condições do mercado. Nada mais utópico pois centenas de pessoas são deixadas na situação de não poderem aplicar directamente aquilo que aprenderam nem trabalhar naquilo que desejam. Mesmo que tenham essa possibilidade, o mercado português não é assim tão grande que permita grandes ambições de carreira quer a nível empresarial, quer académico. Há uns anos atrás, o sonho do vulgar engenheiro de telecomunicações era ser empregado da Portugal Telecom. Que outra coisa poderia desejar? Nem todos os licenciados são talhados para a investigação (na verdade, apenas uma percentagem mínima o é) de modo que os sectores da indústria e dos serviços são a mais provável fonte de emprego. Num país onde o mercado de telecomunicações era tão fechado, em que outra empresa se poderia ambicionar vingar e formar carreira?

Por estas e tantas outras razões, o mercado de licenciados em Portugal é uma coisa quase artificial. Muitos professores universitários já nem lhe prestam muita atenção porque não sentem verdadeira preocupação com os alunos. A estes, apenas lhes podem acontecer duas coisas: ou entram no curso que desejam, podendo posteriormente ter os tais problemas devido à falta de procura ou, tomados pela ânsia de encontrar uma vaga no mercado de trabalho, conformam-se com a situação e entram num curso qualquer que lhes dizem oferecer uma oportunidade de trabalho. O resultado disto, entre aqueles que conseguem emprego relacionado com o seu curso, são trabalhadores sem empenho ou frustrados.

Em ambos os casos, num, devido à falta de procura que é desvalorizada, e no outro, devido à inflação artificial do número de estudantes, acabarão por existir licenciados que necessitam de sair do país porque não podem exercer a sua profissão em Portugal ou porque, simplesmente, não existe um mercado específico que permita a sua progressão profissional.

Voltando ao tópico de abertura, Sampaio lança o seu comentário que mais parece completamente descontextualizado. Então, Portugal, país que tanto parece odiar e temer a cultura do privado, anda há anos a subsidiar empresas estrangeiras, formando estudantes que depois encontram enormes dificuldades em fazer parte do mercado nacional? Isto levanta uma questão - a do financiamento do ensino superior público. Então se o Estado tem dezenas de cursos por todo o país em que não existem alunos, porque são os contribuintes forçados a financiá-los? Qual é, assumindo o pragmatismo da função estatal, a utilidade destes cursos? É verdade. Nenhuma. Se não há alunos, não há oferta. Se existisse procura, esta tornaria os formandos destes cursos em verdadeiros cofres de dinheiro uma vez que existira uma escassez de recursos humanos. Pois é. O natural é que estes cursos começassem a ter mais gente por serem os seus licenciados tão bem pagos, acabando assim por aumentar a oferta. Com isto se mostra, em termos básicos, que um curso onde há vários anos não entra ninguém, quer por falta de procura, quer por falta de competitividade da universidade em causa, não faz sentido. Se isto acontecer numa universidade privada, é natural que o curso seja abolido ou fundido com outro de forma a não efectuar gastos completamente desnecessários com algo aparentemente supérfluo.

A resposta de Sampaio a estas evidências e leis básicas da vida é simples. Diz ele que devemos produzir mais licenciados. Digo-lhe eu que "produzir mais licenciados", assim sem mais nem menos, é uma idiotice. É criar qualificações para um mercado que não existe e, ao mesmo tempo, convidar à emigração como necessidade básica. É criar ilusões nas pessoas, é dar-lhes a sensação de que podem fazer algo que, na verdade, não podem. A tudo isto Sampaio debita, de sua justiça, o chavão socialista:

O Presidente da República, Jorge Sampaio, considerou hoje que o ensino superior em Portugal está «desregulado», com uma rede «que não faz qualquer sentido».

Caro Jorge Sampaio, o ensino superior em Portugal precisa precisamente do contrário. Precisa de desregulação. Regulação já existe e, essa sim, é demasiada. É imperativo deixar que as necessidades da sociedade civil se regulam a si mesmas sem imposição governamental. É a forma mais eficiente de obter resultados satisfatórios.

Monday, November 14, 2005

Katrina - Os ecologistas também são neoliberais defensores do Estado Mínimo?

