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Thursday, December 28, 2006

Apocalypse Now

How unlikely is a doomsday catastrophe? de Max Tegmark (MIT) e Nick Bostrom (Oxford)

«Numerous Earth-destroying doomsday scenarios have recently been analyzed, including breakdown of a metastable vacuum state and planetary destruction triggered by a "strangelet'' or microscopic black hole. We point out that many previous bounds on their frequency give a false sense of security: one cannot infer that such events are rare from the the fact that Earth has survived for so long, because observers are by definition in places lucky enough to have avoided destruction. We derive a new upper bound of one per 109 years (99.9% c.l.) on the exogenous terminal catastrophe rate that is free of such selection bias, using planetary age distributions and the relatively late formation time of Earth. (...)

We have shown that life on our planet is highly unlikely to be annihilated by an exogenous catastrophe during the next 109 years. This numerical limit comes from the scenario on on which we have the weakest constraints: vacuum decay, constrained only by the relatively late formation time of Earth. conclusion also translates into a bound on hypothetical anthropogenic disasters caused by high-energy particle accelerators. This holds because the occurrence of exogenous catastrophes, e.g., resulting from cosmic ray collisions, places an upper bound on the frequency of their anthropogenic counterparts. Hence our result closes the logical loophole of selection bias and gives reassurance that the risk of accelerator-triggered doomsday is extremely small, so long as events equivalent to those in our experiments occur more frequently in the natural environment. Specifically, the Brookhaven Report suggests that possible disasters would be triggered at a rate that is at the very least 103 times higher for naturally occurring events than for high-energy particle accelerators. Assuming that this is correct, our 1 Gyr limit therefore translates into a conservative upper bound of 1/103×109 = 10-12 on the annual risk from accelerators, which is reassuringly small.»

Friday, December 22, 2006

Vale a pena ler

Hammer & tickle de Ben Lewis, na Prospect (via 25 centímetros de neve)

We'll always have Paris

'Paris Syndrome' strikes Japanese

«A dozen or so Japanese tourists a year have to be repatriated from the French capital, after falling prey to what's become known as "Paris syndrome".

That is what some polite Japanese tourists suffer when they discover that Parisians can be rude or the city does not meet their expectations.

The experience can apparently be too stressful for some and they suffer a psychiatric breakdown. Around a million Japanese travel to France every year.

Many of the visitors come with a deeply romantic vision of Paris - the cobbled streets, as seen in the film Amelie, the beauty of French women or the high culture and art at the Louvre. The reality can come as a shock. An encounter with a rude taxi driver, or a Parisian waiter who shouts at customers who cannot speak fluent French, might be laughed off by those from other Western cultures. But for the Japanese - used to a more polite and helpful society in which voices are rarely raised in anger - the experience of their dream city turning into a nightmare can simply be too much. (...)

The Japanese embassy has a 24-hour hotline for those suffering from severe culture shock, and can help find hospital treatment for anyone in need. However, the only permanent cure is to go back to Japan - never to return to Paris.»

Wednesday, December 20, 2006

A tradição de ser contra a tradição

Hoje à noite, a convidada de Ana Sousa Dias no programa Por outro lado, transmitido pela 2:, foi Pilar del Río. Pilar del Río é uma senhora de meia-idade com um cabelo impecavelmente arranjado e, pelo teor da entrevista, com bastante experiência pessoal em técnicos de estética capilar. Mas há mais, Pilar del Río não só tinha um cabelo impecavelmente arranjado (para dizer a verdade, provavelmente sujeito a uma coloração artificial), usava também pendentes brilhantes nos lóbulos das suas orelhas, uma camisola decotada e uma saia. Notava-se também a maquilhagem que aperfeiçoava os contornos da sua cútis acetinada e o batom que fazia os seus lábios mais proeminentes e vistosos. Para além de tudo isto, teve a graciosidade inigualável de fazer um monólogo bilingue com Ana Sousa Dias, falando um castelhano (língua secular baseada de forma incontornável em outras milenares como o latim vulgar e o euskera) de gramática aparentemente de acordo com a norma estabelecida pela Academia Real Espanhola e uma pronúncia descafeínada entre o português e o andaluz (outra língua secular, mas desta vez baseada também na fonética moçárabe). Há mais ainda. Para além de ter utilizado expressões idiomáticas em castelhano, Pilar de Río disse que estava casada (pela segunda vez) com José Saramago e que tinha animais domésticos na sua casa em Lanzarote.

