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Wednesday, November 24, 2010

a precaridade da função pública e tal

A propósito da greve de hoje:
Já cruzando dados sobre salários por qualificação na função pública e no sector privado, a conclusão é que em média quem não trabalha para o Estado fica a perder: em média os salários privados rondam os 1008 euros, em comparação com a média de 1045 euros dos perto de 330 mil trabalhadores incluídos no sector da administração pública, defesa e segurança social obrigatória.
Agora só restaria fazer comparações estado vs. sector privado para a produtividade exigida a funcionários com o mesmo salário, o risco médio de perder o emprego e as facilidades de progressão na carreira.

Monday, November 22, 2010

Kareem Amer

Há uns anos coloquei neste blogue, por baixo da secção de ligações para outros blogues, um pequeno aviso que chamava à atenção para o caso de Kareem Amer, um jovem egípcio que foi sentenciado a quatro anos de prisão devido, entre outras coisas, a promover o ateísmo, o que é uma afronta implícita ao Islão, e criticar o presidente do Egipto. Depois de ter sido abandonado pela família, sujeito a ameaças de morte, torturado por guardas prisionais e mantido tão isolado quanto possível do mundo exterior, Kareem foi finalmente libertado no passado dia 15:
Kareem Amer was set free yesterday’s night, Monday 15th of November 2010, after spending 1470 days in prison. (...)

Kareem refused to talk to anyone at the moment, however he reassures all his supporters worldwide that he’s fine. The brave man wants to have a little privacy for a week before he can say anything. (...)

FreeKareem.org staff wants to take this precious chance, and thanks everyone who supported Kareem through his honourable struggle against an unfair trial and an oppressive imprisonment. Thanks for all the activists who supported, through 4 full years and 10 days, our cause for Kareem! We can’t name anyone specifically here, not only because we’re overwhelmed, but also because the number of supporters is pretty huge. Thanks for everyone who has protested, rallied, supported, donated, written, shared, or even tweeted anything about Kareem from all over the world! Thank you very much!
Suponho que já posso, por fim, remover o aviso. Agora é só esperar que algum país relativamente livre tenha a bondade de lhe conceder asilo político.

Sunday, November 21, 2010

Problemas no paraíso

Um dos argumentos mais utilizados para refutar a ideia de que o orçamento proposto pelo PS não deveria ter sido aprovado na Assembleia é o de que a inexistência imediata de um orçamento de Estado para 2011 provocaria incerteza dos mercados financeiros em relação a Portugal e uma crise política, com a demissão ameaçada do governo, o que, por sua vez, conduziria a uma incerteza ainda maior, e, consequentemente, a um agravamento da crise económica. Este argumento é muito bonito e foi utilizado durante muitas semanas, mas sempre teve bastantes buracos:

1 - Para começar, esquece implicitamente que *já* existia uma grande incerteza acerca de Portugal nos mercados financeiros. Para que este argumento fosse aplicável, seria necessário não só mostrar que a incerteza decorrente de uma não-aprovação seria maior, como que isso seria particularmente relevante a médio prazo - a grande razão pela qual os juros pedidos pelos credores do estado português são tão elevados é o facto de que o estado português tem vindo a gastar demasiado dinheiro de forma insustentável. Um governo frugal com um orçamento credível em propostas de redução de despesa estatal não precisaria de se financiar (tanto) nos mercados internacionais, sendo isto, por si só, uma forma de reduzir o risco de incumprimento e, consequentemente, as taxas de juro exigidas de cada vez que o governo português decidisse vender dívida.

2 - Este argumento pode ser utilizado para qualquer situação em que um governo que deseja aprovar um orçamento, seja ele bom ou mau, porque ninguém sabe que orçamento (e algumas vezes, governo) surgirá de seguida, se o primeiro não for aprovado - o que gera incerteza entre os investidores. É, portanto, impossível medir a qualidade de um orçamento apenas pela incerteza que uma recusa em aprová-lo geraria nos mercados financeiros, uma vez que a única coisa que a estes importa é saber se o governo se encontra em condições de conseguir pagar as suas dívidas. A ausência de um plano para o fazer alimenta sempre a incerteza sobre o futuro.

Qualquer argumento que pode ser tão flexivelmente utilizado a favor de algo e do seu oposto não é muito cogente porque não permite distinguir entre os dois e pode ser rotineiramente utilizado para aprovar orçamentos objectivamente maus. Para ilustrar esta ideia, basta relembrar que desde o início da crise até ao primeiro semestre deste ano se tem vindo a ouvir o primeiro-ministro e a sua clique a afirmar que os orçamentos bons (leia-se, "considerados bons pelo governo") eram os expansionistas porque nos livrariam da crise económica. Quando os mercados internacionais começaram a perceber que o governo português não tinha nenhum plano sustentável para cumprir os pagamentos da dívida pública, os orçamentos considerados bons pelo governo passaram a ser os "realistas" e austeros (do género sugerido por Manuela Ferreira Leite na campanha eleitoral anterior, e que pelo qual sempre foi vilipendiada pela PS). Num curto período de tempo, orçamentos maus com propósitos diametralmente opostos foram considerados ideais pelo mesmo governo.

3 - O governo esteve sistematicamente a tentar colocar Passos Coelho entre a espada e a parede, avisando acerca dos perigos que decorreriam de uma eventual falha em aprovar este orçamento. Esta é a marca clássica de um mau governo. Se um governo minimamente competente estivesse confiante num orçamento satisfatório e este fosse satisfatório também para qualquer observador externo, não haveria necessidade de tentar acusar a oposição de maneira antecipada para utilizar o argumento da estabilidade política como forma de chantagem. Esta é uma das razões pelas quais continuou a especulação com a dívida portuguesa: se fosse assim tão evidente que o risco de incumprimento é reduzido, não haveria forma de especular. No passado mês de Outubro ouviu-se o governo de Sócrates ameaçar que o país mergulharia no caos se este orçamento não fosse aprovado, que o governo aguardava uma tomada de decisão suficientemente responsável do PSD para aprovar o OE e, mais recentemente, que o PSD só estaria a planear viabilizar o orçamento porque não tem alternativas reais para o país e não pretende governar neste momento. Esta panóplia de argumentos assegurou que, independentemente da decisão da bancada social-democrata, o governo já tinha um argumento para lavar as mãos, fosse culpando o PSD por não aprovar o OE, provocando uma crise política, ou por aprovar o orçamento, o que implicitamente significaria que este é o único orçamento possível, totalmente inevitável, e que ninguém nas mesmas circunstâncias conseguiria fazer melhor.

Com o país à beira de implodir, o governo esteve e está permanentemente preocupado em fazer jogos políticos e assegurar estrategicamente uma imagem impoluta perante o eleitorado. Se eu fosse um investidor internacional com conhecimento da situação portuguesa, estaria muito preocupado e preferiria colocar recursos na Geórgia ou em Chipre a enterrá-lo aqui. Digamos que não é muito surpreendente que, mesmo depois de o orçamento ter sido aprovado na assembleia, as taxas de juro exigidas para a compra de dívida estatal tenham continuado a subir até atingirem sucessivos máximos históricos.

