Pages

Wednesday, December 28, 2005

Desmontagem política IX

(cont.)
15. "Para finalizar, tu indicas que a existência de estados são o principal entrave à produção de riqueza. Mas riqueza por parte de quem. De facto, sem estados, as empresas ficariam mais ricas e poderosas. Ir-se-ia gerar mais riqueza. Mas o comum cidadão veria os seus direitos reduzidos. Não teria nenhum orgão que se preocupasse com ele e que zelasse pelos suas liberdades."

A intervenção do Estado é o principal entrave à produção de riqueza. Não tenho dúvida alguma deste facto. Quando me refiro à produção de riqueza, incluo a de toda a gente. Os mais pobres também pagam impostos, caso não tenhas reparado. Os mais pobres também consomem produtos, cujo preço é, nada mais nada menos do que, determinado pelas condições de mercado, leis que o influenciam e pelos impostos que pessoas da tua ideologia política permitem que existam, em nome da redistribuição da pobreza. Perdão, vocês dizem redistribuição da riqueza.

Se estes impostos existem (ou são elevados, numa versão mais conformista), está a ser roubado dinheiro às pessoas que contribuiria para as suas necessidades mais básicas e as permitiria ter mais capital disponível para investimentos a longo e médio-prazo. Não me parece que compreendas o âmago da questão. Quando tu defendes o teu tipo de regime estás a prejudicar precisamente todas aquelas pessoas que dizes querer ajudar. Das duas uma, ou esperas receber uma fracção do Orçamento de Estado se conseguires um cargo na Administração Pública ou então nunca sequer pensaste na maior parte da verborreia que proferes.

16. "Para mim os estados são a forma de assegurar Justiça e Igualdade entre todas as pessoas."

Wishful Thinking. Quem assegura a Justiça é o poder judicial. A "Igualdade" não deve ser assegurada por ninguém. Isso parece um lema retirado do Admirável Mundo Novo.

17. "Um homem deve ser reconhecido por aquilo que ele faz na vida e não pelo número de zeros na conta bancária dos pais."

Muito bonito. Agora só falta que os pais tenham dinheiro suficiente para que o filho veja ao seu alcance a possibilidade de explorar melhor as suas capacidades. Se não o tiverem, terá ele de gastar o seu tempo como varredor de ruas (ou algo equivalente), como no teu exemplo anterior, de forma a acumular dinheiro suficiente para o poder fazer, se assim o desejar. Como bom socialista que és, suponho que essa coisa do "número de zeros na conta" seja uma manifestação a favor da proibição do sigilo bancário, como já havias feito aqui? Numa sociedade liberal não há que obrigar ninguém a divulgar dimensões das contas bancárias.

18. "Espero que compreendas o meu ponto de vista tal como tentei perceber o teu. Tenho muita pena que comeces a desenvolver "reacções alérgicas" a opiniões divergentes da tua. Lembra-te que ninguém tem razão em tudo. Eu acredito no meu modelo e compreendo que tu acredites no teu. Cada um é LIVRE de acreditar no que quizer. Não pode é impor o que acredita aos outros."

Não me parece que tenhas tentado compreender ponto de vista algum. Os teus primeiros comentários foram de imediata contestação perante o que eu dizia. Os seguintes foram uma jorrada de banalidades políticas, as quais refutei em toda a sua totalidade. Se tentaste perceber a minha perspectiva sobre o assunto, devo dizer-te que aparentou ser precisamente o contrário. Para quem me disse que eu devia "rever esses números" e se limitou a inventar dados (obviamente, sem citação de qualquer fonte) e veicular opiniões como factos, estás com umas afirmações bastante pretensiosas relativamente à tua presumida tolerância de debate.

