Wednesday, January 31, 2007
Tuesday, January 30, 2007
Desfazer a barreira
A equipa de futebol do Athletic Club possui uma tradição quase centenária que consiste em manter uma equipa inteiramente composta por jogadores bascos. Actualmente a regra é um pouco mais flexível – para fechar contrato é condição suficiente que o jogador tenha ascendência recente no país basco ou lá tenha sido formado.
Este caso idiossincrático torna-se particularmente interessante não somente pela rareza, mas por ser símbolo de uma resistência à evolução, no sentido oposto, do mercado de transferências. Durante muitos anos, o Athletic integrou o restrito grupo de clubes que conseguiram vencer repetidamente várias competições espanholas, tanto por via do acesso a alguns dos melhores jogadores nacionais (dos quais, por coincidência, muitos eram bascos), como devido à impossibilidade de outras equipas se reforçarem com mais e melhores jogadores estrangeiros. A progressiva abertura geral das regras existentes para contratações e o aumento da complexidade e organização social resultaram numa inevitável facilidade de aquisição de internacionais e provenientes de outras regiões de Espanha. Para o Athletic, limitado ao seu pequeno universo de potenciais jogadores regionais, as competições tornaram-se cada vez mais difíceis de vencer e, acima de tudo, mais dispendiosas – a grande vantagem de outros clubes não era apenas a obtenção de jogadores tecnicamente mais aptos, mas o facto de que, ao terem acesso a um mercado muito mais alargado, podiam reduzir os custos das suas aquisições e aumentar significativamente o leque de escolhas disponíveis consoante as necessidades. Sem grande surpresa, o Athletic não ganha títulos importantes há mais de vinte anos, esteve recentemente à beira da despromoção e a sua situação financeira já conheceu melhores dias.
Este comportamento não é de todo enigmático pois é fácil compreender que os adeptos vejam o seu clube como uma empresa simultaneamente capaz da melhor gestão e dos melhores resultados. Enigmática é a ambivalência existente na aplicação desta intuição à restante sociedade. A troco de uma falsa ilusão de segurança temporária no emprego dos que não desejam estar expostos à concorrência estrangeira e da estabilidade de empresas nacionais que adquirem um estatuto privilegiado relativamente a outras – em ambos os casos, por retirarem frutos de uma produção acima do seu valor real – todos os que não pertençam a nenhuma destas categorias, dentro ou fora do país, estão condenados a ver a liberdade de escolha e a hipótese de acumulação de riqueza severamente diminuídas. Um pouco como o endémico Athletic, sem êxito desportivo nem dinheiro para novos jogadores.
Monday, January 22, 2007
Leituras
2. Para quem estiver interessado, ainda a propósito disto e disto, anda por aí um documento da autoria do especialista da Universidade de Auckland Peter Gutmann sobre os custos do Windows Vista, A Cost Analysis of Windows Vista Content Protection, a causar algum alvoroço. Ao que parece, a Microsoft já respondeu indirectamente e Gutmann tem uma actualização prometida para breve.
3. Did the Soviets Collude? A Statistical Analysis of Championship Chess 1940-64 de Charles C. Moul e John V. C. Nye [pdf], cujo resumo diz quase tudo: «We examine whether players from the former Soviet Union acted as a cartel in international all-play-all tournaments – intentionally drawing against one another in order to focus effort on non-Soviet opponents – to maximize the chance of some Soviet winning. (...) Simulations of the period’s five premier international competitions (the FIDE Candidates tournaments) suggest that the observed Soviet sweep was a 75%-probability event under collusion but only a 25%-probability event had the Soviet players not colluded.»
4. The many stripes of anti-Americanism de Neil Gross no International Herald Tribune sobre o recente livro Anti-Americanisms in World Politics publicado pela Universidade de Cornell.
Wednesday, January 17, 2007
Tuesday, January 16, 2007
Eu fui mais colonizado do que tu
Situações como esta são particularmente úteis para diferenciar quem é realmente anti-imperialista de quem, tanto lá como cá, está apenas a usar o rótulo para criar instabilidade, ganhar publicidade internacional e a utilizar eventos menores para redireccionar críticas a outros alvos. Aliás, não existe nenhuma outra grande razão para os estudantes empunharem cartazes em inglês. Se tivessem realmente razão de queixa, não estivessem centralmente preocupados em que o resto do mundo os compreendesse directamente e não tivessem outras coisas em mente, os cartazes dos estudantes daquele que é o estado mais rico da Índia estariam sintomaticamente escritos na língua da potência colonizadora.
