[Previamente publicado n'
O Insurgente]
À medida que se aproxima Novembro, o mundo do software aguarda com alguma expectativa a chegada do
Windows Vista, o novo sistema operativo que virá substituir o anterior Windows XP, cuja edição
Business começará a ser distribuída durante este mês. As suas novas possibilidades não são propriamente
uma novidade uma vez que, neste processo de desenvolvimento, a Microsoft tem colocado à disposição de testers e developers os
release candidates do Vista e estes têm sido revistos e avaliados com grande frequência pelos editores de magazines de informática à medida que vão sendo actualizados. Em geral, a opinião relativamente consensual é de que se trata de um avanço significativo quando comparado com o seu antecessor, tanto a nível do desenho interno do sistema como do interface gráfico (
Aero) e da interacção possibilitada com o utilizador, mas que deixa um pouco a desejar quando comparado com os seus rivais mais directos. A situação prende-se com o facto de a Microsoft se ter deixado relativamente para trás durante o período que sucedeu à publicação do XP (2001) até ao presente, enquanto os diversos sistemas baseados em kernel linux continuaram progressivamente a reformular-se, dado a sua própria natureza de constante inovação, e a Apple foi publicando anualmente versões actualizadas do seu
Mac OS X, um sistema operativo baseado em Unix, cuja versão 10.5, de nome de código
Leopard, será disponibilizada em 2007, assim como a maior parte das versões do Windows Vista.
A situação é bastante análoga ao que sucedeu (e ainda se desenrola) com as
browser wars disputadas maioritariamente entre o Mozilla/Firefox e o Internet Explorer ao longo dos últimos anos. O Internet Explorer 6 ficou parado no tempo e as únicas actualizações que eram anunciadas pela Microsoft diziam respeito a elementos de segurança que, ainda assim, nunca impediram o IE de provavelmente ser, em conjunto com um sistema operativo também ele repleto de falhas por todos os lados, o mais
inseguro e vulnerável de todos os
browsers - uma imensidão de pequenos remendos numa manta já imensamente retalhada. A MS anunciou há poucos dias que a versão 7 do IE está disponível mas a situação não parece muito risonha já que, nos últimos 5 anos, o Internet Explorer tem sucessivamente perdido
quota de mercado em termos gerais, e ainda mais em termos de utilizadores frequentes da Internet. Das estatísticas do Insurgente, à hora que escrevo, consta que apenas 58% dos nossos leitores estão a usar IE.
O IE7 incorpora várias características como
segurança melhorada e outras novas surpresas como a leitura de
feeds de RSS e
tabbed browsing. Realmente novas? Bem, não exactamente. Quem utilizar navegadores como o Firefox ou o Opera já terá descoberto há muito tempo todas estas possibilidades e, no caso do Firefox, inúmeras extensões que as permitem até ampliar ou simular a navegação numa
janela em IE. À semelhança da comparação entre o
IE7 e o seu maior competidor, o Windows Vista surge com melhorias que em grande parte igualam as inovações implementadas e desenvolvidas por outros sistemas operativos, não necessariamente
open source. O extremo caso da falta de originalidade do GUI levou alguns comentadores a ponderar se o Windows Aero não seria
uma imitação do Aqua do Mac OS X. O mesmo poderia ser dito relativamente aos gestores de desktop como o Gnome e o KDE que em GNU/Linux, fazendo uso do X11, produzem efeitos muito semelhantes, algo que até agora em ambiente Windows apenas podia ser recriado pelo uso de aplicações como o famoso
WindowsBlinds.
