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Saturday, April 12, 2008

com as próprias mãos

X está internada há mais de uma semana por ter sido esfaqueada pelo (ex-?)namorado da filha, tendo ficado com o fígado e o baço perfurados. Também a filha ficou com uma perfuração num pulmão como resultado da mesma agressão, embora tenha tido alta no dia anterior. O perpetrador é reincidente; já tinha cometido algo idêntico em Novembro. Foi preso e celeremente presente a um juíz, mas saiu em liberdade, sem qualquer medida de coacção aplicada. Foi feita nova queixa às autoridades - com o ânimo próprio de quem se encontra entre a espada e a parede e não tem qualquer esperança em ver nada resolvido - mas o homem continua à solta e a lançar ameaças de morte, as quais aparentemente ainda não se concretizaram por mero acaso. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), na falta de melhor conselho e para desespero de X, recomenda a mudança imediata de residência. Alguns presentes sugerem que a melhor solução é adquirir uma arma para matar o meliante da próxima vez que este as invective, embora isso provavelmente signifique que serão as próprias vítimas a ser detidas, apesar de agirem em legítima defesa, corrigindo um problema para o qual já a justiça portuguesa deveria ter encontrado uma resolução definitiva há muito tempo atrás. Complicado. Arranjar uma arma de fogo de forma legal é extremamente burocrático, senão mesmo impossível na grande maioria das circunstâncias, restrições estas que são impostas para alegadamente salvaguardar a segurança dos cidadãos. Restrições essas que não impediram um homem de esfaquear duas mulheres, nem agiram de forma a prevenir futuras tentativas de assassinato. Assim como não lhes permitem protegerem-se a si mesmas com algo mais do que uma faca de cozinha. De um dos lados da sala, um dos mais anciãos solta o comentário que provavelmente terá passado pela cabeça de muitos dos suficientemente idosos para partilharem da mesma opinião: "Isto no tempo do Salazar não era assim". Os mais jovens olham de forma desconfortável entre si, como se não tivessem outra solução senão aquiescer tacitamente, quando se pressuporia, de forma implícita, que, como representantes naturais do paradigma político actual e da sociedade contemporânea, teriam de possuir três ou quatro argumentos de algibeira que contrapor de imediato.

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