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Wednesday, July 27, 2005

Façam as vossas apostas

Portugueses "campeões" do Euromilhões

Já apostaram 626 milhões de euros no jogo

Os portugueses são quem mais aposta no Euromilhões, que funciona em nove países da Europa. Portugal está no primeiro lugar no montante de apostas: 626 milhões de euros, ao longo dos últimos nove meses.


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Parece mentira mas é verdade. Certamente não tenho eu autoridade nenhuma (nem quero ter) para dizer a muitos portugueses que andam por aí que aproveitem melhor o seu dinheiro. Afinal de contas, é sua propriedade privada e cada um faz (ou devia fazer) o que muito bem entender com o seu próprio dinheiro.

Não deixa de ser curioso, no entanto, o facto de que sendo Portugal o pais que participa no Euromilhões que tem a maior crise económica, obtenha o primeiro lugar na classificação de apostadores, junto dos restantes países europeus. Fica-se com a sensação de que os portugueses nunca souberam, realmente, aplicar muito bem as suas economias, nem geri-las com muito sucesso. É um caso quase semelhante aos milhares de famílias endividadas devido às facilidades de crédito a que os portugueses decidiram acorrer na década passada – um pouco como aqueles créditos por telefone que agora andam aí dizendo que dão dinheiro na hora mas em que depois é necessário pagar quatro vezes mais aquilo que se pediu.

No fundo, isto continua a revelar um grande sebastianismo da população. Quando falamos com alguém a pessoa certamente dirá que as coisas estão más (embora não reconheça as suas causas), tendo no entanto uma réstia de esperança que é representado, não pela sua capacidade individual de melhorar a situação mas na crença de que algo irá ajudar a fazê-lo. É um pouco como o Euromilhões. Grande parte do país está em crise económica. O investimento estrangeiro caiu a pique durante 2004 – os estrangeiros fogem agora a sete pés (algo que em alguns sectores da população será sempre estupidamente bem visto) – as taxas de juro ameaçam aumentar e os impostos sobem quando o país já está numa situação instável. No entanto, aqui está a prova. Entre todos os países que participam no Euromilhões, Portugal destaca-se pela sua crença no sistema de apostas. Todos os países participantes possuem um PIB per capita superior ao português, coisa que ninguém esperaria diferente. Na verdade encontram-se na lista de apostadores o Luxemburgo, que é o país com o maior PIB per capita do mundo e a Suiça, que é apenas o segundo país mais rico por habitante da zona euro. A situação é pertinente. Todos os países participantes situam-se entre os primeiros 25 do mundo, à excepção de Espanha (39º) e Portugal (54º).

Portugal necessita urgentemente de uma educação em economia. De outra forma não seria normal ser atacado por ser liberal, algo que acontece todos os dias. De outra forma, não seria necessário explicar a toda a gente que se somos de direita, não apoiamos Salazar e que se somos anti-socialistas, não somos fascistas. É obvio que os portugueses não sabem o que dizem. E é obvio que esta é a razão pela qual, quando se procura qualquer coisa na google, se vai sempre parar a um blog de “esquerda”. Não haveria necessidade de ferver o sangue todos os dias porque toda a gente à nossa volta é socialista nem haveria uma necessidade tão grande de ligar todos os blogs liberais entre si porque, simplesmente, as pessoas teriam um espírito mais empreendedor e reconheceriam o seu direito a gerir a sua propriedade como um direito fundamental.

Todavia, muitos portugueses continuam a desprezar que o Estado lhe retira injustificadamente os seus ganhos e que existem, simplesmente, maus investimentos e negócios falidos à partida. Outro grande exemplo disso é a falta de perspicácia empresária que consiste em abrir uma pastelaria numa rua onde já existem três. Vi casos semelhantes vezes sem conta e depois tive que ouvir os proprietários a queixar-se de que “isto está mau” e que “não rende ter um negócio aberto”. Antes de mais, é preciso – uma vez que esta inteligência parece não ser intrínseca – educar as pessoas para a gestão de qualidade do seu dinheiro e para ter olho quanto aos investimentos. Saber dar o valor devido ao seu dinheiro.

Os liberais não seriam bodes expiatórios da comunicação social para tudo o que de mal acontece no mundo (essas “tendências neoliberais imperialistas de capitalismo selvagem neocolonialista”) nem tanto dinheiro seria desperdiçado inutilmente.


Quase parece que os portugueses têm pouco conhecimento do ramo da matemática que trata de estatística e probabilidades no que toca aos jogos de azar. Quanto mais indivíduos jogarem, mais difícil é que o prémio saia mas, como diria qualquer um, “se não jogar é que não sai mesmo, não é?”.

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