O ponto culminante do monólogo foi, portanto, quando Pilar del Río se revelou totalmente contra toda e qualquer espécie de tradição. As suas afirmações anteriores sobre Franco, o catolicismo e o mundo da moda e respectiva indústria denunciavam já a sua alma de eterna progressista, sempre em busca de uma revolução social que não deixe a sociedade sedentarizar-se (se não forem os sutiãs queimados e a libertação dos grilhões que impiedosamente amarram o Homem a si mesmo, que sejam os direitos humanos dos símios e robôs ou coisa semelhante). Pilar del Río deu alguns exemplos de tradições que a deixavam incomodada e Ana Sousa Dias, num dos seus raros momentos de despertar da letargia em que mergulhara no início do programa, ainda esboçou uns comentários indignados sobre receitas culinárias que passavam de geração em geração. Mas nada, Pilar del Río era totalmente avessa a toda e qualquer tradição ou regra herdada existente, fosse ela qual fosse.

Como se não bastasse já todo este acumular misantropo de emoções, chegou o segundo clímax. Pilar del Río afirmava com orgulho espelhado na sua face que admirava Saramago por se conseguir entender com os jovens pertencentes aos movimentos anti-globalização. Estava dado o mote para o chorrilho que se aproximava. A partir daqui foi sempre em movimento descendente, qual bola de neve rolando por inevitável encosta de declive acentuado. A globalização impiedosa, a exploração do capitalismo selvagem, o lucro obsceno das grandes empresas, a economia desumana, os interesses económicos. Lugares-comuns perfeitamente gastos, correntes e com um historial já mais que centenário mas que, por alguma razão imperscrutável, continuam a ser vistos como uma visão provocadora e contrária ao sistema, para além de inovadora e refrescante.

Uma coisa é bem certa. Saramago, mesmo quando não está presente ou a fazer observações sobre a inutilidade da informática, faz questão de enviar a sua esposa como emissária especial da sua palavra divina para que ninguém sinta a sua falta e passe um serão risonho em companhia da exposição dos princípios filosóficos de algo perfeitamente congruente e fascinante como o comunismo individualista - o tal que nega a privacidade por ser imoral, ao mesmo tempo que recusa normas sociais conservadoras e reaccionárias impostas, que quer promover a cidadania, a entreajuda e o humanismo, quando se recusa a aceitar tudo aquilo que faz parte da natureza humana, e que rejeita todo e qualquer passado ao mesmo tempo que não consegue sequer dar um passo sem ele.

Monday, December 18, 2006

Todo o jogador é um potencial assassino

German gov't considers jail time for gamers

«Proposed legislation targets pixelated mayhem and virtual violence; legislators consider acts of cruelty against "human-looking characters" as reason enough to fine, imprison.

Games in Germany already face strict censorship laws--titles such as Gears of War are deemed to be too violent, and the German board of classification (the Unterhaltungssoftware Selbskontrolle) refuses to give them a rating, effectively meaning that the games can be sold only at adults-only retailers.

Nazi symbols are also banned in the country, except for art and educational purposes--so games which use them, including the Wolfenstein series, are also banned from being released in Germany. Even games such as Dead Rising are regarded as crossing a threshold of acceptability since violence towards zombies is considered to be too close to violence towards real people.

Legislation currently being drafted would take these standards a step further. The bill, which was introduced last week by the states of Bavaria and Lower Saxony, proposes a new offence. Those found guilty of "cruel violence on humans or human-looking characters" could face fines or jail time of up to 12 months--and those it applies to include developers, retailers, and consumers, reports UK newspaper The Guardian. (...)

The proposed legislation makes the future for German game companies unclear. One company, Far Cry and Crysis developer Crytek, has already made known its plans to relocate to another country should any legislation of this kind be made law

Friday, December 15, 2006

Todo o cidadão é um potencial terrorista

Homeland Security chief defends Real ID plan

«U.S. Department of Homeland Security Secretary Michael Chertoff on Thursday defended forthcoming national ID cards as vital for security and consistent with privacy rights.