O guia que nenhum verdadeiro socialista segue
As supernovas também esturricam
A (arriscado?) convite da aL e da Elise, estou a servir de chef convidado no Something’s burning [or a fancy name for Esturrico] durante estas semanas de Janeiro. Quem não estiver com medo de inadvertidamente morrer envenenado com alguma das minhas receitas deveria dar uma olhadela. Quem estiver deve visitar o Esturrico na mesma porque lá estão muitas outras propostas gastronomicamente apelativas. E, claro, bom apetite.
Friday, January 12, 2007
O universo está "no sítio"
E não só. É a "matéria invisível" que o "segura" no lugar. E parece que ela se "sente" e "tem força de gravidade". Os corpos "flutuam" no espaço (lembrar que o cosmos também tem um "interior") porque há alguma coisa que os impede de "cair" nas suas profundezas. Poético, mas que drogas mirabolantes é que o jornalista da SIC que escreveu isto anda a tomar? Também quero.
[A notícia, sem ácido lisérgico, dada no Público e na BBC. Actualização 09/2008: Algum tempo depois, a SIC retirou esta página do seu sítio. A notícia pode agora ser lida no Internet Archive]
Wednesday, January 10, 2007
Unplugged
Tuesday, January 09, 2007
EU unleashed II
«(...) They have been informed in writing by the local mayor that when Romania joins the EU such practices will have to stop. They will be required to kill their pigs more humanely by electrocution, shooting or tranquillisers, watched over by a local inspector. The residents of the village of Vidra, 12 miles south of Bucharest, are not happy about the regulation. Neither are they pleased about a raft of others which will revolutionise the lives and traditions of the self-sufficient millions who earn their living from the land.(via Open Europe)
"I thought when we joined the EU we'd get lots of benefits and freedom," said Mr Margarit, 40, a railway worker. "But what does freedom mean if I can't slaughter my own pig in my back yard?" He also cited the taxes which are to be placed on those who produce their own plum brandy with a volume of more than 50 per cent (most producers), and the rule which will mean corpses will no longer be allowed to be kept at home for three days after death, as is the custom, but will have to be moved to the local church. Vegetables will have to be packaged before they can be sold from farms. Shepherds will no longer be able to sell their sheep-stomach wrapped cheeses by the roadside. (...)
"I can understand the advantages of certain of these regulations, like the hygiene aspect," said Mrs Margarit, 38, a nurse. "But as state workers with a joint [monthly] income of £536, we cannot afford the extra expense these rules will cost us, and we're worried about losing our identity as we join this huge club."
Ion Dimitru, a vegetable grower, said: "We were suppressed under pressure in communist times now we're being suppressed again, just when we thought we were free." In the months prior to Romania joining the EU, consumers have seen living costs rise, while wages have not kept pace. It is as yet hard for ordinary people to see what advantages joining will bring. (...)
Puro veneno
[Previamente publicado n'O Insurgente]
A opinião geral na Europa está sempre muito direccionada para dar especial atenção a todos os crimes chocantes e merecedores de indignação que são cometidos nos EUA, especialmente porque existe a ideia subjacente de que a defesa pessoal com o uso de uma arma de fogo é, de alguma forma, moralmente ilegítima – esta deve ser proporcionada única e exclusivamente pelo Estado – e que a não observação desta regra de ouro conduz inevitavelmente a um desastre social. Paralelamente, junta-se o preconceito de que nos EUA os pobres são uma espécie de excluídos da sociedade aos quais não é proporcionada (repare-se na indelével marca estatista do verbo na voz passiva) qualquer qualidade de vida em comparação com o paraíso idílico que estes encontram em solo europeu ou em qualquer outro local onde se esteja a "construir" uma sociedade "a sério".
Assim, quando há um homicídio (ou múltiplos homicídios) numa escola secundária americana onde um maníaco desata aos tiros com uma arma qualquer, a culpa é inexoravelmente da segunda emenda da constituição americana, que não postula os princípios de uma sociedade civilizada mas antes a de uns cowboys do velho oeste, do lóbi da National Rifle Association e, em simultâneo, da desumanização da sociedade consumista americana, do desespero total de quem não tem forma de sobrevivência e por aí adiante.