Nueva Orleáns: Cómo provocar una catástrofe de Gabriel Calzada

Recomendo a leitura total do artigo que refere o intervencionismo estatal, a cultura do subsídio e a monopolização do sistema de diques. No entanto, há uma parte especial que é particularmente relevante, vinda de quem vem:

El movimiento ecologista también parece haber tenido parte de responsabilidad en la catástrofe. Y no sólo por llevar años diciendo que venía el lobo cuando lo que venían eran corderitos. Mucho más decisiva fue su oposición sistemática a blindar la costa del golfo y la ciudad de Nueva Orleáns frente a catástrofes de categoría 4 y 5. Los ingenieros del ejército sabían perfectamente lo que podía ocurrirle a esta ciudad fundada por canarios y a otras poblaciones costeras de la zona y, aún con los pocos incentivos que cuentan para mejorar la calidad del servicio que prestan, proyectaron construir una barrera móvil a lo largo de la I-10. Este proyecto fue paralizado por medio de una denuncia presentada por un nutrido grupo de organizaciones ecologistas alegando que el estudio de impacto ambiental no era lo suficientemente profundo y que el proyecto podía tener graves efectos sobre algunas especies. En diciembre de 1977 el juez encargado del caso dio la razón a los ecologistas y paralizó la construcción de las barreras aduciendo que los ecologistas habían demostrado las personas que viven en esta área se verían dañados irreparablemente en el supuesto de que el proyecto se llevase a cabo. El cuerpo de ingenieros olvidó la idea y se concentró en mejorar los diques de la ciudad de Nueva Orleáns de modo que pudieran aguantar huracanes más potentes. Pero de nuevo en 1996 un grupo de organizaciones ecologistas radicales, encabezadas por el Sierra Club, presentaron una denuncia alegando que el proyecto suponía un peligro para el oso negro y para diversas especies de aves. En 1997 el proyecto fue paralizado durante dos años a la espera de un nuevo estudio de impacto ambiental. La continua oposición ecologista a la construcción de barreras artificiales a la crecida de las aguas es lo que ha motivado que el representante por Luisiana Bob Livingston haya afirmado que uno de los principales responsables de la catástrofe son los ecologistas.


Ou seja, aqueles que agora culpam o "capitalismo selvagem" e o aquecimento global por ele alegadamente produzido são os que, no passado, parecem ter impedido directamente a prevenção da tragédia que se avizinhava. Fantástico, não?

Para aqueles que dizem que as loiras são burras







Sunday, November 13, 2005

Duas faces da mesma moeda




Why Nazism Was Socialism and Why Socialism Is Totalitarian de George Reisman

What Mises identified was that private ownership of the means of production existed in name only under the Nazis and that the actual substance of ownership of the means of production resided in the German government. For it was the German government and not the nominal private owners that exercised all of the substantive powers of ownership: it, not the nominal private owners, decided what was to be produced, in what quantity, by what methods, and to whom it was to be distributed, as well as what prices would be charged and what wages would be paid, and what dividends or other income the nominal private owners would be permitted to receive. The position of the alleged private owners, Mises showed, was reduced essentially to that of government pensioners.

De facto government ownership of the means of production, as Mises termed it, was logically implied by such fundamental collectivist principles embraced by the Nazis as that the common good comes before the private good and the individual exists as a means to the ends of the State. If the individual is a means to the ends of the State, so too, of course, is his property. Just as he is owned by the State, his property is also owned by the State.


(via Jorge Valín)

Raiz de utopias

A frase de Tocqueville, publicada pelo Claudio, fez-me lembrar outra importante:

"A society that puts equality—in the sense of equality of outcome—ahead of freedom will end up with neither equality nor freedom. The use of force to achieve equality will destroy freedom, and the force, introduced for good purposes, will end up in the hands of people who use it to promote their own interests."


Milton Friedman

Friday, November 11, 2005

Os perigos da globalização

The Triumph of India’s Market Reforms: The Record of the 1980s and 1990s de Arvind Panagariya

India is popularly viewed as having initiated the process of liberal reforms and the embrace of outward-oriented trade policies starting with the adoption of a major reforms package in July 1991. Subsequently, from 1992 to 2002, India’s gross domestic product grew at the impressive annual rate of 6.1 percent. That rate contrasted with the so-called Hindu rate of growth of approximately 3.5 percent during the first three decades of India’s economic development. There was also a substantial reduction in poverty during the 1990s. As such, observers have generally seen the Indian experience during the 1990s and beyond as strong evidence that outward-oriented trade polices and pro-market reforms generated large benefits for the people of that country.

O regresso do lápis azul


Entidade Reguladora para a Comunicação Social

"(...) Artigo 6.º

Âmbito de intervenção

Estão sujeitas à supervisão e intervenção do conselho regulador todas as entidades que, sob jurisdição do Estado Português, prossigam actividades de comunicação social, designadamente:

(...)

e) As pessoas singulares ou colectivas que disponibilizem regularmente ao público, através de redes de comunicações electrónicas, conteúdos submetidos a tratamento editorial e organizados como um todo coerente.

(...)

Artigo 24.º

Competências do conselho regulador

(...)

ae) Restringir a circulação de serviços da sociedade da informação que contenham conteúdos submetidos a tratamento editorial e que lesem ou ameacem gravemente qualquer dos valores previstos no n.º 1 do artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, sem prejuízo da competência do ICP-ANACOM em matéria de comunicações electrónicas de natureza privada, comercial ou publicitária.

