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Wednesday, November 24, 2010

a precaridade da função pública e tal

A propósito da greve de hoje:
Já cruzando dados sobre salários por qualificação na função pública e no sector privado, a conclusão é que em média quem não trabalha para o Estado fica a perder: em média os salários privados rondam os 1008 euros, em comparação com a média de 1045 euros dos perto de 330 mil trabalhadores incluídos no sector da administração pública, defesa e segurança social obrigatória.
Agora só restaria fazer comparações estado vs. sector privado para a produtividade exigida a funcionários com o mesmo salário, o risco médio de perder o emprego e as facilidades de progressão na carreira.

Monday, November 22, 2010

Kareem Amer

Há uns anos coloquei neste blogue, por baixo da secção de ligações para outros blogues, um pequeno aviso que chamava à atenção para o caso de Kareem Amer, um jovem egípcio que foi sentenciado a quatro anos de prisão devido, entre outras coisas, a promover o ateísmo, o que é uma afronta implícita ao Islão, e criticar o presidente do Egipto. Depois de ter sido abandonado pela família, sujeito a ameaças de morte, torturado por guardas prisionais e mantido tão isolado quanto possível do mundo exterior, Kareem foi finalmente libertado no passado dia 15:
Kareem Amer was set free yesterday’s night, Monday 15th of November 2010, after spending 1470 days in prison. (...)

Kareem refused to talk to anyone at the moment, however he reassures all his supporters worldwide that he’s fine. The brave man wants to have a little privacy for a week before he can say anything. (...)

FreeKareem.org staff wants to take this precious chance, and thanks everyone who supported Kareem through his honourable struggle against an unfair trial and an oppressive imprisonment. Thanks for all the activists who supported, through 4 full years and 10 days, our cause for Kareem! We can’t name anyone specifically here, not only because we’re overwhelmed, but also because the number of supporters is pretty huge. Thanks for everyone who has protested, rallied, supported, donated, written, shared, or even tweeted anything about Kareem from all over the world! Thank you very much!
Suponho que já posso, por fim, remover o aviso. Agora é só esperar que algum país relativamente livre tenha a bondade de lhe conceder asilo político.

Sunday, November 21, 2010

Problemas no paraíso

Um dos argumentos mais utilizados para refutar a ideia de que o orçamento proposto pelo PS não deveria ter sido aprovado na Assembleia é o de que a inexistência imediata de um orçamento de Estado para 2011 provocaria incerteza dos mercados financeiros em relação a Portugal e uma crise política, com a demissão ameaçada do governo, o que, por sua vez, conduziria a uma incerteza ainda maior, e, consequentemente, a um agravamento da crise económica. Este argumento é muito bonito e foi utilizado durante muitas semanas, mas sempre teve bastantes buracos:

1 - Para começar, esquece implicitamente que *já* existia uma grande incerteza acerca de Portugal nos mercados financeiros. Para que este argumento fosse aplicável, seria necessário não só mostrar que a incerteza decorrente de uma não-aprovação seria maior, como que isso seria particularmente relevante a médio prazo - a grande razão pela qual os juros pedidos pelos credores do estado português são tão elevados é o facto de que o estado português tem vindo a gastar demasiado dinheiro de forma insustentável. Um governo frugal com um orçamento credível em propostas de redução de despesa estatal não precisaria de se financiar (tanto) nos mercados internacionais, sendo isto, por si só, uma forma de reduzir o risco de incumprimento e, consequentemente, as taxas de juro exigidas de cada vez que o governo português decidisse vender dívida.

2 - Este argumento pode ser utilizado para qualquer situação em que um governo que deseja aprovar um orçamento, seja ele bom ou mau, porque ninguém sabe que orçamento (e algumas vezes, governo) surgirá de seguida, se o primeiro não for aprovado - o que gera incerteza entre os investidores. É, portanto, impossível medir a qualidade de um orçamento apenas pela incerteza que uma recusa em aprová-lo geraria nos mercados financeiros, uma vez que a única coisa que a estes importa é saber se o governo se encontra em condições de conseguir pagar as suas dívidas. A ausência de um plano para o fazer alimenta sempre a incerteza sobre o futuro.

Qualquer argumento que pode ser tão flexivelmente utilizado a favor de algo e do seu oposto não é muito cogente porque não permite distinguir entre os dois e pode ser rotineiramente utilizado para aprovar orçamentos objectivamente maus. Para ilustrar esta ideia, basta relembrar que desde o início da crise até ao primeiro semestre deste ano se tem vindo a ouvir o primeiro-ministro e a sua clique a afirmar que os orçamentos bons (leia-se, "considerados bons pelo governo") eram os expansionistas porque nos livrariam da crise económica. Quando os mercados internacionais começaram a perceber que o governo português não tinha nenhum plano sustentável para cumprir os pagamentos da dívida pública, os orçamentos considerados bons pelo governo passaram a ser os "realistas" e austeros (do género sugerido por Manuela Ferreira Leite na campanha eleitoral anterior, e que pelo qual sempre foi vilipendiada pela PS). Num curto período de tempo, orçamentos maus com propósitos diametralmente opostos foram considerados ideais pelo mesmo governo.