Argumentações cujo único objectivo, por vezes muito mal dissimulado, é dominar, controlar e proibir as acções mais naturais e livres do ser humano. Obviamente, é extremamente difícil fazer com que defensores incondicionais de uma interpretação paranormal da realidade à Bowling for Columbine aceitem ou esbocem argumentos racionais, estejam dispostos a comparar dados e tendências ou a antever as consequências a longo prazo das medidas que geralmente defendem no mundo real. Assim, através do espírito da época presente, nascem fenómenos de comunicação social também paranormais que se encarregam de manter e conservar esse próprio espírito.
Contudo, cada peripécia deste tipo acaba sempre por envolver algum grau de ironia. Num dos países mais pobres da América do Sul, onde os números se vão segurando à custa da venda desmedida de petróleo, ocorreu na passagem de ano uma tragédia que em qualquer país da OCDE receberia a classificação de massacre – foram assassinadas quase 150 pessoas em crimes distintos aparentemente não relacionados uns com os outros. Contrariamente a esta notícia que passou praticamente em branco, os meios de comunicação social andaram muito mais ocupados a noticiar, um ou dois dias depois, com grande destaque, o tiroteio numa escola secundária de Washington da qual resultou ("apenas") 1 morto.
Claro que a este ponto surgirá inevitavelmente o argumento, já habitual, de que estas coisas acontecem, tanto na reacção das pessoas como nos media, porque no caso norte-americano se coloca a fasquia muito mais elevada do que para um país sul-americano. Este argumento estaria dotado de uma coerência perfeitamente válida não fora o facto de denunciar uma lógica semelhante ao que se observou, no ano anterior, com o desastre do furacão Katrina, e que entra directamente em contradição com a atitude generalizada. Se o resultado expectável é, efectivamente, semelhante ao exposto no primeiro parágrafo, então não haveria razão alguma para tanta surpresa e choque ou colocação elevada de supostas fasquias. Tiroteios mortíferos, pilhagens, massacres, assassínios, etc. – nada disto seria surpreendente porque seriam resultados totalmente previsíveis e não haveria grande razão para que se tornassem grandes notícias, já que seriam extremamente frequentes (é por isso que já ninguém abre telejornais ou coloca nas capas da imprensa um ataque bombista no Iraque que mata dezenas de pessoas). Aliás, a verdade é que muita gente usa exactamente estes acontecimentos como confirmação e perfeita ilustração da sua teoria acerca da "sociedade americana" (alguns têm sérios problemas em evitar demonstrar o seu contentamento), alternando apenas com o argumento das diferentes fasquias quando encurralada entre a informação existente, no que diz respeito a diversos países, e a respectiva conjugação com as suas críticas mais ferozes e indignações mais significativas.
Este comportamento serve, resumidamente, para duas coisas. A primeira consiste em criar um mecanismo psicológico em que o indivíduo confirma sempre os seus preconceitos políticos através das notícias que lhe são disponibilizadas, não prestando qualquer atenção ao enquadramento estatístico da amostra que está a usar. Qualquer desastre que tome lugar nos EUA constitui uma prova irrefutável da sua teoria política, independentemente de coisas semelhantes, piores ou mais frequentes que aconteçam noutros locais. A segunda é a tentativa subtil de ocultação das verdadeiras intenções. A pouca divulgação de notícias como esta referente à Venezuela e o argumento das "fasquias de nível civilizacional" permitem que as máscaras se mantenham sem aparentar hipocrisias. Para quem acredita piamente que eventos deste género são resultados atribuíveis, na sua totalidade, aos sistemas políticos em vigor e ao conjunto de leis que cada uma das sociedades mantém como válido, refreando com muita dificuldade a sua vontade necrófaga de aproveitar politicamente qualquer catástrofe proveniente da terra dos yankees que surja em forma de breaking news, notícias como estas imploram para ser enterradas o mais possível ou negadas até ao absurdo. Se pouca gente souber (também não vale a pena andar a dizer por aí, dado que a Venezuela até está a dar um grande passo em frente) ninguém vai notar que a verdadeira preocupação não são os efeitos sociais reais das políticas exercidas em diferentes países, mas o facto de os EUA não seguirem o género de linha política interna que essas pessoas desejariam. Se assim não for, é possível que alguém repare e diga alguma coisa.