---

Decreto-Lei n.º 7/2004
Artigo 7.º
Providências restritivas

1 - Os tribunais e outras entidades competentes, nomeadamente as entidades de supervisão, podem restringir a circulação de um determinado serviço da sociedade da informação proveniente de outro Estado membro da União Europeia se lesar ou ameaçar gravemente:

a) A dignidade humana ou a ordem pública, incluindo a protecção de menores e a repressão do incitamento ao ódio fundado na raça, no sexo, na religião ou na nacionalidade, nomeadamente por razões de prevenção ou repressão de crimes ou de ilícitos de mera ordenação social;
b) A saúde pública;
c) A segurança pública, nomeadamente na vertente da segurança e defesa nacionais;
d) Os consumidores, incluindo os investidores.


---

(via ContraFactos & Argumentos)

Desde já subscrevo inteiramente a linha editorial do Tiago Mendes quanto a este blogue.

Thursday, November 10, 2005

Aquelas coisas que Merkel devia ler

GERMANY'S ECONOMY IN DESPERATE NEED OF CHANGE

Germany's economy has fallen on hard times with no end in sight. Gross domestic product (GDP) growth for 2005 is estimated to remain at the paltry 1 percent rate it averaged during the entire decade of the 1990s, while unemployment has remained consistently above 10 percent.

The stagnant economy is due to the government's decision to return to a social market economy, says Bob Formaini of the Federal Reserve Bank of Dallas.

By contrast, after World War II, West Germany experienced unprecedented economic growth in a free market economy:

* From 1950 to 1974, citizens enjoyed a 5.7 percent average growth rate -- per capita GDP actually tripled.
* The unemployment rate was 2.5 percent, and more than 8 million new jobs were created.

However, in the late 1960s, German policymakers began adopting price controls and market regulations based on "Schmollerism" -- social market economic beliefs that ultimately ended Germany's economic success.

* "Schmollerism" is considered to be a "third way" between capitalism and communism and is the same ideology embraced by German economic policy from 1880 to 1948.
* From 1913 to 1950, for instance, Germany averaged only 0.3 percent growth.

Germany's economy will not recover unless it returns to a free market economic model similar to that of postwar West Germany, says Formaini. Reforms should include removal of strict government controls and regulations, reducing the high tax burden and government spending on social programs and freeing labor markets.

A fonte original do documento é o artigo publicado no sempre recomendável Ludwig von Mises Institute:

Germany: Doomed by Schmollerism de Robert Formaini

Neste artigo, para além da análise histórica (das consequências) das diversas políticas económicas aplicadas na Alemanha, é possível ver gráficos que resumem o crescimento do PIB, as taxas de desemprego e a produtividade dos países anglo-saxónicos comparativamente à Alemanha. É de notar, mais uma vez, o boom económico na Irlanda que, sendo um dos países europeus tradicionalmente pobres se tornou num dos mais ricos devido a políticas de atracção de investimento estrangeiro e redução da despesa estatal.

Wednesday, November 09, 2005

Doce economia paralela

Os novos pobres por Manuel Monteiro

A manutenção de uma elevada carga fiscal é negativa para o crescimento da economia e convida ao não pagamento.

(...)

O socialismo, e a sua obcecada vontade de a todos igualizar, tem em Portugal um espaço de grande propagação.

(...)

Em Portugal, ser proprietário, assumindo a titularidade dos bens, ser correcto e pontual no cumprimento das obrigações fiscais, ser diligente e trabalhador para ganhar mais dinheiro é um erro de graves consequências. Que fazer então? É simples: ter o menos possível em nome próprio, não declarar com exactidão o preço do que se compra e do que se vende, fugir o mais possível. Quem faz o contrário, como eu tenho vindo a fazer, ou é parvo ou está a cumprir promessa. Dizem uns quantos que a situação é esta enquanto todos não pagarem, que o problema está na fuga ao fisco. Não concordo: o problema está na elevada carga tributária e na progressividade dos impostos sobre o rendimento. Se os impostos forem mais baixos e existir uma taxa única ao nível do IRS, muitos mais pagarão e muito maior será o encaixe.

(...)

É assim necessária uma revolução fiscal, não já uma mera reforma e desde logo porque o espírito e a filosofia dos constituintes de 1975 se mantém, nesta matéria, inalterado. Ele está presente quando nos impõe a progressividade do imposto, continua com os princípios subjacentes às mais valias, comporta-se de forma cega nas sucessões de pais para filhos, é implacável se trabalhamos mais e em função disso aumentamos o nosso rendimento e só se distrai, vá-se lá saber porquê, se lhe fogem e mentem. O que é isto? É socialismo fiscal, que pactua com as multimilionárias fortunas e descarrega a sua bílis na classe média. E estão os mais pobres felizes? Têm, em função desta política, reformas e pensões maiores? Não, não têm, bem ao contrário. Continuam pobres e agora com a companhia crescente dos novos pobres, acabados de sair do patamar intermédio da sociedade.