Chertoff said one of his agency's top goals next year is to forge ahead with recommendations for the controversial documents established by a federal law called the Real ID Act in May 2005. By 2008, Americans may be required to present such federally approved cards--which must be electronically readable--to travel on an airplane, open a bank account or take advantage of myriad government services such as Social Security. (...)

The upcoming federally approved IDs are intended to be a secure, tamperproof means of protecting Americans' identities while keeping out terrorists and other wrongdoers, Chertoff said. (...)

Some have argued that the idea of creating more tamperproof IDs is only a marginally better way to screen out those intent on committing terrorist acts because ID cards don't even begin to tackle a core crime prevention challenge: determining a person's unspoken intentions. (...) A September study released by the National Governors Association, National Conference of State Legislatures and American Association of Motor Vehicle Administrators estimated that the overhaul of their identification systems would cost states more than $11 billion over five years. (...)

The cards must contain, at a minimum, a person's name, birth date, gender, ID number, digital portrait, address, "physical security features" to prevent tampering or counterfeiting and a "common machine-readable technology" specified by Homeland Security.»

Wednesday, December 13, 2006

Agora que o salário mínimo aumentou

Ministro quer alunos a trabalhar

«Titular da pasta do Ensino Superior revela que Governo está a preparar legislação que recompensa estudantes universitários que acumulem part-time com os estudos.»

Há estudos que são tiros no pé

OCDE recomenda que universidades e politécnicos passem a ser fundações

«O estudo encomendado pelo Governo aconselha também que professores e trabalhadores não-docentes das escolas percam o vínculo ao Estado e deixem de ser funcionários públicos.

Fundações – a proposta da OCDE para o ensino superior português é que universidades e politécnicos públicos passem, gradualmente, a ser fundações financiadas pelo Estado, mas geridas como se fossem do sector privado.

O organismo aconselha também que professores e trabalhadores não-docentes das escolas percam o vínculo ao Estado e deixem de ser funcionários públicos.

As instituições de ensino superior poderão, "por exemplo, continuar a ser financiadas pelo Governo, mas serão vistas como pertencendo ao sector privado", diz o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) encomendado pelo Governo, no início deste ano, no âmbito da avaliação internacional do sistema de ensino superior português. (...)

O objectivo é que as instituições tenham lideranças mais fortes, mais iniciativa e inovem. "Inércia" e "inflexibilidade" são duas das palavras que caracterizam a acção dos actuais reitores, critica a OCDE. Outras são falta de liderança e falta de vontade para tomar uma decisão. "Há uma clara necessidade de mudar."

A OCDE sabe que esta recomendação é "radical" e questiona: "Será que o Governo está disposto a ceder o controlo das instituições e a passá-lo para fora do sistema do Estado? Será politicamente viável? Como é que vão reagir as instituições a estas propostas?" (...)»

Friday, December 08, 2006

It's all about the oil II

Oil field delays mean higher 2010 crude price: EIA

«The U.S. government's top energy forecaster on Tuesday said it raised its estimate for world crude prices in 2010 by about 20 percent to near $60 a barrel due to delays bringing new oil fields on line. (...)

World crude oil prices are projected to average $57.47 a barrel in 2010 based on 2005 dollars, versus a year-ago estimate of $47.29 a barrel in 2004 dollars, the EIA said. (...) U.S. crude oil futures have hovered around $60 a barrel in recent weeks, down from the record $78.40 hit in July.

World crude prices will dip to $49.87 a barrel in 2015 and then rise steadily to average $59.12 in 2030, the EIA said. That's versus the $56.97 a barrel average for 2030 that the EIA predicted last year.»

Oil's Well

«Once again, doomsayers claiming the world's oil will soon run out have been proved wrong. There is, however, a huge threat to global fossil fuel supply: proposed taxes that would kill investment and exploration. Some environmentalists contend that the world has reached peak oil production and that we've entered a period of decline that demands we abruptly shift to more politically correct forms of power.

