Neste momento, se eu fosse líder de um dos partidos do arco da governabilidade em Portugal estaria com suores frios durante a noite. Apesar de ter uma noção relativamente clara das medidas necessárias a uma redução do défice orçamental a curto e a longo prazo, tal como acordado no âmbito do resgate financeiro, mas sem um respaldo inquestionável da população ou uma visão política pessoal (por exemplo, um preferência pela redução drástica das actuais funções estatais) que me compelisse a encetar as devidas e sucessivamente adiadas reformas profundas à estrutura do estado, não teria a mais mínima ideia de como implementá-las de forma a que estas não fossem bloqueadas pelos elementos do regime vigente que fazem da manutenção do status quo o seu cavalo de batalha.
É por esta razão que as declarações de Seguro são particularmente curiosas. "Eu estou disponível para substituir o Governo.", diz-nos vincadamente, como se alguém neste mundo julgasse que um político de carreira que se coloca na posição de líder do principal partido da oposição o faz não porque tem necessariamente interesse em vir a ser chefe de governo, mas porque gosta do cheiro do novo escritório. Sendo que a elite do PS, como gente pérfida e imoral que é, sabe perfeitamente o que causou esta crise e está mais do que ciente das dificuldades constitucionais em aprovar qualquer reforma significativa - mais não seja porque eles mesmos têm sido parte irrefutável deste problema - o que me começa a parecer a mim é que toda esta ansiedade em tomar o lugar de Passos Coelho mostra que na cabeça de Seguro já nem sequer importa construir uma série de frases feitas sobre como vai milagrosamente sacar Portugal da crise, sem reduzir a despesa social do estado ou aumentar impostos, porque o que realmente o preocupa é apanhar as últimas migalhas enquanto o bolo ainda existe. Se isto sugere que o princípio do fim está próximo e que isso, de alguma forma, é em si um bom sinal no grande esquema das coisas, é algo que ainda estamos para ver.
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