Desde os filósofos pré-socráticos até ao presente, a civilização ocidental tem sido virtualmente motivada pela confiança axiomática depositada no progresso científico. Podem ter existido erros (a cosmografia de Ptolomeu), momentos de regressão e de frustração, mas o movimento impulsionador da descoberta e do conhecimento científicos parece ter definido o da própria razão. A relação do pensamento humano com os avanços científicos foi fundamental para a antropologia, para os modelos da história humana implícitos em Galileu e Descartes. Foi fundamental para o estabelecimento da modernidade, do positivismo e do conceito de verdade nos trabalhos de Newton, de Darwin e dos seus sucessores. Por sua vez, as teorias científicas subscreveram a evolução constante da tecnologia na qual as sociedades ocidentais alicerçaram o seu poder. Tal como Bacon e Leibniz pregaram, as portas do progresso científico teórico e aplicado estiveram sempre abertas, definindo o horizonte do amanhã.
Será que continua a ser assim? Estarão agora à vista certos limites, certas barreiras às nossas expectativas? A possibilidade de a Teoria das Cordas não poder ser verificada nem falseada implica uma crise ontológica no seio do próprio conceito de ciência. Há motivos intrínsecos que nos levam a acreditar que a cosmologia e a correspondente exploração do microcosmos são as suas fronteiras. Não há nenhum instrumento de observação por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das «paredes douradas» externas ou internas do nosso possível universo local. O conhecimento da consciência tem-se mostrado radicalmente evasivo. Pode muito bem acontecer que as analogias computacionais constituam um beco sem saída. A incompletude e a indeterminação, exemplificadas pelas obras de Gödel e de Heisenberg, são «muros» contra as quais a razão embate em vão. A acentuada diminuição do número de estudantes inscritos em cursos de ciências «duras» no Ocidente é sintomática. Tal como o são as novas ondas de racionalismo, irracionalidade, fundamentalismo e superstição que actualmente se abatem sobre nós.
Thursday, October 25, 2007
A ciência terá limites?
Monday, October 22, 2007
Pequenos comentários delatores
Espólio de Jorge Amado poderá ser doado a universidade nos EUA
Para Ubaldo Ribeiro, a transferência do acervo para as universidades norte-americanas que o queiram receber, como Harvard, "seria uma perda lamentável para a história literária brasileira e um desrespeito para com o maior escritor brasileiro".
Quem realmente crê na importância e relevo de um autor e, portanto, se preocupa com a preservação da sua obra, não pode dar-se ao luxo de estar vulnerável a sentimentos nacionalistas. Todas as possibilidades têm de ser analisadas e aquela que seja a mais satisfatória tendo em vista a eficácia nesta manutenção e divulgação do espólio, é a que será preferível, independentemente da sua localização geográfica (retirando a excepção em que a localização geográfica possa ser uma ameaça a estes objectivos). Às vezes é nestas pequenas coisas que se vê a influência perniciosa que uma ideologia ou o sentimento de pertença a uma comunidade - muitas vezes artificial - pode possuir sobre a racionalidade das pessoas.
Saturday, October 20, 2007
Friday, October 19, 2007
Heresia científica
"If you thought that science was certain - well, that is just an error on your part" -- Richard Feynman
James Watson, vencedor do prémio Nobel da fisiologia em 62 pela descoberta da estrutura em dupla hélice do ADN, disse há dias, em entrevista a uma publicação britânica, que as pessoas com maior concentração de melanina na sua pele (ainda se pode dizer pretos?) eram menos inteligentes do que os caucasianos. Na sequência disso, o Science Museum cancelou a sua visita como orador e agora o laboratório onde trabalhava suspendeu-o. Da última vez que verifiquei, a forma como em ciência se descartavam hipóteses, sejam elas originadas com base em evidências ou não, era através da sua refutação com dados empíricos significativamente contraditórios ou da proposição de teses alternativas que, de melhor forma, expliquem a existência destes dados. É, portanto, irónico que instituições que se dizem científicas recusem a presença de um cientista devido ao seu desagrado subjectivo pela natureza das suas teses, dizendo que estas ultrapassaram o limite do "debate aceitável". Este género de eventos deveria chamar à atenção dos que reclamam que a actividade científica não está politizada e é (praticamente) imune à opinião pública. De notar que neste caso não se trata sequer de um investigador vulgar mas de um guru histórico da genética que a prori, devido à sua fama, estaria menos vulnerável a este tipo de situações nas quais há uma espécie de dogma inviolável de cariz político que, por definição, ninguém pode questionar. Menos difícil será imaginar o que acontece ao tipo médio que está à procura de fundos de investigação e que, para além disto, tem de enfrentar a endogamia académica.
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Nota: ler o texto Racismo e o efeito corrosivo da filosofia do Desidério Murcho no De Rerum Natura.
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Nota: ler o texto Racismo e o efeito corrosivo da filosofia do Desidério Murcho no De Rerum Natura.
Sunday, October 14, 2007
Matematização hardcore
WHAT IS YOUR FORMULA? YOUR EQUATION? YOUR ALGORITHM? (Edge)
(via EconLog. Na imagem acima, a resposta de Steven Pinker)
The walls of Obrist's office were covered with single pages of size A4 paper on which artists, writers, scientists had responded to his question: "What Is Your Formula?" Among the pieces were formulas by quantum physicist David Deutsch, artist and musician Brian Eno, architect Rem Koolhaas, and fractal mathematician Benoit Mandelbrot.
Within minutes we had hatched an Edge-Serpentine collaboration for a "World Question Center" project, to debut on Edge during the annual Serpentine Gallery Experiment Marathon, the weekend of October 13-14. The plan was to further the reach of Obrist's question by asking for responses from the science-minded Edge community, thus complementing the rich array of formulas already assembled by the Serpentine from distinguished artists such as Marina Abramovic, Matthew Barney, Louise Bourgeois, Gilbert & George, and Rosemarie Trockel.
(via EconLog. Na imagem acima, a resposta de Steven Pinker)
Tuesday, October 02, 2007
Podcast recomendado
Boudreaux on Market Failure, Government Failure and the Economics of Antitrust Regulation (mp3)
Don Boudreaux of George Mason University talks with EconTalk host Russ Roberts about when market failure can be improved by government intervention. After discussing the evolution of economic thinking about externalities and public goods, the conversation turns to the case for government's role in promoting competition via antitrust regulation. Boudreaux argues that the origins of antitrust had nothing to do with protecting consumers from greedy monopolists. The source of political demand for antitrust regulation came from competitors looking for relief from more successful rivals.
Don Boudreaux of George Mason University talks with EconTalk host Russ Roberts about when market failure can be improved by government intervention. After discussing the evolution of economic thinking about externalities and public goods, the conversation turns to the case for government's role in promoting competition via antitrust regulation. Boudreaux argues that the origins of antitrust had nothing to do with protecting consumers from greedy monopolists. The source of political demand for antitrust regulation came from competitors looking for relief from more successful rivals.
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