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Tuesday, November 08, 2005

Espantalho ad nauseam

Rui Costa Pinto, deixe-me agradecer-lhe o seu comentário. Foi para mim esclarecedor, até porque tinha chegado ao seu blogue mas não sabia se o artigo na Visão era seu.

Não se preocupe, já sei que é típico de muita gente com ideologias de esquerda/socialistas negar a realidade. O PMF respondeu-lhe, e muito bem, afirmando que França é, provavelmente, o país mais anti-liberal da Europa. Tem dúvidas disso? É que terá de me provar a mim e ao PMF, assim como ao Brainstormz, que também leu o seu comentário, o contrário. Quando medidas mais liberais possam ter sido tomadas (por necessidade), o resultado, talvez surpreendente para algumas pessoas, parece ter sido este. A si, só lhe falta dizer que França é um paraíso capitalista. E o mesmo relativamente a Portugal, que é outro bastião dos "neo-liberais".

Há diversos pontos no seu comentário que serão dignos de discussão.

1. "Já se tornou um hábito assistir ao indecente escrutínio dos fracos e à tolerância em relação aos poderosos, a um sistema que esmaga quem não pode suportar mais a miséria e a exclusão."

Isto é a sua forma de tornar legítimos os comportamentos daqueles que destroem a propriedade alheia? Significa isto que qualquer pessoa que esteja desempregada/desesperada e sem perspectivas de vida pode fazê-lo sem temer enfrentar as consequências?

Poderosos? Quais poderosos? Não me diga que as pessoas que trabalham, pagam impostos e viram os seus carros queimados são "os poderosos"?

2. "Hoje, a direita e a esquerda francesas, tal como as portuguesas, deixaram-se levar pelos cantos da sereia do capitalismo selvagem, camuflado por um conceito de globalização que tem servido para sustentar o insustentável."

Para si, "capitalismo selvagem" é o quê? Proteccionismo, Estado Social, estatismo e intervenção estatal?

3. "Só os fundamentalistas de direita conseguem recusar a evolução civilizacional e a falência de um modelo assente na pobreza e na injustiça."

Nós não recusamos a falência desse modelo. Nós denunciamos a falência desse modelo. Reparou, assim só por acaso, nos títulos do AAA (Paris, 2005: o modelo social europeu em chamas) e da Joana (A Hipocrisia do Modelo Social)?

4. "A mediocridade da argumentação chega ao ponto de perguntar: «Se uma revolta deste tamanho se desse em Cuba, seria por que razão? Devido ao embargo americano?» Eu respondo-lhe: Evidentemente!"

Não era uma argumentação, era uma ironia apropriada à sua frase final no artigo da Visão. O que o RCP disse não tem argumentação possível. Factos são factos. E também já ficámos a perceber que a culpa dos males em Cuba se deve aos americanos. Só não compreendo a sua repentina crença no mercado livre entre os EUA e Cuba.

5. "Só uma pequena fracção de idiotas de direita, hipócritas (…) é que não percebem que a nova ditadura do liberalismo está condenada ao fracasso."

Explicite. Acima disse que a direita portuguesa/francesa se tinha deixado levar pelos cantos do "capitalismo selvagem". Agora, apenas uma fracção dos "idiotas de direita" não acredita que o liberalismo é um fracasso. E explicite também o que quer dizer com "ditadura do liberalismo". Essa expressão é, em si, completamente contraditória.


Para finalizar, apenas um pedido. Pare de fazer o choradinho com que começou o seu texto, referindo-se "ao escrutínio dos fracos" por parte daqueles que têm "os cofres cheios". É que, avaliando as suas palavras, todos os pobres teriam de ser socialistas, o que não só não é verdade como é puramente insultuoso. Contudo, talvez tenha razão quanto a uma coisa – o facto de que nós somos "idiotas". A verdade é que poderíamos ser hipócritas, dizer o contrário e, talvez, se fossemos suficientemente bons na retórica, nos convidassem para escrever artigos na Visão.

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