But before we start having the government mandate windmills on every street corner, it would be wise to listen to oil industry historian Daniel Yergin, the chairman of Cambridge Energy Research Associates. Yergin, whose 800-page best-seller, "The Prize: The Epic Quest for Oil, Money and Power," won a Pulitzer, this week published an analysis that found a remaining 3.74 trillion barrels of total global oil reserves — more than three times as much as "peak oil" theory contends. (...)

CERA's study reveals that Hubbert's approach was riddled with flaws:
• He underestimated the effectiveness of new technologies in discovering, retrieving and refining oil resources.

• His forecasts of oil production over the following decades in the lower 48 states were hugely understated — by 66% in the case of 2005.

• He failed to anticipate the huge finds in Alaska and the Gulf of Mexico.

• Even leaving new technology aside, Hubbert's prediction of a steep downward curve after a production peak is based on false assumptions regarding typical oil fields.

• He ignored the impact of price and demand in driving production.

"This is the fifth time that the world is said to be running out of oil," noted Yergin in releasing the report, titled "Why the Peak Oil Theory Falls Down: Myths, Legends and the Future of Oil Resources." (...)

CERA's Yergin points out that each time there have been fears of oil running out, "technology and the opening of new frontier areas have banished the specter of decline." He concludes that "there's no reason to think that technology is finished this time." That is unless tax-crazed politicians step in to finish it.»

Thursday, December 07, 2006

The State's my Personal Jesus


«Apesar das vantagens, o VoIP ainda não pode ser visto como um substituto da rede fixa tradicional, devido à inexistência de um plano nacional de numeração para a recepção de chamadas através desta tecnologia, diz Miguel Lage, da Deco

Tuesday, December 05, 2006

Alguém falou em racionalização?

Mariano Gago admite fechar universidade em Lisboa

«O ministro do Ensino Superior lançou a ideia numa reunião com os reitores. Nova, Clássica, ISCTE e Técnico, uma delas pode fechar. (...)

Uma das quatro universidades públicas em Lisboa poderá encerrar. Esta é uma das hipóteses que está a ser ponderada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, no âmbito da reorganização da rede de estabelecimentos de ensino superior que deverá avançar no próximo ano, seguindo as recomendações do relatório da OCDE que será divulgado na próxima semana.»

Cavar a própria cova

[Previamente publicado n'O Insurgente]

Todas as discussões sobre o estado do ensino superior em Portugal acabam mais ou menos da mesma forma - com um consenso geral sobre as qualidades visíveis que este deveria apresentar e não apresenta. Formação com um elevado padrão de qualidade a nível internacional, preparação para uma flexibilidade laboral, eficiência optimizada no aproveitamento de recursos financeiros e didácticos disponíveis, professores de simultâneo talento pedagógico e científico e um clima que propicie a investigação e respectiva troca com a sociedade de cariz não-académico.

Não há nenhum problema endógeno em todos estes desejos. A incompatibilidade surge apenas quando aqueles que concordam entre si sobre a discordância relativa ao actual panorama do ensino superior se revelam como sendo socialistas da velha escola, um problema que afecta particular e gravemente a elite académica (este sim, um problema de endogenia e endogamia). Acontece que adicionalmente a todas estas ânsias por resultados palpáveis, ambicionam também - o que talvez seja a cereja no topo do bolo - um ensino superior tendencialmente gratuito e cumpridor de determinados padrões de uniformização para efeito de igualdade de condições e oportunidades, de tal forma que não se verifiquem grandes disparidades entre cursos de universidades diferentes, métodos de avaliação, critérios de financiamento de projectos, etc. Isto é tão exequível como querer fundir o modelo de qualidade do emblema Ivy League/Russell Group com o paraíso tecnológico japonês e o "preço" e a "igualdade" da educação em Cuba.