(via Tomarpartido)

Não há coincidências

Grupo radical islâmico incita à violência noutros países

"Um grupo radical islâmico não identificado elogiou a revolta que há 13 dias causou uma onda de violência em França, incitando à sua disseminação a outros países da Europa.


«Os jovens da Resistência Islâmica aplaudem os actos dos jovens muçulmanos da Europa que têm como objectivo recuperar os seus direitos e a içar a bandeira do Islão»

(...)

O texto, publicado sem logotipo ou outras referências, estimula os jovens muçulmanos de França, Bélgica, Alemanha e Holanda a prosseguir com a jihad (guerra santa)."

-----

Leninism

"Knowing that according to Marx's theories, a socialist system would be unable to develop independently in an underdeveloped country such as Russia, Lenin proposed two possible solutions:

1. The revolution in the underdeveloped country sparks off a revolution in a developed capitalist country (for example, Lenin hoped the Russian Revolution would spark a revolution in Germany.) The developed country establishes socialism and helps the underdeveloped country do the same.

2. The revolution happens in a large number of underdeveloped countries at the same time or in quick succession; the underdeveloped countries then join together into a federal state capable of overcoming the opposition of capitalist countries and establishing socialism. This was the original idea behind the foundation of Lenin's Russia later renamed the Soviet Union to demonstrate to the rest of the world the validity of his control."

----

É impressão minha ou ambas as teorias não diferem muito uma da outra? Estas coisas provavelmente explicam as amizades políticas.

IX Semana da Física




A Semana da Física é um projecto desenvolvido pelo Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico e tem por objectivo promover a educação Científica em Portugal. Neste âmbito a Semana da Física tem sido a principal actividade do Núcleo desde a sua criação, uma semana totalmente dedicada à divulgação científica.


Não se deixem enganar pela imagem - a Semana da Física inclui também palestras, workshops e observações astrónomicas. O horário pode ser visto aqui.

Tuesday, November 08, 2005

Espantalho ad nauseam

Rui Costa Pinto, deixe-me agradecer-lhe o seu comentário. Foi para mim esclarecedor, até porque tinha chegado ao seu blogue mas não sabia se o artigo na Visão era seu.

Não se preocupe, já sei que é típico de muita gente com ideologias de esquerda/socialistas negar a realidade. O PMF respondeu-lhe, e muito bem, afirmando que França é, provavelmente, o país mais anti-liberal da Europa. Tem dúvidas disso? É que terá de me provar a mim e ao PMF, assim como ao Brainstormz, que também leu o seu comentário, o contrário. Quando medidas mais liberais possam ter sido tomadas (por necessidade), o resultado, talvez surpreendente para algumas pessoas, parece ter sido este. A si, só lhe falta dizer que França é um paraíso capitalista. E o mesmo relativamente a Portugal, que é outro bastião dos "neo-liberais".

Há diversos pontos no seu comentário que serão dignos de discussão.

1. "Já se tornou um hábito assistir ao indecente escrutínio dos fracos e à tolerância em relação aos poderosos, a um sistema que esmaga quem não pode suportar mais a miséria e a exclusão."

Isto é a sua forma de tornar legítimos os comportamentos daqueles que destroem a propriedade alheia? Significa isto que qualquer pessoa que esteja desempregada/desesperada e sem perspectivas de vida pode fazê-lo sem temer enfrentar as consequências?

Poderosos? Quais poderosos? Não me diga que as pessoas que trabalham, pagam impostos e viram os seus carros queimados são "os poderosos"?

2. "Hoje, a direita e a esquerda francesas, tal como as portuguesas, deixaram-se levar pelos cantos da sereia do capitalismo selvagem, camuflado por um conceito de globalização que tem servido para sustentar o insustentável."

Para si, "capitalismo selvagem" é o quê? Proteccionismo, Estado Social, estatismo e intervenção estatal?

3. "Só os fundamentalistas de direita conseguem recusar a evolução civilizacional e a falência de um modelo assente na pobreza e na injustiça."

Nós não recusamos a falência desse modelo. Nós denunciamos a falência desse modelo. Reparou, assim só por acaso, nos títulos do AAA (Paris, 2005: o modelo social europeu em chamas) e da Joana (A Hipocrisia do Modelo Social)?

4. "A mediocridade da argumentação chega ao ponto de perguntar: «Se uma revolta deste tamanho se desse em Cuba, seria por que razão? Devido ao embargo americano?» Eu respondo-lhe: Evidentemente!"

Não era uma argumentação, era uma ironia apropriada à sua frase final no artigo da Visão. O que o RCP disse não tem argumentação possível. Factos são factos. E também já ficámos a perceber que a culpa dos males em Cuba se deve aos americanos. Só não compreendo a sua repentina crença no mercado livre entre os EUA e Cuba.

