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Tuesday, August 01, 2006

Mitologia do pauperismo

Texto publicado ontem, 31 de Julho, na Dia D:

Um dos argumentos tipicamente dissuasores do capitalismo baseia-se na sua suposta aplicação exclusiva a sociedades abastadas. Outras versões mais comuns da mesma tentativa infrutífera de refutação passam por afirmar que esta forma de organização económica apenas beneficia os ricos, pois aumenta a sua riqueza através da "exploração" dos mais pobres. Tal mundividência deturpada revela, de uma forma bastante ilustrativa, como a análise factual dos que reclamam defender a aplicação de políticas de protecção social é, na verdade, demasiado simplista e pueril quando comparada com as intenções alegadas no seu discurso sobrecarregado de influência marxista.

Deliberadamente viciados a interpretar a economia como um acto bélico, os detractores da liberdade constantemente esquecem que cada transacção económica consciente e voluntária apenas se verifica quando ambas as partes crêem obter de si um benefício, uma vez que seria necessária a recorrência à coacção para que o contrário fosse expectável. O indivíduo x não pode “explorar” o indivíduo y quando ambos concordam e aceitam as condições previstas no contrato estabelecido, seja ele de natureza comercial ou laboral e sejam os indivíduos x e y, alternadamente, ricos ou pobres.

Em paralelo, a economia ressente-se de forma dinâmica quando um dos parâmetros que mais a influencia é significativamente modificado, sendo irrealista presumir que a abusiva acção fiscal e reguladora dos governos não representa um fardo para a sociedade da qual todos – pobres e ricos – são parte integrante. Quem ignora os efeitos de tais escolhas tende a avaliar erradamente os mais desfavorecidos como se estes estivessem isolados do sistema económico sobre o qual são pensadas as propostas a aplicar. Não só esta concepção é uma antítese da realidade como também se omite regularmente que na opção anti-capitalista os pobres não estão isentos de pagar impostos, reduzindo directamente o seu poder de compra, e são constantemente sujeitos a prejudiciais restrições de mercado que os impedem de consumir produtos adaptados à sua realidade financeira – e ao valor que lhes é subjectivamente atribuído – por meros caprichos definidos através de uma decisão fundamentada em critérios políticos.

Outro aspecto convenientemente olvidado é o resultado repelente que os impostos e outras imposições têm sobre o investimento feito num determinado país. A menos que se pretenda negar os benefícios evidentes da entrada (ou permanência) e aplicação de capitais quanto ao preço e à qualidade de produtos e serviços, as oportunidades de emprego existentes e respectivas melhorias a nível da competitividade da sua própria oferta, é bastante evidente que os mais pobres saem claramente lesados numa sociedade em que também os empresários mais ricos vêm a sua liberdade económica reduzida e, como tal, desincentivados da busca permanente pela eficiência na qualidade e distribuição dos recursos – critérios naturais inerentes ao crescimento económico – e obrigados a adaptar a oferta final ao consumidor de forma a cobrir os aumentos artificiais dos respectivos custos.

A suposição recorrente de que o capitalismo menospreza os mais pobres é, portanto, um mito. A sua natureza reside essencialmente na incompreensão sobre a origem da pobreza que, ao contrário do comummente sugerido, não consiste em assimetrias de distribuição mas sim de produção. Os países ricos apenas puderam adquirir tal estatuto através da concessão de maior liberdade aos seus cidadãos para produzir progressivamente bens mais valorizados, permitindo que estes detenham o direito legítimo ao fruto do seu trabalho de forma capitalista, ou seja, com liberdade para o comerciar num mercado também ele livre.

O caminho que Portugal que poderá trilhar, visando o abandono gradual do torpor económico que historicamente tolhe o seu desenvolvimento, é o equivalente aos dos países que, como no caso próximo e recente da Irlanda, transformaram as suas limitações de modo a acolher uma liberalização da economia e, consequentemente, um respectivo aumento da qualidade de vida. Esta via está inteiramente dependente do desejo dos portugueses em serem livres.

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Agradecem-se as simpáticas referências feitas nos blogues Blue Lounge, O Insurgente, A Arte da Fuga e Bodegas.

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