Uma vez que é impossível combinar a oferta de todas estas características de uma forma espontânea - o que qualquer crítico social omnisciente e eticamente intocável reconhecerá como uma falha significativa - é aqui que o apelo à participação das instâncias estatais entra em cena; o planeamento central é sempre o agente de recurso quando o objecto contestado é parte das consequências de viver num mundo onde a criação natural de serviços serve o actual estado de evolução de uma dada sociedade. Este apelo não se limita obviamente a um pedido à interferência no sector - até porque no caso português o ensino estatal já constitui uma grande fatia do paradigma actual - mas sim a modificações na fórmula de engenharia vigente. O Estado acaba assim por assumir o papel de derradeiro responsável pela tarefa do ensino universitário e daí resulta que passam a ser geridos os recursos académicos de acordo com o que os dirigentes nomeados pensam ser correcto e não consoante o processo típico de uma economia de mercado, que é como quem diz, com as escolhas a serem feitas por parte de quem paga o serviço.
Há várias consequências resultantes deste tipo de política. A primeiro é a de que todos estes recursos, mesmo tendo em conta o factor das variantes regionais, passam a ser alvo de uma racionalização programada pois é impossível cobrir tudo com semelhante ênfase. O ensino superior - métodos de ensino, cursos, disciplinas, horários - tem, portanto, de ser elaborado para o aluno médio e para as saídas profissionais médias. Como não existe tal coisa como o aluno médio nem a profissão média, este acaba por não estar adaptado para servir ninguém de forma integral, sendo que esta racionalização massiva acaba por danificar a liberdade de escolha e consequentes nichos de mercado que poderiam surgir, os quais são substituídos por cursos de carácter mais generalista. Como os critérios de selecção do que deve ser ensinado estão a cargo dos comités organizados pelas próprias universidades em questão (em algum ponto da linha, encontra-se também a barreira do Portugal das ordens profissionais, mas esse é outro problema), gera-se desperdício generalizado por duas vias: se por um lado, visto que há dinheiro para torrar à vontade sem grande discernimento, existem cursos e opções de utilidade duvidosa que ninguém frequenta e continuam a ser mantidos, por outro é extremamente frequente observar, dentro do carácter generalista, uma incidência concreta sobre matérias que os alunos nunca poderão colocar em prática a menos que estejam a pensar em ser eles próprios sustentados pela estrutura académica estatal (nesse caso, ainda terão provavelmente vários anos de luta na selva de "amiguismos" pela frente) ou considerem a hipótese de emigração. Dados estes factos, o desemprego crescente que se verifica entre licenciados não é muito surpreendente. E muito menos surpreendente é ler os dados que apontam as percentagens de licenciados a trabalhar, também sem grande surpresa, em áreas que requerem qualificações inferiores às que adquiriram. A insistência tenaz apenas acaba por ironicamente reflectir a lógica do ciclo vicioso. Quanto mais a sociedade é forçada a investir em ramos demasiado específicos dos quais faz pouco uso, mais tempo lhe levará a acumular necessidade suficiente para os tornar relevantes e desejados.

Existem muitas outras fontes que permitem entender onde está o desperdício, seja porque o dinheiro acaba por ir parar a actividades que produzem algo de valor muito inferior ao que com elas é despendido, devido às próprias consequências do modelo seguido, ou porque simplesmente a estrutura de remunerações e outros gastos é definida por decreto; mas a juntar a isto há sempre o problema de que qualquer instituição cuja sujeição às forças de mercado esteja demasiado mitigada dificilmente criará resultados que se distingam pelo mérito do seu trabalho. Como não está submetida à necessidade directa de garantir uma auto-subsistência, não há nem incentivo à organização interna que promova e premeie a qualidade - para além do facto de que, sendo estatal, está sujeita à necessidade de se apresentar como um símbolo de "igualdade" em alguma medida - nem há razão para estabelecer um feedback real e dinâmico com aqueles que deveria servir. A sua existência e manutenção, uma vez que maior independência nunca a tem nem provavelmente a deseja por representar uma cessão da obediência a estes princípios, diz apenas respeito a motivos políticos e não económicos. É aqui que o sonho socialista se começa a desfazer. Qualidade vislumbra-se muito pouca, desperdício sobra em demasiada e os fundos investidos na educação através dos impostos, se fossem colocados a circular livremente, provavelmente dariam para ensinar várias gerações em universidades privadas, também elas criadas com parte desse dinheiro. De notar que, no entanto, qualquer defensor do ensino estatal é também quase sempre um fervoroso defensor do combate ao esbanjamento e da promoção de valores como a qualidade, a criatividade e a inovação, o que é quase tão gracioso como os políticos que se manifestam fortemente contra a corrupção.