Quem diz que ninguém pode ter razão em tudo, deve também olhar-se a si mesmo. Não me parece que a tua postura arrogante durante os comentários alguma vez tenha sido coerente com o que agora dizes. A reacção alérgica deve-se a gente que não sabe metade sobre o que afirma e se esconde em cinco ou seis chavões políticos completamente vazios de significado. Esta é semelhante à que tenho relativamente a alguém que me venha "demonstrar" que a força da gravidade não existe (ou que o Espaço-Tempo é euclidiano, numa asserção mais correcta...).

Cada um, realmente, é livre de acreditar no que quizer (sic). Não encontrarás ninguém, mais do que eu, a favor da liberdade de culto religioso.

19. "A propósito disto tenho uma questão para te colocar. Se no teu mundo houvesse gente que preferisse viver num estado que lhes assegurasse direitos essenciais, negar-lhe-ias essa escolha?"

Interessante questão a tua. E puramente reveladora. Continuas a aplicar as tuas visões a outras ideologias políticas. Se estamos a falar da ausência de Estado, como poderia eu ser o líder do "meu mundo"?

Numa sociedade liberal, existe, obviamente, liberdade de associação. Não há qualquer impedimento lógico para que assim não seja. Quem não compreende este simples facto, não entendeu sequer as premissas mais básicas do liberalismo.

Uma sociedade de cariz liberal pode existir com um Estado, não tem de ser necessariamente anarco-capitalista.

O único direito essencial que conheço é a liberdade e esse não precisa de um Estado para ser garantido. Contudo, se as pessoas desejassem viver com um Estado, porque não haveriam de o fazer? O problema seria delas. Não teriam, no entanto, o direito de coagir os outros a pagar impostos para que tal fosse possível. Se querem um Estado, que sofram eles as consequências e o financiem eles.

"Permitirias a criação de um estado que pudesse existir sem se preocupar em um dia ver-se invadido pelo resto do mundo?"

A resposta à questão anterior é igualmente aplicável a esta pergunta. Ainda assim, porque temes a invasão por parte do resto do mundo? Vamos lá aglutinar todas as tuas teorias. A não-existência de um Estado beneficia os ricos e prejudica os pobres. Logo, segundo a teoria que tem sido constante, esta nação X seria constituída por gente muito rica e gente extremamente pobre porque o liberalismo aumenta o foço (sic) entre os pobres e os ricos. Ora, se os ricos são extremamente ricos, porque não podem comprar armamento militar para se defenderem de uma invasão? Por acaso precisará a nação X de um Estado para que tal seja possível? Não necessariamente, as contas bancárias dos ricos todas juntas (lembremo-nos, como andaram a explorar os pobres por muito tempo, são todos mesmo muito, muito ricos) seriam 1000 vezes superiores às receitas fiscais do Estado em 20 anos. Como os ricos são mesmo muito, muito ricos, poderiam ter a sua própria indústria de armamento que, para além de assustar os pobres, mesmo muito, muito pobres, serviria de forma de "Defesa Nacional" e resolveria o problema da difícil importação de material bélico vindo de outras nações que a desejassem invadir (já viste que até estou a ser simpático e entro na tua mentalidade, tomando os países como um todo colectivizado?). Qual é o receio de invasão, então?

Outras duas questões pertinentes levantadas são:

1. Se a nação X é uma nação liberal (vamos assumir que sem Estado, devido à tua pergunta), por que razão quereria alguém invadi-la? Como é um país liberal, como tu próprio disseste, há mais sem-abrigo, há mais pessoas no limiar da pobreza, a qualidade de vida é menor... então, qual é a lógica de invadir uma nação liberal, onde não existe nada para além da exploração capitalista dos mais pobres? Ou quererás dizer que afinal o país desenvolveu infra-estruturas essenciais devido ao capitalismo e é algo que se torne apetecível para forças exteriores e fluxos migratórios?