5. "Só uma pequena fracção de idiotas de direita, hipócritas (…) é que não percebem que a nova ditadura do liberalismo está condenada ao fracasso."

Explicite. Acima disse que a direita portuguesa/francesa se tinha deixado levar pelos cantos do "capitalismo selvagem". Agora, apenas uma fracção dos "idiotas de direita" não acredita que o liberalismo é um fracasso. E explicite também o que quer dizer com "ditadura do liberalismo". Essa expressão é, em si, completamente contraditória.


Para finalizar, apenas um pedido. Pare de fazer o choradinho com que começou o seu texto, referindo-se "ao escrutínio dos fracos" por parte daqueles que têm "os cofres cheios". É que, avaliando as suas palavras, todos os pobres teriam de ser socialistas, o que não só não é verdade como é puramente insultuoso. Contudo, talvez tenha razão quanto a uma coisa – o facto de que nós somos "idiotas". A verdade é que poderíamos ser hipócritas, dizer o contrário e, talvez, se fossemos suficientemente bons na retórica, nos convidassem para escrever artigos na Visão.

Arranjar as finanças, destruir a economia

Aumento do IVA é a única certeza na Alemanha

"Uma única certeza se divisa após três semanas de negociações: o aumento dos impostos é inevitável.

O Partido Social Democrata (SPD) deixou definitivamente de resistir ao plano dos democratas-cristãos da CDU de incrementar o IVA dos actuais 16% para 18%.

Pelo contrário, o novo presidente indigitado do SPD e ministro-presidente do estado federado de Bradeburgo, Matthias Platzeck, considerou “perfeitamente possível” um aumento gradual do IVA até 20%.

Por seu lado, a CDU renunciou ao propósito de aplicar as receitas adicionais do IVA exclusivamente no financiamento da redução dos custos do factor trabalho: torna-se cada vez mais evidente que elas terão que servir para tapar o buraco orçamental."
---

Se a dívida é do Estado, porque têm de ser os contribuintes a pagá-la?

Fico à espera do meu contrato com a Visão

Se Rui Costa Pinto pode escrever uma coisa tão ignorante como a que escreveu ontem na Visão, qualquer um lá pode ter uma coluna semanal.

O perfume de revolta

"A explosão social que se vive em França, de norte a sul, é mais uma séria advertência aos governos da União Europeia.

(...)

O crescimento do fosso entre os ricos e os pobres, estampado em todos os estudos, devia merecer outro tipo de medidas governamentais.

(...)

A miséria e a exclusão impedem o desenvolvimento económico, minam a paz social e comprometem a ordem pública.

O desespero da racaille (escumalha), como lhe chamou Nicolas Sarkozy, é muito mais do que uma resposta à atitude racista do ministro do Interior francês.

É a prova do falhanço das políticas neoliberais."


(via Blasfémias)

Ocasionalmente, escrevo umas sátiras relativamente ao discurso socialista. Para quê escrever sátiras quando o mais hilariante e imprevisível está na realidade do quotidiano? Se uma revolta deste tamanho se desse em Cuba, seria por que razão? Devido ao embargo americano?

Monday, November 07, 2005

Charro presidencial




Yo, Broda.

Peace.

Make Love not War. Pobreza e racismo não são cool.

Essa cena da violência é bué má onda, man. Também não é nada cool. Essas energias negativas que tens dentro de ti fazem-te bué mal, chavalo. Não à guerra, mano, isso é g'anda fascismo. É preciso dialogar, topas?

Isso da discriminação é uma cena muita marada, a gente precisa é de paz interior...

-----

Tradução para Português das declarações de Jorge Sampaio acerca dos distúrbios em França, onde já foram queimados uns 5000 carros, umas dezenas de escolas, igrejas, lojas, etc...

Sampaio defende integração de minorias para prevenir violência
"(...) temos que defender aquilo que é a capacidade de integração, de conviver com o outro, de termos as minorias que se possam exprimir da forma que queiram. Isso faz parte do nosso país, da nossa cultura.

(...) a cultura, a tolerância, a solidariedade são elementos muito importantes para que nós hoje possamos estar aqui todos sem ninguém perguntar aos outros o que é que são, o que é que pensam, terem a sua fé ou não terem fé nenhuma."

Modelo Social da Eurábia II

Não tendo muito tempo para escrever, vão-se recomendando as escritas dos outros que partilham as mesmas visões sobre os assuntos:

SOBRE A "INTIFADA" FRANCESA e APRENDE-SE MUITO LENDO E OUVINDO OS MEDIA NACIONAIS (nem todos mas a maioria) - CAA

A Intifada Francesa e A Hipocrisia do Modelo Social - Joana

Atitude europeia perante os conflitos raciais - João Miranda

Multiculturalismo e Republicanismo - Henrique Raposo

Saturday, November 05, 2005

Freud (anti-globalização) explica?

