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Tuesday, January 16, 2007

Eu fui mais colonizado do que tu

Na tentativa de fazer ouvir a sua voz contra o imperialismo, alguns estudantes em Goa, antiga colónia portuguesa na Índia, revoltaram-se e organizaram uma manifestação motivada pela atribuição de um doutoramento honoris causa da Universidade de Goa a Cavaco Silva. Dado que as aspirações políticas de Portugal sobre a actual Índia e a influência directa que a política portuguesa tem sobre a indiana são praticamente nulas, alguns anti-imperialistas portugueses, em vez de mostrarem a sua solidariedade e compreensão para com a causa expressa por estes estudantes e exaltarem o sentimento muito característico de culpa colectiva e nacional em nome dos feitos de gerações passadas, deveriam estar, na realidade, a menosprezar e criticar os acontecimentos ocorridos em Goa. Isto porque qualquer anti-imperialismo que se queira autêntico não deve ser retroactivo e praticado contra quem nunca o exerceu - as gerações portuguesas actuais - ou corre o risco de perder toda a seriedade por andar a combater moinhos de vento, alienar potenciais membros para a causa em questão e danificar importantes relações políticas e comerciais entre países que, em termos de soberania, falam de igual para igual.

Situações como esta são particularmente úteis para diferenciar quem é realmente anti-imperialista de quem, tanto lá como cá, está apenas a usar o rótulo para criar instabilidade, ganhar publicidade internacional e a utilizar eventos menores para redireccionar críticas a outros alvos. Aliás, não existe nenhuma outra grande razão para os estudantes empunharem cartazes em inglês. Se tivessem realmente razão de queixa, não estivessem centralmente preocupados em que o resto do mundo os compreendesse directamente e não tivessem outras coisas em mente, os cartazes dos estudantes daquele que é o estado mais rico da Índia estariam sintomaticamente escritos na língua da potência colonizadora.

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