2. Se o resto do mundo tem Estados e a "minha nação" não tem, porque haveriam os outros Estados de querer invadi-la? Não estás a querer insinuar que os Estados não servem apenas para a protecção dos cidadãos e também invadem outros países, pois não? (coisa nunca vista na História...) Reformulando, se os Estados eram bons e necessários, como é possível que invadam outros países assim sem mais nem menos? Sempre podes sugerir a condição hipotética de que não existissem Estados pelo mundo inteiro mas, nesse caso, como defines invasão? Não existiriam fronteiras políticas definidas por Estados, o que nos levaria a perguntar qual é a distinção entre o estabelecimento de um Estado por parte de locais e uma "invasão" por parte de forasteiros. Não seriam ambas as versões uma forma de estabelecer um regime onde existe um monopólio da aplicação da força?

"É que se o fizesses irias assistir a um êxodo a uma escala planetária para o meu país e irias perder toda a mão de obra barata que precisas para o teu modelo liberal funcionar."

Contrariamente ao "meu mundo", no teu país faz imenso sentido que tu sejas o líder, é assim que sempre tem funcionado o estatismo. Não deixa de ser irónico que te coloques em posição de dizer, com sinceridade, que é o teu país. Esse tique totalitarista foi o quê? Um erro semântico?

Quanto as tuas afirmações propriamente ditas, gostava de te perguntar se não aprendeste nada com a queda do muro de Berlim. Bem sei que há quem gostaria de pensar o contrário, mas ele não estava lá para impedir o fluxo migratório para a RDA.

Não compreendo porque afirmas que o modelo liberal precisa de mão-de-obra barata para funcionar. Gostava que explicitasses o significado disso (até porque pensei, por momentos, que Lenine havia ressuscitado). Ainda assim, usando a tua lógica, vamos assumir que se dava mesmo um êxodo à escala planetária para o teu país. Se, de repente, muita gente saísse do "meu mundo", haveria uma oferta muito grande de emprego para uma população muito reduzida. Qual é o resultado em termos económicos? Um posto de trabalho deste género tornar-se-ia extremamente bem pago porque haveria muito pouca gente disponível. As empresas (exploradoras dos trabalhadores, evidentemente) estariam dispostas a pagar salários muito mais elevados do que os que seriam considerados normais porque não existiria quase ninguém com habilitações para ocupar um determinado cargo. No teu país, claro, seria a situação contrária já que haveria demasiada oferta de mão-de-obra para uma procura inferior desta. Lá, as entidades patronais estariam dispostas a pagar muito menos por um empregado se existissem outros 50.000 de qualidades técnicas semelhantes disponíveis. Isto claro, assumindo que o "meu mundo" é liberal e ninguém construiria um muro de Berlim para evitar que as pessoas escapassem.

Essas coisas resolvem-se sempre facilmente. Quando formares esse teu país (gostei do toque de dirigismo) implementas leis que estipulem um salário mínimo elevado e force as empresas a pagar mais do que aquilo a que estariam dispostas. Se a maior parte delas for à falência devido a instabilidade financeira, a criação de novas firmas for diminuta (para quê trabalhar para conta própria? Daria quase sempre prejuízo), o desemprego começar a aumentar como sinal evidente da impossibilidade de contratar novos trabalhadores a salários elevados e uma percentagem enorme de gente começar a trabalhar ilegalmente para conseguir sustentar-se (a um salário inferior ao mínimo, que muita gente não estaria disposta a pagar), sempre podes aumentar os impostos para conseguir dar o subsídio de desemprego a toda a gente, manter as reformas elevadas e, claro, aguentar os pagamentos aos colegas de governo! Se isto não resultar, sempre podes abolir a propriedade privada. Parece ser a fonte de todos os problemas e, este método, até já deu frutos noutros países como a China, Rússia, Camboja, Cuba, Coreia do Norte, Albânia (este é que era mesmo a sério), etc.

Tu dizes que assistiríamos a uma diáspora para o teu país. Muito bem. A propaganda sempre funcionou (aliás, é por isso que ainda há gente que defenda Cuba). Apenas te informo de que todos aqueles que ficassem comigo no país liberal (independentemente do tipo de regime específico) estariam armados até aos dentes. Se fores minimamente inteligente, perceberás porquê.

No comments: