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Sunday, September 03, 2006

Não é preciosismo semântico

São pouco compreensíveis as crescentes invectivas contra a referência ao Estado de Israel, por substituição a Israel. Supõe-se que os críticos de tal designação queiram implicar que, ao existirem denominações consistentes sob esta forma, há uma divisão subjacente que denuncia a artificialidade do Estado de Israel na região. Urge, portanto, explicar aos mais desatentos que Israel (ou qualquer outro país) e o seu Estado são entidades absolutamente distintas, ainda que por vezes se faça recurso a esta metonímia, tanto no jornalismo como noutras áreas, para designar o Estado correspondente ao respectivo país, através do próprio nome do país em questão.

A necessidade de usar o prefixo 'Estado de', ou 'Estado' seguido do adjectivo gentílico, torna-se relevante quando se estão a discutir as acções do governo de um país e não da sua população, independentemente do apoio popular que se verifique aos respectivos dirigentes, ou porque se discutem fronteiras políticas, cuja condição incontornável é a co-existência geográfica de múltiplos Estados.

Isto é relevante e, obviamente, não se aplica somente a Israel, como também ao Líbano, aos EUA e a todos os outros. Confundir a instituição política que é o Estado com o corpo do qual esta brota é errado e tendencioso porque acaba por servir - na pior das hipóteses - para falar dos habitantes desse Estado avaliando-os pelas decisões tomadas pelos seus líderes. Tendo em consideração que o feedback democrático (quando existe) não corresponde a um período de tempo aceitável para tomadas de decisão pontuais, não previstas antes do início do mandato, nem consegue nunca reunir total unanimidade, está-se simplesmente a lutar pela tentativa de encontrar um artifício verbal para criar uma posição criticável.

Claro que a base do problema está na manifesta dificuldade por parte de muito boa gente em diferenciar entre sociedade e Estado. Mas precisamente por ser um erro frequente, deveriam os novos seguidores deste tipo de argumento lutar por distinguir os dois conceitos constantemente, em vez de incentivar o uso de falácias generalizadoras que apenas servem para atacar o alvo desejável do momento. Infelizmente, tal tarefa avizinha-se como bastante difícil porque geralmente os que utilizam este tipo de retórica são os que vêm o indivíduo como uma espécie de simbiose indissociável entre o colectivo da sociedade e a estrutura criada pelo Estado para moldar os elementos que fazem parte desse mesmo colectivo.

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