3 - O governo esteve sistematicamente a tentar colocar Passos Coelho entre a espada e a parede, avisando acerca dos perigos que decorreriam de uma eventual falha em aprovar este orçamento. Esta é a marca clássica de um mau governo. Se um governo minimamente competente estivesse confiante num orçamento satisfatório e este fosse satisfatório também para qualquer observador externo, não haveria necessidade de tentar acusar a oposição de maneira antecipada para utilizar o argumento da estabilidade política como forma de chantagem. Esta é uma das razões pelas quais continuou a especulação com a dívida portuguesa: se fosse assim tão evidente que o risco de incumprimento é reduzido, não haveria forma de especular. No passado mês de Outubro ouviu-se o governo de Sócrates ameaçar que o país mergulharia no caos se este orçamento não fosse aprovado, que o governo aguardava uma tomada de decisão suficientemente responsável do PSD para aprovar o OE e, mais recentemente, que o PSD só estaria a planear viabilizar o orçamento porque não tem alternativas reais para o país e não pretende governar neste momento. Esta panóplia de argumentos assegurou que, independentemente da decisão da bancada social-democrata, o governo já tinha um argumento para lavar as mãos, fosse culpando o PSD por não aprovar o OE, provocando uma crise política, ou por aprovar o orçamento, o que implicitamente significaria que este é o único orçamento possível, totalmente inevitável, e que ninguém nas mesmas circunstâncias conseguiria fazer melhor.

Com o país à beira de implodir, o governo esteve e está permanentemente preocupado em fazer jogos políticos e assegurar estrategicamente uma imagem impoluta perante o eleitorado. Se eu fosse um investidor internacional com conhecimento da situação portuguesa, estaria muito preocupado e preferiria colocar recursos na Geórgia ou em Chipre a enterrá-lo aqui. Digamos que não é muito surpreendente que, mesmo depois de o orçamento ter sido aprovado na assembleia, as taxas de juro exigidas para a compra de dívida estatal tenham continuado a subir até atingirem sucessivos máximos históricos.

4 - Não há qualquer razão para julgar que este é um governo capaz de executar um orçamento, ainda que este fosse aceitável. A situação do país chegou a este ponto precisamente porque a pessoa que está à frente deste governo não teve carácter suficiente para ser realista e honesta em nenhum ponto das duas legislaturas, ou sequer a coragem política de efectuar os cortes necessários na despesa estatal. Não há razão para acreditar que este governo deixou subitamente de ser socialista e incompetente. Na verdade, eventos como o aumento da despesa estatal até Setembro, quando o governo já andaria, supostamente, a tentar sinalizar aos mercados o seu compromisso com o acerto das contas do Estado, ou a derrapagem da despesa estatal em relação ao orçamento previsto para este ano - em quase dois mil milhões de euros - são excelentes indicadores de que o mais provável será que a despesa real não estará controlada em 2011 e não corresponderá às expectativas que o governo gostaria que os investidores tivessem.

Saturday, November 20, 2010

spam


A legenda do eixo das abcissas também podia dizer "Computadores que fazem parte de uma botnet".

Friday, November 19, 2010

ano inteiro


Há muita gente por aí que se sente indignada e furiosa com a concessão de tolerância de ponto na Administração Pública para o dia de hoje. A razão apresentada é a de que já existiram suficientes tolerâncias de ponto este ano e que no estado em que se encontra a economia portuguesa, não há justificação para mostrar nenhuma espécie de tolerância com a função pública. Se me perguntam a mim, não me parece que o excesso de tolerâncias de ponto seja razão para indignação. Quando muito, motivos para indignação serão a falta de tolerâncias de ponto e respectivos limites de aplicabilidade.

Thursday, November 04, 2010

Porque me canso do futebol

Quando os adeptos de alguns clubes portugueses, nomeadamente do Benfica e do Sporting, se queixam da parcialidade das arbitragens em Portugal, há geralmente uma suposição implícita de que o mesmo não seria possível em competições estrangeiras, como as ligas europeias ou as competições internacionais da UEFA e da FIFA. Em parte devido à falta de atenção com que estas pessoas seguem outros campeonatos de destaque e as competições da UEFA (provavelmente por ser infrequente ver equipas portuguesas nas fases finais destas mesmas), esta ideia sobrevive, mesmo quando uma observação mais detalhada demonstraria o contrário.