4 - Não há qualquer razão para julgar que este é um governo capaz de executar um orçamento, ainda que este fosse aceitável. A situação do país chegou a este ponto precisamente porque a pessoa que está à frente deste governo não teve carácter suficiente para ser realista e honesta em nenhum ponto das duas legislaturas, ou sequer a coragem política de efectuar os cortes necessários na despesa estatal. Não há razão para acreditar que este governo deixou subitamente de ser socialista e incompetente. Na verdade, eventos como o aumento da despesa estatal até Setembro, quando o governo já andaria, supostamente, a tentar sinalizar aos mercados o seu compromisso com o acerto das contas do Estado, ou a derrapagem da despesa estatal em relação ao orçamento previsto para este ano - em quase dois mil milhões de euros - são excelentes indicadores de que o mais provável será que a despesa real não estará controlada em 2011 e não corresponderá às expectativas que o governo gostaria que os investidores tivessem.

Saturday, November 20, 2010

spam


A legenda do eixo das abcissas também podia dizer "Computadores que fazem parte de uma botnet".

Friday, November 19, 2010

ano inteiro


Há muita gente por aí que se sente indignada e furiosa com a concessão de tolerância de ponto na Administração Pública para o dia de hoje. A razão apresentada é a de que já existiram suficientes tolerâncias de ponto este ano e que no estado em que se encontra a economia portuguesa, não há justificação para mostrar nenhuma espécie de tolerância com a função pública. Se me perguntam a mim, não me parece que o excesso de tolerâncias de ponto seja razão para indignação. Quando muito, motivos para indignação serão a falta de tolerâncias de ponto e respectivos limites de aplicabilidade.

Thursday, November 04, 2010

Porque me canso do futebol

Quando os adeptos de alguns clubes portugueses, nomeadamente do Benfica e do Sporting, se queixam da parcialidade das arbitragens em Portugal, há geralmente uma suposição implícita de que o mesmo não seria possível em competições estrangeiras, como as ligas europeias ou as competições internacionais da UEFA e da FIFA. Em parte devido à falta de atenção com que estas pessoas seguem outros campeonatos de destaque e as competições da UEFA (provavelmente por ser infrequente ver equipas portuguesas nas fases finais destas mesmas), esta ideia sobrevive, mesmo quando uma observação mais detalhada demonstraria o contrário.

Aqui bem perto, a liga espanhola é um dos melhores exemplos. Nas mais recentes temporadas, é difícil que não haja um jogo do Barcelona onde um jogador da equipa adversária não é indevidamente expulso, onde não há um golo (vital) do Barcelona que é marcado em fora-de-jogo, um golo válido da equipa contrária anulado, um penalti inventado/rebuscado a favor do Barcelona, uma grande penalidade a favor do adversário que fica por marcar ou mesmo uma adversário que alinha de início com a equipa de reservas. Aliás, o próprio percurso do Barcelona das últimas temporadas nas competições europeias é mais do que meramente estranho. Só nesta temporada, já se conta a patada monumental (não sancionada) de Valdés a N'Doye e a simulação de apito de Pinto no jogo contra o Copenhaga (levemente sancionado a posteriori com dois jogos de suspensão -- Pinto é o guarda-redes suplente). Se recuarmos no tempo podemos ver, por exemplo, os teatros de Sergio Busquets na semi-final contra o Inter em 09/10, que levaram à expulsão de Motta, os três ou quatro penaltis que ficaram por marcar a favor do Chelsea na semi-final da temporada 08/09 ou a bizarra história da equipa de arbitragem da final de 2006 que usava camisolas do Barcelona, quando estes venceram a liga dos campeões.

Todavia, esta entrada é sobre a partida de ontem do grupo G que opôs o AC Milan ao Real Madrid, que terminou com um empate a duas bolas, e que foi um excelente exemplo de tudo isto. O segundo golo do Milan foi claramente marcado em fora-de-jogo. Gattuso deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos. Abate agrediu Cristiano Ronaldo e não recebeu sequer um amarelo. O mesmo se passou com a entrada por trás de Ibrahimović a Sergio Ramos, sem qualquer intenção de jogar a bola. O clima do jogo é ilustrado pela substituição de Ronaldinho por Inzaghi, após a qual este último se sentiu perfeitamente à vontade para empurrar Xabi Alonso pelas costas ao chegar atrasado a um lance. O Milan podia facilmente ter acabado o jogo com oito jogadores, mas terminou com onze. Enquanto o árbitro ia poupando no uso de cartões para as sucessivas entradas duras dos milaneses, em contraste, praticamente toda a defesa do Real Madrid (Sergio Ramos, Pepe e Ricardo Carvalho) ficou amarelada sem piedade, à excepção de Marcelo, à primeira falta merecedora de disciplina. O árbitro deste encontro não é um novato, mas sim o famoso Howard Webb que apitou a final do campeonato do mundo deste ano, na qual a selecção holandesa decidiu jogar artes marciais em vez de futebol, e que, mesmo assim, graças à complacência de Webb, conseguiu o feito notável de acabar com dez (Heitinga foi expulso).

Momento alto da final: De Jong decide fazer uma massagem peitoral a Xabi Alonso e recebe um severíssimo amarelo

Este Milan parece ser uma sombra daquilo que era há umas temporadas atrás, e isso ficou bastante claro na última jornada no Santiago Bernabéu. No entanto, como jogar uma Liga dos Campeões sem o Milan, que é o segundo clube com mais troféus em toda a história da competição, perde grande parte do interesse, seria de esperar que a organização tentasse encontrar uma forma de prolongar a estadia do Milan na competição. Em adição ao que se passou na partida com o Real Madrid, no outro jogo do grupo G, o Auxerre, último classificado do grupo, venceu o Ajax com um golo que parece ter sido marcado também em fora-de-jogo, ao minuto 83. A vitória do Auxerre complica bastante as contas para o Ajax, que ainda tem de jogar em San Siro e com o Real Madrid em casa, e continua a deixar tudo em aberto para o Milan.

Mourinho disse na conferência de imprensa após o jogo que este tinha sido bom para aprender e entender o que era jogar na Liga dos Campeões - e isso é certo. Enquanto dirigentes como Joseph Blatter e Michel Platini continuarem a insistir que o erro humano se deve sobrepor à tecnologia simplesmente para manter os interesses instalados, seja para continuar a empregar árbitros e fiscais de linha, comentadores desportivos que vivem o dia seguinte a discutir os lances mal arbitrados, vendedores de aspirinas, ou representantes dos clubes que podem comprar as suas influências junto dos árbitros, nunca será possível ter um jogo de futebol onde aquilo que mais importa é efectivamente o futebol. As únicas pessoas que podem ser, por princípio, contra uma tecnologia, seja ela qual for, que facilite o processo de decisão de foras-de-jogo, golos sobre as linhas, marcação de grandes penalidades, etc. de forma transparente e inequívoca são aquelas que estão interessadas em ver um futebol em que as regras de jogo podem ser ocasionalmente contorcidas para servir interesses secundários que não têm absolutamente nada que ver com o espectáculo que se deve jogar dentro do campo. Isto não é futebol. É simplesmente uma trafulhice que faz com que qualquer partida possa ser sistematicamente dominada por trapaceiros e leve as equipas contrárias a serem prejudicadas caso não optem por se comportar da mesma forma.

Tuesday, November 02, 2010

I want everyone to remember *why they need us*

Strategic defence review published
The government's Strategic Defence and Security Review was published this afternoon following a statement by the Prime Minister to Parliament. Read on for a summary and to download the review.

The Strategic Defence and Security Review, which sets out how the government will go about securing Britain in an age of uncertainty, has been published today. In the review, the government has taken decisions on its defence, security, intelligence, resilience, development and foreign affairs capabilities.
Uma era de incerteza, claramente em oposição a outras eras, em que tudo era inteiramente seguro e certo.

Tuesday, October 05, 2010

centenário da república

Yay.

There and Back Again

Good news, everyone!

Em Junho comentei aqui uma projecção da Ernst & Young que estimava que o crescimento da economia portuguesa se situaria em -1,5% em 2011 e apenas voltaria a mostrar um valor positivo, 1,1%, em 2012. Uma nova projecção, desta vez da Standard & Poor's, aponta para uma recessão de 1.8% em 2011 e uma estagnação em 2012. Isto significa que, a verificarem-se estas estimativas mais recentes, o português médio vai ter uma qualidade de vida substancialmente pior em 2012 do que as projecções independentes (por razões que deveriam ser evidentes, as previsões do governo não têm credibilidade alguma) anteriores anteviam e, escusado será dizer, muito pior do que em 2008, quando começou a crise financeira. Estes números não são particularmente animadores quando conjugados com as expectativas do Comité das Autoridades Europeias de Supervisão Bancária para o desemprego em caso de recessão em 2011, a qual, neste cenário, poderia elevar a taxa até quase 13% em 2012. Actualmente, a taxa de desemprego em Portugal é a quarta mais elevada da OCDE.

No meio de tudo isto, Portugal, que está essencialmente estagnado há uma década, tem a honra dúbia de ser o nono país mais pobre da União Europeia (ou, provavelmente, já o oitavo) e uma carga fiscal que, tal como o desemprego, atinge máximos históricos [este artigo do i é do mês de Julho, por isso não inclui cálculos relativos o novo máximo histórico trazido pela última vaga de aumentos tributários anunciados em Setembro] e deverá andar, por esta altura, no topo da tabela, a seguir aos países escandinavos, França e Bélgica. Talvez seja um bom momento para recordar que ainda em Julho deste ano, José Sócrates dava demonstrações do universo paralelo em que ele e o seu governo vivem, dizendo que "a economia portuguesa foi a que melhor resistiu à crise. Basta olhar para os números" e que a ideia de que Portugal se encontra em crise profunda era "infantil e politiqueira". Para deitar água na fervura, de acordo com as últimas estatísticas disponíveis, a taxa de homicídio em Portugal é a maior da Europa ocidental.

Em Portugal, as pessoas não gostam de ter de pensar nestas coisas, preferindo imaginar que tudo se irá resolver de alguma forma, e rapidamente confundem uma exposição de meros factos negativos acerca do estado do país com falta de espírito patriota. Contudo, talvez devesse começar a ser óbvio, por esta altura, que manter um regime socialista no poder décadas a fio, enfiar sistematicamente a cabeça na areia e acreditar ingenuamente que bastam optimismo irrealista e confiança para obter bons resultados não será grande estratégia. Um país de dimensões regulares que suporta uma população de milhões, mas que tem um terço dos seus nacionais a residir no estrangeiro e praticamente só consegue atrair emigrantes activos vindos dos PALOPs, Brasil e Europa de Leste não está a fazer qualquer coisa como deve ser.

Adenda: O FMI está agora a projectar uma contracção de 1.4% para 2011.

Friday, October 01, 2010

manco de Lepanto

Don Quixote de Gustave Doré (1863)

"La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre; por la libertad, así como por la honra, se puede y debe aventurar la vida, y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres." [segunda parte, capítulo LVIII]

Tuesday, September 14, 2010

Gavin de Becker

A gravação é de 11 de Setembro de 2007:


Sunday, September 05, 2010

hierarquia de culturas

Descoberto numa ficha informativa de português do 9º ano (negritos meus):

"Cerca do século V d.C., os povos bárbaros invadem a Península Ibérica. Dentre eles predominaram os Visigodos e os Suevos. De cultura inferior à dos povos dominados, aceitaram a língua destes que, pouco a pouco, se vai fraccionando conforme a evolução que cada povo invasor, em contacto com o autóctone, vai imprimindo ao latim vulgar. (...)

Em 711 produz-se a invasão árabe. Em muito pouco tempo os Árabes ocupam quase toda a Península Ibérica. A sua cultura é superior à dos Visigodos e, porventura por isso, a sua língua deixou marcas maiores na nossa ao nível do vocabulário relacionado com a agricultura (...), a guerra (...), as ciências (...), a construção (...), jardinagem, etc."

Mais abaixo, outra pérola interessante, especialmente tendo em conta que ao longo da ficha há várias referências à "nossa língua" e à "conquista da nossa independência nacional":

"D. João I e os seus filhos continuam uma política cultural de consolidação da língua portuguesa no caminho do aprofundamento da sua autonomia, tendo já consciência que a segurança da independência nacional passava também por aí"

Se um país precisa de "aprofundar a autonomia" da língua que utiliza com o propósito especifico de solidificar a independência nacional, será que esse país é assim tão diferente daqueles de que se pretende diferenciar? Este processo artificial de alteração da língua para criar um afastamento em relação a outras comunidades indistinguíveis que, por obra do acaso, ficaram noutra jurisdição política é precisamente o oposto do que o governo actual está agora a tentar - um processo artificial de alteração da língua para fingir que o português de Portugal e o português do Brasil não estão a divergir naturalmente.

Thursday, September 02, 2010

É polémico não querer ser roubado II

Alguém da TSF deve ter lido esta minha entrada. Hoje foi publicada esta outra notícia:

Estado perdeu mais de mil milhões de euros em impostos

Uma auditoria da IGF revela que o Estado deixou escapar mais de mil milhões de euros em dinheiro de impostos por causa de milhares de processos que prescreveram o ano passado.

O relatório da Inspecção-geral de Finanças (IGF) avança algumas explicações para a dificuldade em despachar os processos a tempo e horas.

"Perdeu"? "Deixou escapar"? Quanto dinheiro é que esta gente recebe do Komintern?

Wednesday, August 25, 2010

Revenge of the Nerds II

Depois das inovações relativas ao Teraflops Research Chip, a Intel continua a fazer das suas:

An Experimental Chip From Intel that Can Move 50Gbps

"Intel Corporation announced an important advance in the quest to use light beams to replace the use of electrons to carry data in and around computers. The company has developed a research prototype representing the world's first silicon-based optical data connection with integrated lasers. The link can move data over longer distances and many times faster than today's copper technology; up to 50 gigabits of data per second. This is the equivalent of an entire HD movie being transmitted each second."

Thought-controlled computers on the way: Intel

Computers controlled by the mind are going a step further with Intel's development of mind-controlled computers. Existing computers operated by brain power require the user to mentally move a cursor on the screen, but the new computers will be designed to directly read the words thought by the user.

Intel scientists are currently mapping out brain activity produced when people think of particular words, by measuring activity at about 20,000 locations in the brain. The devices being used to do the mapping at the moment are expensive and bulky MRI scanners, similar to those used in hospitals, but senior researcher at Intel, Dean Pomerlau, said smaller gadgets that could be worn on the head are being developed. Once the brain activity is mapped out the computer will be able to determine what words are being thought by identifying similar brain patterns and differences between them. (...)

If the plans are successful users will be able to surf the Internet, write emails and carry out a host of other activities on the computer simply by thinking about them. Director of Intel Laboratories, Justin Ratner, said it is clear humans are no longer restricted to using a keyboard and mouse, and mind reading is the "ultimate user interface." He said he is confident any concerns about privacy will be overcome.

While many able-bodied computer users may hesitate to adopt a technology that operates a computer by reading their minds, people who are unable to use a keyboard or a mouse through disability should find the new technology gives them much more freedom and opportunities for communicating.

Agora só falta esperar pelo ódio/inveja prémio que a União Europeia lhes vai dirigir dar na forma de "patrocínio do contribuinte europeu".

Monday, August 23, 2010

É polémico não querer ser roubado

Empresas alemãs desviaram 800 milhões para bancos na Suíça
Um CD com o nome de 250 empresas alemãs que terão depositado cerca de 800 milhões em bancos na Suíça para fugirem aos impostos está a provocar polémica na Alemanha.

O CD com o nome das 250 empresas que terão depositado dinheiro na Suíça para fugir aos impostos foi entregue por e-mail ao ministro das Finanças de uma região no sul da Alemanha.
Não é a primeira vez que o governo federal alemão (ou os regionais) se dispõe(m) a comprar informação roubada para combater a evasão fiscal, o que não deixa ser macabramente irónico - gastar dinheiro dos contribuintes para sacar mais dinheiro aos contribuintes. Na última hiperligação, gosto em particular da frase "A DSTG [Deutsche Steuer-Gewerkschaft] reclama que todos os anos se perdem 30 mil milhões de euros devido à evasão fiscal". Engraçado, eu também acho que perdi uns belos milhões de euros só no ano passado quando decidi não assaltar aquela sucursal do BCP que está ali ao fundo da rua.

Sunday, August 08, 2010

Sugestões para a próxima versão do Magalhães II

Uma actualização desta notícia:

Second Student Sues School District Over Webcam Spying
A webcam scandal at a suburban Philadelphia school district expanded Tuesday to include a second student alleging his school-issued laptop secretly snapped images of him.

The brouhaha commenced in February, when a student of Lower Merion School District was called into an administrator’s office. Sophomore Blake Robbins was shown a picture of himself that officials suggested was him popping pills. The family claimed it was candy.

An invasion-of-privacy lawsuit followed, alleging the district had snapped thousands of pictures of its students using webcams affixed to the 2,300 Apple laptops the district issued. Some of the images included pictures of youths at home, in bed or even “partially dressed,” (.pdf) according to a filing in the case. Students’ online chats were also captured, as well as a record of the websites they visited. (...)

The tracking software on Hasan’s computer wasn’t turned off until February 18, when Robbins filed suit, the suit alleges, claiming that at least 469 photographs and 543 screenshots were taken by Hasan’s computer without his knowledge. Hasan’s suit said the images “were taken without Jalil’s knowledge, without his authorization and to his utter shock, dismay, panic, embarrassment and disgust.” (...)

The district said the cameras were activated only when a laptop was reported stolen or missing — assertions lawyers suing the district dispute.
Federal prosecutors will not file charges against a school district or its employees over the use of software to remotely monitor students.

U.S. Attorney Zane David Memeger says investigators have found no evidence of criminal intent by Lower Merion School District employees who activated tracking software that took thousands of webcam and screenshot images on school-provided laptops.

Saturday, August 07, 2010

"But all was not lost, for from the ash rose a great bird"

Mozilla Firefox (Response from Microsoft)
Microsoft's head of Australian operations, Steve Vamos, stated in late 2004 that he did not see Firefox as a threat and that there was not significant demand for the feature set of Firefox among Microsoft's users. Former Microsoft Chairman Bill Gates has used Firefox, but has commented that "it's just another browser, and IE [Microsoft's Internet Explorer] is better."
Firefox To Make History, About To Surpass IE in Europe
Firefox is nearly as popular as IE in Europe now, Chrome and Opera are vastly more popular than in the U.S, while Europeans could care less about Safari. IE is listed with 40.89%, Firefox with 39.47% (the trend indicates that Firefox may jump past IE next month), Chrome with 10.82%, Opera with 4.6% and Safari with 3.3%. By the way, Chrome is most popular in Africa, where it stands at 10.99%.

Firefox’ popularity in Europe is based on an obscenely high market share in Germany where the browser holds 60.88% of the market, according to StatCounter. IE has only 25.0% in Germany and Chrome only 5.48%, Opera 4.6% and Safari 2.9%. (...)

So why would we care about Europe? Because the browser developers have to care: North America has an estimated Internet population of 259 million users, while Europe is at about 426 million users. Conceivably, the European market is much more interesting and important to Microsoft, Mozilla and Google than North America.
Embora não afecte muito significativamente as conclusões, o StatCounter corrigiu ligeiramente as quotas de mercado para a Europa - o Firefox teve aproximadamente 38% em vez de 39%, e o IE 43% em vez de 41%. É relevante notar que o IE a que Steve Vamos e Bill Gates se referem na citação anterior é o famoso (pelas piores razões) Internet Explorer 6, que não tinha separadores, apoio para feeds, bloqueador de pop-ups, filtro de phishing ou barra de pesquisa, mas, para compensar, estava (e ainda está) recheado de buracos de segurança, era incrivelmente lento e tinha uma interpretação muito sui generis dos padrões da Web.

Thursday, July 29, 2010

O cão comeu o meu TPC


Num país onde até os casos de elevado mediatismo, como o da Casa Pia, que se arrasta pela Justiça há praticamente oito anos, demoram anos até que se chegue a um veredicto final, não deixa de ser curioso que a justificação dada pelos procuradores do Ministério Público para não interrogarem José Sócrates no âmbito do caso Freeport tenha sido a de "falta de tempo". Alguns comentadores poderão afirmar que isto é ilustrativo do grau de imunidade que qualquer político português bem posicionado possui, mas a verdade é que me parece bem mais indicativo do tipo de elite que há décadas povoa as altas esferas do Estado português, a qual parece preferir negligenciar as suas devidas funções a colocar em risco o seu estatuto na hierarquia actual. E isso é infinitamente mais preocupante para o futuro do país do que a impunidade de que um qualquer primeiro-ministro temporário possa usufruir.

Saturday, July 17, 2010

Homossexualidade em Cuba

Descobri recentemente que o regime cubano, um dos regularmente citados faróis da tolerância e igualdade para muitos progressistas, define explicitamente a palavra matrimonio como (artigo 36):
la unión voluntariamente concertada de un hombre y una mujer con aptitud legal para ello, a fin de hacer vida en común.
É relevante frisar que não só está a exclusão de um contrato com a denominação de casamento imbuída na constituição, como Cuba não proporciona, presentemente, qualquer reconhecimento de uniões civis entre parceiros homossexuais. Na verdade, como as próprias pessoas mais ingénuas e apoiantes do regime comunista noutros aspectos reconhecem, o governo cubano já tem um longo historial de perseguição aos homossexuais:
Mas isso não é desculpa para apagar a perseguição sofrida pelos gays cubanos. Estima-se que mais de 10 mil deles foram expulsos do país. Além disso, 22 anos após a revolução, em 1971, a homossexualidade foi declarada ilegal por Fidel, que chegou a chamá-la de "patologia anti-social".

Antes disso, Fidel disse em 1965: "Não acredito que algum homossexual tenha a envergadura ou a conduta moral necessária para ser considerado um bom revolucionário. Homossexuais não devem ocupar posições em que possam influenciar a nova geração".
Outros, que não tiveram a sorte de ser expulsos do país, eram simplesmente enviados para campos de trabalhos forçados:
In the name of the new socialist morality, homosexuality was declared illegal in Cuba and typically punishable by four years’ imprisonment. Parents were required to prevent their children from engaging in homosexual activities and to report those who did to the authorities. Failure to inform on a gay child was a crime against the revolution.

Official homophobia led, in the mid-1960s, to the mass round-up of gay people, without charge or trial. Many were seized in night-time swoops and incarcerated in forced-labour camps for “re-education” and “rehabilitation”. A few disappeared and never returned.

One gay man recalls: “We were taken to Camagüey, at the other end of the island. It was a camp surrounded with barbed wire, with watchtowers manned by guards with machine guns.” (...) The gay prisoners were often beaten, and occasionally raped, by criminal gangs in the camps. Some gays were killed; others committed suicide.

At the First National Congress on Education and Culture in 1971, the cultural repression of homosexuality intensified. It was decreed that homosexuals were “pathological”, “antisocial” and “not to be tolerated” in any job where they might “influence youth”. Widespread anti-gay purges followed in schools, universities, theatres and the media. Gay professors, dancers, actors and editors ended up sweeping roads and digging graves. (...) Today, the legal status of lesbian and gay people in Cuba is still ambiguous. Amnesty International regards the lack of clear, categorical civil rights for homosexuals as being tantamount to illegalisation.

While the 1979 penal code formally decriminalised homosexuality, gay behaviour causing a “public scandal” can be punished by up to twelve months’ jail. This vague law, which is open to wide interpretation, has often been used to arrest gay men merely because they happen to be effeminate and flamboyant.
Nada disto deveria constituir uma surpresa porque, apesar da propaganda corrente na maior parte dos países ocidentais, em nenhum dos países comunistas há  sequer um reconhecimento de qualquer tipo de união civil entre pessoas do mesmo sexo. Na União soviética, o primeiro país que se classificava a si mesmo como comunista, ser homossexual (ou a simples acusação de o ser) era motivo para ser condenado a uma pena de cinco anos em campos de trabalhos forçados. Na China, o pico da repressão deu-se precisamente durante a Revolução Cultural.

Da próxima vez que o caro leitor julgar que a extrema-esquerda apoia os direitos individuais de pessoas com uma orientação sexual pouco ortodoxa, pense novamente. A sua presente associação e apoio a movimentos homossexuais deve-se muito mais a uma mudança de estratégia política do que a uma motivação de cariz ideológico. Precisamente nesse sentido, é interessante notar que, mais recentemente, a propaganda do regime - que serve de guia para a propaganda comunista no resto do mundo - passou a adoptar uma postura mais alinhada com aquilo que a comunidade internacional pretende ouvir:
Porém, em 1992, perguntado sobre a situação dos gays em Cuba, Fidel deu outra resposta: "Nunca promovi políticas contra homossexuais. Não acredito que a homossexualidade seja uma degeneração. Sempre tive uma abordagem mais racional, considerando que a homossexualidade seja uma tendência natural dos seres humanos que eu respeito. Sou contra qualquer forma de discriminação de homossexuais". As citações aparecem em uma longa reportagem da revista inglesa Attitude, de maio de 2007, sobre a homossexualidade em Cuba.

Bolting outta there

Usain Bolt anunciou que não irá correr no meeting da Liga Diamante de Londres, a 13 e 14 de Agosto.

O campeão olímpico e recordista mundial dos 100 e 200m - que está em Paris para outra das provas do circuito, que se realiza esta sexta-feira - não foi claro nas explicações, mas, segundo a imprensa britânica, a razão da desistência estará relacionada com os impostos que vigoram em Inglaterra.

O atleta terá feito contas e visto que a presença em Londres significaria ter maiores custos com taxas a pagar do que o cachet cobriria. «Foi o que o meu empresário disse», admitiu Bolt. Os jornais publicam que, caso o atleta faça uma prova na Grã-Bretanha e outras cinco noutros países, terá de pagar 1/6 do total que receber, em competições e contratos.
A única coisa que um país ganha em tentar cobrar taxas demasiado altas é uma redução no número de pessoas que desejam fazer negócios sob a sua jurisdição.

Sunday, July 04, 2010

Exploded British Day


E agora, para realmente animar as hostes:
For two generations after post-war reconstruction, Europe and America have moved in different economic directions. The American model favored growth, income, and vibrancy; the European model was said to favor fairness, equality, and stability. The long-term superiority of the American model with regard to growth was well-established before the financial crisis, but the extent of that superiority may be surprising to some.

In 2008, the average resident of the troubled state of Michigan, as well as 40 other American states, was richer than the average resident of Austria. Germany leads the European bailout but the average German, and the average Brit, is poorer than the average person in Alabama. In terms of personal income, Germany bailing out Greece is equivalent to Alabama bailing out Mississippi.

It is especially relevant that Europe’s trouble spots – Greece, Italy, Portugal, and Spain – all have income lower than West Virginia, the second-poorest American state. They have been attempting to support a much more extensive welfare state than the U.S. on a much weaker economic foundation.

That worked when Europe was growing on its own and when Europe benefited from strong American growth, for example via German exports to the U.S. Now too much social spending and not enough growth has brought Europe less wealth and dynamism but also less stability and, many on both sides of the bailout would argue, less fairness.

Thursday, June 24, 2010

Regresso ao Futuro

Portugal só sai da recessão em 2012, diz a Ernst & Young
Apesar do "inesperado" crescimento de 1,1 por cento registado no primeiro trimestre, avisa a consultora, esta dinâmica económica não irá manter-se no resto do ano nem no próximo, influenciada negativamente pela crise da dívida na zona euro e pelo programa de consolidação orçamental que o Governo colocou em curso.

O outlook para Portugal que a Ernst & Young hoje divulga aponta para um recuo de 1,1 por cento do produto interno bruto (PIB) este ano, a que se seguirá uma recessão ainda mais profunda em 2011 (1,5 por cento). O regresso a um cenário de crescimento só acontecerá em 2012, com a riqueza gerada em Portugal a conseguir um incremento de 1,1 por cento face ao ano precedente.

Este quadro constitui um completo banho de água gelada face às previsões do Governo e do Banco de Portugal. No Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) que entregou em Bruxelas, o executivo aponta para um crescimento de 0,7 por cento este ano e de 0,9 por cento em 2011. Já o banco central é menos optimista, apontando para um ganho do PIB de 0,4 por cento no ano em curso e de 0,8 por cento no que vem.
Em 1998, segundo os dados do Eurostat, o PIB português era 79% da média da União Europeia (25 países). Em 2009, 11 anos depois, o PIB português em relação à média tinha regredido um ponto percentual, para 78%. Com estas previsões da E&Y, a menos que as coisas mudem de figura até 2018, Portugal está a dirigir-se para a sua segunda década perdida. Atrás de Portugal, só restam antigos países comunistas da Europa de Leste [pdf], sendo que alguns deles, como a Estónia e a Hungria, não deverão demorar muito a fazer aquilo que a República Checa, Malta e a Eslováquia já fizeram.

Sunday, April 18, 2010

a arrogância fatal

O Eyjafjallajökull tem estado por aí a expelir uma nuvem de cinza há uns dias, causando perdas diárias de dezenas de milhões de euros, e ninguém sabe exactamente quando vai parar. Uns dizem que talvez mais uma semana, outros sugerem que, se for como a última erupção do séc. XIX, pode durar dois anos de forma intermitente. Outros dizem que de momento é impossível fazer qualquer previsão realista. É importante notar que, com a informação de que se dispõe e usando os modelos geofísicos mais modernos, não se consegue sequer prever quanto vai durar uma erupção mínima de um vulcão de relevância duvidosa (já alguém tinha visto aquele nome antes?), mas que, mesmo assim, pode ter uma influência significativa no arrefecimento do clima terrestre, como já aconteceu com outras erupções no passado. No entanto, todos os dias a imprensa nos diz que podemos saber exactamente como vai ser o clima terrestre daqui a 50 ou 100 anos e que devemos tomar medidas castradoras no presente para evitar esse cenário apocalíptico praticamente inevitável. Isto é um exemplo clássico de húbris.

Wednesday, April 14, 2010

desde que seja chinoca, não faz mal

Segundo a imprensa internacional, a contagem de mortos devido ao terramoto em Yushu vai em cerca de 400 pessoas. A notícia em grande destaque no Sapo é "Não há registo de portugueses na região", afirma Embaixador em Pequim (Lusa)", com o seguinte lead: "A Embaixada de Portugal em Pequim desconhece a existência de portugueses na região da China atingida hoje por um sismo que causou cerca de 300 mortos e 8000 feridos, disse à agência Lusa o embaixador Rui Quartin Santos.". OK, ainda bem que agora já podemos todos voltar às nossas tarefas quotidianas e esquecer o assunto.

Tuesday, April 13, 2010

Quem não deve, não teme

Nem sequer na casa de banho:
You can imagine my surprise after I paid my 50pence to use the public bathroom, walked in and found myself staring at not just one but three ceiling mounted video surveillance cameras. I had to get real close to their enclosures to convince myself that I wasn't seeing things. Not only was it really there, but it was a Pan-Tilt-Zoom model with a microphone to top it off. Must get some great noises coming from there. It has also been reported that London officials are now installing cameras with speakers to allow them to talk as well as see and listen. Perhaps its just me, but I had absolutely no idea that this was legal anywhere, let alone in downtown London, UK. Sure I knew that London has more cameras per square mile than any other country on the planet, but in bathrooms?! How are they getting away with that one? It is appalling!

According to the London Assembly of Liberal Democrats, London has been outfitted with over 500,000 surveillance cameras. Other put the number much higher at 1.4million cameras but nobody is telling what the real number is. Another few 10,000 cameras have been installed in taxis and police cars as well. Sounds a bit big brother to me folks, downright scary in fact. Now it gets scarier when you consider that the vast majority of these camera feeds are not sent encrypted across the wire. This makes hacking these video feeds trivial, just a simple wire tap.

Monday, April 12, 2010

ein Volk, ein Reich, ein Sprache

Este é um daqueles artigos surrealistas que de vez em quando aparecem na imprensa portuguesa:
Atraso na escolha do vocabulário oficial que contemple as alterações do Acordo Ortográfico, oferta excessiva de edições - que obrigará à intervenção do Governo -, falhas nos vocabulários já concluídos e perda de negócios penalizam agentes do sector e aplicação do tratado. (...)

D'Silvas Filho (...) recorre a este exemplo para demonstrar o que diz ser a clara diferença de actuação entre os responsáveis dos dois países, o que ameaça os interesses portugueses. "É tudo muito moroso. Mais uma vez, andamos, na língua, a reboque do Brasil", sustenta.

Aguardado desde o final do ano passado, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa elaborado pela ACL encontra-se, finalmente, em fase de conclusão do original e será em breve entregue à Imprensa Nacional.

Quando vir a luz do dia, estarão no mercado três dicionários - da ACL, da Porto Editora e do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC)-, o que vai obrigar a que o Governo decida, em conselho de ministros, qual vai ser o vocabulário adoptado.

A SLP teme, por isso, que essa oferta excessiva acabe por atrasar ainda mais a escolha do vocabulário oficial, o que acarreta consequências gravosas a vários níveis. (...)

Por disporem já de um vocabulário aprovado, as editoras brasileiras poderão entrar em força em seis dos oito países de língua oficial portuguesa, já que apenas Angola e Moçambique ainda não assinaram o III Protocolo Modificativo. "Enquanto isso acontece, as nossas editoras vão aguardando por uma lei na língua do Português europeu", observa D'Silvas Filho. (...)

Mesmo que o tratado seja adoptado nas escolas portuguesas só a partir do ano lectivo de 2012/2013, como afirmou a ministra da Educação, "é necessário que os professores se formem com antecedência e que as editoras vão preparando os manuais escolares".
Não há um vocabulário oficial da língua portuguesa? Há demasiados dicionários no mercado? E agora, o que vai ser das nossas vidas? Ainda bem que temos governos para tratar destas coisas. Afinal de contas, devem ter sido eles que criaram todos os milhares de línguas naturais que os humanos utilizaram para comunicar entre si ao longo da História.

Saturday, April 10, 2010

Assim já fico mais descansado

"Mr Putin said he would personally oversee the investigation into the crash and that the bodies of the victims would be taken to Moscow for identification." [BBC News]

Friday, March 05, 2010

Um país à deriva IV

Um país à deriva é um país que, à falta de melhores adjectivos que o categorizem, cada vez tem maiores dificuldades em encontrar novas metáforas que descrevam de forma mais ilustrativa a sua situação, suplantando as anteriores.

Um país à deriva III


Se eu fosse natural de um país em que os residentes originários de outros países sistemática e exclusivamente citassem o clima local como o seu grande motivo para terem decidido mudar-se para esse país, começaria a ficar preocupado.

Monday, March 01, 2010

5 anos de insurgências


As pessoas costumam dizer que algo que acontece há muito tempo lhes parece 'ter sido ontem', possivelmente para denotar o prazer sentido durante esse período, o qual não lhes custou praticamente nada a passar. 2005 não me 'parece que foi ontem'. Muita coisa aconteceu entretanto, sendo a vasta maioria lastimosa. Contudo, recordo-me perfeitamente de ter descoberto O Insurgente em 2005 e, a partir daí, ter dificuldade em não visitar diariamente aquele que para mim era - e continuar a ser - o melhor blogue português em existência. Portugal faz-me muitas vezes perguntar se realmente faz parte de uma cultura representativa da Europa ocidental. Uma cultura, comparativamente, tão legalista, conformista, reverencial perante o autoritarismo e as hierarquias políticas e sociais, socialista, mercantilista, bisbilhoteira, invejosa, sexista, nacionalista e xenófoba - no fundo, colectivista - seria mais expectável num contexto eslavo ou mesmo escandinavo - mas isto é provavelmente uma associação injusta dado que vários países escandinavos ou eslavos já demonstraram, em muitos aspectos, não ser tão surrealistas como muitas vezes é a vida em Portugal.

Como em todos estes casos, os países que mais necessitam de insurgências são aqueles que estão menos aptos a gerá-las, aqueles em que a população está menos disposta a perder preciosas horas das suas vidas em troca da desconfortável e desgastante luta contra o poder quase ilimitado daqueles que pretendem controlar, do berço à cova, as nossas vidas. Se assim não fosse, estes países não estariam certamente tão necessitados. Nesse sentido, O Insurgente é um pequeno e vital farol num deserto costeiro de ideias e princípios. Um farol que fez esta semana cinco anos e ao qual tive muito prazer em juntar-me quando os que me precederam tomaram a decisão pouco sábia de me convidar para fazer parte das fileiras. Espero poder continuar a lê-lo durante muitos mais lustros, mas penso que o melhor elogio que poderia fazer a'O Insurgente será mesmo sugerir que gostaria que um dia se tornasse num blogue tão lido e procurado pela população portuguesa/lusófona, que, consequentemente, deixasse de ser necessário.

Saturday, February 27, 2010

Wednesday, February 24, 2010

Sugestões para a próxima versão do Magalhães

Last week in Pennsylvania, student Blake Robbins and his family filed a lawsuit against Lower Merion School District, because the district allegedly used the webcams on school-issued laptops to photograph students in their homes, without the students’ knowledge or consent. Since then, a number of students have come forward saying that the green lights on their webcams were mysteriously turned on at different times while the school district itself has issued a statement claiming that they only turned on student Webcams 42 times and only to track those which were reported lost or stolen. Meanwhile the FBI is investigating the school district.

The case has set the Web buzzing about the limits of privacy in the digital age and the rights of schools who give notebook to their students to monitor what students do on them.

Thursday, February 18, 2010

O fim do poder local

The European Union has shown its righteous wrath by stripping Greece of its vote at a crucial meeting next month, the worst humiliation ever suffered by an EU member state.

The council of EU finance ministers said Athens must comply with austerity demands by March 16 or lose control over its own tax and spend policies altogether. It if fails to do so, the EU will itself impose cuts under the draconian Article 126.9 of the Lisbon Treaty in what would amount to economic suzerainty.

While the symbolic move to suspend Greece of its voting rights at one meeting makes no practical difference, it marks a constitutional watershed and represents a crushing loss of sovereignty.

"We certainly won't let them off the hook," said Austria's finance minister, Josef Proll, echoing views shared by colleagues in Northern Europe. Some German officials have called for Greece to be denied a vote in all EU matter until it emerges from "receivership". (...)
Não sei exactamente como é que este processo de transferência progressiva do poder local para as mãos das instituições da União Europeia quadra com a defesa que a maior parte dos políticos europeus faz dos "centros de decisão nacional" no que diz respeito a assuntos económicos, mas gostaria de conhecer os argumentos.

Monday, February 15, 2010

Um país à deriva II

Um país decadente é um país no qual o governo democraticamente eleito recorre a astroturfing para mostrar que tem apoio entre a população (e, mais interessante ainda, que haja quem esteja disposto a fazer exaltações públicas e surrealistas da virtude impoluta do governo):
Uma mensagem anónima está a circular entre os militantes do PS a convocar uma manifestação, no dia 20, para "repudiar esta campanha suja contra o PS e contra Sócrates". (...)

"Está na hora do PS se unir e combater esta baixa campanha urdida pela direita dos interesses! Um partido que sempre lutou pela democracia e liberdade não pode aceitar calado este ataque sujo! Vamos de novo encher a Alameda da Fonte Luminosa [em Lisboa] no próximo dia 20 de Fevereiro, pelas 15 horas! Vamos repudiar esta campanha suja contra o PS e Sócrates e mostrar bem altas as nossas bandeiras. Divulga", lê-se na mensagem.

Catarina Faria, assessora de imprensa do partido, disse que a mensagem já é do conhecimento do PS, mas diz desconhecer a origem. "O PS não tem nada a ver com isso", afirmou.
Num país normal, ninguém deveria sentir o impulso de expressar todas estas opiniões inflamadas em defesa de um governo. O governo é uma entidade que tem de ser sistematicamente questionada e colocada em xeque pela sociedade no que diz respeito às suas acções e às decisões que diz tomar em nome da população que governa. Os governos não precisam de ser defendidos porque têm um poder avassaladoramente desproporcional em relação a cada um dos cidadãos, sendo que são estes quem se tem de precaver contra abusos de poder por parte destes mesmos governos, resultando precisamente dessa constatação a necessidade do questionamento sistemático e da dissidência política.

Friday, February 05, 2010

Um país à deriva


A imprensa portuguesa parece ter um problema sério com a realidade. Os telejornais abrem todos em uníssono com a polémica em torno da lei das finanças regionais, deixando para segundo o plano o que se está a passar nos mercados internacionais, como se fosse menos relevante. O risco associado à dívida da república portuguesa atingiu máximos históricos, mas todas as cadeias de televisão parecem ignorar quase por completo a dimensão deste acontecimento, e depois de darem a respectiva notícia, não sem descarregarem uns minutos sobre as intrigas políticas do dia, arranjando espaço lá pelo meio para culpar "a especulação", "os investidores", "os mercados", Joaquín Almunia, as agências de notação financeira e mais algum bode expiatório de ocasião por todos os males, fazem notícia do próprio facto de isto ter sido noticiado na imprensa internacional. Numa espécie de reportagem que só poderia aparecer em países com profundos complexos de inferioridade como Portugal, mostram-se imagens da CNN, as páginas na Internet da Reuters, do Wall Street Journal, do Financial Times, e não sei mais quantos nomes aglomerados sob o epíteto de "imprensa estrangeira". Parece uma daquelas peças especiais que de vez em quando um dos canais faz sobre a forma como os jornais desportivos estrangeiros viram a prestação de Cristiano Ronaldo no jogo do fim-de-semana passado da liga espanhola. "Olha, estão a falar de "nós"!". Que orgulho.

Depois de muito chouriço enchido, lá aparece Sua Majestade, o ministro das finanças, com grande pompa e circunstância, depois de fazer toda a gente esperar uns quarenta minutos. A maioria provavelmente estaria à espera de uma declaração sobre os credit default swaps ou do prémio exigido pelos investidores na compra de obrigações do tesouro, mas o homem começa a falar da lei das finanças regionais, tal como os telejornais onde aparece em directo. E lá vem o ultimato à oposição. É uma grande estratégia, estilo 'terra queimada', para quem faz parte do governo e não se importa com o destino dos seus governados. Se Teixeira dos Santos for bem sucedido e a oposição recuar, assustada, mostra que pode ser domada pelo governo com suficientes ameaças; possivelmente os mercados internacionais interpretam isto como um sinal de que o ministro tinha razão nas suas declarações, pensam que a oposição colocou a mão na sua consciência e atribuem maior credibilidade aos anúncios até agora pouco fiáveis do ministro, acalmando os ânimos. O governo sai com a imagem de grande salvador em toda a situação. Se não resultar e a oposição se mantiver firme, o governo manter-se-á com o argumento de que a culpa de todos os problemas é da oposição (foi essa basicamente a intenção das declarações de ontem, relegar a responsabilidade por eventos futuros para outros), por ser despesista, quando todo estes anos o governo em funções fez exactamente aquilo que agora se lembrou de começar a criticar, mesmo quando as despesas imputadas à nova lei são irrelevantes quando comparadas com a despesa total do estado. O resultado na imagem externa é mais ambíguo, mas se os investidores atribuírem maior credibilidade à declaração do ministro do que aos argumentos da oposição (que afirma, ao contrário do ministro, que a lei permitirá um melhor controlo da despesa e do défice orçamental), o sinal é de que a despesa estatal portuguesa vai continuar descontrolada, mantendo parte do pânico que se verificou ontem. Adicionalmente, a instabilidade política em tempos que já são, por si mesmos, economicamente instáveis não inspira nenhuma confiança em quem tem de arriscar o seu dinheiro. A incerteza paga-se e as declarações de Teixeira dos Santos foram extraordinariamente arriscadas para a já débil imagem de Portugal, quando a lei está prestes a ser aprovada. Na ocasião de que os mercados financeiros não reajam a uma eventual aprovação da lei, depositando maior confiança na oposição, o governo passará simplesmente a colocar a 'crise artificial' que criou debaixo do tapete, e, a médio prazo, acabará por começar a reclamar para si os louros de uma recuperação da credibilidade externa do país, defendendo que a verdadeira razão pela qual isto se deu foi a sua proposta de orçamento.

Em todo o caso, com esta manobra de diversão, o ministro salvaguardou a imagem do governo perante os portugueses e preparou o palco para a fuga em frente, ou mesmo pela portas das traseiras caso se venha a mostrar necessário. Entretanto, ignorando todos os ludíbrios do governo para desviar as atenções dos problemas estruturais do país e correndo o risco de saírem queimados com a estratégia do ministro das finanças, os portugueses continuarão entretidos a falar mal de Alberto João Jardim e da Madeira, mostrando o seu desagrado (também conhecido por 'inveja') com o facto de os madeirenses pagarem uma taxa de IVA inferior ao do resto do país e não estarem dispostos a reduzir o montante que conseguem espremer anualmente do governo central, algo que todas as regiões do país tentam fazer sempre que têm a oportunidade. Hoje será um longo dia.

Wednesday, January 20, 2010

o big bang de 96

O português José Mourinho foi hoje considerado pela Federação Internacional de História e Estatística (IFFHS) o quinto melhor treinador de todos os tempos, tendo o primeiro sido o escocês Alex Ferguson. (...)

A eleição foi feita tendo em consideração a votação organizada todos os anos pela IFFHS, desde 1996, para eleger os melhores treinadores e seleccionadores.

Wednesday, January 06, 2010

*som de chicotada*

Sócrates proíbe liberdade de voto
José Sócrates impediu hoje o grupo parlamentar do PS de votar livremente os projectos do BE e do PEV sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. A imposição da disciplina de voto ocorreu num almoço que, na residência oficial de São Bento, juntou o líder do PS, o presidente da bancada parlamentar, Francisco Assis, e os seus vice-presidentes.

Sócrates, que invocou a unidade do partido, permite apenas algumas excepções (como Miguel Vale de Almeida, deputado independente e activista gay), atribuindo a Francisco Assis a tarefa de gerir essas excepções.

Os projectos do BE e do PEV admitem que os casais do mesmo sexo possam também adoptar crianças, direito que a proposta do Governo expressamente proíbe. Já cerca de uma dezena de deputados socialistas tinham declarados querer votar a favor desse projecto.
A única coisa que é relativamente surpreendente nesta notícia é o facto de estar a ser tão destacada pelo Pravda. Talvez já tenham descoberto que há uma fatia significativa da população portuguesa que se sente atraída por governantes com tiques autoritários. Mais alguns pormenores sobre o autêntico circo que é qualquer votação deste género na Assembleia da República podem ser lidos na versão do Público.