Os protestantes anti-globalização revoltam-se contra as políticas económicas de mercado livre, repudiando o capitalismo. Ao mesmo tempo, revoltam-se contra Bush que, segundo eles, encabeça este movimento de implementação capitalista na América do Sul. As comunicações de Chávez fazem-se até com retratos de Che Guevara como pano de fundo.

Durante os seus protestos ouvem-se, contudo, frases como esta -- "Bush, the fascist!" -- e exibem-se também cartazes comparando Bush a Hitler (coisa da praxe).

Por estas razões, gostaria de pedir aos manifestantes anti-globalização que se decidissem de uma vez por todas...

O ódio pela Liberdade

Anti-U.S. Protests Flare at Summit

Anti-American demonstrators torched storefronts and battled police Friday in this Atlantic resort following a large, peaceful protest, spearheaded by Venezuelan President Hugo Chavez, over President Bush's plans to revive a free trade accord at a regional summit.

While Bush held closed-door meetings with allies among the 33 other presidents attending the fourth Summit of the Americas, Chavez antagonized him from the sidelines, rallying thousands of supporters in a nearby soccer stadium with a promise to bury U.S.-style capitalism throughout Latin America.

"Each one of us brought a shovel, a gravedigger's shovel, because here in Mar del Plata is the tomb of the Free Trade Area of the Americas," Chavez told the cheering crowd of 40,000 at the noon rally.

(...)

After the rally, some demonstrators formed small groups, smashing store windows with bricks and setting bonfires of looted furniture in the largely deserted downtown area.

(...)

Much of the public's animus was aimed directly at Bush. Hundreds of protesters had traveled through the night from Buenos Aires in a mass pilgrimage led by Maradona. Carrying signs comparing Bush to Adolf Hitler, the protesters chanted in unison as they filed into the stadium: "Bush, the fascist! Bush the terrorist!"

Backed by a giant portrait of the Argentine-born Cuban revolutionary Che Guevara, Chavez addressed the crowd for more than two hours. He touched on many of his favorite themes: the injustice of U.S. economic policies, his opposition to the war in Iraq, his allegations of a U.S. plan to invade Venezuela and his dream of a "Bolivarian revolution" that would spread socialism throughout Latin America.

(...)

"We're a people united against free trade, because free trade is a policy of death for our countries," said Carlos H. Reyes, 54, of Honduras.

Intelligent Design na Física

Ciência é ciência. Quando a ciência se torna numa religião, há qualquer coisa errada. Uma religião não tem uma prova experimental nem gera previsões acerca da Natureza. Por vezes, há gente, incluindo muitos cientistas, que insistem em ver a ciência como uma religião porque, ao aceitar teorias como condições divinas, se esquecem do verdadeiro propósito da ciência - descrever a realidade. Isto tem acontecido sempre ao longo da História. As grandes inovações científicas e tecnológicas têm sido sempre feitas contra a corrente. Os autores dos maiores avanços são sempre objectos de oposição cerrada por parte do establishment académico. Muito provavelmente, a discussão entre a religião e a ciência acompanhará sempre a nossa evolução mas há um aspecto perigoso e nada saudável que nasce da predisposição do ser humano para acreditar - quando as teorias científicas deixam de ser ciência para se tornar objectos de culto fervoroso. Estas incluem comummente teorias que não têm uma formulação teórica completa, apresentam resultados discordantes da realidade e fazem poucas ou nenhumas previsões, tendo probabilidades duvidosas de serem comprovadas experimentalmente devido à sua discordância interna. Gostaria, portanto, de mostrar aquilo que já se esperava e que vai começando a acontecer com mais frequência, dado o estado das coisas – a comparação do Intelligent Design às infinitas Teorias de Cordas que pretendem ser candidatas a uma teoria de unificação das forças.

A ler, no Cosmic Log, It's just a string theory

«The metaphysical ruminations over the "theory of everything" — and over the fact that there is much scientists don't know about the origin and nature of the universe — naturally led to a question about how the far-out ideas of string theorists stacked up against the far-out ideas of intelligent design's advocates.»

Em resposta, Krauss faz umas engraçadas considerações metafísicas acerca da ciência, onde talvez as frases mais engraçadas tenham sido:

«"There are two aspects that they get mixed up. One is, they are claiming that scientists ... are based on faith, and that's true. Scientists are based on faith: They have faith that the ideas they're working on are right. But the difference is that Ed Witten and the other good string theorists will, if an experiment comes along that demonstrates that supersymmetry isn't discovered in a definitive way, be the first to say the theory is wrong. So they have faith in what they're working on. You have to, if you're going to spend 20 years working on an idea. But if the idea is wrong, you say, 'Too bad.'»

