A Associated Press reporta que o senador do Nebraska acaba de processar Deus. É verdade, processar Deus. Não se poderá dizer que é estranho numa era de positivismo legal, mas não deixa de ser curioso. E é curioso apenas por uma razão. Este senador do Nebraska, Ernie Chambers, acusa Deus de ser responsável por milhões de mortos ao longo da história da humanidade e todo o género de desastres naturais, dado que terá permitido, através da sua passividade, que estes eventos ocorressem. A notícia não o aponta mas todo este raciocínio se baseia numa simples premissa: Deus tem poder ilimitado para intervir no mundo material - que Ele próprio terá criado - e o dever moral de o fazer, podendo ser visto como negligente em caso contrário. A concretizar-se este processo judicial, o réu dificilmente poderá escapar a ser apresentado em tribunal já que, para além de omnipotente (pode Deus criar uma pedra tão pesada que nem Ele mesmo a pode levantar?), é também omnipresente. E, tendo em conta, que no Nebraska - se não for julgado a nível federal - se pratica a pena de morte, o mais provável é que a ela seja condenado por, alegadamente, ter contribuído para a morte de milhões de ser humanos. Neste termos, Deus é, basicamente, um genocida da pior espécie. Este tipo de conclusões merece alguma consideração. Será que queremos realmente matar quem nos criou e que, pelo seu poder, mantém todo o Universo a funcionar, incluindo os sistemas legais humanos que o condenam? E se Ele é realmente omnipotente, de que vale condená-lo se Ele pode escapar e a pena é inaplicável, sendo apenas um mecanismo que provavelmente ateará a sua ira (relembro, de acordo com a teoria, o tipo é omnipotente e não tem grandes padrões morais)? Não sei porquê, mas não parece assim tão boa ideia.
É claro que tudo isto não passa de uma acção simbólica do senador Ernie Chambers com o objectivo de provar que no sistema judicial americano, qualquer pessoa, pelas razões mais frívolas, pode ser processada por qualquer outra pessoa. Mas a aceitar a verdade da Santíssima Trindade - de que Deus existe simultaneamente sob três formas, Pai, Cristo e o Espírito Santo - vale a pena pensar nas suas consequências, quando conjugadas com a ideia da supostamente anunciada segunda vinda de Cristo à Terra. A verdade é que, a aparecer por planos terrenos na condição de humano, Cristo seria provavelmente morto pelas mais diversas razões, incluindo as acima anunciadas. Coisa que, aliás, não seria propriamente novidade dando crédito aos registos teológicos e históricos de há dois milénios atrás. Esta conjugação subtil de todos os princípios constituintes da fé cristã e da previsibilidade das contradições cognitivas da natureza humana, que conduzem a um destino inevitável (conhecido e assimilado de antemão, como em qualquer sistema determinista) do assassinato da figura máxima da religião por si mesmo pregada, é talvez a mais extraordinária consistência lógica interna do Cristianismo. Se isto significa algo mais, provavelmente ficará ao critério pessoal.
É claro que tudo isto não passa de uma acção simbólica do senador Ernie Chambers com o objectivo de provar que no sistema judicial americano, qualquer pessoa, pelas razões mais frívolas, pode ser processada por qualquer outra pessoa. Mas a aceitar a verdade da Santíssima Trindade - de que Deus existe simultaneamente sob três formas, Pai, Cristo e o Espírito Santo - vale a pena pensar nas suas consequências, quando conjugadas com a ideia da supostamente anunciada segunda vinda de Cristo à Terra. A verdade é que, a aparecer por planos terrenos na condição de humano, Cristo seria provavelmente morto pelas mais diversas razões, incluindo as acima anunciadas. Coisa que, aliás, não seria propriamente novidade dando crédito aos registos teológicos e históricos de há dois milénios atrás. Esta conjugação subtil de todos os princípios constituintes da fé cristã e da previsibilidade das contradições cognitivas da natureza humana, que conduzem a um destino inevitável (conhecido e assimilado de antemão, como em qualquer sistema determinista) do assassinato da figura máxima da religião por si mesmo pregada, é talvez a mais extraordinária consistência lógica interna do Cristianismo. Se isto significa algo mais, provavelmente ficará ao critério pessoal.
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