Quando os adeptos de alguns clubes portugueses, nomeadamente do Benfica e do Sporting, se queixam da parcialidade das arbitragens em Portugal, há geralmente uma suposição implícita de que o mesmo não seria possível em competições estrangeiras, como as ligas europeias ou as competições internacionais da UEFA e da FIFA. Em parte devido à falta de atenção com que estas pessoas seguem outros campeonatos de destaque e as competições da UEFA (provavelmente por ser infrequente ver equipas portuguesas nas fases finais destas mesmas), esta ideia sobrevive, mesmo quando uma observação mais detalhada demonstraria o contrário.
Aqui bem perto, a liga espanhola é um dos melhores exemplos. Nas mais recentes temporadas, é difícil que não haja um jogo do Barcelona onde um jogador da equipa adversária não é indevidamente expulso, onde não há um golo (vital) do Barcelona que é marcado em fora-de-jogo, um golo válido da equipa contrária anulado, um penalti inventado/rebuscado a favor do Barcelona, uma grande penalidade a favor do adversário que fica por marcar ou mesmo uma adversário que alinha de início com a equipa de reservas. Aliás, o próprio percurso do Barcelona das últimas temporadas nas competições europeias é mais do que meramente estranho. Só nesta temporada, já se conta a patada monumental (não sancionada) de Valdés a N'Doye e a simulação de apito de Pinto no jogo contra o Copenhaga (levemente sancionado a posteriori com dois jogos de suspensão -- Pinto é o guarda-redes suplente). Se recuarmos no tempo podemos ver, por exemplo, os teatros de Sergio Busquets na semi-final contra o Inter em 09/10, que levaram à expulsão de Motta, os três ou quatro penaltis que ficaram por marcar a favor do Chelsea na semi-final da temporada 08/09 ou a bizarra história da equipa de arbitragem da final de 2006 que usava camisolas do Barcelona, quando estes venceram a liga dos campeões.
Todavia, esta entrada é sobre a partida de ontem do grupo G que opôs o AC Milan ao Real Madrid, que terminou com um empate a duas bolas, e que foi um excelente exemplo de tudo isto. O segundo golo do Milan foi claramente marcado em fora-de-jogo. Gattuso deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos. Abate agrediu Cristiano Ronaldo e não recebeu sequer um amarelo. O mesmo se passou com a entrada por trás de Ibrahimović a Sergio Ramos, sem qualquer intenção de jogar a bola. O clima do jogo é ilustrado pela substituição de Ronaldinho por Inzaghi, após a qual este último se sentiu perfeitamente à vontade para empurrar Xabi Alonso pelas costas ao chegar atrasado a um lance. O Milan podia facilmente ter acabado o jogo com oito jogadores, mas terminou com onze. Enquanto o árbitro ia poupando no uso de cartões para as sucessivas entradas duras dos milaneses, em contraste, praticamente toda a defesa do Real Madrid (Sergio Ramos, Pepe e Ricardo Carvalho) ficou amarelada sem piedade, à excepção de Marcelo, à primeira falta merecedora de disciplina. O árbitro deste encontro não é um novato, mas sim o famoso Howard Webb que apitou a final do campeonato do mundo deste ano, na qual a selecção holandesa decidiu jogar artes marciais em vez de futebol, e que, mesmo assim, graças à complacência de Webb, conseguiu o feito notável de acabar com dez (Heitinga foi expulso).
Aqui bem perto, a liga espanhola é um dos melhores exemplos. Nas mais recentes temporadas, é difícil que não haja um jogo do Barcelona onde um jogador da equipa adversária não é indevidamente expulso, onde não há um golo (vital) do Barcelona que é marcado em fora-de-jogo, um golo válido da equipa contrária anulado, um penalti inventado/rebuscado a favor do Barcelona, uma grande penalidade a favor do adversário que fica por marcar ou mesmo uma adversário que alinha de início com a equipa de reservas. Aliás, o próprio percurso do Barcelona das últimas temporadas nas competições europeias é mais do que meramente estranho. Só nesta temporada, já se conta a patada monumental (não sancionada) de Valdés a N'Doye e a simulação de apito de Pinto no jogo contra o Copenhaga (levemente sancionado a posteriori com dois jogos de suspensão -- Pinto é o guarda-redes suplente). Se recuarmos no tempo podemos ver, por exemplo, os teatros de Sergio Busquets na semi-final contra o Inter em 09/10, que levaram à expulsão de Motta, os três ou quatro penaltis que ficaram por marcar a favor do Chelsea na semi-final da temporada 08/09 ou a bizarra história da equipa de arbitragem da final de 2006 que usava camisolas do Barcelona, quando estes venceram a liga dos campeões.
Todavia, esta entrada é sobre a partida de ontem do grupo G que opôs o AC Milan ao Real Madrid, que terminou com um empate a duas bolas, e que foi um excelente exemplo de tudo isto. O segundo golo do Milan foi claramente marcado em fora-de-jogo. Gattuso deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos. Abate agrediu Cristiano Ronaldo e não recebeu sequer um amarelo. O mesmo se passou com a entrada por trás de Ibrahimović a Sergio Ramos, sem qualquer intenção de jogar a bola. O clima do jogo é ilustrado pela substituição de Ronaldinho por Inzaghi, após a qual este último se sentiu perfeitamente à vontade para empurrar Xabi Alonso pelas costas ao chegar atrasado a um lance. O Milan podia facilmente ter acabado o jogo com oito jogadores, mas terminou com onze. Enquanto o árbitro ia poupando no uso de cartões para as sucessivas entradas duras dos milaneses, em contraste, praticamente toda a defesa do Real Madrid (Sergio Ramos, Pepe e Ricardo Carvalho) ficou amarelada sem piedade, à excepção de Marcelo, à primeira falta merecedora de disciplina. O árbitro deste encontro não é um novato, mas sim o famoso Howard Webb que apitou a final do campeonato do mundo deste ano, na qual a selecção holandesa decidiu jogar artes marciais em vez de futebol, e que, mesmo assim, graças à complacência de Webb, conseguiu o feito notável de acabar com dez (Heitinga foi expulso).
Momento alto da final: De Jong decide fazer uma massagem peitoral a Xabi Alonso e recebe um severíssimo amarelo |
Este Milan parece ser uma sombra daquilo que era há umas temporadas atrás, e isso ficou bastante claro na última jornada no Santiago Bernabéu. No entanto, como jogar uma Liga dos Campeões sem o Milan, que é o segundo clube com mais troféus em toda a história da competição, perde grande parte do interesse, seria de esperar que a organização tentasse encontrar uma forma de prolongar a estadia do Milan na competição. Em adição ao que se passou na partida com o Real Madrid, no outro jogo do grupo G, o Auxerre, último classificado do grupo, venceu o Ajax com um golo que parece ter sido marcado também em fora-de-jogo, ao minuto 83. A vitória do Auxerre complica bastante as contas para o Ajax, que ainda tem de jogar em San Siro e com o Real Madrid em casa, e continua a deixar tudo em aberto para o Milan.
Mourinho disse na conferência de imprensa após o jogo que este tinha sido bom para aprender e entender o que era jogar na Liga dos Campeões - e isso é certo. Enquanto dirigentes como Joseph Blatter e Michel Platini continuarem a insistir que o erro humano se deve sobrepor à tecnologia simplesmente para manter os interesses instalados, seja para continuar a empregar árbitros e fiscais de linha, comentadores desportivos que vivem o dia seguinte a discutir os lances mal arbitrados, vendedores de aspirinas, ou representantes dos clubes que podem comprar as suas influências junto dos árbitros, nunca será possível ter um jogo de futebol onde aquilo que mais importa é efectivamente o futebol. As únicas pessoas que podem ser, por princípio, contra uma tecnologia, seja ela qual for, que facilite o processo de decisão de foras-de-jogo, golos sobre as linhas, marcação de grandes penalidades, etc. de forma transparente e inequívoca são aquelas que estão interessadas em ver um futebol em que as regras de jogo podem ser ocasionalmente contorcidas para servir interesses secundários que não têm absolutamente nada que ver com o espectáculo que se deve jogar dentro do campo. Isto não é futebol. É simplesmente uma trafulhice que faz com que qualquer partida possa ser sistematicamente dominada por trapaceiros e leve as equipas contrárias a serem prejudicadas caso não optem por se comportar da mesma forma.
Mourinho disse na conferência de imprensa após o jogo que este tinha sido bom para aprender e entender o que era jogar na Liga dos Campeões - e isso é certo. Enquanto dirigentes como Joseph Blatter e Michel Platini continuarem a insistir que o erro humano se deve sobrepor à tecnologia simplesmente para manter os interesses instalados, seja para continuar a empregar árbitros e fiscais de linha, comentadores desportivos que vivem o dia seguinte a discutir os lances mal arbitrados, vendedores de aspirinas, ou representantes dos clubes que podem comprar as suas influências junto dos árbitros, nunca será possível ter um jogo de futebol onde aquilo que mais importa é efectivamente o futebol. As únicas pessoas que podem ser, por princípio, contra uma tecnologia, seja ela qual for, que facilite o processo de decisão de foras-de-jogo, golos sobre as linhas, marcação de grandes penalidades, etc. de forma transparente e inequívoca são aquelas que estão interessadas em ver um futebol em que as regras de jogo podem ser ocasionalmente contorcidas para servir interesses secundários que não têm absolutamente nada que ver com o espectáculo que se deve jogar dentro do campo. Isto não é futebol. É simplesmente uma trafulhice que faz com que qualquer partida possa ser sistematicamente dominada por trapaceiros e leve as equipas contrárias a serem prejudicadas caso não optem por se comportar da mesma forma.
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