As alterações mais marcantes nem serão provavelmente o Aero, o DirectX 10 ou a melhoria na gestão de memória e velocidade de acesso à informação contida nos discos rígidos, mas sim a forma como a MS encara progressivamente a sua própria segurança. A maior polémica que actualmente envolve o WV refere-se às restrições que serão colocadas ao utilizador, tanto pelo próprio licenciamento do sistema em si como por aquilo que não permitirá. A estratégia adoptada pela MS com o XP resumia-se a impedir o acesso ao computador, forçar a reinstalação ou constantemente pedir ao utilizador que requisitasse por telefone uma nova activação de cada vez que fossem substituídas peças de hardware não-periféricas, o que levou muitos detentores de cópias originais a adquirir outra ilegal para evitar todo este processo burocrático de cada vez que actualizassem o seu hardware ou transferissem o seu disco rígido para outro computador. Com o Vista, que continua a bloquear-se a si mesmo com novas peças de hardware, a reinstalação do sistema será permitida
uma única vez. Se por alguma razão for necessário repetir a operação, o utilizador terá de
adquirir uma nova licença do Windows. Em preços da Amazon, para a versão mais básica do Vista (Home Basic) isto corresponderá a $200 para a licença original e $180 para cada “renovação” seguinte. A este problema acrescem os (
já registados) falsos positivos que poderão levar o sistema a desactivar-se automaticamente por determinar, de forma errada, que a cópia em uso é ilegal - como é evidente, aqueles que têm de obrigatoriamente utilizar um sistema da MS terão todas as razões para tentar
circundar a activação, que se estende já a praticamente todos os novos produtos da MS - e a nova política de
DRM, que ameaça
impedir a correcta utilização de muitos monitores, placas gráficas e leitores de conteúdos multimédia, compelindo os utilizadores a adquirir componentes validados pelo Vista.
Ao contrário do que se poderia imaginar, a maioria destas implementações tem, segundo as palavras da Microsoft, o objectivo de
combate à pirataria. Embora a MS aparente uma
boa saúde, este género de estratégia pode revelar-se um verdadeiro tiro no pé, pois o combate está a ser feito com base no pressuposto errado de que as pessoas que utilizam cópias ilegítimas comprariam uma original caso não pudessem ter acesso a uma pirateada, enquanto aqueles que não têm hipótese de obter uma destas cópias ilegais se tornam sucessivamente clientes mais alienados por serem constantemente tratados como potenciais criminosos que não só são injustamente sacrificados em nome do combate à pirataria informática, como também estão sujeitos a todos os problemas decorrentes destas activações e do seu
inevitável mau funcionamento. Conjuntamente com os preços considerados por muitos como exorbitantes (o correspondente à versão XP Professional custará $240) que a MS pretende praticar para o WV, tudo isto servirá de estímulo à propagação da pirataria entre os seus fiéis consumidores - porque há sempre formas de evitar as
restrições de segurança - que desejam um sistema verdadeiramente operativo e não um que os obriga regularmente a ser inspeccionados para garantir a sua autenticidade e a produzir outras
despesas extraordinárias. [
Adenda:
A ferramenta de verificação da autenticidade do Windows e outros programas, WGA, liga todos os dias à Microsoft, enviando dados do computador onde está instalada, como o IP, informações da BIOS e números de série dos discos rígidos. Algumas empresas americanas já processaram a MS por considerarem que o uso desta aplicação é uma violação dos seus direitos por funcionar como qualquer vulgar spyware. Muitos outros utilizadores estão também compreensivelmente irados.]
Uma outra opção provável para estes consumidores é a instalação de um sistema infinitamente mais barato (muitas vezes totalmente gratuito), flexível, seguro, rápido, eficiente e configurável como as
centenas de distribuições de GNU/Linux que proliferaram nos últimos anos (em que a Microsoft se manteve demasiado inerte) e tomaram completamente de
assalto o
mercado de servidores, ameaçando galgar também
o dos desktops, no qual provavelmente já ultrapassaram o e continuam a crescer a bom ritmo. A MS continuará certamente a ser um gigante da informática mas, se se confirmarem todas as notícias sobre a sua nova aposta para o futuro próximo, corre o risco de ir perdendo aos poucos o lucro proveniente dos clientes habituais e sua base de apoio que, ironicamente, assenta nas cópias pirateadas do Windows, o que leva os produtores de hardware e software a investir bastante na compatibilidade com os seus sistemas. A tendência aponta para a evolução deste mercado no sentido de uma interesse crescente dos
fabricantes em desenvolver
drivers específicos para linux, o seu problema crónico até ao momento, e dos criadores de software em produzir aplicações compatíveis com um sistema operativo que se tem vindo a tornar muito mais
user friendly que no passado, tanto por uso de ferramentas de detecção automática de hardware como pela possibilidade de ambientes gráficos muito semelhantes ao Windows (logo, familiares a quem apenas tenha usado este último) e de utilização
sem necessidade de qualquer instalação no disco rígido.