No fim de tudo, apenas se pode concluir que o desígnio utópico da resolução dos problemas de mercado através de uma solução que se supõe superior a este - por não responder aos seus mecanismos próprios - e os corrige, acaba também por falhar redondamente e ter resultados muito distintos dos objectivos delineados à partida quando necessita de encarar o mundo real. Como tenta responder a quase tudo e acaba por responder a quase nada, muitas vezes, os efeitos são ainda mais negativos do que o problema que se apresentava inicialmente, não só porque se estabelecem novas relações entre o poder político e a forma como este se relaciona com as pessoas, mas porque o poder político passa a poder controlar a própria forma como estas se relacionam entre si, e consigo mesmo, por meio das regras que ele próprio estipula. É por isso que em Portugal se discute como deve ser financiado e gerido o ensino superior (e o ensino em geral) há décadas e toda a gente concorda exactamente em quais são os resultados desejados mas praticamente toda a gente prescreve a forma errada de os alcançar. A maior prova disto é que o ensino português não tem particular fama de ser de grande qualidade, não gera uma sociedade com o conhecimento proporcional que devia fornecer quando comparado com o que com ele se gasta, oferece poucas opções relevantes ao mesmo tempo que tem opções irrelevantes em demasia, é tudo menos barato e, acima de tudo, não é livre. Porque nem incute a responsabilização individual dos alunos, nem promove a autonomia das universidades (sejam elas estatais ou privadas), nem responde às escolhas dos pais, nem cria oportunidades para as empresas ou para as eventuais ofertas de ensino providenciadas a menor escala por outros meios que não os regulares (ensino especializado, ensino à distância, etc.).

Pedir ao Estado que faça alguma coisa é extremamente fácil. Tão fácil e previsível como aguardar que uma infindável série de governos se sintam seduzidos pela visão de que tal aliciante pedido lhes permita adquirir ainda mais poder, para dominar ou controlar. Difícil é fazer o caminho no sentido inverso - compreender as razões pelas quais a pseudo-solução anterior apenas gera constantemente becos sem saída a cada direcção para a qual se tente virar e reconhecer que muitos dos problemas tipicamente apontados são precisamente a consequência do modelo actual que, em teoria, se oferecia como forma de resolução para outros problemas que permanecem sem ser resolvidos.

Monday, December 04, 2006

Liberdade e igualdade I


"A society that puts equality - in the sense of equality of outcome - ahead of freedom will end up with neither equality or freedom. The use of force to achieve equality will destroy freedom. On the other hand, a society that puts freedom first will, as a happy by-product, end up with both greater freedom and greater equality. Freedom means diversity but also mobility. It preserves the opportunity for today's less well off to become tomorrow's rich, and in the process, enables almost everyone, from top to bottom, to enjoy a richer and fuller life."

Pequenas notas II




1. Boas notícias para os fãs de Ayn Rand. O Atlas já entrou no activo.

2. Fiscal Policy Lessons from Europe de Daniel J. Mitchell na Heritage Foundation, uma comparação entre a situação económica na Europa e nos EUA.

3. O aguardado relatório sobre a Antikythera, o pequeno computador com mais de 2000 anos, saiu finalmente. A notícia pode ser lida no New York Times.

4. A ABC News, citando Arthur Brooks, autor de Who really cares diz que nos EUA a direita, apesar de ironicamente mais pobre, é mais generosa do que a esquerda. Algumas razões lógicas são apontadas na notícia. O AAA refere um artigo de Thomas Sowell em que também são discutidos estes resultados e o livro de Brooks.

5. Free to Choose, agora totalmente disponível de forma gratuita no Idea Channel.

6. O artigo Portuguese research universities: why not the best? [pdf] de Michael Athans que já tinha referido aqui n'O Insurgente.

6. Parece que os suecos confiam mais nas companhias IKEA, Saab, Volvo e Ericsson do que no partido do governo, na igreja, no banco central e na estação pública de televisão.