Veremos o que acontece, como eu já disse anteriormente, aquando do início do funcionamento dos módulos ATLAS e CMS no LHC. Suspeito que, caso o LHC não produza resultados conclusivos, os mais crentes na teoria pedirão a construção de outro detector que possa gerar colisões a energias ainda mais elevadas, eternizando a necessidade de resultados experimentais pelos quais se tem esperado nos últimos 30/40 anos.

Comentários posteriores foram feitos no Cosmic Log à questão do Intelligent Design e às declarações de Krauss. Peter Woit, matemático da Universidade de Columbia, comenta também a notícia:

"Since the scale of supersymmetry breaking is unknown, one can’t hope to experimentally definitively show supersymmetry is not there. And the question at issue is string theory, not supersymmetry. Will string theorists abandon the theory when supersymmetry is not found at the LHC? We’ll see in a few years, but I already see them hedging their bets and many undoubtedly will not see the lack of supersymmetry at LHC energies as proving string theory wrong."

Friday, November 04, 2005

Modelo Social da Eurábia

Coisas que nunca mudam III

O liberalismo deve ser a ideologia mais odiada de sempre. Todas as outras parecem detestá-la e fazer campanha activa contra ela.

O insulto que falta ouvir é: os liberais são populistas por quererem baixar os impostos e diminuir o desemprego. O do "excesso de liberdade" já eu ouvi várias vezes. Esse não vale a pena, é repetitivo.

Coisas que nunca mudam II

Para que se dá uma pessoa ao trabalho de ver entrevistas com candidatos às presidenciais, excepto Cavaco Silva?

Presumo que quando Cavaco Silva for finalmente entrevistado, chamá-lo-ão de egocêntrico porque já teve demasiado tempo de antena.

Coisas que nunca mudam

Receita da sopa colectivista à Jerónimo de Sousa

Junte os seguintes igredientes:
  • 200 g de políticas da direita,
  • 1,5 kg de seguimento da cartilha neoliberal,
  • deriva imperialista q.b.,
  • 2 caixas de direitos dos trabalhadores,
  • 2 litros de interesses do grande capital
Se vir que a sopa está demasiado espessa junte também:
  • 1 dose de desvios fascistas,
  • 1 colher de chá de desejos neocolonialistas,
  • 6 latas de capitalismo selvagem
Misture tudo muito bem e deixe aquecer. Quando estiver pronta, sirva aos telespectadores.

Thursday, November 03, 2005

Tiro em ambos os pés

O socialista Jorge Coelho disse hoje às televisões que é um "cidadão impoluto e incorruptível".

Obviamente, ficam por esclarecer as misteriosas razões pelas quais terá Jorge Coelho (sendo uma pessoa claramente impoluta e incorruptível) o seu ordenado pago por uma instituição que defende a obtenção de fundos através de métodos de coacção.

Contenção da Despesa Pública



(via O Acidental)

Equilíbrio natural

Há dias ouvi um geólogo a dizer na RTP, relativamente à ordenação do território, que "o mercado possui[a] mecanismos de auto-regulação".

Fiquei em estado de choque. E começo a dar razão ao RAF e ao AA.

A stich in time saves nine

Britain slowly sinking por Richard Rahn

From the time of the Thatcher reforms in the early 1980s, Britain has been the star economic performer among the major European nations. The British went from having the lowest per capita income of the European big four (Germany, France, Italy and Britain) to having the highest one, but now there are signs the economic sickness in "old Europe" is beginning to infect the British.


The British economy had been growing an average of almost 3 percent yearly for the last two decades, which is quite respectable, given that French and German economies have grown much more slowly. Over the same period, the U.S. grew at an average rate of almost 4 percent, far higher than any of the major European economies.

When Tony Blair took office, he had the wisdom not to undo the Thatcher reforms. As a result, Britain has had the advantage of far freer labor markets, and a lower tax burden than most of its European competitors, along with a strong rule of law and relatively little corruption.


(...)


Many on the left like to argue that Europe, including Britain, has less poverty than America. But measures of poverty are relative, and constantly change. For instance, 36 percent of America's official "poor" own a dishwasher, 73 percent have cable or satellite TV, 75 percent own a car or truck and 75 percent have air conditioning.


(...)


Ireland, once a poor backwater, after radically cutting tax rates has a higher per capita income than England and the second-highest per capita income in Europe after Luxembourg. British economic journalist Allister Heath reported last week new research shows "ince 1995, Eastern European countries with a flat tax have enjoyed an average annual gross domestic product growth rate of 5.3 percent, compared with only 2.6 percent for eastern European countries without one...

For the sake of coherence



Livro: Do As I Say (Not As I Do) : Profiles in Liberal Hypocrisy

Excerto: The Branding of the World's Top Intellectual: Noam Chomsky


But trusts can't be all bad. After all, Chomsky, with a net worth north of $2,000,000, decided to create one for himself.


(...)


Chomsky favors the estate tax and massive income redistribution -- just not the redistribution of his income. No reason to let radical politics get in the way of sound estate planning.


(...)


