Só a afirmação de que o partido democrata "tomou controlo" da câmara dos representantes (e talvez do senado) denota uma predisposição para imaginar aprovações legislativas nos EUA por meio de voto em bloco, em contraste com um voto por cabeça. Este pressuposto não faz muito sentido onde não há um rei a reunir as cortes como nos antigos regimes feudais, nem uma assembleia da república à portuguesa, na qual uma maioria absoluta garante praticamente tudo e o acto de um deputado votar de forma diferente à do seu partido é quase percepcionado como uma rebelião, tornando-se rapidamente motivo de notícia de capa de jornal. Ocasionalmente, quando a questão a deliberar é considerada sensível a motivações pessoais, os partidos dão "liberdade de voto" aos seus deputados porque estes, na maior parte das vezes, se limitam a bater palminhas ao governo ou, se estiverem na oposição, a contestá-lo de forma colectiva. Quando estão presentes, obviamente.
Declarações como as de Vera Jardim, em que este dizia que os resultados desta eleição põem fim ao "poder praticamente ilimitado" de Bush são, por isso mesmo, anedóticas. Não só porque ignoram que os republicanos não partilham sempre a mesma opinião entre si como também porque esquece que os democratas muitas vezes votam da mesma forma que os republicanos, o que é perfeitamente natural num órgão legislativo de um país que não usa rebanhos para criar as suas leis [alguns exemplos no Blasfémias e no blogue de Greg Mankiw]. O mais curioso é que, de imediato, em afirmações seguintes, refere que não aguarda nenhuma mudança drástica na política externa norte-americana, colocando em risco a lógica do que dizia uma frases atrás. É que se não houver nenhuma mudança drástica, isso só pode significar que o poder ilimitado de Bush prevalece mesmo quando os democratas são a força maioritária no congresso, o que mostra que este afinal não é assim tão ilimitado, mas o resultado visível de um consenso democrático. Ou então que o poder ilimitado de Bush nunca existiu e é apenas uma bonita expressão que convence muita gente das intenções maléficas do grande Satã e serve de libertação de endorfina aos que não conseguem encontrar coisa melhor.
Declarações como as de Vera Jardim, em que este dizia que os resultados desta eleição põem fim ao "poder praticamente ilimitado" de Bush são, por isso mesmo, anedóticas. Não só porque ignoram que os republicanos não partilham sempre a mesma opinião entre si como também porque esquece que os democratas muitas vezes votam da mesma forma que os republicanos, o que é perfeitamente natural num órgão legislativo de um país que não usa rebanhos para criar as suas leis [alguns exemplos no Blasfémias e no blogue de Greg Mankiw]. O mais curioso é que, de imediato, em afirmações seguintes, refere que não aguarda nenhuma mudança drástica na política externa norte-americana, colocando em risco a lógica do que dizia uma frases atrás. É que se não houver nenhuma mudança drástica, isso só pode significar que o poder ilimitado de Bush prevalece mesmo quando os democratas são a força maioritária no congresso, o que mostra que este afinal não é assim tão ilimitado, mas o resultado visível de um consenso democrático. Ou então que o poder ilimitado de Bush nunca existiu e é apenas uma bonita expressão que convence muita gente das intenções maléficas do grande Satã e serve de libertação de endorfina aos que não conseguem encontrar coisa melhor.
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