Aqui bem perto, a liga espanhola é um dos melhores exemplos. Nas mais recentes temporadas, é difícil que não haja um jogo do Barcelona onde um jogador da equipa adversária não é indevidamente expulso, onde não há um golo (vital) do Barcelona que é marcado em fora-de-jogo, um golo válido da equipa contrária anulado, um penalti inventado/rebuscado a favor do Barcelona, uma grande penalidade a favor do adversário que fica por marcar ou mesmo uma adversário que alinha de início com a equipa de reservas. Aliás, o próprio percurso do Barcelona das últimas temporadas nas competições europeias é mais do que meramente estranho. Só nesta temporada, já se conta a patada monumental (não sancionada) de Valdés a N'Doye e a simulação de apito de Pinto no jogo contra o Copenhaga (levemente sancionado a posteriori com dois jogos de suspensão -- Pinto é o guarda-redes suplente). Se recuarmos no tempo podemos ver, por exemplo, os teatros de Sergio Busquets na semi-final contra o Inter em 09/10, que levaram à expulsão de Motta, os três ou quatro penaltis que ficaram por marcar a favor do Chelsea na semi-final da temporada 08/09 ou a bizarra história da equipa de arbitragem da final de 2006 que usava camisolas do Barcelona, quando estes venceram a liga dos campeões.

Todavia, esta entrada é sobre a partida de ontem do grupo G que opôs o AC Milan ao Real Madrid, que terminou com um empate a duas bolas, e que foi um excelente exemplo de tudo isto. O segundo golo do Milan foi claramente marcado em fora-de-jogo. Gattuso deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos. Abate agrediu Cristiano Ronaldo e não recebeu sequer um amarelo. O mesmo se passou com a entrada por trás de Ibrahimović a Sergio Ramos, sem qualquer intenção de jogar a bola. O clima do jogo é ilustrado pela substituição de Ronaldinho por Inzaghi, após a qual este último se sentiu perfeitamente à vontade para empurrar Xabi Alonso pelas costas ao chegar atrasado a um lance. O Milan podia facilmente ter acabado o jogo com oito jogadores, mas terminou com onze. Enquanto o árbitro ia poupando no uso de cartões para as sucessivas entradas duras dos milaneses, em contraste, praticamente toda a defesa do Real Madrid (Sergio Ramos, Pepe e Ricardo Carvalho) ficou amarelada sem piedade, à excepção de Marcelo, à primeira falta merecedora de disciplina. O árbitro deste encontro não é um novato, mas sim o famoso Howard Webb que apitou a final do campeonato do mundo deste ano, na qual a selecção holandesa decidiu jogar artes marciais em vez de futebol, e que, mesmo assim, graças à complacência de Webb, conseguiu o feito notável de acabar com dez (Heitinga foi expulso).

Momento alto da final: De Jong decide fazer uma massagem peitoral a Xabi Alonso e recebe um severíssimo amarelo

Este Milan parece ser uma sombra daquilo que era há umas temporadas atrás, e isso ficou bastante claro na última jornada no Santiago Bernabéu. No entanto, como jogar uma Liga dos Campeões sem o Milan, que é o segundo clube com mais troféus em toda a história da competição, perde grande parte do interesse, seria de esperar que a organização tentasse encontrar uma forma de prolongar a estadia do Milan na competição. Em adição ao que se passou na partida com o Real Madrid, no outro jogo do grupo G, o Auxerre, último classificado do grupo, venceu o Ajax com um golo que parece ter sido marcado também em fora-de-jogo, ao minuto 83. A vitória do Auxerre complica bastante as contas para o Ajax, que ainda tem de jogar em San Siro e com o Real Madrid em casa, e continua a deixar tudo em aberto para o Milan.

Mourinho disse na conferência de imprensa após o jogo que este tinha sido bom para aprender e entender o que era jogar na Liga dos Campeões - e isso é certo. Enquanto dirigentes como Joseph Blatter e Michel Platini continuarem a insistir que o erro humano se deve sobrepor à tecnologia simplesmente para manter os interesses instalados, seja para continuar a empregar árbitros e fiscais de linha, comentadores desportivos que vivem o dia seguinte a discutir os lances mal arbitrados, vendedores de aspirinas, ou representantes dos clubes que podem comprar as suas influências junto dos árbitros, nunca será possível ter um jogo de futebol onde aquilo que mais importa é efectivamente o futebol. As únicas pessoas que podem ser, por princípio, contra uma tecnologia, seja ela qual for, que facilite o processo de decisão de foras-de-jogo, golos sobre as linhas, marcação de grandes penalidades, etc. de forma transparente e inequívoca são aquelas que estão interessadas em ver um futebol em que as regras de jogo podem ser ocasionalmente contorcidas para servir interesses secundários que não têm absolutamente nada que ver com o espectáculo que se deve jogar dentro do campo. Isto não é futebol. É simplesmente uma trafulhice que faz com que qualquer partida possa ser sistematicamente dominada por trapaceiros e leve as equipas contrárias a serem prejudicadas caso não optem por se comportar da mesma forma.

Tuesday, November 02, 2010

I want everyone to remember *why they need us*

Strategic defence review published
The government's Strategic Defence and Security Review was published this afternoon following a statement by the Prime Minister to Parliament. Read on for a summary and to download the review.

The Strategic Defence and Security Review, which sets out how the government will go about securing Britain in an age of uncertainty, has been published today. In the review, the government has taken decisions on its defence, security, intelligence, resilience, development and foreign affairs capabilities.
Uma era de incerteza, claramente em oposição a outras eras, em que tudo era inteiramente seguro e certo.