Indeed, Chomsky is rich precisely because he has been such an enormously successful capitalist. Despite the anti-profit rhetoric, like any other corporate capitalist he has turned himself into a brand name.


(...)


Protectionism is a bad thing -- especially when it relates to other people. But when it comes to Chomsky's own published work, this advocate of open intellectual property suddenly becomes very selfish


(...)


And when it comes to his articles, you'd better keep your hands off. Go to the official Noam Chomsky website and the warning is clear: "Material on this site is copyrighted by Noam Chomsky and/or Noam Chomsky and his collaborators. No material on this site may be reprinted or posted on other web sites without written permission." However, the website does give you the opportunity to "sublicense" the material if you are interested.


(...)


A look at the stock fund portfolio quickly reveals that it invests in all sorts of businesses that Chomsky says he finds abhorrent: oil companies, military contractors, pharmaceuticals, you name it.

Tuesday, November 01, 2005

Guia Socialista para o Poder




1. Caso tenha um país fortemente socialista, torne-se político. Não precisa de ter um curso de humanidades ou ser necessariamente formado em relações internacionais ou filosofia. Se for engenheiro ou operário, ainda melhor, dá a sensação de ser do povo. Se for cientista também serve, o povo olha para eles sempre com uma mistura de desprezo e admiração mas em último recurso, eles são sempre os “especialistas”.

2. Faça campanha dizendo que quer ajudar os pobres e aos animais. Diga que não quer ver o ambiente destruído e que quer um futuro melhor para os seus filhos e os dos outros. Diga que todos têm direito a uma educação, direito a cuidados de saúde, uma casa, electricidade, água corrente, etc. Diga também que quer as ruas mais limpas e menos crime.

3. Use a imprensa como veículo da sua imagem. Apareça a ajudar velhinhas a atravessar a rua. Fale com meninos na rua e dê-lhes uma bola para que eles joguem futebol. Sorria para a câmara e diga que os jovens são o nosso futuro. Indigne-se perante os ricos e aqueles que querem atentar contra os mais pobres, servindo interesses financeiros. Faça cara de revoltado ao dizer isto. Ao explicar as suas ideias diga coisas como: “[pura] demagogia”, “política inadmissível”, “interesses do capital”, “injustiça social”.

4. Quando chegar ao poder, depois de vencer as eleições, deixe de usar camisa e as calças. Já não precisa ser do povo, passe a usar fato e gravata. As pessoas gostam de gente do povo mas quando se trata de cargos importantes, os responsáveis devem vestir-se como gente séria!

5. Uma vez no governo, culpe os neoliberais (embora eles nunca tenham existido) por todos os males trazidos à sua nação pelo socialismo. Diga que a culpa é de Bush e dos americanos. Diga que estes são todos burros e até têm 3 empregos simultâneos para conseguirem alimentar os filhos porque são explorados pelo regime capitalista. Se alguém lhe disser que os EUA tiveram um crescimento acima dos 3,5% no último trimestre diga-lhe que as estatísticas são falseadas ou então diga que é por causa da indústria de guerra. Fale do preço do petróleo que sobe por causa dos interesses americanos na cotação do dólar. Diga novamente que a culpa é das políticas neoliberais e acima de tudo, não se esqueça de frisar que a culpa é do CAPITALISMO ainda que o seu regime seja socialista. Não se esqueça, é um ponto muito importante.

6. Depois de concluir o seu mandato, reconsidere um novo se o seu país permitir. Embora o país tenha estado em descalabro total durante a sua governação, diga simplesmente que não teve tempo de implementar as suas reformas vitais. O povo há-de compreender.

7. Repita os pontos 4, 5 e 6. Caso o seu país permita, repita o passo 6 e depois o 7.

8. Quando estiver esgotado de lutar pelo paraíso socialista no seu pais, reforme-se e fique a ver o seu lucro crescer à medida que as suas acções num país estrangeiro ganham maior cotação. Aplique também os seus fundos de reforma em investimentos.

9. Passe este documento aos seus filhos para que também eles possam usufruir dos direitos aqui expressos. Recorde-lhes com veemência que há que culpar sempre o NEOLIBERALISMO e os interesses financeiros dos grandes capitalistas. Se o seu filho perguntar o que é o neoliberalismo diga-lhe a verdade – que não sabe o que é mas que de certeza são senhores maus que querem viver à conta dos outros metendo-os todos dentro de uma fábrica.

Passe este documento a toda a sua família para que também eles possam entender a causa socialista. Diga-lhes que se não seguirem estes passos (talvez excepto o 1º, caso não desejem ter uma vida política) terão um horroroso país CAPITALISTA onde todas as criancinhas morrem à nascença.

Se ainda existirem criancinhas.


---

P.S. – a parte relacionada com a culpa dos "americanos imperialistas" pode ser usada em qualquer altura do ano porque é sempre aplicável.