Sunday, January 07, 2007
Follow the white rabbit
"The Tragedy of the Bunnies" is a simple game that illustrates an important concept commonly referred to as “The Tragedy of the Commons.”Having a commons (publicly-owned property) sounds like a great idea, so why do stories about the commons – the ocean, rivers, and air – so often turn tragic? Why are so many species facing extinction? Why are so many resources being depleted? How do we avoid these tragedies? The following discussion explores some solutions. (...)
As any economist will tell you, people respond to incentives. If there's a valuable resource lying about in a commons—picture a pizza at a frat party—people will try and grab as much of that resource as they can before the resource is depleted. This response is natural—it's an example of people responding to incentives. In other words, in a zero-sum game, you need to "get while the getting is good". The more other people get, the less there is for you.
Even if the resource is renewable—like a forest or an elephant population—the situation can turn into a zero-sum game. This is because while it may be in the community's interest to refrain from depleting the resource, it's still in each individual's interest to "get while the getting is good." Tragically, the very people who do act in the long-term public interest and refrain from depleting the resource end up getting nothing. Even more tragically, when a renewable resource is utterly depleted, no one benefits over the long-term. This is the tragedy of the commons.
Friday, January 05, 2007
Leituras importantes
2. Global Warming: Confusing Moral and Practical Arguments de David Friedman sobre o aquecimento global. Sobre o mesmo assunto, ler Donald Bordreaux em The Missing Elements in the "Science" of Global Warming e The case for neglecting global warming e The Goal Is Freedom: Global Warming and the Layman de Sheldon Richman.
3. A Filosofia do Poder, uma leitura essencial na Crónica do Migas sobre a transferência de poderes e respectiva descentralização no âmbito da coexistência de um governo central e várias regiões com (alguma) autonomia administrativa.
4. Algumas crónicas de Carlos Ball sobre a Venezuela, em especial How Venezuela Fell Apart (2001), Why Is Bermuda Richer Than Venezuela? (2004), 'A Privatization From Below' (2005) e When 'the Future Was in Venezuela' (2005).
Revenge of the Nerds
Intel Promises 80-Core Commercial Chips in Five Years
Intel Corp., the world’s largest maker of x86 microprocessors, announced on Tuesday that it had created a test chip that contains 80 processing cores, which is a prototype of a chip that should deliver trillion floating-point operations-per-second (teraFLOPs) of performance. The actual commercial processors with 80 processing engines should be available in 5 years timeframe.(...)
"This new usage model will challenge the industry to deliver the one trillion floating-point operations-per-second (teraFLOPs) of performance and terabytes of bandwidth,” said Mr. Rattner."
Intel’s CTO outlined the importance of three major silicon breakthroughs. He started by revealing the first details of Intel’s tera-scale research prototype silicon, the world’s first programmable TeraFLOP processor. Containing 80 simple cores and operating at 3.10GHz, the goal of this experimental chip is to test interconnect strategies for rapidly moving terabytes of data from core to core and between cores and memory.
Wednesday, January 03, 2007
"En el 2021 habrá pobreza cero"
Venezuela inflation rises to 17 percent in 2006
«Venezuela's inflation rose to 17 percent last year from 14.4 percent in 2005 as spending power in the OPEC heavyweight was fueled by bumper oil earnings, the central bank said on Tuesday.
The price rises hit the poorest the hardest, as food and non-alcoholic beverage prices rose 26 percent. December consumer prices rose 1.8 percent over November, comfortably outstripping the 0.8 percent rise posted in the same period the year before.
"The acceleration of inflation is at this stage the major macro issue facing the government," said a Goldman Sachs analysts' note, predicting that 2007 inflation would be in the 15-17 percent range. (...)
Venezuela posted economic growth of 10.2 percent in the third quarter, driven by high crude prices and heavy government spending. President Hugo Chavez boosted minimum wages twice last year and expanded welfare programs that shored up his popularity. He was re-elected in a landslide last month.
Loose fiscal and monetary policy has increased the volume of bolivars in circulation, spurring on the highest inflation in the Americas. Liquidity surged around 60 percent in the year to May.»
Tuesday, January 02, 2007
Excelente frase para entrar em 2007
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EU unleashed
"We don't want to become servants to the EU either," [one lady] adds. "We'll no longer be able to make our Romanian polenta or mamaliga, because we'll have to eat sliced bread wrapped in plastic with a food safety stamp on it!"